Algumas culturas são melhores do que outras, SIM

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Comentários

  • editado December 2016
    Huxley disse: Acauan, então quer dizer que qualquer um que condene a escravidão o faz por determinismo cultural? 

    Não.  É possível que tenham existido indivíduos que criticaram o escravagismo em Roma, por exemplo - apesar de eu desconhecer qualquer registro documentado de um único caso -, mas o que está sendo discutido aqui são culturas que condenam a escravidão, ou seja, cujos fundamentos morais, filosóficos e institucionais repudiem explicitamente esta prática.
    Huxley disse:  Se for assim, de onde veio a ideia original dos primeiros pensadores do tipo mencionado? Uma boa resposta é que nem todos os humanos são fotocopiadoras de memes. As ideias não só são meramente absorvidas. Elas também são criadas, e quando são absorvidas, são analisadas, discutidas e aperfeiçoadas. A evolução criou o cérebro humano para ser a origem da validação das ideias válidas, próprias ou alheias. Um cérebro que fosse meramente uma fotocopiadora de memes seria facilmente eliminado pela seleção natural.

    Ou seja, você está propondo uma hipótese de fundamentação biológica da Cultura, o que não parece fundamentado em evidências.
    E uma evidência em contrário é bastante óbvia, que são as rupturas culturais que as civilizações passam de tempos em tempos.  Roma se tornando cristã é uma delas, os árabes politeístas constituindo o Islã é outra e os regimes totalitários do século XX, embora de vida historicamente curta, são um terceiro.
    Não foi a biologia dos cérebros que determinou estas rupturas culturais porque elas são bruscas, biologicamente os cérebros árabes politeístas e dos árabes muçulmanos era exatamente o mesmo.

    A evolução cultural é determinada fortemente pelo ambiente, como muito bem evidenciou Jared Diamond, já citado.
    Mas há outro fator impoderável que tudo indica ser decisivo.
    Obviamente não está em discussão que as consciências e inteligências são individuais, mas também é certo que consciência e inteligência só se manifestam no cérebro humano através de simbologias que traduzem o concreto em abstrato, cuja expressão mais avançada são as linguagens, matemática inclusa.

    Ou seja, nossas mentes produzem a Cultura, mas também se manifestam ou de certo modo existem dentro dela.
    Tire de você todas as ferramentas de linguagem, imagine-se tentando entender o mundo e pensar sem utilizar uma palavra que fosse, trabalhando apenas memórias sensoriais. 
    É claro que se tal situação se desse, você não seria você, sua individualidade ainda existiria, mas os atributos que caracterizam esta individualidade deixariam de existir pois não teriam os meios pelos quais são definidas e entendidas.

    Estas e outras interações tem desdobramentos complexos, por isto que a tal "Teoria da Cultura" nunca passa da condição de projeto.


     
  • editado December 2016
    E uma evidência em contrário é bastante óbvia, que são as rupturas culturais que as civilizações passam de tempos em tempos.  Roma se tornando cristã é uma delas, os árabes politeístas constituindo o Islã é outra e os regimes totalitários do século XX, embora de vida historicamente curta, são um terceiro.

    Não foi a biologia dos cérebros que determinou estas rupturas culturais porque elas são bruscas, biologicamente os cérebros árabes politeístas e dos árabes muçulmanos era exatamente o mesmo.
     

    Ninguém aqui é doido de achar que todas as mudanças fenotípicas são adaptativas, até porque parte da evolução comportamental é neutra ou resultado de flutuação aleatória. Mas mudanças fenotípicas radicais podem ocorrer sem alteração genotípica. Isso ocorre em organismos animais e vegetais e isso se chama plasticidade fenotípica. Para entender porque isso acontece, é só visualizar a influência biológica no comportamento de forma análoga a influência da receita culinária só com a descrição dos ingredientes em um produto culinário. A mudança de panelas pode alterar o produto culinário sem a alteração da receita só com a descrição dos ingredientes. O caso da evolução do comportamento é um tanto diferente porque se encaixa muito melhor naquilo que as teóricos de complexidade chamam de "sistemas dinâmicos". De qualquer forma, a adaptabilidade de uma estratégia de comportamento ou crença pode ser altamente dependente do contexto do ambiente - e esse ser instável, uma crença pode ser revisada radicalmente pois certas opções de ideias não foram analisadas, etc., existem muitas maneiras de o fenótipo mental se estender com a "mesma receita" e isso não implicar qualquer paradoxo.
  • editado December 2016
    Se o comportamento é moldado pelos sistemas morais - e sua filosofia-, pela religião e pela linguagem, de onde vieram esses? A pergunta que não quer calar: de onde veio a cultura? Do nada? Sim, porque tudo que tem um design complexo, ou surgiu por milagre de flutuação aleatória ou teve sua improbabilidade astronômica diluída por mecanismos de evolução adaptativa. 



