Amor pela tradução King James!
Os céticos adoram tanto usar a versão King James (ou versão do rei Tiago, a Almeida Corrigida e Fiel brasileira) que alguém poderia pensar que eles ainda estavam de volta na Inglaterra medieval. O uso desta tradução é problemático nos dias atuais, uma vez que utiliza uma versão arcaica do inglês moderno, o que não significa necessariamente as mesmas coisas como foi traduzida 400 anos atrás. Além disso, a KJV foi produzida a partir de um número limitado de manuscritos medievais que não representam o conjunto mais antigo de manuscritos alexandrinos.
O que as traduções modernas dizem?
O que eu vejo é que as versões antigas, como a King James, eram de um tempo em que os cristãos não se envergonhavam dos absurdos e atrocidades da Bíblia, portanto não se preocupavam em disfarçá-los ou suavizá-los.
As traduções modernas partem do princípio de que "Deus não pode ter dito isto, então vamos procurar por uma versão mais suave ou sem contradições".
Um exemplo que me parece perfeito é o trecho em que Isaías fala de Lilith. Na minha Bíblia de Jerusalém, o trecho é claro. Já em outra, trocaram "Lilith" por "lhama" (?!!!), mas esqueceram de apagar as notas de rodapé:
Deus não é o autor do mal. No entanto, Deus recompensa e pune com base no comportamento bom e ruim. Portanto, Deus traz julgamento e calamidade (diretamente ou através de autoridades humanas) sobre aqueles que se rebelam. Deus acabará por julgar todas as pessoas, uma vez que os rebeldes não serão permitido na nova criação perfeita.
Deus é o autor de tudo. Não há como fugir disto.
Nada acontece sem que ele tenha previsto ou planejado.
E, se previu e criou o universo mesmo assim, é o responsável.
Fernando deve lembrar de uma que apareceu aqui e após despejar o rosário usual de bobagens e frases feitas anti-ateístas, resolveu fazer elogios a... Adolf Hitler... pelo que foi imediatamente expulsa do Fórum e suas postagens apagadas.
Acho que era aquela que dizia que tudo na Idade Média era maravilhoso e o que veio depois não prestava.
O que significa dizer que Deus é todo-poderoso? — Peter Kreeft (filósofo católico) perguntou, e em seguida respondeu a própria pergunta: — Significa que ele pode fazer tudo o que seja significativo, tudo o que seja possível, tudo o que faça algum sentido. Deus não pode fazer com que ele mesmo deixe de existir. Ele não pode tornar o bem em mal.
Onipotência e onisciência são conceitos incompreensíveis e até, possivelmente, absurdos.
Tomá-los como premissas leva fatalmente a conclusões absurdas ou contraditórias.
— Não, ele criou a possibilidade do mal; as pessoas concretizaram essa potencialidade. A fonte do mal não é o poder de Deus, mas a liberdade do homem. Até mesmo o Deus todo-poderoso não poderia ter criado o mundo no qual as pessoas tivessem genuína liberdade e, no entanto, não houvesse potencialidade para o pecado, porque a nossa liberdade inclui a possibilidade do pecado stríctu sensu. E uma contradição em si — um nada sem sentido — ter um mundo em que existe verdadeira escolha e ao mesmo tempo nenhuma possibilidade de escolher o mal. Perguntar por que Deus não criou tal mundo é como perguntar por que Deus não criou uma cor sem cor ou quadrados redondos.
Mais uma vez, conclusões absurdas a partir de premissas absurdas.
— Foi exatamente isso o que ele fez — disse Kreeft. —-Após a criação, ele declarou que o mundo era “bom”. As pessoas eram livres para escolher amar a Deus ou afastar-se dele.
Em outras palavras: as pessoas são livres para amar a Deus ou não. Só que, se não amarem, serão torturadas por toda a eternidade.
No entanto, esse mundo necessariamente é o lugar em que o pecado é livremente possível —- e certamente essa potencialidade para o pecado foi concretizada não por Deus, mas pelas pessoas. A culpa em última análise pertence a nós. Ele fez a sua parte com perfeição; fomos nós que criamos confusão.
Não há livre arbítrio se o Criador criou um universo já sabendo, antes mesmo de criá-lo, de tudo o que aconteceria. Tinha a opção de fazer diferente, mas decidiu que seria assim. E nós não temos a opção de fazer diferente daquilo que o Criador já sabia que faríamos antes mesmo de criar o universo.
Em outras palavras, ele criou pessoas destinadas ao inferno.
— Você sabe, Deus tem nos mostrado especificamente, de modo muito claro, como isso pode funcionar. Ele demonstrou como a pior coisa que já aconteceu na história do mundo acabou resultando na melhor coisa que já aconteceu na história do mundo.
— O que o senhor quer dizer?
— Estou me referindo ao deicídio — respondeu. — A morte do próprio Deus sobre a cruz. Naquela época, ninguém viu como alguma coisa boa poderia resultar dessa tragédia. No entanto, Deus previu que o resultado seria a abertura do céu aos seres humanos.
Isto é ridículo. Deus condenou suas criaturas ao inferno. Para poder se permitir mudar sua própria lei, teve que se entregar às suas criaturas para ser morto por elas. Faz algum sentido?
— Está bem, deixe-me apresentar-lhe uma analogia aos relacionamentos humanos — respondeu. — Se eu dissesse ao meu irmão, que tem mais ou menos a minha idade: “Posso livrá-lo de um problema, mas não o farei”, provavelmente eu seria irresponsável e talvez cruel. Mas nós fazemos isso com os nossos filhos o tempo todo. Nós não fazemos os deveres de casa por eles. Nós não os colocamos dentro de uma bolha e os protegemos de todos os males.
Claro, claro, tem tudo a ver comparar não ajudar a fazer o dever de casa com impedir, por exemplo, que um irmão seja atropelado.
Sem falar em que não é um simples atropelamento e sim a condenação irreversível a uma eternidade de torturas.
Sabemos que o caráter moral é formado por meio de provações, da superação de obstáculos, e da perseverança diante de dificuldades. A coragem, por exemplo, seria impossível em um mundo sem dor. O apóstolo Paulo deu testemunho dessa qualidade refinadora do sofrimento quando escreveu que “a tribulação produz perseverança; a perseverança, caráter, esperança”. (Rm. 5,3-4)
Por isso devemos deixar que os outros sejam atropelados para que aprendam a atravessar a rua?
Belo ponto de vista sobre tema tão complexo, mas veja, caro @Fernando, um general em batalha não deixaria seu posto de comando para dar ordens aos soldados, porque, antes, providenciou recursos e treinamento.
E o que dizer do sujeito que nasceu na miséria, numa família disfuncional, num bairro dominado pela bandidagem? Possivelmente com deficiências físicas?
Onde estão esses "recursos e treinamento"?
Na Doutrina Espírita é ensinado que existe uma hierarquia baseada no valor intelecto/moral, no plano invisível, que permite aos subordinados agirem providencialmente em cada caso e a questão do livre-arbítrio é rigorosamente avaliada.
