Paradoxo Esquerda-Direita
Algo que sempre me intrigou é o fato de que muitos dos meus conhecidos libertários ou mesmo de direita, principalmente os mais agressivos, aqueles que defendem capitalismo e poder econômico com mais veemência, não são particularmente bem sucedidos em suas vidas profissionais. São pessoas bastante ambiciosas até, que desejam muito o sucesso, mas que não o tem na prática (ou sentem que não o tem). Eu mesmo (que me vejo como libertário) me coloco um pouco nessa categoria.
Por outro lado, me parece igualmente intrigante um fenômeno que observo entre meus conhecidos de esquerda, aqueles que de uns anos pra cá passaram a levantar todo tipo de bandeira nas redes sociais em defesa dos mais fracos, das minorias, apoiando todo tipo de causa social - pessoas que em suas vidas pessoais até uns anos atrás não eram nada humanitárias, altruístas, muito pelo contrário - comparadas comigo, eram bastante egoístas até, naturalmente competitivas, vaidosas, às vezes até arrogantes e venenosas socialmente.
Parece uma contradição, mas com o tempo fui pensando numa possível explicação para esse fenômeno (não digo que isso explica o comportamento de todas as pessoas no espectro político, pessoas podem se atrair por ideologias políticas por diversos motivos, mas certamente faz sentido pra alguns dos casos).
Como discuti no meu vídeo sobre carisma, FORÇA e BENEVOLÊNCIA são os 2 valores fundamentais que fazem uma pessoa parecer admirável pra nós. Mas nós não buscamos esses valores apenas nos outros, buscamos eles também em nós mesmos. De certa forma, autoestima surge quando nós nos enxergamos como admiráveis, quando parecemos carismáticos para nós mesmos. Pra termos uma boa autoestima, nós temos que nos enxergar tanto como FORTES (independentes, poderosos, capazes de lidar com os desafios da vida) quanto como BENEVOLENTES (pessoas decentes, bondosas, moralmente corretas). Se falta muito de um, ou muito do outro, nós nos sentimos incompletos, nos sentimos mal em relação a nós mesmos, e impelidos a buscar o valor complementar.
No meu caso, posso dizer que certamente o que mais me faltou ao longo da vida é o elemento FORÇA: um senso de eficácia, de que posso ser independente, lidar com os desafios da vida sozinho. Se liberdade (num contexto político) é algo importante pra mim, se admiro sucesso, se eu acredito tanto que devemos ser independentes do governo, que o ser humano deve carregar seu próprio peso, que não é certo que outros tenham que se responsabilizar por nós, não é porque eu já conquistei isso na minha vida - e sim porque eu preciso seriamente conquistar isso na minha vida pra me sentir um indivíduo digno. É justamente por não ter essa força ainda internalizada, e saber que ela é necessária, que eu valorizo tanto esses ideais. É por isso que a pobreza acaba sendo algo aversivo às vezes pra alguém com essa mentalidade. Não é que a pessoa mais de direita odeia os pobres, é que a ideia DELA ser pobre (de sucumbir à própria fraqueza) é um pensamento particularmente incômodo, até por não parecer uma possibilidade tão distante assim. Quanto à benevolência, isso nunca foi uma grande questão pra mim pelo menos, nunca foi algo que me pareceu faltar. Sempre me senti uma pessoa naturalmente bondosa, correta, inofensiva, que não gosta de incomodar ou fazer mal a ninguém. Nunca achei que meu ego fosse uma ameça pra mim ou para os outros; essa era a parte fácil.
Me pergunto se a mesma coisa não acontece do outro lado.