     
  • editado December 2016
    Claim CB411:Evolution cannot explain moral behavior, especially altruism. Evolutionary fitness is selfish; individuals win only by benefitting themselves and their offspring.Source:Dembski, William A., 2004. Reflections on human origins. http://www.designinference.com/documents/2004.06.Human_Origins.pdf 
    Watchtower Bible and Tract Society. 1985. Life--How Did It Get Here? Brooklyn, NY, p. 177.Response:
    1. The claim ignores what happens when organisms live socially. In fact, much about morals can be explained by evolution. Since humans are social animals and they benefit from interactions with others, natural selection should favor behavior that allows us to better get along with others. 

      Fairness and cooperation have value for dealing with people repeatedly (Nowak et al. 2000). The emotions involved with such justice could have evolved when humans lived in small groups (Sigmund et al. 2002). Optional participation can foil even anonymous exploitation and make cooperation advantageous in large groups (Hauert et al. 2002). 

      Kin selection can explain some altruistic behavior toward close relatives; because they share many of the same genes, helping them benefits the giver's genes, too. In societies, altruism benefits the giver because when others see someone acting altruistically, they are more likely to give to that person (Wedekind and Milinski 2000). In the long term, the generous person benefits from an improved reputation (Wedekind and Braithwaite 2002). Altruistic punishment (punishing another even at cost to yourself) allows cooperation to flourish even in groups of unrelated strangers; the abstract of Fehr and Gächter (2002) is worth quoting in full: 

      Human cooperation is an evolutionary puzzle. Unlike other creatures, people frequently cooperate with genetically unrelated strangers, often in large groups, with people they will never meet again, and when reputation gains are small or absent. These patterns of cooperation cannot be explained by the nepotistic motives associated with the evolutionary theory of kin selection and the selfish motives associated with signalling theory or the theory of reciprocal altruism. Here we show experimentally that the altruistic punishment of defectors is a key motive for the explanation of cooperation. Altruistic punishment means that individuals punish, although the punishment is costly for them and yields no material gain. We show that cooperation flourishes if altruistic punishment is possible, and breaks down if it is ruled out. The evidence indicates that negative emotions towards defectors are the proximate mechanism behind altruistic punishment. These results suggest that future study of the evolution of human cooperation should include a strong focus on explaining altruistic punishment. 

      Finally, evolution does not require that all traits be adaptive 100 percent of the time. The altruism that benefits oneself most of the time may contribute to life-risking behavior in some infrequent circumstances. 
    2. This claim is an argument from incredulity. Not knowing an explanation does not mean no explanation exists. And as noted above, much of the explanation is known already.
    References:
    1. Fehr, Ernst and Simon Gächter, 2002. Altruistic punishment in humans. Nature 415: 137-140.
    2. Hauert, C., S. De Monte, J. Hofbauer and K. Sigmund, 2002. Volunteering as Red Queen mechanism for cooperation in public goods games. Science 296: 1129-1132.
    3. Nowak, M. A., K. M. Page and K. Sigmund, 2000. Fairness versus reason in the ultimatum game. Science 289: 1773-1775.
    4. Sigmund, Karl, E. Fehr and M. A. Nowak, 2002. (see below)
    5. Wedekind, C. and V. A. Braithwaite, 2002. The long-term benefits of human generosity in indirect reciprocity. Current Biology 12: 1012-1015.
    6. Wedekind, C. and M. Milinski, 2000. Cooperation through image scoring in humans. Science 288: 850-852. See also Nowak, M. A. and K. Sigmund, 2000. Shrewd investments. Science 288: 819-820.
    7. Wright, Robert, 1994. (see below)
    Further Reading:Netting, Jessa, 2000 (20 Oct.). Model of good (and bad) behaviour. Nature Science Updatehttp://www.nature.com/nsu/001026/001026-2.html 

    Sigmund, Karl, Ernst Fehr and Martin A. Nowak, 2002. The economics of fair play. Scientific American 286(1) (Jan.): 82-87. 

    Vogel, Gretchen, 2004. The evolution of the golden rule. Science 303: 1128-1131. 

    Wright, Robert, 1994. The Moral Animal New York: Pantheon Books. 

    Henrich, Joseph. 2006. Cooperation, punishment, and the evolution of human institutions. Science 312: 60-61. 

    Nowak, Martin A. 2006. Five rules for the evolution of cooperation. Science 314: 1560-1563.

    Fonte: http://www.talkorigins.org/indexcc/CB/CB411.html



    Outros links úteis...

