Uber Comfort ou: Parabéns floquinhos perturbados!

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u sou favorável a todo tipo de esquisitice, desde que se estabeleçam limites. Eu também não sou muito fã de gente, gosto de ter poucos mas fiéis amigos, e acho a Internet uma bênção pra evitar interação desnecessária com pessoas. Eu nunca pedi tanta comida desde a invenção do iFood, e abomino restaurante que liga pra confirmar, vai tudo pra minha lista afro-brasileira.

Compras online em geral são maravilhosas, nada mais de entrar em loja e ser perseguido por vendedores “qualquer coisa é só perguntar ok?” ou não perguntar tudo que quer saber menos por timidez e mais porque os malditos vendedores nunca sabem o mínimo sobre o que estão vendendo.

Eu também tenho HORROR a gente que puxa conversa na rua, e minha cara parece que atrai essa gente. Taxistas, as coroas na fila do mercado, gente na poltrona do lado no avião…

Mesmo assim em todos esses anos nessa indústria vital eu nunca, nunca vi algo como o tal Uber Comfort.

Cínicos dizem que o Uber é uma App para evitar que você levante o braço na rua, acho válido em Berlim, onde esse tipo de gesto pode levar inadvertidamente à invasão da Polônia, mas a realidade é que central de táxi era é e sempre foi uma merda. Você liga, eles passam uma mensagem pra geral, e alguém que ninguém sabe aonde está diz que vai pegar a corrida. A central então liga de volta pra você, com uma estimativa de chegada tirada do cu.

No Uber você evita interação humana, o que é sempre bom, e ganha muito em agilidade e controle de ansiedade, dá pra ver exatamente quem, qual carro e aonde ele está. Yay, viva o futuro.

Eis que Millenials, eternos insatisfeitos, psicologicamente danificados e incapazes de conviver em sociedade resolveram que o Uber os deixa… desconfortáveis.

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O Uber Comfort permite que o usuário antes da corrida chegar determine se quer carro mais espaçoso, qual a temperatura do ar-condicionado, música a ser tocada e até se… o motorista deve ficar em silêncio ou não.

Se eu fosse um militante de esquerda lacrador acusaria a medida de desumanizadora, mas a realidade é que nenhum desses floquinhos frágeis tem cojones pra desumanizar ninguém. Eles apenas se escondem por trás de um aplicativo, e isso é… ridículo.

Que tipo de adultos estamos criando? Que geração patética é essa que é incapaz de interagir com outro ser humano e pedir “pode abaixar/aumentar o ar, por favor?” ou “Dá pra mudar de estação?” ou -o horror- “oi, hoje não tou muito de conversa, desculpa ok?”

Isso é… básico. É o feijão com arroz de viver em sociedade, ninguém está pedindo pro millenial introvertido subir num palco e apresentar um show de stand up pra 10 mil pessoas, caceta.

“Ah mas as pessoas têm fobias, nem todo mundo é extrovertido” filho, se você não consegue interagir com um motorista de Uber, as únicas corridas que deveria fazer são entre sua casa, o psiquiatra e a farmácia. Você tem problemas SÉRIOS e precisa se tratar, e não de um programa de celular funcionando como paliativo.

Não me tome por um Ludita, eu AMO tecnologia, só acho que ela deve ser usada para tornar nossa vida mais conveniente, não como muleta, mas os Millenials criaram uma relação de dependência doentia onde não conseguem mais interagir com outras pessoas sem um celular entre eles. Duvida? Vá num bar descolado e veja quantos jovens paqueram ao vivo.

O que você mais vai ver é a ridícula cena de gente usando Tinder (ou Grinder, sei lá que bar você vai) para procurar prospects no próprio bar. A mais básica das interações, como demonstrada pelo Ladiesman James May, é impossível para eles:



Uber Comfort não é mais conforto e praticidade, Uber Comfort é um sintoma preocupante de uma geração cheia de pseudoproblemas e traumas imaginários, que acha mais fácil se isolar do mundo do que enfrentar o menor dos desconfortos.

Eu vou contar um segredo: Quando o site cair no meio da madrugada, quando o paciente piorar ou o motor do navio der problema, você VAI ter que interagir com outras pessoas, acordar fora de hora e sujar as mãos. E não, não vai ter app pra isso, e não, você não via virar um influencer rico também.

https://contraditorium.com/2019/10/07/uber-comfort-ou-parabens-floquinhos-perturbados/

Comentários

  • editado October 2019
    “Ah mas as pessoas têm fobias, nem todo mundo é extrovertido” filho, se você não consegue interagir com um motorista de Uber, as únicas corridas que deveria fazer são entre sua casa, o psiquiatra e a farmácia. Você tem problemas SÉRIOS e precisa se tratar, e não de um programa de celular funcionando como paliativo.
    Pois é, ser humano é um bicho muito complicado e cheio de problemas mesmo, quando não tem problemas sofre com os imaginários, seja na penúria ou na fartura a nossa sociedade dá um jeito de ficar doentia.
  • E por falar e Uber:

  • Essa história de relacionar isso com os tais de "millenials" não tem nada ver, para começar praticamente nem existem esses tais de "milleniails" isso é praticamente invenção da mídia, inclusive porque essa variante de uber confort é mais cara, e os mais jovens tem menos dinheiro, e inclusive há muitos tecnicamente da idade dos "millenials" como MOTORISTAS do uber.
  • Não vi qualquer problema. Os motoristas continuam não sendo obrigados a trabalharem na plataforma.
    Quando tiver a opção de selecionar a motorista pelos atributos fisicos (peitão, pernão, etc) eu provavelmente andarei mais de Uber.
  • Percival disse:
    Cínicos dizem que o Uber é uma App para evitar que você levante o braço na rua, acho válido em Berlim, onde esse tipo de gesto pode levar inadvertidamente à invasão da Polônia,

    kkkkkkkkkkkkkkkkk
    :D
  • LaraAS disse: Essa história de relacionar isso com os tais de "millenials" não tem nada ver, para começar praticamente nem existem esses tais de "milleniails".