Talvez as pessoas mais de esquerda sigam o mesmo padrão. Talvez o que falte pra elas não seja força, pois como disse, elas eram naturalmente confiantes, "egoístas", cheias de si (e talvez isso ao longo do tempo se transforme numa fonte de incômodo, de culpa). Talvez o que falte agora seja o elemento BENEVOLÊNCIA - a necessidade de se sentirem humanas, bondosas, inofensivas. Se os militantes da esquerda pregam tanto por altruísmo, defendem tanto os mais fracos, são tão contra o "ego", talvez seja pra compensar uma falta natural desse senso de benevolência, e um excesso de "ego" em suas percepções de si mesmos. Talvez seja por isso que tantos artistas em Hollywood gostem de se posicionar como progressistas, falar de causas sociais - a vida inteira deles gira em torno de seus egos, de suas vaidades, e isso pode acabar gerando um sentimento de culpa e de auto-aversão com o tempo. Isso faz com que eles queiram correr na direção oposta pra equilibrar: na direção da benevolência, e se voltarem contra tudo aquilo que os remete à noção de força: os ricos, individualistas, capitalistas, poderosos, etc. O que essas pessoas desprezam nos poderosos é justamente aquilo que elas enxergam dentro delas e precisam se livrar pra se sentirem equilibradas. Ou seja: às vezes as pessoas que mais atacam o conceito de "egoísmo", não são pessoas que não são egoístas, mas pessoas que se sentem egoístas demais e enxergam isso como algo nocivo, assustador, algo mau dentro delas (estou falando de egoísmo aqui no sentido convencional, não no sentido Randiano).
Por essa ótica fica mais fácil de entender por que direita e esquerda se atritam tanto. Ora, se todos os objetivos de vida de uma pessoa giram em torno da busca por FORÇA (sucesso, independência, poder, etc) ela certamente vai detestar pessoas que menosprezam esses valores, e que não irão admirá-la mesmo que ela conquiste tudo o que sonha na vida. Por outro lado, se toda a missão da pessoa é conquistar BENEVOLÊNCIA (ser mais humana, generosa) ela certamente vai odiar pessoas que ignoram esses valores, que não as enxergarão como admirável mesmo que ela se torne a próxima Madre Teresa.
No fim, toda essa agressividade entre esquerda e direita, o ódio dos ricos, o ódio dos pobres, parecem muitas vezes refletir uma falta, um senso de auto-negação, um desejo por completude. E portanto, a solução pra esses conflitos políticos talvez não esteja tanto em argumentos econômicos, em livros de história, e sim no autoconhecimento, no amadurecimento emocional, no desenvolvimento de uma boa autoestima.
http://profissaocinefilo.blogspot.com/2020/01/paradoxo-esquerda-direita.html
Entre ou Registre-se para fazer um comentário.
Comentários
Só porque ela é incapaz e sem talento vai exigir que o Estado a sustente às custas dos outros?
No mesmo texto:
A posição do autor é esta: ele admite não ser bem sucedido, mas não admite o estado o sustentar.
É questionável que, num mundo permeado por discrepâncias grandes entre esforços e recompensas, uma pessoa que esteja numa classe social relativamente baixa geralmente pode ser descrita apenas como "incapaz e sem talento".
PUTZ!!!!!
Na conta da (de)mente comunista, as virtudes são "ajudar os pobres, os frascos e os comprimidos", não entra... JUSTIÇA, HONRA, DECÊNCIA... só se for a tal "justiça social" que menospreza os seres individuais como se nada fossem, curiosa e paradoxalmente esses mesmos seres o foco da "benevolência comunista". HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA...
Mas o problema não é quanto a receber, mas a dar, entregar o que se tem a outros.
Humm que gorda caridosa de bundinha requisitada.
Isso na ótica comunista que iguala mérito a "esforço". Mérito não é esforço, é competência própria, inclusive para obter mais com menos esforço. Há indivíduos cujos "esforços" são prejudiciais, atrapalhando a si mesmos e aos outros.
Bom, isso é uma "versão" daquele princípio comunista absurdo de marx-engels: "(tomar) de cada um conforme a capacidade; dar um pouquinho (e ficar, a título de "taxa de administração" com todo o resto) a quem precisa". Então é claro que é essa a "ideia maravilhosa" da coisa. O problema é que, recapitulando, disseste que não tens problema em receber auxílios (mas isso é fácil de dizer), quando seria mais esperável que te prontificasses a demonstrar teu desprendimento quanto a ser obrigada a dar, que é realmente o problema dantesco do comunismo.