    Sobre a origem da linguagem: http://www.talkorigins.org/indexcc/CB/CB440.html

    Sobre a origem da religião: http://www.talkorigins.org/indexcc/CB/CB402.html

     
  • Huxley disse: Se o comportamento é moldado pelos sistemas morais - e sua filosofia-, pela religião e pela linguagem, de onde vieram esses? A pergunta que não quer calar: de onde veio a cultura? Do nada? Sim, porque tudo que tem um design complexo, ou surgiu por milagre de flutuação aleatória ou teve sua improbabilidade astronômica diluída por mecanismos de evolução adaptativa. 

    Você está fugindo do tema que é algumas civilizações são melhores que as outras.
    Sua proposta inicial pareceu ser que não existe o sujeito Civilização, pois toda ação humana seria produto de seus processos cerebrais formados pela evolução biológica.

    Quanto à evolução das diferentes Culturas, a história de todas que deixaram registro escrito é suficientemente conhecida, de como o Crescente Fértil levou ao desenvolvimento da agricultura, disto para a fixação das comunidades para promover o cultivo, o surgimento das cidades para prover artigos que os agricultores não podiam obter por estarem ocupados no campo, daí para o comércio etc.

    Cultura é assim a interação de consciências e inteligências em um contexto social definido produzindo conhecimento compartilhado e consensos sobre como as interações sociais devem se estabelecer.

    Esta sequência se repetirá tantas vezes quanto civilizações surgiram e se desenvolveram.

    O ponto aqui é que a civilização Ocidental produziu uma ruptura revolucionária na percepção do Homem sobre si mesmo que foi a invenção intelectual do indivíduo (tenho um texto que trata exclusivamente disto) e o posicionamento do indivíduo humano no centro da realidade.
    Nenhuma civilização anterior produziu este salto conceitual.
    Desde então foi um longo e doloroso caminho até a Declaração Universal dos Direitos do Homem e daí para as democracias representativas modernas que se fundamentam na defesa dos direitos e garantias individuais.

    Não há nenhuma explicação biológica de o porquê da trilha seguida pelo Ocidente deveria ser o modelo civilizacional da humanidade, mas foi assim e ainda bem.
    Japoneses até hoje não veêm nada de errado em considerarem-se uma raça melhor que todas as outras, hindus ainda acham que castas tem significado espiritual e isto prá não falar do show de horrores que vigora em culturas tribais primitivas, como os Ianomâmis que enterram vivos bebês recém nascidos por serem gêmeos.

    Não tem experimento de Laboratório que reproduza estas condições ou equação civilizatória que permita fazer previsões testáveis sobre o caso, mas é certo que democracia, liberdade, direitos humanos e sacralização do indivíduo é melhor que quase tudo que o mundo produziu antes da consolidação destes valores pelas democracias ocidentais.
     
  • editado December 2016
    Você está fugindo do tema que é algumas civilizações são melhores que as outras.
    Sua proposta inicial pareceu ser que não existe o sujeito Civilização, pois toda ação humana seria produto de seus processos cerebrais formados pela evolução biológica.

    Quanto à evolução das diferentes Culturas, a história de todas que deixaram registro escrito é suficientemente conhecida, de como o Crescente Fértil levou ao desenvolvimento da agricultura, disto para a fixação das comunidades para promover o cultivo, o surgimento das cidades para prover artigos que os agricultores não podiam obter por estarem ocupados no campo, daí para o comércio etc.

    Cultura é assim a interação de consciências e inteligências em um contexto social definido produzindo conhecimento compartilhado e consensos sobre como as interações sociais devem se estabelecer.

    Esta sequência se repetirá tantas vezes quanto civilizações surgiram e se desenvolveram.

    O ponto aqui é que a civilização Ocidental produziu uma ruptura revolucionária na percepção do Homem sobre si mesmo que foi a invenção intelectual do indivíduo (tenho um texto que trata exclusivamente disto) e o posicionamento do indivíduo humano no centro da realidade.
    Nenhuma civilização anterior produziu este salto conceitual.
    Desde então foi um longo e doloroso caminho até a Declaração Universal dos Direitos do Homem e daí para as democracias representativas modernas que se fundamentam na defesa dos direitos e garantias individuais.

    Não há nenhuma explicação biológica de o porquê da trilha seguida pelo Ocidente deveria ser o modelo civilizacional da humanidade, mas foi assim e ainda bem.
    Japoneses até hoje não veêm nada de errado em considerarem-se uma raça melhor que todas as outras, hindus ainda acham que castas tem significado espiritual e isto prá não falar do show de horrores que vigora em culturas tribais primitivas, como os Ianomâmis que enterram vivos bebês recém nascidos por serem gêmeos.

