Quando a Guerra Psicológica sai pela culatra

editado May 2020 em Religião é veneno
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Guerra Psicológica não tem nada de novo. É praticada desde a antiguidade. Algumas vezes de forma bem simples e eficiente, como o truque de catapultar cabeças de inimigos sobre os muros da cidade sitiada. Alexandre, o Grande gostava de conquistar seus inimigos com base na sutileza, embrenhando-se na cultura local até que os povos conquistados deixassem de se ver como conquistados, e sim como parte do império.

Genghis Khan tinha outra estratégia: Quando não estava se apresentando no Bolinha ou no Sílvio Santos, massacrava uma comunidade, cuidando para sempre deixar alguns sobreviventes. Esses fugiam para vilas ou cidades próximas, espalhavam histórias de como os mongóis eram bárbaros, e quando as tropas inimigas chegavam, já encontravam todo mundo sorridente e brandindo a bandeira do Reino da França.

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No final das contas os persas perderam 7000 soldados, os egípcios tiveram 50000 mortes. Não que os gatos tenham se importado.

Nem sempre o uso de guerra psicológica é bem-sucedido, e algumas vezes os resultados são, francamente, hilários. Vamos então a alguns desses casos:

Comentários

  • 1 – Na Falta de Ghostbusters…

    Durante a Guerra do Vietnã uma das ações de guerra psicológica usada pelos americanos era espalhar alto-falantes nas florestas. Durante a noite eles tocavam fitas com sons sepulcrais aterradores. Os norte-vietnamitas acreditavam que quem morresse e não recebesse um sepultamento e um funeral (não necessariamente nessa ordem) seguindo os ritos tradicionais, vagaria pelo mundo como uma alma penada.

    Os sons eram tocados também de aviões e helicópteros, e a técnica funcionava muito bem. Bem demais até. Não só os vietcongues atiravam desesperadamente nos aviões e helicópteros que faziam os tais ruídos, como os soldados sul-vietnamitas também se desesperavam e fugiam quando ouviam as vozes macabras.
    2 – Um Fail que não está no gibi

    Durante a Primeira Guerra do Golfo muita propaganda foi utilizada, e com extremo sucesso. Mais soldados iraquianos se renderam por causa de propaganda americana do que foram mortos em combate. Só que nem sempre o material funcionava.

    Inicialmente os inimigos nem encostavam nos panfletos jogados de aviões. Depois de muito bater cabeça, prisioneiros explicaram o motivo: Para serem vistos no deserto com mais facilidade os panfletos eram emoldurados em vermelho. Os iraquianos por sua vez haviam sido instruídos a não encostar em nada vermelho, que representava perigo.

    Errado não é, marcar zonas perigosas em vermelho é padrão em qualquer organização militar.

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    Quando a Guerra Psicológica sai pela culatra
    Cardoso 20/05/2020

    Guerra Psicológica não tem nada de novo. É praticada desde a antiguidade. Algumas vezes de forma bem simples e eficiente, como o truque de catapultar cabeças de inimigos sobre os muros da cidade sitiada. Alexandre, o Grande gostava de conquistar seus inimigos com base na sutileza, embrenhando-se na cultura local até que os povos conquistados deixassem de se ver como conquistados, e sim como parte do império.

    Genghis Khan tinha outra estratégia: Quando não estava se apresentando no Bolinha ou no Sílvio Santos, massacrava uma comunidade, cuidando para sempre deixar alguns sobreviventes. Esses fugiam para vilas ou cidades próximas, espalhavam histórias de como os mongóis eram bárbaros, e quando as tropas inimigas chegavam, já encontravam todo mundo sorridente e brandindo a bandeira do Reino da França.
    Não, não é zoeira. Essa realmente foi a bandeira do Reino da França, durante a Restauração Francesa, entre 1814 e 1815.

    Um caso bem inteligente de guerra psicológica aconteceu em 525AC na Batalha de Pelúsio, quando os persas deram uma coça nos egípcios.

    Mesmo com um exército maior e mais bem-treinado, os egípcios teriam poucas chances de vencer os persas, mas Cambyses II não queria arriscar, e como era um estudioso da cultura egípcia, resolveu usar esse conhecimento contra o inimigo.

    Cambyses II sabia que os egípcios adoravam Bastet, aquela deusa com cabeça de gato, e felinos eram extremamente populares, a pena por matar um gato era a morte.

    Ele deduziu corretamente que os egípcios não iriam golpear escudos pintados com a imagem de Bastet, e para piorar, os persas ainda levavam gatos, junto com outros animais sagrados. Com medo de ferir os animais os egípcios evitavam disparar flechas e combater os invasores.

    No final das contas os persas perderam 7000 soldados, os egípcios tiveram 50000 mortes. Não que os gatos tenham se importado.