    Existem, sim. No caso é como são descritas a geração snowflake criada por pais super protetores.
  • O ogro, os floquinhos e o Uber cala a boca

    Será lançado mês que vem o Uber cala a boca, no qual o passageiro pode exigir que a viagem transcorra em silêncio

    Leo Aversa - 11/10/2019

    Aqui no prédio, tem um vizinho que é um primor de educação e simpatia: sai do elevador onde não dá bom-dia aos outros, e atravessa o hall sem ao menos levantar os olhos, muito menos cumprimentar o porteiro. Nem mesmo dá aquela leve balançada de cabeça: o mundo que se dane. Obviamente é uma das figuras mais queridas e populares do edifício, rivalizando no posto com a perua do perfume radioativo e o cachorro que late de madrugada.

    Foi pensando nesse adorável sujeito que será lançado mês que vem o Uber cala a boca — o nome real deve ser algo mais palatável — , no qual o passageiro pode exigir, no próprio aplicativo, que a viagem transcorra em “silêncio”. Nada de conversa. Fale ao motorista somente o indispensável, diz a plaquinha. Pagando o Uber cala a boca, nem isso.

    A empresa quer lucrar não só com a grosseria esnobe do meu vizinho, que, aliás, tem vários clones por aí, como os leitores bem sabem. Mira também na geração floquinho de neve, a do mi-mi-mi e do chororô, que se sente intimidada se conversar com alguém que não partilha a sua bolha de internet.

    O aplicativo atende ao pior de dois mundos.

    Meu vizinho ficará satisfeito já que, por uma pequena taxa extra, fará o mundo se curvar à sua falta de educação. Terá a chance de tratar o motorista de aplicativo como se fosse seu porteiro. Já os floquinhos de neve, sempre ciosos do seu “espaço pessoal”, não correrão o risco de ser incomodados pela voz alheia. Vai que o motorista diz algo que não orna bem com as suas opiniões... E se for comunista? E bolsominion? Quem é que vai protegê-los dos comentários dele, se perguntam os floquinhos, assustados, já ligando para a polícia e a mamãe. A Uber criou uma solução para tanta paúra: o mutismo. Enquanto desfruta da sua corrida em silêncio absoluto, o floquinho terá tempo para acessar as redes sociais e escrever seus textões se queixando do isolamento, da solidão e da maldade do mundo.

    Quando o táxi eram fuscas velhos sem o banco do carona e com aquela corda que servia para o chofer puxar a porta, bastava avisar que você estava com dor de cabeça para o “problema” da conversa com o motorista ser resolvido. Ainda assim as pessoas preferiam ouvir e falar. Mas a interação social espontânea ficou no passado, é coisa de gente tão obsoleta quanto um fusca ou um bate-papo com estranhos.

    De olho nesse público peculiar, os aplicativos podem até radicalizar a distopia: quem sabe um Uber liteira, com a opção de eunucos abanando ou então o Uber esparro onde, por uma módica quantia extra, você possa passar a viagem dando petelecos e pescotapas no chofer. Um Uber Barbosa também fará sucesso: o motorista não conversa, apenas repete a última palavra do passageiro.

    Imagino que essa ideia da Uber vá se espalhar por outras áreas e que, mais cedo ou mais tarde, o meu vizinho xucro, com o apoio dos floquinhos de neve locais, vá acabar como síndico do prédio — a grosseria e o isolamento são as tendências atuais —, instituindo cota extra para conversar no elevador e multa por cada bom-dia ao porteiro.

    Só me restará puxar papo com o cachorro da madrugada.
    https://oglobo.globo.com/rio/o-ogro-os-floquinhos-o-uber-cala-boca-24010401
  • - Não sei se concordo, mas o texto contém muitas verdades e é muito bem escrito.

    Abraços,
  • Caramba, tem horas que você não quer dar bom dia nem olhar pra cara de ninguém, o que não impede de ter uma empatia discreta com o próximo.
  • Na verdade, timidez não é maldade, é MEDO de errar, MEDO de que INCOMODAR os outros, é JUSTAMENTE o contrário do que esse artigo mostra....esse artigo é cruel....e isso não tem nada a ver com usar ou não essa variante babaca dentro do Uber....além do que eu estou desconfiando que esse cara que escreveu esse artigo está inventando, porque nos prédios das grandes cidades, o HABITUAL é a falta de conversas entre si, não é uma cidade do interior da década de 1950.
  • Há uma diferença entre dar bom-dia, mas passar direto sem parar para conversar e nem olhar para o porteiro do prédio onde mora como se ele não estivesse lá.
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