Em Portugal - Ter filhos aos 40: um fracasso colectivo
Não conheço melhor introdução ao fracasso colectivo da sociedade portuguesa. Uma sociedade composta por casais que começam a ter filhos aos 40 é uma sociedade em autodestruição.
“Há dias na MAC em que nenhum parto é de uma grávida com menos de 40 anos. É uma brutalidade”. Este é um facto salientado por Daniel Virella, presidente do colégio de neonatologia, ouvido pelo Expresso na semana passada. Não conheço melhor introdução ao fracasso colectivo da sociedade portuguesa. Uma sociedade composta por casais que começam a ter filhos aos 40 é uma sociedade em autodestruição. Lutar contra esta autodestruição tem sido, de resto, o coração desta coluna. Escrevo aqui na Renascença precisamente para isolar as causas deste fracasso.
Como é que chegámos a esta “brutalidade” que começa por colocar em risco a saúde ou mesmo a vida de mães e bebés? Para começar, o sacrifício e a renúncia não são valores da “geração mais bem preparada de sempre”. A minha geração e a geração ainda mais nova foram educadas no egocentrismo, num individualismo extremo que procura os prazeres imediatos e os sonhos profissionais. Portugal é um caso extremo da cultura pós-moderna que desvalorizou nas últimas décadas os conceitos de compromisso, casamento e família. Criámos uma sociedade de indivíduos solitários que jantam sozinhos, tendo a Netflix e o cão como única companhia. As nossas cidades vivem num presente perpétuo sem respeito pelo passado e sem consideração pelo futuro. É por isso que esta sociedade está a trocar as pessoas pelos animais. Literalmente. É por isso que temos os nossos velhos (o passado) a viver numa solidão que nos envergonha. É por isso que temos uma das taxas de natalidade (o futuro) mais baixas do mundo.
Por outro lado, quem rompe este cerco do egoísmo e procura de facto formar uma família encontra um rol de obstáculos. Em primeiro lugar, é mais difícil ser pai em 2019 do que em 1989. O caderno de encargos que o “ar do tempo” impõe aos pais é asfixiante. Apetece inverter a canção dos Pink Floyd, "leave the parents alone". Em segundo lugar, as grávidas e as mães são hostilizadas nos locais de trabalho - este é talvez o grande escândalo ou tabu que falta debater na sociedade portuguesa. Assim que engravida, a mulher é hostilizada; quando volta da licença, é hostilizada; quando tem de faltar devido às doenças, é hostilizada e despedida. É despedida directamente pelo patrão, mas também é despedida indirectamente pelo próprio marido, que nunca se sacrifica pela sua mulher e filhos, que nunca fica em casa a tomar conta dos miúdos. Neste contexto, é claro que as mulheres adiam o primeiro filho até à beira dos 40. Só que à beira dos 40 já é difícil engravidar. Só que à beira dos 40 ter mais do que um filho é uma proeza obviamente rara. Em terceiro lugar, o estado não tem feito políticas de família. Ter filhos não colhe benefícios fiscais e é sempre difícil e caro encontrar um lugar numa creche. Vivemos num país onde ter um bebé na creche é mais caro do que ter um filho na faculdade. Está tudo virado ao contrário.
Estive até aqui a debater o presente que criou esta “brutalidade”. Mas agora quero olhar para o futuro próximo. Se as crianças nascem quando os pais têm 40 anos, isto quer dizer que vão ter 10 anos quando os pais tiverem 50. Aos 50 anos como é que se tem energia para educar uma criança? Não se tem. Ou seja, estas crianças que nascem agora serão ainda mais egocêntricas e mimadas do que as gerações anteriores. Quase sempre filhos únicos, estas crianças vão controlar ainda mais os pais do que as crianças actuais. Por outras palavras, vamos ser uma sociedade ainda mais envelhecida e egoísta.
Que este tema não seja “o” tema é - em si mesmo - um sintoma do nosso fracasso colectivo.
