Fascismo à brasileira - o integralismo
O bispo Dom Hélder Câmara, que combateu a ditadura militar, Vinícius de Moraes, João Cândido Felisberto (o "Almirante Negro") foram integralistas.
https://blogs.oglobo.globo.com/ancelmo/post/o-jornalista-pedro-doria-lanca-livro-sobre-o-movimento-integralista-e-o-bolsonarismo.htmlFascismo à brasileira
O jornalista Pedro Doria lança livro sobre o movimento integralista e o bolsonarismo
Por Ancelmo Gois 04/07/2020
Sairá na segunda quinzena de agosto, pela editora Planeta, o novo livro do nosso Pedro Doria: “Fascismo à brasileira — Como o integralismo, maior movimento de extrema direita da História do país, se formou e o que ele ilumina sobre o bolsonarismo”.
Para o coleguinha, não faltam semelhanças. Mas também diferenças. “Ambos são nacionalistas, autoritários e xenófobos. Para um grupo dos integralistas, os dramas do mundo eram de responsabilidade dos judeus. Para um grupo dos bolsonaristas, são de responsabilidade da China”.
Ambos celebram armas e um culto à masculinidade. Além disso, se utilizam muito bem dos instrumentos de comunicação do tempo, muito melhor do que a esquerda. “O integralismo tinha inúmeros jornais, revistas, amplo espaço no rádio, publicava livros a rodo. O bolsonarismo tem as redes sociais”.
Uma das diferenças é que o integralismo era um movimento de intelectuais respeitados. O número 1, Plínio Salgado (foto), leu poemas seus na Semana de Arte Moderna de 1922, era um romancista respeitado. O número 2, Gustavo Barroso, já havia sido presidente da Academia Brasileira de Letras. O número 3, Miguel Reale, foi um dos maiores juristas do século. Além disso, o integralismo tinha entre seus membros Câmara Cascudo, San Tiago Dantas e dom Hélder Câmara. (Por minha conta e risco: o melhor lugar para você se esconder de certos bolsonaristas é uma livraria, um espaço pouco frequentado por parte dessa turma).
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Comentários
Oglobo.
Até chegarem ao poder, aí o ridículo é substituído pelo terror.
Como os Integralistas nunca chegaram perto de ser um Partido Político hegemônico, quando talvez libertassem seus monstros escondidos, dá até prá lançar um olhar condescendente sobre o grupo.
Os Integralistas eram para o Fascismo o que a Umbanda é para Espiritismo Kardecista, uma tentativa de criar um nacionalismo mestiço, onde o ideal da raça pura, fundamento do Fascismo Europeu seria substituído pelo culto da miscigenação.
No Integralismo a Raça Brasileira seria a combinação em infinitos tons do Índio, Branco e Negro, o que a priori torna infundada a acusação de que se igualavam aos nazistas no quesito.
O texto cita que "Para um grupo dos integralistas, os dramas do mundo eram de responsabilidade dos judeus" sem especificar que grupo seria este.
Plínio Salgado pelo menos foi um dos raros políticos brasileiros a protestar contra a perseguição nazista aos judeus.
É possível que fosse antissemita, sim e que boa parte da trupe também o fosse.
Só que o antissemitismo era o padrão até as primeiras fotos de Bergen-Belsen, Auschwitz e Mathausen começarem a circular.
Para se ter ideia, é indisfarçável o antissemitismo de Gilberto Freyre em Casa Grande & Senzala, ou então notaram o que havia em comum nos vilões de James Bond como Golfinger, Blofeld e Horowitz?
Mas o que sempre me chamou a atenção sobre os Integralistas, e que pode muito bem ser apenas ignorância minha, é que ao contrário dos modelos europeus de quem copiaram os figurinos e coreografias, não me consta que fossem um grupo violento, enquanto os Camisas Negras e as SA davam desde a origem a tônica brutal de suas agremiações.
Nunca vi referências específicas a alguém ser espancado pelos Integralistas e menos ainda que tenham se envolvido em homicídios, coisa que Fascistas Europeus praticaram abertamente antes de chegar ao poder e passaram a praticar industrialmente depois.
Eram (devem ser ainda) extremamente obtusos, aquela parcela de jovens da periferia que sem eira nem beira acaba se agarrando à qualquer ideologia que pareça dar algum sentido às suas vidinhas bestas.
Os Carecas adotaram o lema Deus, Pátria e Família, enquanto saíam por aí batendo em quem não gostavam e pregando ideais nacionalistas e moralistas enquanto se comportavam como qualquer gangue de rua.
Vítimas tradicionais eram grupos de metaleiros dos anos 90, principalmente os que usavam cabelos compridos e emblemas de suas bandas preferidas.
Seriam apenas mais um bando de Brucutus sem cérebro, não fosse a curiosidade de que adotaram seu estilo de vida mezzo Fascista, mezzo delinquente juvenil nas periferias do ABC Paulista, berço e território ideológico hegemônico do socialismo Petista.
Com todo aparato de doutrinação esquerdista montado no seu entorno, aqueles jovens que se encaixavam perfeitamente no estereótipo político do jovem negro periférico oprimido pelo capitalismo, depois dos Headbanger tinham os comunistas como alvo preferido de suas porradas.
Formavam um destes estudos de caso sociológico bizarros, um grupo de marginais sempre dispostos à violência gratuíta, mas que eram dados a atos de cavalheirismo, como escoltar mulheres da vizinhança até suas casas a noite.
Outra bizarrice, se davam muito bem com a Polícia Militar de São Paulo, que tem seus méritos, não sendo a delicadeza um deles, mas que seguia uma abordagem com os Carecas muito diferente da usada com outras guangues, tratadas no cacetete bem temperado*. Era um bordão do grupo a expressão "pagar dez prá Careca", dada a prática da polícia de aplicar como castigo, aos membros flagrados em arruaças, fazer dez flexões de braço, punição típica dos quartéis para pequenas falhas.
Faz tempo que não ouço falar dos caras, espero que os tempos os tenham levado prá lugar nenhum que é onde merecem estar, mas não deixam de ser uma lembrança interessante sobre como os subúrbios criam suas próprias percepções ideológicas.
*n.A. (Nota do Acauan): Referência à coleção O Cravo Bem Temperado, de Bach, para aludir a virtuosidade com que a polícia paulista utilizava o cacetete para produzir o máximo de dor e o mínimo de marcas passíveis de serem identificadas em exame de corpo de delito.
(Bateu saudades das Notas do Acauan, eu adorava estes meus momentos de pedantismo)
Só que, na prática, o que se via era um bando de gatos pingados desfilando pela Av.Presidente Vargas, com roupas não muito uniformizadas, enquanto os carros passavam indiferentes.