    Não tem experimento de Laboratório que reproduza estas condições ou equação civilizatória que permita fazer previsões testáveis sobre o caso, mas é certo que democracia, liberdade, direitos humanos e sacralização do indivíduo é melhor que quase tudo que o mundo produziu antes da consolidação destes valores pelas democracias ocidentais.

    Algumas culturas são melhores que outras. Não nego isso. Também não nego que a alta cultura do Ocidente foi e é uma disseminadora extremamente útil. O que defendo é que a alta cultura do Ocidente recebe o crédito por ter dado origem a algo que ela não originou. Nada em cultura faz sentido, exceto à luz da psicologia humana. Quem criou a psicologia humana? A alta cultura do Ocidente não originou a cognição humana, a alta cultura do Ocidente não originou as intuições morais INATAS. Toda a Filosofia Moral e Política do Ocidente se baseia em fundamentos últimos que dependem de intuições morais INATAS. Retire a cognição humana, retire as intuições morais inatas da história e a alta cultura do Ocidente seria isto: NADA!

    Transições abruptas na história da sociedade não provam a origem de algo. Basta fazer uma analogia com as epidemias para entender isso. As epidemias causaram transições abruptas na história da sociedade, mas elas não foram a origem das doenças humanas!
  • Huxley escreveu:
    ​​​​​​Toda a Filosofia Moral e Política do Ocidente se baseia em fundamentos últimos que dependem de intuições morais INATAS.

    Instituições morais inatas não existem, o que existe é uma pressão para que alguma moral se estabeleça.
  • editado December 2016
    Instituições morais inatas não existem, o que existe é uma pressão para que alguma moral se estabeleça.
     

    Condição indispendável para que se cedesse a essa pressão ao longo da história foi justamente a existência de intuições morais inatas.
  • Huxley disse:
    Instituições morais inatas não existem, o que existe é uma pressão para que alguma moral se estabeleça.
     

    Condição indispendável para que se cedesse a essa pressão ao longo da história foi justamente a existência de intuições morais inatas.

    O que existe são pactos firmados de acordo com instintos de sobrevivência.
  • editado December 2016
    Huxley disse:
    Algumas culturas são melhores que outras. Não nego isso. Também não nego que a alta cultura do Ocidente foi e é uma disseminadora extremamente útil. 
    concordamos no essencial, então.
    O que defendo é que a alta cultura do Ocidente recebe o crédito por ter dado origem a algo que ela não originou. Nada em cultura faz sentido, exceto à luz da psicologia humana.

    Psicologia humana?  Talvez quisesse dizer Psiquê.
    A alta cultura do Ocidente não originou a cognição humana, a alta cultura do Ocidente não originou as intuições morais INATAS. Toda a Filosofia Moral e Política do Ocidente se baseia em fundamentos últimos que dependem de intuições morais INATAS. Retire a cognição humana, retire as intuições morais inatas da história e a alta cultura do Ocidente seria isto: NADA!

    A questão é exatamente esta. Porque  algumas civilizações transformaram esta moral inata em instituições sólidas e outras não e porque o Ocidente foi a civilização melhor sucedida nesta empreita.
    Transições abruptas na história da sociedade não provam a origem de algo. Basta fazer uma analogia com as epidemias para entender isso. As epidemias causaram transições abruptas na história da sociedade, mas elas não foram a origem das doenças humanas!

    Não sei o que isto tem a ver...
    Citei que não se pode estabelecer simultaneidade entre evolução biológica e evolução civilizacional porque esta se caracteriza por rupturas bruscas e aquela por processos de milhões de anos.
  • editado December 2016
    A questão é exatamente esta. Porque algumas civilizações transformaram esta moral inata em instituições sólidas e outras não e porque o Ocidente foi a civilização melhor sucedida nesta empreita.

    A razão é que mesmo pequenas mudanças ambientais podem gerar consequências grandes no fenótipo (há uma relação bi-causal "gene x ambiente", isto é, com efeitos multiplicativos), e essas mudanças são propagadas pela cultura feito uma epidemia. Ademais, sabe-se que a seleção natural não necessariamente opera de maneira tão vagarosa como se imaginava anteriormente (vide citação mais adiante). O atraso de alguns povos mais primitivos pode ser resultado das diferenças de coevolução gene-cultura.