11/02/13 Cabula disse: Os religiosos buscam a eternidade e a salvação, alguns para ir para o céu, outros para o paraíso. Mas quem garante que essa salvação será eterna ? Adão e eva que nem sabiam a diferença entre o bem e o mal e teriam pecado, simplesmente por desobediência. Os milhões de salvos passariam eternamente por este teste? Além disso Lúcifer teria tentado um "golpe de estado" para tomar o poder junto com outros anjos. Observando por esta ótica, o céu não seria assim tão livre de pecados.
Acauan disse: Esta é uma das questões que põem em xeque a Panacéia do Livre Arbítrio, resposta padrão dos cristãos ao Problema do mal.
Se a existência do Livre Arbítrio implica necessariamente na existência do mal, então no Céu existirá o mal ou não existirá o livre arbítrio. Pela premissa, não existe a possibilidade de existir no Céu simultaneamente livre arbítrio e ausência do mal, pois as duas hipóteses seriam excludentes entre si.
E no fim, Deus teria feito a tôa todo aquele escarcéu com Adão e Eva, Queda, Plano de Salvação, Sacrifício Vicário e Redenção.
Seja lá que fórmula que ele iria usar para garantir o BEM eterno no Céu dos salvos, poderia ter usado já na primeira vez.
Os crentes pressupõem que Deus criou um universo perfeito e que nós, suas criaturas, também fomos criados perfeitos, mas que, usando de nosso livre arbítrio, e sabendo das consequências, decidimos pecar.
Como castigo, Deus nos expulsou do Paraíso. Entretanto, em seu infinito amor, enviou-nos seu próprio filho para ser sacrificado por nós e expiar nosso pecado, salvando-nos da morte.
Estas idéias apresentam uma série de falhas, que os crentes se obstinam em ignorar, sempre repetindo que Deus é perfeito e o erro foi nosso.
1. Adão e Eva não cometeram um pecado que justificasse tamanha punição. Se, como diz a Bíblia, eram como crianças que não conheciam o bem e o mal, também não tinham a consciência de que estavam fazendo algo tão errado.
Insistem os crentes em que Deus os avisou claramente. Sim, mas criaturas sem maldade como eles não tinham como perceber que estavam sendo enganadas pela serpente, já que a malícia e a mentira eram conceitos que eles não compreendiam. Quando muito, ao ouví-la, concluiriam que não tinham entendido direito as palavras de Deus. E a verdade é que foi Deus, e não a serpente, que mentiu sobre os frutos da árvore do Bem e do Mal.
Podemos perfeitamente considerar que Deus preparou uma armadilha para Adão e Eva. Um pai amoroso faria de tudo para proteger seus filhos e jamais criaria perigos propositalmente. Ainda mais um pai omnisciente, que já sabia qual seria o resultado.
2. Ainda que aceitemos que Adão e Eva mereceram o castigo, este deveria atingir apenas a eles, não a seus descendentes, que deveriam ter continuado no Paraíso. Os filhos não devem pagar pelos pecados dos pais.
3. Se Deus é omnisciente, ele sabia de tudo o que aconteceria no universo que ele ainda iria criar. Ele tinha a opção de criar infinitos universos diferentes, cada um com infinitas opções de acontecimentos diferentes, mas escolheu criar este, deste jeito, com estas pessoas vivendo estas vidas. Ao se decidir por esta opção, selou nosso destino. Todas as "nossas" decisões já foram tomadas por ele.
Não temos como ser diferentes, ou estaríamos surpreendendo Deus, o que é impossível.
Não temos como fazer diferente do que Deus já sabe que vamos fazer.
Omnisciência e livre arbítrio são incompatíveis. A omnisciência cristaliza o futuro.
4. Deus não perguntou se queríamos nascer. O livre arbítrio, ainda que existisse, já estaria limitado pelas condições em que nascemos: um corpo limitado em sua capacidade e duração; uma mente e uma percepção das coisas limitadas; um local de nascimento, cultura, características físicas e uma família que não escolhemos; uma educação e as circunstâncias de nossa infância, que definem aquilo que somos como adultos, arbitrárias.
Quando nos damos conta das coisas, já estamos numa arena, obrigados a participar de um jogo no qual não pedimos para entrar, do qual não podemos sair, com regras impostas, e que pode resultar num castigo eterno se falharmos.
5. Deus só nos deu 2 opções: obedecer às suas regras arbitrárias ou sofrer eternamente. Não são regras "naturais", como dizem os crentes. Não são "provas do amor de Deus". São imposições. Não somos obrigados a amar a Deus ou gostar das opções. O que Deus faz conosco não passa de chantagem.
Não somos nós que escolhemos, "de livre e espontânea vontade", renunciar ao "amor" de Deus e ir para o inferno.
Deveríamos ter o direito de escolher nossas próprias opções, diferentes das duas que Deus nos impõe, sem sermos castigados, inclusive a de nem nascer.
Aí sim, poderíamos falar de livre arbítrio.
6. Se Deus nos criou perfeitos, então não poderíamos ter pecado, com ou sem livre arbítrio, ou não seríamos perfeitos. Seres perfeitos não decidem se tornar imperfeitos. Se Deus decidiu nos criar imperfeitos, por alguma razão, então não podemos ser condenados por falhas que não escolhemos ter.
Um ente perfeito só deveria criar a perfeição, mas:
"Eu formo a luz, e crio as trevas; eu faço a paz, e crio o mal; eu sou o Senhor, que faço todas estas coisas" (Isaías 45:7).
"Não é da boca do Altíssimo que saem os males e a felicidade?" (Lam. 3:38).
"Dei-lhes então estatutos que não eram bons e normas pelas quais não alcançariam a vida. Contaminei-os com as suas oferendas...a fim de confundí-los" (Ezeq. 20:25-26)
7. Este trecho diz claramente que Deus faz o que lhe dá na telha e sua misericórdia não depende de nós e nossos atos:
Romanos 09:
15 Pois ele diz a Moisés: Terei misericórdia de quem me aprouver ter misericórdia e compadecer-me-ei de quem me aprouver ter compaixão.
16 Assim, pois, não depende de quem quer ou de quem corre, mas de usar Deus a sua misericórdia.
17 Porque a Escritura diz a Faraó: Para isto mesmo te levantei, para mostrar em ti o meu poder e para que o meu nome seja anunciado por toda a terra.
18 Logo, tem ele misericórdia de quem quer e também endurece a quem lhe apraz.
Dons PreterNaturais
Pecado Finito Ofensa Infinita
Liberdade diferente de Libertinagem
O Mal é uma falta uma desordem na hierarquia de bens
Somos parte do Ser de Deus assim como tudo o mais que existe
Não tem como falar sobre a Fé Católica se não a estuda e a pratica continuamente
Não tem como falar sobre a Fé Católica se não a estuda e a pratica continuamente
É perfeitamente possível falar e argumentar sobre o que for partindo de certas premissas, só não espere que as pessoas céticas cheguem as mesmas conclusões devocionais e servis dos adeptos da doutrina.
Se vocês descrevem deus com um ser eterno que irá condenar a maior parte da humanidade com a exceção de alguns poucos escolhidos a tortura eterna depois de um suposto julgamento em circunstâncias das quais ele seria totalmente responsável, por ação ou por omissão, não reclame se chegarmos a conclusão de que ele não seria um sujeito legal e isento do Mal, são as suas premissas e não as nossas.
Não espere que aceitemos passivamente quando tenta defender a quadratura do círculo.
