O DIA EM QUE UM PRESIDENTE BRASILEIRO QUIS ANEXAR UM VIZINHO

ENCOSTOENCOSTO
editado November 2016 em Religião é veneno
  1. O DIA EM QUE UM PRESIDENTE BRASILEIRO QUIS ANEXAR UM VIZINHO
  2.  
  3. http://g1.globo.com/platb/geneton/2010/02/22/delirios-do-poder-o-dia-em-que-um-presidente-brasileiro-quis-anexar-um-pais-vizinho/
  4.  
  5.  
  6.  
  7. A invasão das Malvinas deflagrou uma guerra entre Inglaterra e Argentina. Qual teria sido a reação internacional a uma aventura expansionista brasileira na Guiana Francesa ? Jânio Quadros chegou a convocar, para uma audiência secreta em Brasília, o governador do Amapá, Moura Cavalcanti, um político que, anos depois, durante os governos militares, ocuparia o Ministério da Agricultura do general Garrastazu Medici e o governo de Pernambuco, por eleição indireta. 
  8.  
  9. Moura Cavalcanti estava disposto a cumprir a surpreendente determinação do presidente : afinal, tinha sido nomeado para o cargo de governador do Amapá pelo próprio Jânio Quadros. Ordens sao ordens.
  10. Alem de dar a ordem a Moura Cavalcanti, o presidente passou, diante do governador, uma mensagem por rádio para um comandante militar, com a orientacao textual :
  11. -Estudar a possibilidade de anexar ao Brasil a Guiana Francesa – se possível,pacificamente.
  12. ‘’Eu me recordo dos termos com exatidão ‘’- disse-me Moura Cavalcanti, numa entrevista gravada no Recife.  Já abalado por uma doença renal que o materia meses depois, Moura Cavalcanti  descreve, com detalhes, a cena surrealista que presenciou em Brasília, como testemunha e personagem, num dia de 1961:
  13. GMN – Que ordens o senhor recebeu do presidente Jânio Quadros, em Brasília, em relação à Guiana Francesa ?
  14. Cavalcanti : ‘’Quando o presidente Jânio Quadros analisou o processo de venda de manganês para os países estrangeiros, me deu a seguinte ordem : ‘’Defenda os interesses nacionais acima de qualquer outra coisa. A propósito : eu acho que chegou a hora de resolver definitivamente isso. Por que não anexarmos a Guiana Francesa ao território brasileiro ?’’.
  15. GMN – Que reação o senhor teve ao receber esta ordem ?
  16. Cavalcanti : ‘’Uma reação violenta. Primeiro,o seguinte : não tinha estrutura para agir como um conquistador. Não tinha sonhado em conquistar terras, nas minhas andanças por Macaparana(N: terra natal do ex-governador,em Pernambuco). Quando muito, tinha pensado em aumentar o meu engenho…Andei de um lado para o outro;f iquei confuso, evidentemente.E Jânio Quadros me disse : ‘’Sente aqui !’’. Eu me sentei junto ao telex. E ele passou um telex a um militar que, me parece, era o chefe do Estado Maior das Forcas Armadas’’.
  17. GMN – Que comentário Jânio Quadros fez sobre o plano ?
  18. Cavalcanti : ‘’Jânio Quadros me disse : ‘’Um país que dominar do Prata ao Caribe falará para o mundo !’’. O presidente olhou o pequeno papel que tinha nas mãos, com a ordem. Olhou o mapa do Brasil, imenso, na parede. Balançou lentamente a cabeca, antes de dizer que um país que fosse do Prata ao Caribe seria respeitado e dominaria o mundo’’.
  19. GMN – Por que é que esta ideia do presidente não se realizou ?
  20. Cavalcanti : ‘’Porque Jânio Quadros renunciou dias depois. A conversa com Jânio ocorreu em agosto de 1961, às vesperas da renuncia’’.
  21. GMN – Como é que seria feita,na prática, esta anexação ?
