Como o antissemitismo de Lutero pode ter influenciado o nazismo

editado August 2020 em Religião é veneno
O ANTISSEMITISMO DE MARTINHO LUTERO E A PERSEGUIÇÃO CONTRA JUDEUS
Em Sobre os judeus e suas mentiras, líder da Igreja Protestante vocifera ideologia que foi disseminada por nazistas durante a Segunda Guerra

No início de sua carreira, Martinho Lutero era, aparentemente, solidário em relação à resistência judaica à Igreja Católica. No entanto, o religioso esperava que os judeus se convertessem ao movimento protestante. Como eles não fizeram, o monge agostiniano se voltou violentamente contra o povo.

A raiva e desgosto de uma das figuras centrais da Reforma Protestante foi registrada no livro Sobre os judeus e suas mentiras, tratado escrito pelo teólogo em janeiro de 1543. Na escrita, Martinho defende a perseguição de judeus; a queima de sinagogas e escolas judaicas; a destruição de bens religiosos; a proibição de rabinos pregarem e o confisco de dinheiro.

"Esses vermes envenenados e venenosos devem ser recrutados para trabalhos forçados ou expulsos de uma vez por todas”. O religioso também parece incitar o assassinato dos judeus aos escrever: “temos culpa em não matá-los”.

No tratado, Lutero diz que aqueles que aderem ao judaísmo “devem ser considerados como sujos” e que eles são “cheios de fezes do diabo... que chafurdam como um porco”. O protestante também afirma que a sinagoga é um “prostíbulo incorrigível”.

“Queime suas sinagogas. Negue a eles o que disse anteriormente. Force-os a trabalhar e trate-os com toda sorte de severidade … são inúteis, devemos tratá-los como cachorros loucos, para não sermos parceiros em suas blasfêmias e vícios, e para que não recebamos a ira de Deus sobre nós. Eu estou fazendo a minha parte”, diz um trecho da obra.

“Resumindo, caros príncipes e nobres que têm judeus em seus domínios, se este meu conselho não vos serve, encontrai solução melhor, para que vós e nós possamos nos ver livres dessa insuportável carga infernal – os judeus”, vocifera em outra passagem.

O tratado de Lutero ainda gera inúmeras controversas, principalmente pelas influências antissemitas que Lutero, de certa forma, exerceu na doutrina racista do regime nazista de Adolf Hitler.

Durante a Segunda Guerra Mundial, cópias do livro foram exibidas pelos alemães em comícios e reuniões em Nuremberg, e o consenso acadêmico predominante é que o livro teve um impacto significativo no Holocausto. Julius Streicher, editor do jornal nazista Der Stürmer, descreve a obra como o tratado mais radicalmente antissemita já publicado.

“Embora [Lutero] se rebelasse contra a autoridade religiosa, poderia ser extremamente intolerante com quem dele discordasse em assuntos religiosos. Possivelmente foi devido em parte à sua intolerância o fato de as guerras religiosas terem sido mais ferozes e sangrentas na Alemanha do que, digamos, na Inglaterra. Além disso Lutero era feroz antissemita, tendo talvez, a extraordinária virulência de seus escritos sobre os judeus preparado o caminho para o advento de Hitler na Alemanha do século 20”, explica o historiador Michael H. Hart.

Lutero foi considero por Hitler, em seu Mein Kampf, como uma das três principais figuras da Alemanha — ao lado de Frederico, o Grande, e Richard Wagner. “Os escritos posteriores de Lutero, atacando os judeus, eram tão virulentos que os nazistas os citavam frequentemente”, explicam Dennis Prager e Joseph Telushkin no livro Why the Jews? (Por Que os Judeus?, em tradução livre).

Em contraponto a essa visão, o teólogo Johannes Wallmann escreve que o tratado não teve continuidade de influência na Alemanha e foi de fato amplamente ignorado durante os séculos 18 e 19. Já Hans Hillerbrand corrobora ao argumentar que focar no papel de Lutero no desenvolvimento do antissemitismo alemão é subestimar “a mais grande peculiaridade da história alemã”.

https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/o-antissemitismo-de-martinho-lutero-e-a-perseguicao-contra-judeus.phtml

Comentários

  • editado August 2020
    Possivelmente, mas mais por causa do pragmatismo germânico, por correlação, do que por causalidade.
    Na verdade o nazismo surgiu em meio a um momento da história onde imperava na West Civilization um forte pendor ao eugenismo aético. Mas fundamentalmente o nazismo ocorre desde a derrota da Alemanha com subsequentes e recorrentes humilhações e cobranças de exorbitantes somas a ela impostas pelos vencedores da guerra.