E esses supostos padrões morais que deus teria são completamente contraditórios com os métodos que ele supostamente teria adotado quando criou o mundo.
Deus é contra o roubo? Para ele roubar é pecado e o autor deve ser torturado pela eternidade por causa disso?
Então por que diabos criar um mundo escasso, com seres desesperados por recursos limitados (exceto o ar) para continuar existindo? O ato de roubo e por extensão parasitismo é extremamente comum no mundo natural que supostamente teria sido criado por ele, estranho um sujeito que supostamente odiaria tanto o ato de roubar a ponto de torturar pessoas pela eternidade por isso tenha criado o mundo dessa forma, correto?
O mesmo princípio se aplica a assassinatos, violência, mentira, etc..., para alguém que supostamente odeia o pecado ele teria criado um mundo excepcionalmente fértil para a prática do mesmo.
O ceticismo em relação a todos esses conceitos é mais do que justificado.
Uma premissa que faz muito mais sentido com os fatos conhecidos seria todos esses padrões morais surgirem e se desenvolverem com a sociedade humana e não a partir de um deus criador com controle e poder sobre tudo.
Belo ponto de vista sobre tema tão complexo, mas veja, caro @Fernando, um general em batalha não deixaria seu posto de comando para dar ordens aos soldados, porque, antes, providenciou recursos e treinamento.
E o que dizer do sujeito que nasceu na miséria, numa família disfuncional, num bairro dominado pela bandidagem? Possivelmente com deficiências físicas?
Onde estão esses "recursos e treinamento"?
Estávamos falando sobre Deus, o qual não desce à terra para exercer seus desígnios. Os mensageiros divinos têm total arbítrio sobre as coisas humanas.
Na Doutrina Espírita é ensinado que existe uma hierarquia baseada no valor intelecto/moral, no plano invisível, que permite aos subordinados agirem providencialmente em cada caso e a questão do livre-arbítrio é rigorosamente avaliada.
Deve ser por causa deles que nenhuma criança é atropelada, maltratada ou estuprada. Ou morre de fome.
Você já deve estar cansado de ouvir falar sobre a Lei de Causa e Efeito, ou, a lei do Carma.
"O estuprador consciente do mal que faz, será estuprado, mas... "
Veja que interessante. Isso somente ocorrerá porque, alertado no mundo espiritual sobre as consequências de seu crime e ali, sofrendo castigos de espíritos trevosos, retorna ao corpo físico e repete o mesmo crime. Reincidência.
Para evitar que ele faça novas vítimas colherá da própria semeadura... e então ficamos nós, os ateus, escandalizados, claro.
E esses supostos padrões morais que deus teria são completamente contraditórios com os métodos que ele supostamente teria adotado quando criou o mundo.
Deus é contra o roubo? Para ele roubar é pecado e o autor deve ser torturado pela eternidade por causa disso?
Então por que diabos criar um mundo escasso, com seres desesperados por recursos limitados (exceto o ar) para continuar existindo? O ato de roubo e por extensão parasitismo é extremamente comum no mundo natural que supostamente teria sido criado por ele, estranho um sujeito que supostamente odiaria tanto o ato de roubar a ponto de torturar pessoas pela eternidade por isso tenha criado o mundo dessa forma, correto?
O mesmo princípio se aplica a assassinatos, violência, mentira, etc..., para alguém que supostamente odeia o pecado ele teria criado um mundo excepcionalmente fértil para a prática do mesmo.
O ceticismo em relação a todos esses conceitos é mais do que justificado.
Uma premissa que faz muito mais sentido com os fatos conhecidos seria todos esses padrões morais surgirem e se desenvolverem com a sociedade humana e não a partir de um deus criador com controle e poder sobre tudo.
Relativismo
Pecado Original
Deus é a definição do Bem absoluto
Eu sempre digo: cada pessoa ou cada religião, se afastará tanto de Deus quanto seja a concepção que dele se faça.
Algumas são infantis, outras ingênuas, outras aterradoras e outras fazem dele um garoto de recado...
Acho que uma entidade que tenha criado esse espetacular Universo, tão complexo e misterioso, e ordena a sua evolução; além disso, cria a vida, a inteligência da criatura humana e a natureza, não pode ser compreendido e definido por sua própria criatura.
Por isso as "idas e vindas" ao/do plano invisível, quando então, em contato com espíritos mais evoluídos, acabamos por condicionar nossa mente a uma plausibilidade sobre Deus.
O mundo já era desse jeito violento, cheio de desgraças e desastres naturais muito antes de qualquer ser humano surgir no planeta, defender esse conceito na Antiguidade e Idade Média poderia até fazer algum sentido, na Modernidade com o conhecimento que temos sobre a história natural e Geologia do planeta é cometer suicídio intelectual.
Deus é a definição do bem absoluto
Como poderíamos discutir uma suposta relação de deus com o mal se partirmos de premissas como essas?
Vamos jogar par ou ímpar mas partindo da premissa que par eu ganho e ímpar você perde, ok?
Simplesmente não há o que debater e você parece se dar por satisfeito apenas descrever a doutrina, pode funcionar na igreja falando com convertidos mas em um debate com pessoas céticas é inócuo.
Natureza infusa: acho que existe na Terra toda, afora a China, mais céticos, ateus e religiosos proforma, que propriamente religiosos praticantes... os verdadeiros crentes.
No caso do pecado original,teve como uma de suas consequências;a desarmonia entre o Homem e a Natureza.Se nós estamos no ser de Deus,e Ele é por definição o próprio bem,verdade e justiça;logo,se nos afastamos de comungar da virtude absoluta que é Deus;obviamente como causa e consequência nos afastamos de nossa narureza intrinsicamente e moralmente virtuosa indo em direção ao vazio de Deus que é o inferno;sim,premissas transcendentais que não podem ser comprovadas pela metodologia empírica baseada no conhecimento do Ser Humano limitado ao que ele pode testar;só podem ser reveladas,refletidas e aceitas pela Fé em conjunto com a razão de forma hierárquica.
premissas transcendentais que não podem ser comprovadas pela metodologia empírica baseada no conhecimento do Ser Humano limitado.
Se essas premissas atribuem a existência da morte, das desgraças e das tragédias como resultados das ações humanas e tais podem ser comprovadas como tendo sua existência anterior a de qualquer ser humano então podemos concluir que as premissas são falsas com base nas evidências conhecidas.
A ciência não tem condições de dizer nada sobre a eternidade transcendental, divindades, céu ou inferno mas tem plenas condições para falar sobre a ancestralidade humana e a morte nesse planeta.
Foram os dons preternaturais que perdemos após o pecado original:
1. Imortalidade, pois a morte é fruto do pecado (Gen 2, 7; 3,3 s; Sab 2,14; Rom 5, 12; Rom 6,23). Isto significa que , antes do pecado, o homem não morreria dolorosa e violentamente como ocorre hoje; poderia morrer, mas a morte seria um sono suave, como a de Maria.
2. Integridade, ou imunidade de concupiscência: os afetos, sentimentos e desejos não eram desordenados, mas submetidos docilmente à razão e à fé, sem conflitos interiores.