Henrique Raposo, aqui
http://viriatus15.blogspot.com/2019/07/ter-filhos-aos-40-um-fracasso-colectivo.html
“Há dias na MAC em que nenhum parto é de uma grávida com menos de 40 anos. É uma brutalidade”. Este é um facto salientado por Daniel Virella, presidente do colégio de neonatologia, ouvido pelo Expresso na semana passada. Não conheço melhor introdução ao fracasso colectivo da sociedade portuguesa. Uma sociedade composta por casais que começam a ter filhos aos 40 é uma sociedade em autodestruição. Lutar contra esta autodestruição tem sido, de resto, o coração desta coluna. Escrevo aqui na Renascença precisamente para isolar as causas deste fracasso.
Como é que chegámos a esta “brutalidade” que começa por colocar em risco a saúde ou mesmo a vida de mães e bebés? Para começar, o sacrifício e a renúncia não são valores da “geração mais bem preparada de sempre”. A minha geração e a geração ainda mais nova foram educadas no egocentrismo, num individualismo extremo que procura os prazeres imediatos e os sonhos profissionais. Portugal é um caso extremo da cultura pós-moderna que desvalorizou nas últimas décadas os conceitos de compromisso, casamento e família. Criámos uma sociedade de indivíduos solitários que jantam sozinhos, tendo a Netflix e o cão como única companhia. As nossas cidades vivem num presente perpétuo sem respeito pelo passado e sem consideração pelo futuro. É por isso que esta sociedade está a trocar as pessoas pelos animais. Literalmente. É por isso que temos os nossos velhos (o passado) a viver numa solidão que nos envergonha. É por isso que temos uma das taxas de natalidade (o futuro) mais baixas do mundo.
Por outro lado, quem rompe este cerco do egoísmo e procura de facto formar uma família encontra um rol de obstáculos. Em primeiro lugar, é mais difícil ser pai em 2019 do que em 1989. O caderno de encargos que o “ar do tempo” impõe aos pais é asfixiante. Apetece inverter a canção dos Pink Floyd, "leave the parents alone". Em segundo lugar, as grávidas e as mães são hostilizadas nos locais de trabalho - este é talvez o grande escândalo ou tabu que falta debater na sociedade portuguesa. Assim que engravida, a mulher é hostilizada; quando volta da licença, é hostilizada; quando tem de faltar devido às doenças, é hostilizada e despedida. É despedida directamente pelo patrão, mas também é despedida indirectamente pelo próprio marido, que nunca se sacrifica pela sua mulher e filhos, que nunca fica em casa a tomar conta dos miúdos. Neste contexto, é claro que as mulheres adiam o primeiro filho até à beira dos 40. Só que à beira dos 40 já é difícil engravidar. Só que à beira dos 40 ter mais do que um filho é uma proeza obviamente rara. Em terceiro lugar, o estado não tem feito políticas de família. Ter filhos não colhe benefícios fiscais e é sempre difícil e caro encontrar um lugar numa creche. Vivemos num país onde ter um bebé na creche é mais caro do que ter um filho na faculdade. Está tudo virado ao contrário.
Estive até aqui a debater o presente que criou esta “brutalidade”. Mas agora quero olhar para o futuro próximo. Se as crianças nascem quando os pais têm 40 anos, isto quer dizer que vão ter 10 anos quando os pais tiverem 50. Aos 50 anos como é que se tem energia para educar uma criança? Não se tem. Ou seja, estas crianças que nascem agora serão ainda mais egocêntricas e mimadas do que as gerações anteriores. Quase sempre filhos únicos, estas crianças vão controlar ainda mais os pais do que as crianças actuais. Por outras palavras, vamos ser uma sociedade ainda mais envelhecida e egoísta.
Que este tema não seja “o” tema é - em si mesmo - um sintoma do nosso fracasso colectivo.