    Apesar disso, cabe uma ressalva. O conceito de "nação média do Ocidente" pode ser enganoso. Lembremos da diferença atual de desenvolvimento que existe entre Guatemala, Haiti, Cuba, etc. de um lado e Japão, Coreia do Sul, Qatar, Emirados Árabes Unidos, etc. de outro.  E da diferença de desenvolvimento, até o fim da Idade Média, entre a China e as nações mais atrasadas da Europa (ou até, talvez, as que estavam, no máximo, na média de desenvolvimento da Europa).
    Não sei o que isto tem a ver...
    Citei que não se pode estabelecer simultaneidade entre evolução biológica e evolução civilizacional porque esta se caracteriza por rupturas bruscas e aquela por processos de milhões de anos.
    "A ideia de estarmos condenados a uma psicologia adaptada ao Pleistoceno subestima o ritmo em que a seleção natural e sexual pode conduzir a mudança evolutiva. Estudos recentes mostram que a seleção pode alterar radicalmente os traços da história de vida de uma população em apenas 18 gerações (para os humanos, grosseiramente, 450 anos)."

    Buller, David J. Quatro equívocos da psicologia evolutiva popular. Scientific American Brasil. Ano 7 , Nº 81, p. 62-69, 2009.

    Além disso, o que eleva uma mera surpresa ao status de ruptura são as consequências do evento. Mas as consequências levam tempo para se desenvolver. Quando nos referimos hoje à "tomada da Bastilha", queremos dizer o evento em si mais os eventos que isso desencandeou e desembocaram na Revolução Francesa. Ou seja, muito cuidado ao se referir ao termo "ruptura brusca". Mesmo essas mudanças grandes podem acontecer pelos motivos que expus no primeiro parágrafo deste post.
  • editado December 2016
    O ambiente é um fator importante. Já que estou tendo dificuldade em que me entendam sobre a dinâmica entre gene, ambiente e fenótipo, colocarei um trecho de um post de um tópico que abri no antigo Religião é Veneno: 

    "Não há justificativa biológica para afirmar que os fatores genéticos e os ambientais agem de forma aditiva. Muitos jornalistas e leigos têm a ideia errada de que os genes criam o molde e a influência ambiental – treino, nutrição, cultura, emoções, etc. – apenas adiciona um fator de desempenho complementar a ele. Na verdade, o ambiente, os genes e as proteínas se afetam mutuamente ANTES que uma característica esteja consolidada. Portanto, a relação gene-ambiente é interativa, não aditiva. Certas expressões genéticas só acontecem com certos estímulos ambientais. Além disso, a neurociência diz que a experiência influi não só nas conexões interneurais, mas também na criação de novos neurônios e transformação de regiões cerebrais como lóbulos frontais, amígdala e hipocampo, todos eles relacionados com os mais diversos tipos de inteligência. 

    •   Experimentos de Cooper-Zubek em 1958 com grupos genéticos de ratos com desempenho testado em labirintos ao longo de gerações mostraram como seus descendentes se saíram ao serem criados em diferentes ambientes. Antes que se testasse o número de erros que cometeriam ao caminhar nos labirintos, ratos descendentes dos grupos genéticos bons e maus – com diferença média de 40% em termos de erros entre os dois grupos – foram submetidos a esses ambientes: 

    Enriquecido – Casinha com paredes pintadas com cores fortes e vivas. Havia rampas, balanços, escorregos, espelhos e sinos.

    Normal – Casinha com parede sem cores vivas. Poucos exercícios e brinquedos para estimular os sentidos.

    Limitado – Basicamente um “barraco de rato”.

    E o resultado chocante... A única circunstância em que os ratos tiveram desempenho significamente discrepante foi no caso em que foram criados em ambientes normais. Ratos ruins de labirinto tiveram um número de erros apenas 10% superior aos bons de labirinto na comparação da criação em ambientes enriquecidos. Por fim, ratos bons e maus de labirintos tiveram desempenho idêntico quando criados em ambientes limitados (eles foram igualmente burros!)." 

    Fonte: http://clubecetico.org/forum/index.php?topic=24930.0 (Se não conseguirem abrir, vejam a trascrição do tópico inteiro do CC no tópico do Edson sobre sexualidade feminina.)  
  • editado December 2016
    Huxley escreveu: »

    Algumas culturas são melhores que outras. Não nego isso. Também não nego que a alta cultura do Ocidente foi e é uma disseminadora extremamente útil. O que defendo é que a alta cultura do Ocidente recebe o crédito por ter dado origem a algo que ela não originou. Nada em cultura faz sentido, exceto à luz da psicologia humana. Quem criou a psicologia humana? A alta cultura do Ocidente não originou a cognição humana, a alta cultura do Ocidente não originou as intuições morais INATAS. Toda a Filosofia Moral e Política do Ocidente se baseia em fundamentos últimos que dependem de intuições morais INATAS. Retire a cognição humana, retire as intuições morais inatas da história e a alta cultura do Ocidente seria isto: NADA!


    Não seria o fato do Ocidente ter conseguido reunir o melhor culturalmente de diversas fontes para que houvesse uma coexistência de diversas vertentes sem que houve um prejuízo evidente entre elas?