3. Impassibilidade, ou a ausência de sofrimento, fruto do pecado (Gen 3,16)
4. Ciência Moral infusa: que tornava o homem apto a assumir suas responsabilidades diante de Deus sem dificuldades.
O nosso Catecismo diz (§ 404s) que o homem, após a queda, não pôde mais transmitir aos descendentes o “estado de santidade” (participação perfeita na comunhão com Deus) e de ” justiça” (harmonia perfeita consigo, com a mulher, com a natureza e com Deus).
“Como a falta de um só acarretou condenação para todos os seres humanos, assim a justiça de um só trouxe para todos a justificação que dá a vida” (Rm 5,19).
Como Adão apagou a vida divina em sua alma e nas de seus descendentes, assim Cristo veio para restaurar aquela vida divina e nos habilitar a partilhá-la. Muitos de nós recebemos a vida divina quando éramos crianças, através do sacramento do Batismo.
O Batismo apaga em nós a mancha do pecado original, mas a concupiscência permanece. Nossos instintos e paixões, ambos bons em si mesmos, estão em desordem dentro de nós, e isso não é bom.
A concupiscência se perpetua por si mesma, e isso nos puxa para baixo. Achamos as criaturas atraentes, porque Deus as fez assim, como exemplos de Sua glória, a fim de nos levar a agradecer-Lhe, louvá-Lo e amá-Lo ainda mais. Mas, nós temos a tendência de retornar e fazer destas criaturas os objetos últimos do nosso desejo – ainda que seja nosso cônjuge ou um amigo, o chocolate ou o álcool, livros ou carros. Quanto mais nos entregamos às nossas paixões e desejos, mais eles tomam conta de nós, e aumentam em nós a nossa dependência deles. Quanto mais precisamos desses bens criados, menos sentimos necessidade de Deus – mesmo que tenha sido Ele quem nos deu tudo isso!
A concupiscência nos torna vulneráveis e frágeis na tentação. Somos tentados pelas coisas do mundo devido à nossa concupiscência.
Mas só porque nos entretemos com pensamentos errados, isto não quer dizer que somos culpados. Não, até que nós permitamos que esses pensamentos comecem a nos entreter e a nos levar a cometer um pecado real em nosso interior – e, se não nos arrependermos logo – em breve, o cometeremos na realidade, ou seja, no exterior.
A fim de eliminar os efeitos da concupiscência, primeiramente, é preciso saber quais são. A Tradição nos apresenta três:
1. Nossos intelectos ficam obscurecidos
A faculdade da razão, agora, se volta na direção do nosso corpo. É somente com a graça de Deus, a verdade revelada e o nosso esforço próprio que conseguimos refletir sobre as coisas que se passam conosco, com nosso corpo.
2. Nossas vontades ficam enfraquecidas
A vontade só pode desejar o bem. Mas a vontade age segundo os dados fornecidos pelo intelecto, que, agora, está obscurecido. Assim, muitas vezes, nossa vontade é mal direcionada – não com relação a Deus como nosso fim último, mas relativamente às criaturas como nosso fim imediato.
A vontade ainda escolhe coisas boas; mas escolhe bens inferiores, bens aparentes. Ninguém escolhe o mal pelo mal, mesmo uma pessoa que comete um suicídio ou um assassinato. Hitler pensava que estava praticando o bem ao querer livrar o mundo dos judeus, dos ciganos e dos padres católicos. É desta maneira que a natureza humana distorcida pode se transformar, uma vez que a concupiscência permite total liberdade no agir.
3. Nossos apetites ficam desordenados
Nosso desejo por comida, sono, intimidade sexual – todos são bens em si mesmos, quando estão ordenados para Deus, como foram criados para ser. Mas, por causa da concupiscência, eles ficaram desordenados; e, assim, nossos corpos têm uma tendência a nos arrastar para baixo pela gula, preguiça, luxúria e outros pecados habituais.
O intelecto fica obscurecido, e por isso não alimenta a vontade. Desse jeito, a vontade fica ainda mais enfraquecida. Finalmente, os desejos da carne se tornam desordenados, porque não é mais a alma que governa o corpo como deveria ser.
Adão não estava inicialmente sujeito a males
Após o pecado original debilitou-se a capacidade humana Quando Deus criou Adão e Eva, enriqueceu-os com dons especiais, alguns dos quais estavam acima da natureza humana: dons propriamente sobrenaturais, como a graça divina, que adota o homem à Família Divina, até tornando-o “participante” da própria divina natureza; os dons chamados preternaturais (praeter = além de), isto é, que vão além do essencialmente constitutivo do homem, e que são dons gratuitos, comuns à natureza dos anjos, que adornam a natureza do homem, sem lhe serem estritamente necessários. Tais são, quanto à alma, a imunidade da concupiscência desordenada e da ignorância; e quanto ao corpo, a imunidade em relação à morte e às misérias desta vida, à qual se acrescentava um certo domínio sobre o mundo animal e as forças da natureza. São os chamados dons preternaturais.
A imunidade da ignorância decorria da ciência infusa, isto é, o conhecimento das verdades religiosas, morais e físicas necessárias à instrução de si mesmo e de seus filhos. Esta ciência é chamada infusa porque não fora adquirida pelo estudo, mas infundida diretamente por Deus na alma, por uma benevolência especial do Criador.
Quanto à imunidade em relação à morte, fazia com que o homem, no Paraíso terrestre, após algum tempo de prova, passaria diretamente para o Céu sem conhecer a morte.
Porém, como é sabido, Adão e Eva pecaram, desobedecendo a Deus, e por esse pecado — o pecado original — entrou o mal no mundo. São Paulo o diz expressamente na Epístola aos Romanos (5, 12): “Por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte”.
1. Imortalidade, pois a morte é fruto do pecado (Gen 2, 7; 3,3 s; Sab 2,14; Rom 5, 12; Rom 6,23). Isto significa que , antes do pecado, o homem não morreria dolorosa e violentamente como ocorre hoje; poderia morrer, mas a morte seria um sono suave, como a de Maria.
1. Imortalidade, pois a morte é fruto do pecado (Gen 2, 7; 3,3 s; Sab 2,14; Rom 5, 12; Rom 6,23). Isto significa que , antes do pecado, o homem não morreria dolorosa e violentamente como ocorre hoje; poderia morrer, mas a morte seria um sono suave, como a de Maria.
Grifo meu.
Parei de ler aqui.
Imortalidade aonde se poderia morrer.
Você está defendendo a quadratura do círculo.
(Revista Pergunte e Responderemos, PR 028/1960)
«Que se entende por ‘natural, sobrenatural, preternatural’?
Quais as relações desses elementos com o ‘milagroso’?»
Pode-se dizer que as quatro noções acima supõem todas o conceito de natureza. Será preciso, portanto, começarmos a nossa explanação averiguando o sentido exato deste vocábulo.
1. Natureza e natural
Etimologicamente, natureza vem do radical latino gna, que significar gerar (donde nasci = nascer). Daí se vê que natura, natureza, já por sua etimologia designa (para falarmos em termos muito simples) «aquilo que faz que alguma coisa seja o que ela é».
Na linguagem precisa da Filosofia e da Teologia, por «natureza» de um ser entende-se a essência específica desse ser ou a sua estrutura ontológica. Assim a natureza do homem (aquilo que propriamente faz que o homem seja homem) é a sua racionalidade ou a sua composição de corpo e de alma racional.