Isso descrito acima não muda em nada o fato de que o mundo também é permeado por discrepâncias grandes entre esforços geradores de mérito e recompensas. O mundo também é permeado por discrepâncias grandes entre MÉRITOS e recompensas. "Sorte", um dos ingredientes geradores da recompensa dos chamados "meritosos", não é igual a "mérito":
Saindo do âmbito profissional e indo para o âmbito de investimentos, mais uma citação minha, desta vez sobre a magnitude de sorte encontrada no mercado financeiro:
http://profissaocinefilo.blogspot.com/2017/08/como-cultura-encomenda-os-seus-idolos.html?m=1
A vida é feita de riscos, você planejar pode diminuir esses riscos.
Essa questão mérito ou não isso nem foi levantada no tópico. E sim uma forma de pensar.
O texto não leva em conta o fenômeno mais importante nessa questão toda. Embora o pensamento de esquerda tente se disfarçar de amor pelos pobres e repulsa pelas injustiças, ele na verdade se baseia em ganancia, inveja e julgamento alheio.
A maior prova disso é ver como eles jogam rapidamente fora os preceitos de igualdade perante a lei, para tentar igualar financeiramente as pessoas e rapidamente aderem as politicas publicas de políticos que usando as mais diversas justificativas escolhem os "campeões nacionais" como o PT fez e defendem apaixonadamente a transferência que o BNDES faz do dinheiro dos pobres para os muitos ricos como Eike Batista e os Irmãos "safadões".
Eu apoio o capitalismo antes de tudo pelo amor a liberdade, pelo respeito as escolhas e capacidades individuais e porque eu já entendi há muito tempo, sem ter inveja dos outros, que a prosperidade do próximo é a minha própria prosperidade.
O Bill Gates pode ser bilionário e não me dar um centavo do dinheiro dele, mas graças a ele e a outras pessoas como ele que estão há décadas trabalhando duro eu posso ter meu computador.
Eu mudei para o interior e aqui não existe tanta oferta de produtos e serviços quanto tinha em São Paulo, mas o fato é que sem o dono da quitanda, da padaria, do açougue e do supermercado, pessoas que nunca me deram um centavo, eu seria ainda mais pobre pois não teria acesso a nenhum dos produtos e serviços que eles me oferecem a um custo que eu estou disposto a pagar porque a alternativa seria criar galinhas e me matar cuidando de uma horta.
A divisão de trabalho no capitalismo é mais eficiente e ela faz pessoas que não se conhecem ou mesmo se conhecem e não se gostam, cooperarem umas com as outras e devido a essa cooperação ambas as partes ficam mais ricas.
Outro fator importante é o conceito moderno de "pobreza". Pegue um sujeito vivendo como um artesão, pegue um pequeno senhor feudal, ou até mesmo algum nobre vivendo há 3 séculos, jogue em qualquer favela numa grande cidade do Brasil e depois pergunte se ele acha que é rico ou pobre.
Todos eles diriam que a favela vive numa riqueza exuberante a qual eles jamais sonharam ser possível.
Mesmo que os pobres não tenham muito dinheiro eles tem acesso a uma infinidade de produtos e serviços que nenhum rico no passado tinha a disposição.
Eu não conheço "pobres" de direita nem de esquerda, esses o capitalismo já quase extinguiu e só existem de fato em pequenas comunidades isoladas, talvez ali na zona da seca no nordeste ou em algum comunidade ribeirinha na selva amazônica.
O capitalismo fez dos pobres VERDADEIROS uma classe em extinção e é por isso que eu apoio o capitalismo, porque mesmo o dito "pobre" de direita é rico pra caramba, mas a riqueza no capitalismo é tanta que nós achamos que somos pobres por nos comprarmos com quem é ainda mais rico do que nós...
Eu tenho cerca de 10 video games diferentes e uns 6 computadores. Eu tenho PCs antigos rodando windows 95 onde eu rodo jogos antigos originais comprados por 15, 20 ou 30 reais pela internet.
Eu coleciono jogos e equipamentos antigos que giram em torno dos jogos. É uma verdadeira paixão.