    Assim, achei interessante seu ponto até o post do clube cético, mas vejo uma certa dificuldade de assimilar isso a questão sucesso em sociedade.

  • Percival disse:
    Percival disse:

    Algumas culturas são melhores que outras. Não nego isso. Também não nego que a alta cultura do Ocidente foi e é uma disseminadora extremamente útil. O que defendo é que a alta cultura do Ocidente recebe o crédito por ter dado origem a algo que ela não originou. Nada em cultura faz sentido, exceto à luz da psicologia humana. Quem criou a psicologia humana? A alta cultura do Ocidente não originou a cognição humana, a alta cultura do Ocidente não originou as intuições morais INATAS. Toda a Filosofia Moral e Política do Ocidente se baseia em fundamentos últimos que dependem de intuições morais INATAS. Retire a cognição humana, retire as intuições morais inatas da história e a alta cultura do Ocidente seria isto: NADA!


     

    Não seria o fato do Ocidente ter conseguido reunir o melhor culturalmente de diversas fontes para que houvesse uma coexistência de diversas vertentes sem que houve um prejuízo evidente entre elas?

    Assim, achei interessante seu ponto até o post do clube cético, mas vejo uma certa dificuldade de assimilar isso a questão sucesso em sociedade.

     

    Pois é, sintetizou bem o "gargalo", já que de fato, a Western Civilization é menos preconceituosa com informação e conhecimento.
  • Não. Depois de ter lido Kant descobri que a resposta a tal pergunta é não.

     
  • Huxley disse:
    A razão é que mesmo pequenas mudanças ambientais podem gerar consequências grandes no fenótipo (há uma relação bi-causal "gene x ambiente", isto é, com efeitos multiplicativos), e essas mudanças são propagadas pela cultura feito uma epidemia. Ademais, sabe-se que a seleção natural não necessariamente opera de maneira tão vagarosa como se imaginava anteriormente (vide citação mais adiante). O atraso de alguns povos mais primitivos pode ser resultado das diferenças de coevolução gene-cultura.

    E quais teriam sido estas pequenas mudanças ambientais que só houveram no Ocidente para torná-lo o que é?
    Apesar disso, cabe uma ressalva. O conceito de "nação média do Ocidente" pode ser enganoso. Lembremos da diferença atual de desenvolvimento que existe entre Guatemala, Haiti, Cuba, etc. de um lado e Japão, Coreia do Sul, Qatar, Emirados Árabes Unidos, etc. de outro.  E da diferença de desenvolvimento, até o fim da Idade Média, entre a China e as nações mais atrasadas da Europa (ou até, talvez, as que estavam, no máximo, na média de desenvolvimento da Europa).

    Nações e civilizações são conceitos distintos.
    A China é grande o suficiente para ser os dois, mas é uma exceção.
    Quanto à Europa medieval, não era tão atrasada em relação à China quanto alguns cronistas dão a entender, tanto que os chineses fizeram grandes progressos técnicos neste período, mas foram incapazes de explicar estas técnicas por meio de teorias científicas que permitissem a continuidade do desenvolvimento, coisa que a Europa fez brilhantemente.
  • Pug disse: Não. Depois de ter lido Kant descobri que a resposta a tal pergunta é não.

    Se Kant tivesse vivido um tempo entre os Astecas, teria mudado de ideia.
  • editado December 2016
     
    E quais teriam sido estas pequenas mudanças ambientais que só houveram no Ocidente para torná-lo o que é?
    Como assim "só houveram no Ocidente"? Japão, Coreia do Sul, Taiwan e Cingapura também tiveram progressos que levaram a instituições sólidas, inclusivas e de Primeiro Mundo.
  • Huxley disse:  
    Como assim "só houveram no Ocidente"? Japão, Coreia do Sul, Taiwan e Cingapura também tiveram progressos que levaram a instituições sólidas, inclusivas e de Primeiro Mundo.

    Instituições sólidas o Império Romano também tinha.
    Estamos falando de instituições moralmente superiores como dignidade da pessoa humana, liberdade, igualdade perante a lei etc, etc, etc que no conjunto não brotou em nenhum outro lugar ou tempo.
  • editado December 2016
    Instituições sólidas o Império Romano também tinha.
    Estamos falando de instituições moralmente superiores como dignidade da pessoa humana, liberdade, igualdade perante a lei etc, etc, etc que no conjunto não brotou em nenhum outro lugar ou tempo.

    Eu estava falando justamente dessas instituições. De onde você tirou a ideia de que nenhuma das nações desenvolvidas do leste asiático que eu citei possui essas instituições?
  • Huxley disse:

    Eu estava falando justamente dessas instituições. De onde você tirou a ideia de que nenhuma das nações desenvolvidas do leste asiático que eu citei possui essas instituições?