Define-se conseqüentemente como natural «o que é proporcional à natureza» ou «o que é determinado pelas exigências da natureza» ou ainda «o que decorre da natureza».
Assim como há diversos tipos de natureza (a do homem, a do animal irracional, a da planta…), há também diversos tipos de «natural»: é, sim, natural, para o homem (não, porém, para a pedra), ter uma inteligência, uma vontade, sofrer a doença, a velhice, a morte; para que o olho veja, é condição natural haja luz (o mesmo, porém, não se requer para que o ouvido ouça).
A ordem natural, por conseguinte, é a reta disposição das criaturas necessária para que possam conseguir o fim último correspondente à sua natureza; no caso do homem:… para que este possa chegar à bem-aventurança de que é capaz a sua natureza.
2. Sobrenatural
1. Sobrenatural, em relação a determinada natureza, é em termos negativos: aquilo que não pertence à integridade dessa natureza nem é necessário para que ela se conserve ou para que consiga a sua perfeição ou finalidade natural;
em termos positivos: o que está acima das exigências dessa determinada natureza. O sobrenatural, portanto, é sempre um dom gratuito, que sobrevém à natureza já constituída.
O sobrenatural divide-se em
a) sobrenatural simplesmente dito e sobrenatural relativo.
Sobrenatural simplesmente dito é aquilo que excede as exigências de toda e qualquer criatura: tal é, por exemplo, a visão de Deus face a face;
Sobrenatural relativamente dito ou segundo determinado aspecto é aquilo que excede as exigências de determinada criatura apenas; assim o raciocínio é natural ao homem; seria sobrenatural, porém, para a pedra.
b) Sobrenatural quanto à substância e sobrenatural quanto ao modo.
Sobrenatural quanto à substância é aquilo que por si ou por sua própria essência está acima do alcance de determinada natureza; assim o conhecimento dos mistérios divinos.
Sobrenatural quanto ao modo diz-se aquilo que por sua essência é natural, mas que, pelo modo como é produzido, ultrapassa o alcance de determinada natureza; assim o desencadeamento de uma tempestade (coisa natural) num momento em que o céu esteja limpo e a atmosfera serena, é um fenômeno sobrenatural quanto ao modo.
Mais dois exemplos ilustrativos sejam aqui consignados.
A vida milagrosamente restituída a um cadáver é vida natural (vegetativa e sensitiva) causada de modo sobrenatural por Deus; a graça santificante, ao contrário, é vida essencialmente sobrenatural, em relação tanto ao homem como ao anjo, pois consiste em participação da vida íntima de Deus, dispondo a criatura a ver o Criador face a face.
2. À luz de quanto dissemos, depreende-se que ordem sobrenatural vem a ser a reta disposição das criaturas necessária para que possam conseguir o seu fim último sobrenatural simplesmente dito, ou também:… para que o homem possa chegar à visão de Deus face a face.
3. Tornam-se oportunas agora algumas observações em torno de quanto acaba de ser exposto:
1) O sobrenatural não se opõe por si ao natural nem destrói a estrutura da natureza. Ao contrário, o sobrenatural supõe a natureza e tende a aperfeiçoá-la. Conseqüentemente, os dons sobrenaturais podem ser comparados ao fogo, que penetra totalmente a barra de ferro, comunicando-lhe as propriedades de luz e calor características do fogo, sem, porém, destruir a natureza do ferro; são também comparados ao enxerto que, colocado em árvore selvagem, não extingue a vida desta, mas, ao contrário, faz que produza melhores frutos.
2) Ê fora de propósito dizer-se, com Ripalda, teólogo do séc. XVII († l648), que Deus poderia criar uma substância sobrenatural, ou seja, uma substância para a qual o sobrenatural simplesmente dito fosse natural. O sobrenatural simplesmente dito excede as exigências de toda e qualquer criatura; nunca, portanto, pode ser natural a uma criatura.
3. Preternatural
O preternatural vem a ser uma modalidade de sobrenatural: é aquilo que aperfeiçoa determinada natureza, excedendo as exigências dessa natureza, sem, porém, a elevar acima de si mesma; o preternatural, portanto, é um dom que liberta a natureza dos defeitos que lhe são congênitos, possibilitando-lhe mais fácil consecução de seu fim próprio.
Haja vista o seguinte exemplo. É natural ao homem morrer após alguns decênios de vida na terra; admita-se, porém, que a existência de determinada pessoa venha a ser prolongada por Deus de modo a não conhecer a morte, sem, porém, que essa pessoa deixe de exercer as faculdades de simples homem (portanto, sem ser elevada ao plano dos anjos ou dos filhos adotivos de Deus); diz-se então que o dom correspondente a tal prolongação é o dom preternatural da imortalidade. — «Preter.. .» denota o que está além das exigências da natureza, permanecendo, porém, na linha mesma da natureza, não passando para plano superior (sobrenatural).
Eis outro exemplo: o homem, como vivente racional, adquire lentamente as suas idéias mediante o raciocínio. Dado, porém. que, em vez de conquistar paulatinamente sua ciência pelo raciocínio, o homem venha a possuí-la imediatamente infundida por Deus no momento da sua criação, diz-se que recebe o dom preternatural da ciência; é um dom que não está propriamente acima da natureza, mas está fora de quanto é devido à natureza humana como tal.
Convém por fim notar que «sobrenatural» e «preternatural» não são termos sinônimos de «espiritual». Todo espírito tem sua natureza e por esta se acha integrado na sua respectiva ordem natural (de alma humana, de anjo…). Pode, porém, ser elevado à ordem sobrenatural ou preternatural mediante os dons que acabamos de caracterizar. Paralelamente, todo ser material tem sua natureza, pertencendo a determinada ordem natural (de corpo humano, p. ex.); além disto, pode ser sujeito de dons sobrenaturais (da glória dos filhos de Deus…) ou preternaturais (imortalidade da carne, isenção de dores e miséria…).
Observe-se também que o sobrenatural e o preternatural não são necessariamente algo de milagroso. Por «milagroso» (no sentido religioso) entende-se o fenômeno extraordinário que chame a atenção dos homens por ser sinal de Deus (cf. «P. R.» 6 1958, qu. 1). Ora pode-se muito bem admitir que dons sobrenaturais ou preternaturais sejam concedidos à natureza humana sem chamar a atenção da comunidade, nem mesmo a do sujeito agraciado. Doutro lado, porém, deve-se reconhecer que todo milagre é algo de sobrenatural ou, ao menos,… de preternatural (justamente por derrogar ao curso normal da natureza é que o milagre chama a atenção dos homens).
Estas noções já nos fornecem elementos para passarmos a ulterior questão.
(3《Quais as consequências do pecado de Adão para o gênero humano?
Após a redenção por Cristo,poderão os dons paradisíacos ser recuperados em casos especiais?》
Antes do mais, em nossa resposta convém elucidar o que sejam «dons paradisíacos» ou «estado paradisíaco». A seguir, verificaremos a que ficou reduzido o gênero humano em consequência do pecado de Adão.
1. O estado paradisíaco
O «estado paradisíaco» é o estado em que Deus quis colocar o primeiro casal humano (Adão e Eva) na fase inicial de sua história. Esse estado se achava associado a um local harmonioso (símbolo da harmonia que reinava dentro do próprio homem) chamado «paraíso terrestre»; donde o nome de «estado paradisíaco». Nessa situação o homem usufruía de dons sobrenaturais e preternaturais.