    Os judeus entraram nessa equação por serem tidos como senhores do sistema financeiro mundial. Um estereótipo que dura até os tempos atuais, diga-se de passagem.
  • Senhor escreveu: »
    Possivelmente, mas mais por causa do pragmatismo germânico, por correlação, do que por causalidade.
    Na verdade o nazismo surgiu em meio a um momento da história onde imperava na West Civilization um forte pendor ao eugenismo aético. Mas fundamentalmente o nazismo ocorre desde a derrota da Alemanha com subsequentes e recorrentes humilhações e cobranças de exorbitantes somas a ela impostas pelos vencedores da guerra.

    Os judeus entraram nessa equação por serem tidos como senhores do sistema financeiro mundial. Um estereótipo que dura até os tempos atuais, diga-se de passagem.

    Há também um outro fator que você está esquecendo: as tentativas de golpes comunistas em 1919, 1921, 1923 e depois disso diversas atuações estilo "quanto pior melhor" dos sindicalistas e também grupos comunistas de jagunços-matões que os comunistas também tinham e não só as SS e SA pré-governo nazista e sobretudo a teoria comunista do social-fascismo (demonizando aos social-democratas e por tabela aos social-liberais) que foi na prática uma aliança comunista-nazista contra a democracia.

  • LaraAS escreveu: »
    Senhor escreveu: »
    Possivelmente, mas mais por causa do pragmatismo germânico, por correlação, do que por causalidade.
    Na verdade o nazismo surgiu em meio a um momento da história onde imperava na West Civilization um forte pendor ao eugenismo aético. Mas fundamentalmente o nazismo ocorre desde a derrota da Alemanha com subsequentes e recorrentes humilhações e cobranças de exorbitantes somas a ela impostas pelos vencedores da guerra.

    Os judeus entraram nessa equação por serem tidos como senhores do sistema financeiro mundial. Um estereótipo que dura até os tempos atuais, diga-se de passagem.

    Há também um outro fator que você está esquecendo: as tentativas de golpes comunistas em 1919, 1921, 1923 e depois disso diversas atuações estilo "quanto pior melhor" dos sindicalistas e também grupos comunistas de jagunços-matões que os comunistas também tinham e não só as SS e SA pré-governo nazista e sobretudo a teoria comunista do social-fascismo (demonizando aos social-democratas e por tabela aos social-liberais) que foi na prática uma aliança comunista-nazista contra a democracia.
    Bem lembrado. Essa questão é uma outra correlação importante.

  • Os judeus sempre foram os bodes expiatórios ao longo dos séculos na Europa.
    Choveu pouco? Culpa dos judeus.
    Inundou, veio a praga ou a epidemia? Culpa dos judeus.
    A história da Europa é uma sequência de períodos de convivência pacífica seguidos de perseguições.
    Lutero apenas explicitou o sentimento geral.

    Até por volta de 1960, a liturgia da Igreja Católica falava nos "pérfidos judeus". Este trecho só foi eliminado pelo papa João XXIII.
  • editado August 2020
    Volpiceli escreveu: »
    O ANTISSEMITISMO DE MARTINHO LUTERO E A PERSEGUIÇÃO CONTRA JUDEUS

    Durante a Segunda Guerra Mundial, cópias do livro foram exibidas pelos alemães em comícios e reuniões em Nuremberg, e o consenso acadêmico predominante é que o livro teve um impacto significativo no Holocausto. Julius Streicher, editor do jornal nazista Der Stürmer, descreve a obra como o tratado mais radicalmente antissemita já publicado.

    Escorregadio associar "consenso acadêmico predominante" a algo tão vago como "impacto significativo"... Principalmente quando logo em seguida cita Streicher, que foi muito relevante durante a ascenção do Nazismo, mas que perdeu a disputa de poder com Goebbels, que assumiu a liderança da propaganda antissemita durante o Holocausto.
    Não consta que Goebbels e Himmler fossem lá muito interessados em Lutero.
    Quanto a Hitler, é bem mais consenso que seu antissemitismo foi influenciado mais pelo esoterismo de certas sociedades secretas, como a infame Sociedade Thule, do que por qualquer influência cristã, de Lutero ou outro.
  • editado August 2020
    O antissemitismo e o nazismo, e outras tantas mazelas humanas ocorrem tanto por que é da natureza humana mesmo a beligerância e a crueldade na falta de um esteio cultural sólido para refrear essas "tendências" como também quando ocorrem uma conjunção atipica de fatores adversos tantas vezes observados ao longo da história que rompem as instituições que fundamentam as civilizações.

    E não é só ilação leviana consiserar o homem susceptivel a certas tendências primitivas incompatíveis com a civilidade esperada dos tempos atuais, que o diga o "Efeito Lucifer"(Experimento de Stanford):

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