Entre esses equipamentos eu tenho 2 que na época eu jamais sonhava em ter e meu melhor amigo tinha, ele era filho de um industrial e tinha uma fantástica e gigante TV de tubo com 40 polegadas onde jogávamos um Nintendo 64.
Eu nem sonhava em ter um 64 na época, muito menos uma TV de 40 que só ricos tinham.
Há cerca de 2 anos eu comprei uma TV dessas no mercado livre por 200 reais... Hoje ninguém mais quer aquilo que só os ricos tinham.
Também comprei um Nintendo 64 por 350 reais e liguei nela.
Quando eu sento na frente daquela TV enorme e ligo meu 64 eu realmente me sinto privilegiado. Eu sempre fico me sentindo rico e pensando em como hoje eu posso ter todas essas coisas e o quão incrível é tudo isso custar tão pouco hoje em dia.
Vira e mexe os esquerdistas de facebook me chamam de pobre de direita e eu sempre retruco dizendo que na verdade sou um milionário do passado que viajou no tempo. Claro que ninguém nunca entende a ironia, que é uma só piada pessoal da qual eu sempre rio sozinho por ter esse prazer meio bobo de gostar de me sentir rico brincando com as minhas velharias.
Se cada um de nós não praticar, não acontece.
Sim, depende de sorte, de nascer com saúde e inteligência, de estar no lugar certo na hora certa.
Por exemplo, não há mérito que faça com que um cego se torne piloto de avião.
Ou que alguém que nasceu e vive num fim de mundo tenha acesso às oportunidades.
Isso me lembrou um caso real por mim testemunhado há muitos anos de um sujeito que se disse pastor (e pela vigarice, não duvido mesmo) que se intrometeu num desentendimento na fila de um banco para "apaziguar" os ânimos. Uma mulher furou a fila e a que teve seu lugar roubado estava protestando, quando o pastor de gado humano apresentou um "argumento" inquestionável: "por que você faz tanta questão por causa de um lugarzinho na fila? De repente isso pode até salvar sua vida, se você chegar mais atrasada em algum lugar aonde for saindo daqui, de repente atrasar um pouquinho pode te salvar"...
Belo argumento!
(E não existe seguro privado que pode fazer quem QUISER SE QUISER?)
Não, a questão é que "alguém" não foi consultado se deseja esse "seguro" e é OBRIGADO a DAR!!!!! Ser obrigado a entregar dinheiro/propriedade tem um nome que sofisma algum muda.
Quem conseguir traduzir isso, diz aí!!!!
Olha, esse "estudo" acima, pra mim é inválido, pois se não inclui as iniciativas de exploradores de fé e credulices, como pastores de gado humano, gurus, líderes de seitas, etc. está incompleto. Os in/sucessos nessas empreitadas não seguem previsibilidades racionais da mesma forma.
Ver que "sucesso" na concepção popular está associado a "estrelado, glamour e purpurina" não surpreende. É claro que o mercado de supérfluos e entorpecentes sensoriais (artes/entretenimento/perda de tempo e esporte-espetáculo) não é objetivamente mensurável, o que leva a concluir que quem precisa realizar um "estudo" para entender isso não tem intelecto que sobre para ser medido da mesma forma.
E é evidente que nascer com (potencial para) mérito é sorte, assim como não há tal coisa como "esforços geradores de mérito". Nenhum esforço gera mérito.
https://www.religiaoeveneno.com.br/discussion/comment/30534/#Comment_30534
Onde se lê "estrelado, glamour e purpurina", leia-se "estrelaTo,...
O fenômeno das discrepâncias grandes nas recompensas financeiras aconteceria mesmo negligenciando essa coisa de "nascer com isso" ou "nascer com aquilo". Mesmo que nosso país ou nosso planeta fosse formado apenas por indivíduos que são clones genéticos, as diferenças grandes de recompensas existiriam. E aconteceria isso até mesmo se esses clones genéticos tivessem a mesma alimentação, programa de exercícios e educação até a fase adulta. Não estou dizendo que tudo é caótico e aleatório, mas que a forte presença da aleatoriedade nos resultados do mercado é praticamente inevitável.