Vejamos em que consistiam pròpriamente.
a) Os dons sobrenaturais
Sendo o homem uma criatura intelectiva, ele é naturalmente orientado para Deus ou destinado a encontrar em Deus sua perfeição e bem-aventurança. Sim; a criatura intelectiva foi feita para apreender a verdade e dela fruir amorosamente. Ora a verdade por excelência é Deus, o Supremo Ser (Verdade e Ser são conceitos que se recobrem, ensina a Filosofia; cf. «P. R.» 20/1959, qu. 1). Frisemos bem: o homem, por sua inteligência, é capaz de apreender o infinito, de sorte que ele não se realiza plenamente senão na posse do Ser Infinito, que é Deus.
Contudo podem-se conceber duas modalidades ou duas vias pelas quais a criatura humana entre na posse de Deus: a natural e a sobrenatural.
1) A primeira modalidade, natural, é a que decorre da capacidade da natureza humana como tal. Nessas condições o homem tende a conhecer, sim, a Deus, mas de maneira análoga. Com efeito, o conhecimento humano tem por objeto primário as criaturas, e as criaturas tais como elas se apresentam no mundo material que nos cerca ; é a estas que a inteligência humana apreende diretamente. Quanto a Deus, o Ser Infinito, só O apreendemos através das criaturas, por analogia com estas. Tal conhecimento análogo de Deus pode-se tornar cada vez mais puro e penetrante, proporcionando finalmente ao homem o deleite máximo de que ele seja capaz por sua própria natureza. Tal é a chamada bem-aventurança natural do homem, que já os filósofos Platão e Aristóteles preconizaram independentemente da Revelação cristã.
Observe-se agora o seguinte : Deus podia ter criado o homem, destinando-o a conseguir, no currículo de sua vida terrestre, a bem-aventurança natural como fim supremo. O homem se acharia então na ordem natural ou no estado de natureza pura. Em tal condição, ele seria, sem dúvida, afetado das vicissitudes ou enfermidades decorrentes da estrutura mesma da natureza humana. O que quer dizer :
– sofreria de ignorância (pois só aos poucos o homem adquire idéias, nunca chegando à plenitude do saber);
– sofreria as dores, doenças e misérias resultantes dos desgastes do organismo humano e da ação do ambiente sobre este;
– sofreria a morte ou a decomposição, pois todo ser composto (e o homem é um composto de corpo e alma) tende naturalmente a se decompor;
– sofreria também a luta da carne contra o espírito, pois a nossa natureza sensível tem suas tendências, que por vezes antecedem a deliberação da razão e não sempre se harmonizam com os ditames desta.
Apesar de todas essas vicissitudes, porém, o homem poderia, com o auxilio do Criador, chegar ao conhecimento cada vez mais exato da Verdade (de Deus), conformar-se cada vez mais fielmente as normas da moralidade e assim, terminada esta vida, ir gozar de Deus para todo o sempre.
Criando o homem no estado de natureza pura, está claro que o Senhor não faria obra indigna da sabedoria ou da bondade divinas, pois todo ser criado, por definição, significa sempre perfeição finita, falível, capaz de recair no abismo do nada donde procedeu ; não há, nem pode haver, criatura que por sua natureza mesma não traga a marca da limitação e da falibilidade. O Ser Ilimitado ou Infalível simplesmente dito só pode ser um. Criado, por conseguinte, em estado de natureza pura, o homem não teria motivo de se queixar do Criador; seria certamente um artefato belo e bom da Sabedoria Divina.
Note-se outrossim que, nas referidas condições, a criatura humana faria uso de seu livre arbítrio, podendo assim renegar a Deus, seu Fim Supremo, pelo pecado. Pecando, porém, o homem não decairia do seu estado natural, pois o pecado não destrói nem diminui o que é constitutivo da essência ou da natureza das criaturas.
2) Na verdade, porém, (e é pela Revelação Divina que o sabemos), Deus quis ser estupendamente liberal ao criar o homem, concedendo-lhe a dignidade máxima que Ele podia dar a uma criatura intelectual. Sim ; Deus comunicou aos primeiros pais o consórcio da vida divina, fazendo do homem o filho adotivo de Deus, mediante um conjunto de dons que são chamados sobrenaturais. … Sobrenaturais, porque, excedendo as exigências de qualquer natureza criada, habilitavam o homem a conhecer e amar o Criador não através do espelho das criaturas, mas como o próprio Deus conhece e ama a Si.
Os dons sobrenaturais de que gozavam os primeiros pais no paraíso eram
– a graça santificante: entidade criada que se poderia comparar a uma semente ou a um enxerto da vida divina dentro da alma.
A graça santificante é como uma nova natureza ou um novo principio de ação, o qual se manifesta mediante seus órgãos próprios, constituindo com estes de certo modo um «organismo espiritual». Os órgãos de ação da graça eram (e ainda são):
as virtudes infusas, a saber,
as virtudes teologais: a fé, a esperança, a caridade;
as virtudes cardeais: a justiça, a prudência, a fortaleza, a temperança;
– os dons do Espírito Santo (sabedoria, Inteligência, ciência, conselho, fortaleza, piedade, temor de Deus), os quais tornam a alma particularmente apta para receber moções do Espírito Santo.
Possuidor dos dons sobrenaturais, o primeiro homem era chamado a ver a Deus face a face logo ao terminar a sua peregrinação na terra.
Eis, porém, que novo elemento surge ante a nossa mente:
b) Os dons preternaturais
Para facilitar a consecução de tão elevado objetivo (sobrenatural), o Criador ainda quis corrigir os defeitos da natureza humana de Adão e Eva, mediante dons preternaturais, isto é, mediante prerrogativas que constituíam a natureza num estado de maravilhosa integridade, vigor e retidão, mas não a elevavam acima do alcance de suas próprias forças. Assim como a graça santificante e os dons sobrenaturais anexos corroboravam a adesão do espírito de Adão a Deus, assim os dons preternaturais corroboravam a submissão da carne de Adão ao seu espírito, dando origem a estupenda harmonia dentro do próprio homem.
E quais seriam esses dons preternaturais ? Os teólogos enumeram os cinco seguintes:
1) O dom da retidão ou da imunidade de concupiscência; era a prerrogativa mediante a qual os primeiros pais subordinavam todas as tendências da sensibilidade ou da carne ao perfeito domínio da razão, razão que, por sua vez, estava plenamente sujeita ao supremo império de Deus.
Esta prerrogativa é insinuada pelos textos do Gênesis (225 ; 3,7): afirmam que, antes do pecado, Adão e Eva estavam sem vestes e não sentiam rubor por isto (o que só se explica pelo fato de estarem isentos de paixão desregrada, à semelhança de crianças inocentes); depois do pecado, porém, experimentaram a necessidade de se vestir (o que só se pode entender por efeito da concupiscência desordenada que neles se despertara).
2) o dom da imortalidade: mediante este privilégio, o homem, embora tendesse naturalmente a se dissolver na morte, era destinado a passar da Terra à visão beatífica de Deus sem atravessar a morte. Já que a natureza por si repudia a morte, era muito conveniente que o Criador concedesse à alma do primeiro homem o dom de conservar a vida do corpo, enquanto ela mesma conservava sua verdadeira vida, que é a união com Deus.