    Ok, então, cite algumas destas nações desenvolvidas do leste asiático que desenvolveram instituições democráticas antes de o Ocidente disseminá-las, de preferência com as evidências históricas. 
    Exemplo: O princípio de que todos são iguais perante a lei foi estabelecido na Inglaterra pela Magna Carta em 1215.  
    Que princípio semelhante existia no Oriente na época?
  • Uma coisa que eu matutei aqui: por mais que alguns países asiáticos fossem evoluídos, sempre foram mais fechados.

    Japoneses são um exemplo disso: eles são muito ligados as tradições deles e não se integram muito a outros países, já o ocidente consegue isso por conta de um "espírito explorador" digamos assim: a cultura acaba passando por transformações por causa disso. Nós somos meio que interligados e queremos difundir informações e aceitamos estas com mais racionalidade. Acredito eu que por isto estamos a frente em questão de sociedade comparativo a outros.
  • Racionalidade?! Todos os povos da terra são racionais e exercem os seus costumes com racionalidade.
    Não é o ponto de ser-se mais ou menos racional.

    Confunde-se os conteúdos com a capacidade humana de razão. 
    Ou seja, quanto muito podemos, embora sempre de um ponto estritamente subjectivo, declarar que determinados conteúdos são melhores do que outros. Só que esta análise parte de fundamentos parciais, pois é a partir do modo como organizamos a nossa visão do mundo que nos comparamos aosoutros.

    Para muitos de vocês, imagino ser difícil tentar ser, de facto, racional o suficiente para entender: o modo como julgamos os outros é igual ao modo como eles nos julgam. Dito d eoutro modo, se o chamamos de bárbaro, também ele nos chamará do mesmo modo.

    A partir daqui podemos complicar seguindo pelo menos duas vias:
    - procurar universais 
    - impor pela força

    Se quisermos, ainda podemos, aliás é o que se faz no mundo, estabelecer pontos comums. Um minimo de comunicabilidade cultural. O que nos permite cooperar, fazer comércio, etc.

    Para encerrar esta curta reflexão:
    Assumo a título pessoal que os meus valores são melhores que os dos outros todos. Respeito a todos desde que não me interfiram na minha vida para lá do razoável.
  • PugPug
    editado December 2016
    Exemplo singelo e eloquente da não diferença do modo de pensar humano:
    Quando se diz eles ( o inimigo) só entende a linguagem da força bruta, não é diferente da visão que este inimigo tem de quem proferiu essa afirmação.

    A seguir, podemos diferenciar entre responder a uma agressão e a legítima defesa. Este ponto poderá parecer simples, só que não é. Não é raro que certos actos sejam declarados resposta a uma agressão. Por sua, vez dando origem a uma resposta dita de legítima defesa. Na verdade, ambos dizem estar a defender-se.

    Meus caros, a mente humana é fascinante. O modo de percepcionar o mundo é onde nos devemos centrar. Muito antes de ver quem é mais bonito ou feio.

    Todavia, nada do que aqui é dito deve ser entendido como defendendo uma determinada visão do mundo. Se houver necessidade de defender alguma, assumo a minha própria. Obviamente, esta tende a ser próxima do meio cultural onde vivo. Prezo muito a minha história...
  • De fato, o Ocidente é mais racional com a postura de isolar a religião e cada vez mais a moral das ações que importam.
  • editado December 2016
    Pug disse: Exemplo singelo e eloquente da não diferença do modo de pensar humano:
    Quando se diz eles ( o inimigo) só entende a linguagem da força bruta, não é diferente da visão que este inimigo tem de quem proferiu essa afirmação.
    Pelo amor de Monã...
    Até onde vai este medo de dar aos bois os nomes que tem?

    Estamos falando do Estado Islâmico, malucos, fanáticos, assassinos, torturadores cujos relatos das atrocidades cometidas esgotam qualquer possibilidade de discussão sobre a veracidade ou não de serem o tipo de gente que só entende a linguagem da força.

    Ou vamos parlamentar com quem crucifica civis, vende garotas cristãs como escravas sexuais e decapita prisioneiros na frente de câmeras?

    Ninguém tem que se preocupar sobre como aqueles monstros nos vêem, eles devem ser detidos com o uso da força necessária e varridos da face da Terra por esta força.

    O resto é lero-lero, blá-blá-blá e nhém-nhém-nhém.
  • editado December 2016
    Ok, então, cite algumas destas nações desenvolvidas do leste asiático que desenvolveram instituições democráticas antes de o Ocidente disseminá-las, de preferência com as evidências históricas.

