Como foi definido o cânon da Bíblia
O Cânon Bíblico
2-Como foi feito o cânon bíblico?
Ainda no século I, já havia inúmeras formas de cristianismo. Antes da chegada do ano 100 D.C. já existia cristianismo na Índia, Egito, Itália, Grécia, Etiópia, Sudão, etc. Por óbvias dificuldades de comunicação, era impossível que tivessem uma única relação de livros inspirados. Os textos que fazem parte do que hoje chamamos de bíblia, já estavam prontos no ano 100 de nossa era, mas não existia uma bíblia única cristã. Se alguém procurasse uma bíblia para comprar na Europa ou qualquer outro lugar do mundo, nos séculos I e II não acharia nenhuma à venda.
Uma proposta de cânon do Novo Testamento apareceu no século IV e supostamente datava do século II. Ela não listava como canônicos os livros Apocalipse, II Pedro, II e III João e Judas. O Cânon Muratori não cita a Epístola aos Hebreus como livro canônico. Por outro lado este mesmo Cânon Muratori cita como canônico, o livro O Pastor de Hermas como canônico. O mesmo Cânon Muratori cita o livro "Sabedoria" como canônico.
Quando o cristianismo foi legalizado pelo Imperador Constatantino no século III, este mandou que as diferentes correntes do cristianismo fizessem uma escritura de livros comum. Por meio de um concílio, os bispos decidiram que o cânon seria de 76 livros. Este concílio não teve unanimidade. No caso do livro do Apocalipse por exemplo, os delegados do Bispo de Roma foram contra a sua inclusão no cânon bíblico. Somente no Concílio de Cartago de 397 é que o livro do Apocalipse foi colocado no cânon bíblico.
Esta primeira bíblia cristã foi chamada de bíblia de São Dâmaso, nome do Papa sob a qual foi escrita. Evidentemente que os cristãos da Índia, Etiópia, etc. em nada sequer puderam saber desta primeira bíblia cristã. Mesmo na Europa, a esmagadora maioria do povo era analfabeto e ignorante. Uma bíblia no século IV custava muito mais caro que o patrimônio de mais de 98% da população européia de então.
O cânon ou a relação dos livros bíblicos foi estabelecido por concílios. Tudo por decisão humana. Nenhum livro bíblico diz quais livros devem ser parte do cânon. Por outro lado, a história mostra que homens é que decidiram que livros fariam parte do cânon. Basta lembrar que o livro Macabeus 4 está escrito no Códice Sinaiticus e não faz parte nem da bíblia católica e nem da bíblia protestante.
Na Europa católica, o Concílio de Florença em 1442 manteve esta mesma bíblia, com 76 livros. O Concílio de Trento, no século seguinte, reduziu a bíblia católica a 73 livros, decisão ainda mantida até hoje, pela Igreja Católica. No Concílio de Jerusalém em 1672, a Igreja Ortodoxa Grega reduziu a sua bíblia para 70 livros.
No século XVIII, as várias denominações protestantes concordaram que a bíblia deveria ter 66 livros. Todas estas decisões quanto ao cânon bíblico foram tomadas por pessoas, em concílios. Tudo por decisão humana. Nem preciso dizer que cristãos etíopes tem, desde o século I, seus próprios escritos sagrados.
3-Por que alguns livros não foram aceitos entre os oficiais?
Tanto a aceitação, como a rejeição de um dado texto para o cânon foi influenciada por decisão humana. Isto vem desde que os concílios existem e acontece até os dias de hoje. No século XIX apareceu o famoso "Livro de Mórmon" , que só foi aceito por um ramo do protestantismo e foi e ainda é ignorado ou criticado, por todos os demais. Isto vem de longe.
O cânon aceitou por exemplo, a Epístola aos Hebreus, que todos os entendidos sabem há mais de mil anos, não foi escrito por Paulo. Uma forjadura óbvia e de autor desconhecido, mas esta obra de autor desconhecido está em todas as bíblias. Todos os entendidos sabem que Mateus não escreveu o evangelho a ele atribuído, pois ele morrera há muito, mas ainda assim, existe o evangelho segundo Mateus. Todos os entendidos sabem que os quatro evangelhos são relatos de segunda ou terceira mão. João não escreveu o seu evangelho.
O livro do Apocalipse teve a feroz oposição dos Papas em Roma, que sempre pressionaram para a sua retirada do cânon. Ele chegou a ser retirado, mas o Concílio de Cartago, em 397, o recolocou de volta ao cânon. Sim, o livro do Apocalipse foi colocado, depois retirado e depois recolocado na bíblia.
O livro "Pastor de Hermas" foi considerado por Clemente de Alexandria, Tertuliano, Santo Irineu e Orígenes como inspirado. Os entendidos acham que Hermas é o homem citado por S. Paulo na Epístola aos Romanos, no seu final. Este livro era largamente lido nas igrejas cristãs da Grécia. No século V, o Papa Gelásio coloca tal livro entre os apócrifos. Uma decisão que ainda perdura. Uma farsa ficou, ao mesmo tempo uma obra de origem genuína saiu do cânon.
No século XVI, Martinho Lutero exigiu a retirada da "Epístola de São Tiago", do cânon bíblico. Lutero chamou tal livro de "Carta de palha". Também no século XVI, João Calvino exigiu a retirada do livro do Apocalipse do cânon bíblico. Ao contrário da decisão do Papa Gelásio, estas exigências tanto de Lutero, como de Calvino deram em nada. A colocação de um texto na bíblia, de um dado ramo do cristianismo depende, da tradição e das necessidades terrenas.
Continua a seguir.
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