A existência deste dom no paraíso é atestada pelo fato de que a morte foi infligida ao homem como castigo d acorrente do pecado; cf. Gên 2,17; 3,25s. O livro da Sabedoria ensina outrossim que Deus não fez a morte, mas que esta entrou no mundo por inveja do demônio (cf. 1,13; 2.23s); veja-se também São Paulo, Rom 5,12-17.
O homem, no paraíso, deveria sustentar a sua existência com alimentos (cf. Gên 2,16); estes impediriam o natural desgaste dos órgãos e da energia vital do homem, coisa que atualmente não se dá. Após a ressurreição do corpo, no fim dos tempos, o homem não precisará em absoluto de alimentação corporal.
3) O dom da impassibilidade ou da imunidade de sofrimento. O sofrimento, entendido como doença e achaque do corpo, é um dos elementos precursores e concomitantes da morte. Visto, porém, que o homem no paraíso estava isento de morrer, entende-se que estivesse também imune de sofrer as moléstias portadoras da morte. É o que o texto sagrado dá a entender quando apresenta o sofrimento e a dor como consequências do pecado de Adão (cf. Gên 3,19).
4) O dom da ciência infusa ou da Imunidade de ignorância.
Por «ignorância» entende-se aqui não qualquer falta de conhecimentos, mas a carência das noções que determinado homem, em determinadas circunstâncias da vida, deve possuir (vista a debilidade da natureza humana, verifica-se que é muito fácil ocorrer tal carência). Adão no paraíso, juntamente com a fé infusa (dom sobrenatural), possuía os conhecimentos necessários ao bom desempenho de sua missão de pai do gênero humano; em outros termos: conhecia as verdades de ordem religiosa e filosófica pressupostas para que orientasse a sua conduta e educasse devidamente os seus filhos (cf. Eclo 17,1-8). Isto não significa que fosse conhecedor também das ciências profanas e dos esmerados procederes da técnica. Não se creia tampouco que contemplasse a Deus face a face ou conhecesse acontecimentos futuros contingentes ou ainda as segredos dos corações. Os primeiros pais viviam estritamente do regime da fé.
S. Agostinho e S. Tomás julgaram que ao dom da ciência infusa de Adão estava associado o dom da imunidade de erro (cf. S. Tomás, S. Teol. 194,4; De verit. 18,6); e erro é, sim, o mal da inteligência. Quanto ao erro de Eva, que se deixou seduzir pelas palavras do tentador, dizem os teólogos que ele se explica muito bem na hipótese de que Eva, ao atender ao Maligno, já havia pecado interiormente por orgulho.
A ciência infusa de Adão é insinuada pelo texto bíblico quando refere que o primeiro homem viu desfilar em sua presença todos os animais do paraíso e a cada um impôs o respectivo nome (cf. Gên 2,19). Esta cena não há de ser necessàriamente tomada ao pé da letra; ela provàvelmente significa em termos figurados que Adão teve o conhecimento exato do valor ou do significado dos animais irracionais que o cercavam ou, mais amplamente, do mundo material em que estava colocado. «Impor o nome», na linguagem dos antigos, significa «exprimir a essência ou as notas características» da pessoa ou do objeto nomeado.
5) O dom do perfeito domínio sobre as criaturas inferiores.
É natural que o homem, como criatura intelectiva, ocupe o primado entre as criaturas visíveis deste mundo. Este primado, porém, só se exerce mediante luta e fadiga, vistas as diversas tendências que movem os seres sobre a Terra. Ora, justamente para tornar fácil e perfeito o domínio do homem sobre as criaturas inferiores, o Senhor quis munir de um dom especial os primeiros pais: haveriam de lavrar o solo e dominar os animais (cf. Gên 2,8.15), sem daí ressentir incomodo ou preocupação (cf. Gên 3,17s).
Alguns teólogos incluem o dom do perfeito domínio no da impassibilidade, pois inegàvelmente também esta prerrogativa significa isenção de sofrimento ou de luta.
Os privilégios preternaturais e sobrenaturais que acabamos de assinalar, constituíam o que se chama «a justiça original». Esta, segundo o desígnio de Deus, estava destinada a ser o apanágio de todo o gênero humano ; era como que um patrimônio de família, confiado ao primeiro pai, devendo-se transmitir por geração, de sorte que todo filho de Adão seria, ao mesmo tempo, filho adotivo de Deus.
Os teólogos julgam que apenas o dom da ciência infusa não se comunicaria aos demais homens nas proporções em que Adão o possuía, pois o papel do primeiro homem, criado em idade adulta e destinado a ser pai de todo o gênero humano, exigia conhecimento mais profundo do plano de Deus.
Contudo, para que a transmissão da justiça original se fizesse, era preciso que o primeiro pai perseverasse na sua integridade inicial, obedecendo ao preceito divino.
A condição, porém, não foi preenchida : Adão pecou…
E quais as consequências dessa falta ?
Costumam ser resumidas na fórmula seguinte :
2. “Despojado dos dons gratuitos, ferido em sua natureza“
É com as palavras acima (inspiradas da parábola do bom samaritano em Lc 10,30) que os teólogos exprimem os males de que vem sofrendo o gênero humano por efeito do pecado de Adão. Velamos o seu significado, considerando separadamente cada um dos dois membros da fórmula.
2.1 «Despojado dos dons gratuitos». Tendo-se revoltado contra o Senhor, compreende-se tenha Adão perdido imediatamente os privilégios que o elevavam acima de si mesmo, tornando-o filho adotivo de Deus (privilégios sobrenaturais) Compreende -se também que haja perdido as prerrogativas preternaturais, que corroboravam sua natureza como tal, fazendo-a mais seguro suporte da graça. O Criador não força a liberdade do homem ; desde que êste diga «Não», Deus lhe retira todas as dádivas acessórias ou gratuitas que caracterizam o «Sim» ou o estado de adesão ao Senhor. Esta proposição é clara ; a que mais atenção requer, é a que concerne à natureza humana.
2.2 «…Ferido em sua natureza». É doutrina comum entre os teólogos (já atrás mencionada) que o pecado não deteriora nem destrói a estrutura ou a essência dos seres. Não se pode, por conseguinte, dizer que a natureza humana haja sido diretamente afetada pela culpa dos primeiros pais. O termo «ferido» ou «chagado», na expressão acima, significa antes o seguinte:
A natureza humana está hoje reduzida à sua condição meramente natural e às suas misérias congênitas, depois de ter sido uma vez elevada a condição superior ou sobrenatural; em consequência, o aparecimento, no homem, dos defeitos da natureza já não é simplesmente um fenômeno natural, mas é o produto concreto e perene de uma revolta contra Deus verificada no início da nossa história. Sem dúvida, o homem, após o pecado, pode ainda apreender a verdade e amar o bem ; a culpa dos primeiros pais não colocou alguma energia má no interior da natureza humana, mas retirou a esta os dons que .remediavam às suas misérias congênitas, deixando-a a braços com dificuldades das quais Deus a queria preservar. Donde se segue que a lentidão natural com que o homem apreende a verdade, a concupiscência desregrada que êle padece ao procurar o bem, significam, em última análise, um estado de coisas hediondo, porque destoante do exemplar concebido nos desígnios divinos.