  22. Cavalcanti : ‘’A anexação da Guiana Francesa começaria com uma visita de Jânio Quadros à Amazônia. Uma esquadra chegaria ao cais do porto, no Amapá’’’.
  23. GMN – A principal motivo da anexação seria econômica ?
  24. Cavalcanti : ‘’O presidente queria evitar a saída de minérios do território brasileiro. A saída de minérios era uma coisa incrível. Uma parte saía através da Guiana; outra através do nosso porto’’.
  25. GMN – Que outra orientação ele deu ?
  26. Cavalcanti : ‘’Janio falou muito sobre o disciplinamento do trânsito dos minérios’’.
  27. GMN – O senhor estava disposto a cumprir a ordem do presidente ?
  28. Cavalcanti : ‘’Eu estava disposto a cumprir o que ele desejava’’.
  29. GMN – O projeto, então, só nao se realizou por causa da renúncia ?
  30. Cavalcanti : ‘’A minha parte eu cumpriria ! (silêncio).Em um mês,eu criei uma Polícia Militar’’.
  31. GMN – Como seria feita a anexação ? Através da abertura de uma picada na selva ?
  32. Cavalcanti : ‘’Cabia a mim a abertura da picada, até Oiapoque. (N:onde havia uma base militar brasileira e uma base militar francesa). Vi a queda das castanheiras.Quando recebi a orientação do presidente, fui para a fronteira. Consegui, com uma base americana que ficava localizada no Caribe, um helicóptero.
  33. Eu me lembro que um assessor me dizia : ‘’Se esse helicóptero cai na floresta amazônica, vai dar manchete !  Helicóptero cai e morre governador e secretário !’’.
  34. GMN – Quando o presidente Jânio Quadros falou sobre a anexação da Guiana,só estavam no gabinete o senhor e ele ?
  35. Cavalcanti : ‘’Só estávamos eu e ele- o presidente. Antes,ele não me disse que eu não levasse ninguém nem me pediu para que eu não falasse. Disse, apenas, que o assunto seria secreto’’.
  36. GMN – Que outras pessoas souberam desta conversa,na época ?
  37. Cavalcanti : ‘’Cordeiro de Farias ( n: marechal) soube; Golbery do Couto e Silva soube,José Aparecido de Oliveira, tenho a impressão, soube’’
  38. GMN – O ministro das relações exteriores, Afonso Arinos, estava presente ?
  39. Cavalcanti : ‘’A este encontro meu com o presidente, ele não estava presente. Mas, como ele dizia que os ministros eram ministros de verdade, Afonso Arinos deve ter sabido’’.
  40. GMN – Como é que o senhor avalia este episódio hoje ? Que importância este plano teria para a história do país ?
  41. Cavalcanti : ‘’Hoje, nós estamos diferentes’’.
  42. GMN – Mas,na época, a anexação poderia ter acontecido ?
  43. Cavalcanti : ‘’Poderia ! Poderia ter acontecido.E seria aceito pela França. A base francesa tinha um coronel que vivia bêbado. Era um batalhão de elite – que foi para dentro da selva. A gente via que eles tinham desejo que aquilo acontecesse. A anexação seria uma operação militar.Uma estação de rastreamento seria criada’’.
  44. GMN – Depois que recebeu a notÍcia da renúncia do presidente, o senhor se sentiu aliviado diante da perspectiva da invasão da Guiana ?
  45. Cavalcanti : ‘’Tive um sentimento de perda. Eu pensava que o caminho era aquele.Pode ser orgulho meu’’.
  46. (Entrevista publicada originalmente no livro Dossiê Brasil)

Comentários

  • Fernando_SilvaFernando_Silva
    Fico imaginando como o Brasil seria hoje se o maluco não tivesse renunciado.
    Com a anexação da Guiana (e suas consequências), possivelmente sem uma revolução em 1964 etc.
Entre ou Registre-se para fazer um comentário.

© Vanilla Keystone Theme 2024