Henrique Raposo, aqui
http://viriatus15.blogspot.com/2019/07/ter-filhos-aos-40-um-fracasso-colectivo.html
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Comentários
Doenças consideradas erradicadas estão voltando porque as mães e os pais jovens e irresponsáveis sequer vacinam as crianças.
Por cá não.
A maioria que tem filhos é por poder cuidar dos filhos. Daí a taxa ser baixa.
Some-se o incentivo a uso de contraceptivos (gratuitos) de longo prazo.
O blogue com nome Viriato e a Rádio Renascença mostra um fundo nacionalista /tradicionalista católico.
As oportunidades por cá são muitas, mas o modelo prefere importar brasileiros.
Tenho observado mais chegada de brasileiros do que bebés.
Sinceramente, apesar de defender a livre circulação, já cansa ver tanto brasileiro ocupando o espaço.
Brasileiros são o equivalente dos norte-africanos noutros países - para alguns, uma praga...
Criminalidade violenta aumenta, não espanta que haja correlação.
Receber os IslâmiCUS não tem nada a ver com isso, sei...
O Trump fala o mesmo sobre mexicanos, brasileiros, maometanos, etc.
salvo raras excepções devido a crenças religiosas ou apoio estatal, as sociedades capitalistas mais avançadas estão todas em declínio demográfico.
Você acredita mesmo no que diz, chega a ser constrangedor pensar que vc acredita mesmo naquilo que escreveu.
Vc precisa ler muito mais, estudar ainda mais...e conhecer mais pessoas fora do seu mundo estreito.
Por outro lado, vinham com muita disposição e, com frequência, enriqueciam. Conheci o dono de uma rede de supermercados. Continuava analfabeto. Também tinham botequins e quitandas.
Há uma velha canção em que uma mulher diz ao companheiro vagabundo: "Vou largar você e arranjar um português".
Também eram conhecidos por gostar muito de negras e mulatas.
O Rio está cheio de centros culturais como "Casa das Beiras", "Casa do Minho", "Casa da Vila da Feira e das Terras de Santa Maria" etc.
Agora fale isso pra você mesmo se olhando num espelho.
https://oglobo.globo.com/rio/bairros/tijuca-abriga-grande-concentracao-de-clubes-da-colonia-portuguesa-13292889
Analfabetos empreendedores no lado luso vs prostitutas, bandidos no lado brazuca.
Estou a provocar, só se toca quem se reconhece.
Se deixar de fora as provocações, resta-me uma excelente boa impressão geral do que é o Brasil
Aprecio o seu povo, a cultura, na qual reconheço a nossa influência.
Gosto imenso do Brasil.
Alguns dos brasileiros, acabaram entrando no meu círculo de amigos.
Neste país pobre e decadente, de gentes ignorantes e analfabetas, encontraram tratamento médico que o Brasil era incapaz de lhes dar.
Durante anos, a brasileira a viver em Portugal, jamais falou das condições de vida daqui. Quando os familiares vieram ( nem há um mês), ficaram em choque.
Andar na rua sem preocupação em ser assaltado. Levantar dinheiro da caixa de multibanco em plena rua. Pessoa ostentando seus bens na rua...
Acima de tudo, ficaram boquiabertos pela celeridade com que foram recebidos e tratados pelo serviço nacional de saúde.
Chegaram na Batalha, saudosos do Brasil...mas felizes por estarem reunidos, em família, em segurança, recebendo cuidados de saúde...
É sem preço viver neste paraíso, que tantos portugueses nem dão conta!
Nota: há milhares de portugueses sem médico de família, mas dependendo da localização, a atribuição de um faz-se mais ou menos rápido.
Um pouco de cultura e história:
https://turismodocentro.pt/artigo/mosteiro-da-batalha-tributo-a-independencia-de-portugal/
lembrei do Brasil antes do PT assumir o poder.
http://www.cordvida.com.br/blog/gravidez-apos-os-40-anos-tudo-o-que-voce-precisa-saber-sobre-o-assunto/