    Bem, não sei o que isso tem a ver com a discussão iniciada, que foi causada por você ter dito que esse conjunto de instituições "não brotou em nenhum outro lugar ou tempo", o que foi demonstrado como falso. A cultura oriental contemporânea dessas nações que sofreu influência externa também é cultura oriental, uma vez que não existe cultura "fixista-insular".
  • editado December 2016
    Huxley disse:
    Ok, então, cite algumas destas nações desenvolvidas do leste asiático que desenvolveram instituições democráticas antes de o Ocidente disseminá-las, de preferência com as evidências históricas.

    Bem, não sei o que isso tem a ver com a discussão iniciada, que foi causada por você ter dito que esse conjunto de instituições "não brotou em nenhum outro lugar ou tempo", o que foi demonstrado como falso. A cultura oriental contemporânea dessas nações que sofreu influência externa também é cultura oriental, uma vez que não existe cultura "fixista-insular".

    UAI!!!
    Demonstrado como falso quando e onde???
    O fato de outras civilizações terem ADOTADO princípios ocidentais não muda em nada o proposto.

    E só para ilustrar:
    O Japão hoje é uma democracia porque isto foi IMPOSTO pelos americanos vencedores, caso contrário o Imperador ainda seria uma figura divina, como era até 1945;
    A China NUNCA foi uma democacia e talvez NUNCA venha a ser.
    Não obstante a formalidade legal, a India é uma sociedade de castas até hoje, onde a condição de nascimento define ou influencia a vida futura do indivíduo, independente de seus méritos pessoais e isto ainda é visto como um compromisso espiritual - o Karma;
    Nem vou falar das sociedades tribais africanas ou do... Islã.
  • Huxley disse:
    Ok, então, cite algumas destas nações desenvolvidas do leste asiático que desenvolveram instituições democráticas antes de o Ocidente disseminá-las, de preferência com as evidências históricas.

    Bem, não sei o que isso tem a ver com a discussão iniciada, ...

    Ou seja, você não encontrou uma evidência objetiva para contrapor à minha.
  • editado December 2016
    UAI!!!
    Demonstrado como falso quando e onde???
    O fato de outras civilizações terem ADOTADO princípios ocidentais não muda em nada o proposto.

    E só para ilustrar:
    O Japão hoje é uma democracia porque isto foi IMPOSTO pelos americanos vencedores, caso contrário o Imperador ainda seria uma figura divina, como era até 1945;
    A China NUNCA foi uma democacia e talvez NUNCA venha a ser.
    Não obstante a formalidade legal, a India é uma sociedade de castas até hoje, onde a condição de nascimento define ou influencia a vida futura do indivíduo, independente de seus méritos pessoais e isto ainda é visto como um compromisso espiritual - o Karma;
    Nem vou falar das sociedades tribais africanas ou do... Islã.

    Acauan, as mudanças nas "crenças da sociedade" que geram as mudanças de prosperidade são, muitas vezes, não tanto as CAUSAS, mas sim as CONSEQUÊNCIAS dos fatores ambientais. Você perguntou: "E quais teriam sido estas pequenas mudanças ambientais que só houveram no Ocidente para torná-lo o que é?". Eu respondo: acontecimentos históricos institucionais. Embora as crenças da sociedade façam parte daquilo que se chamam de "instituições", existem também os fatores institucionais "não crenças da sociedade"; crenças da sociedade é apenas UM dos componentes das instituições. As crenças da sociedade não são causas independentes (claro, e os fatores  institucionais "não crenças da sociedade" também não). E elas frequentemente têm pouca utilidade em explicar as atuais diferenças de prosperidade ao redor do mundo.

    O exemplo do Japão que você citou só reforça meu argumento, pois ajuda a entendê-lo melhor. Você argumentou que as atuais boas crenças da sociedade japonesa acerca da liberdade resultaram de um acontecimento histórico institucional, não de mudanças na ética nacional. Ora, É EXATAMENTE ISSO que, muitas vezes, explica as diferenças de prosperidade que existem entre as nações do mundo e as diferenças de prosperidade que existem entre as nações do Ocidente (que não é tão homegenamente próspero; veja o caso dos países da América Latina com ascendência majoritariamente europeia como Argentina e Uruguai: eles são bem inferiores em desenvolvimento em relação ao Japão e os Tigres Asiáticos).

    A Teoria Institucionalista do Crescimento de James Robinson e Daron Acemoglu, autores de "Porque as Nações Fracassam" é um ponto de partida interessante para um entendimento abragente sobre o assunto: http://www.mundorama.net/2012/12/07/resenha-de-por-que-as-nacoes-fracassam-as-origens-do-poder-da-prosperidade-e-da-pobreza-de-daron-acemoglu-e-james-robinson-por-gustavo-resende-mendonca/

    Vou abrir um tópico sobre parte do conteúdo desse livro.
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