    Nem sempre o uso de guerra psicológica é bem-sucedido, e algumas vezes os resultados são, francamente, hilários. Vamos então a alguns desses casos:
    1 – Na Falta de Ghostbusters…

    Durante a Guerra do Vietnã uma das ações de guerra psicológica usada pelos americanos era espalhar alto-falantes nas florestas. Durante a noite eles tocavam fitas com sons sepulcrais aterradores. Os norte-vietnamitas acreditavam que quem morresse e não recebesse um sepultamento e um funeral (não necessariamente nessa ordem) seguindo os ritos tradicionais, vagaria pelo mundo como uma alma penada.

    Os sons eram tocados também de aviões e helicópteros, e a técnica funcionava muito bem. Bem demais até. Não só os vietcongues atiravam desesperadamente nos aviões e helicópteros que faziam os tais ruídos, como os soldados sul-vietnamitas também se desesperavam e fugiam quando ouviam as vozes macabras.
    2 – Um Fail que não está no gibi

    Durante a Primeira Guerra do Golfo muita propaganda foi utilizada, e com extremo sucesso. Mais soldados iraquianos se renderam por causa de propaganda americana do que foram mortos em combate. Só que nem sempre o material funcionava.

    Inicialmente os inimigos nem encostavam nos panfletos jogados de aviões. Depois de muito bater cabeça, prisioneiros explicaram o motivo: Para serem vistos no deserto com mais facilidade os panfletos eram emoldurados em vermelho. Os iraquianos por sua vez haviam sido instruídos a não encostar em nada vermelho, que representava perigo.

    Errado não é, marcar zonas perigosas em vermelho é padrão em qualquer organização militar.

    Óbvio que soldados normais sabem diferenciar um aviso de perigo em uma bomba ou um canhão, de uma moldura em um panfleto mas os soldados iraquianos não eram as facas mais afiadas da gaveta, e trabalhavam sob doutrinação profunda. Mudada a cor dos panfletos, começaram a ser recolhidos.

    Depois disso, a grande diferença cultural: Vários dos panfletos mostravam iraquianos pensando sobre as consequências da Guerra:
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    Os iraquianos pegavam os panfletos e não entendiam. O motivo? O Iraque não tem uma cultura de histórias em quadrinhos, então toda a simbologia que achamos perfeitamente natural, como onomatopéias, balões de pensamento, etc, não eram reconhecidas pelo iraquiano médio.

    Essa confusão cultural funcionava dos dois lados, e a turma do Saddam também cometeu suas gafes em guerra psicológica, como…
  • 3 – O Amante Insuspeito

    Uma das formas com que Saddam tentava afetar a moral dos soldados americanos era um programa de rádio chamado cinicamente de Voz da Paz, com uma locutora apelidada de Baghdad Betty. O programa era dividido entre músicas, que os soldados adoravam, e propaganda, que ignoravam.

    Entre a propaganda estavam mensagens alertando contra a morte certa, etc, etc, mas também mensagens que lembravam as usadas na Segunda Guerra. “Soldados, vocês deveriam estar em casa, enquanto você está longe, astros de cinema estão pegando suas mulheres. Robert Redford está saindo com sua namorada, Tom Selleck está beijando sua menina, Bart Simpson está fazendo amor com sua esposa”.
    4 – Assim como o Bolo, o Bacon é uma mentira

    Os nazistas usavam muita propaganda, inclusivo com os próprios soldados. Um desses materiais descrevia como os prisioneiros eram maltratados pelos aliados, com tortura, fome, etc. Quando descobriram esse material, os aliados contra-atacaram com o que seria uma excelente arma, a verdade.

    Distribuíram panfletos mostrando fotos de prisioneiros alemães comendo pratões de bacon e ovos, e sendo bem-tratados. Os panfletos tiveram efeito zero, e os prisioneiros foram consultados.

    Eles explicaram que embora fosse a verdade, e estavam muito agradecidos pela comida farta, nenhum soldado alemão, que estava passando privações em casa e no fronte, acreditaria que o inimigo daria para prisioneiros comida como bacon e ovos de verdade.

    Os ingleses então refizeram os panfletos, ocultando a maior parte da comida das fotos. Só então a propaganda começou a fazer efeito.
    5 – Honra Acima de Tudo

    O soldado japonês era notoriamente difícil de ser afetado por propaganda de guerra. A cultura japonesa era extremamente alienígena para o americano médio, e todos os conceitos de devoção ao imperador e honra passavam ao largo dos criadores das peças de propaganda.

    Um conceito que o soldado japonês tinha abominação era a rendição. Ela seria seguida de suicídio, pela vergonha de ter falhado para com o Imperador. A opção era lutar até o fim, e os panfletos de salvo-conduto que diziam “Eu Me Rendo” eram ignorados.

    Tudo mudou quando alguém explicou como os japoneses funcionavam, e texto passou a ser “eu cessei de resistir”.

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    Fontes:

    Operation Desert Shield and Desert Storm.
    Now, It’s Baghdad Betty Calling the Tune
    Saddam’s Perceptions and Misperceptions: The Case of ‘Desert Storm’
    Strategic Influence: Public Diplomacy, Counterpropaganda, and Political Warfare – J. Michael Waller

    https://contraditorium.com/2020/05/20/quando-a-guerra-psicologica-sai-pela-culatra/
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