Note-se mais: o homem, hoje reduzido ao seu estado natural, continua, não obstante, destinado a um fim sobrenatural, único fim, aliás, a que Deus chama suas criaturas; Deus ainda quer dar-lhe a visão de Si face a face. É o que faz que o estado atual, embora pareça natural, seja, ainda a novo titulo, um estado de desequilíbrio e desordem.
Em outros termos, diríamos: no estado de natureza pura a ausência dos dons preternaturais e sobrenaturais seria mera ausência, mera falta de um aparato não devido à natureza humana. No estado presente, porém, tal ausência representa depauperamento e decadência em relação a um estado anterior muito nobre. O homem, hoje em dia, é, do ponto de vista religioso, um pobre que já foi muito rico, mas perdeu sua riqueza por imprudência ou loucura sua e, não obstante, continua a ser estimado como rico — o que é muito diferente de um.- pobre que sempre foi pobre e sempre se comportou prudentemente em sua pobreza. O estado atual da natureza humana significa desarmonia e culpa, ao passo que o estado de natureza pura, nunca elevada à ordem sobrenatural, não implicaria tal nota pejorativa.
E quatro são as chagas que os teólogos costumam apontar no estado atual da natureza humana (cf. S. Tomás, Suma Teológica I/n 85, 3) :
1) no paraíso, a inteligência apreendia a Verdade de maneira fácil e certeira — o que hoje não se dá. Donde a chaga da Ignorância;
2) a vontade tendia, de modo espontâneo e eficaz, ao bem, contràriamente ao que hoje se verifica. Donde a chaga da malicia;
3) o apetite irascível se entregava enèrgicamente à árdua pugna; hoje não. Donde a chaga da fraqueza;
4) o apetite concupiscível aderia harmoniosamente aos prazeres moderados pela razão, diversamente do que hoje se dá. Donde a chaga da concupiscência.
Eis as notas que caracterizam o estado religioso e moral do gênero humano após o pecado. Poder-se-iam compendiar todos esses traços numa só palavra : insuficiência. Sim; o homem sofre, hoje em dia, de insuficiência absoluta para conseguir por si o fim último sobrenatural ao qual ele está destinado; insuficiência relativa para chegar ao seu pleno desenvolvimento, mesmo na linha meramente humana.
3. Natureza caída, mas resgatada
Deus em sua misericórdia não quis deixar nem Adão nem algum de seus descendentes no estado de desequilíbrio em que o primeiro pecado projetou o gênero humano. O Pai Celeste, de um lado, houve por bem manter, como dissemos, o destino sobrenatural do homem, não permitindo que este, apesar de toda a ingratidão, vise bem menor do que a filiação divina e a contemplação de Deus face a face ; de outro lado, porém, o Pai decretou dar remédio à incapacidade da natureza humana frente a .tão elevado fim.
Esse remédio consistiu no envio à Terra, de um segundo Adão, Jesus Cristo, que é o próprio Filho de Deus feito homem. Este mereceu para todo o gênero humano, desde Adão até a última geração, novo acesso à graça santificante, às virtudes e aos dons sobrenaturais anexos, restituindo assim ao homem pecador a possibilidade de conseguir o seu fim sobrenatural. Por Cristo e pela aplicação dos méritos de Cristo no Antigo e no Novo Testamento, os homens estão de novo adaptados ao seu fim sobrenatural e positivamente integrados na ordem sobrenatural.
Quanto aos dons preternaturais, cuja função era conferir um subsídio à natureza humana, isentando-a de suas misérias congênitas, eles não nos foram restituídos. Não; o caminho de volta para Deus após o pecado é árduo. Pode-se dizer que Deus mesmo quis que fosse tal.
E porque o quis?
Para que o sofrimento mesmo e a morte, que assinalaram o nosso caminho de afastamento do Pai Celeste, marquem atualmente, por efeito da Redenção de Cristo, nossa senda de regresso à casa do Pai; padecendo e morrendo, pagamos, de um lado, nosso tributo à Justiça e, de outro lado, desembocamos estupendamente na vida eterna. As próprias misérias da natureza, aceitas em união com a Cruz de Cristo, tornam-se os instrumentos concretos de nossa purificação e santificação. O Criador quis que a marca do mal se tornasse destarte também marca do bem; por isto Ele não extinguiu «a marca» (o sofrimento e a morte), ó Sabedoria Divina, que sabe envolver todas as coisas (até o que é mau) num plano benéfico!
Não restituindo os dons preternaturais ao homem, Deus não comete a mínima injustiça, pois o Senhor nada deve à criatura (injustiça em Deus suporia direito da parte do homem). Ao contrário, o desígnio divino manifesta maravilhosa arte do Criador, que, sem derrogar às exigências da justiça, faz que a própria e justa sanção sirva de resgate ao homem!
Pode acontecer, porém, que Deus conceda a uma ou outra alma justa aqui na Terra uma certa assemelharão ao estado paradisíaco; houve, por exemplo, santos que dominaram a natureza, acalmando tempestades, convivendo harmoniosamente com feras, ou curaram doenças, ressuscitaram mortos, falaram línguas novas, predisseram o futuro, etc. Trata-se de dons que o Senhor outorga esporadicamente, sem que isto possa ser previsto nem provocado; em geral, os santos não os pedem nem estão predispostos a crer que o Senhor os esteja agraciando desse modo. Nenhum desses fenômenos maravilhosos ou «paradisíacos» é característico necessário da graça santificante concedida aos filhos de Deus.
Acontece também que, por meio de processos hipnóticos e letárgicos, se deem casos de clarividência, impassibilidade, etc.; tais resultados, porém, obtidos por tal via nada têm de religioso; não podem ser relacionados com os dons paradisíacos nem com os milagres efetuados pelos santos, pois dons paradisíacos e milagres dos santos são essencialmente sinais religiosos ou sinais da presença de Deus que se digna .responder à fé e às orações dos homens (cf. «P. R. 11/1958, qu. 1).
Uma defesa melhor do cristianismo entre céticos poderia vir por parte da cultura que inspiraram e comparar com as demais religiões. Neste quesito o Cristianismo tem muito o que mostrar.
O problema parece ser que Católicos não aceitam fazer essa defesa utilitarista de sua religião ou a acham prejudicial no longo prazo pois isso poderia levar ao esvaziamento dos conceitos de fé e a igreja não seria mais do que um movimento político comportamental.
Não é um desafio fácil quando se soma a "inimigos internos" como os protestantes. No entanto nesta batalha interna os elementos de fé e metafísicos não sofrem do mesmo problema.
Acho que a questão pra eles seria como disseminar a Doutrina Social da Igreja como quem aduba o solo onde vão crescer no futuro praticantes dela ou ao menos uma sociedade que entende a importância dela como conjunto de valores a serem preservados ou no máximo serem mudados de forma conservadora e por vezes imperceptível no tempo. A sociedade muda, a igreja vai atrás torcendo o nariz e finge que não foi mudada pela sociedade mas sim o contrário.
O que há nas religiões é um freio pra parar o progressismo.
Para as religiões há valores inegociáveis, algo que considero bom. Para progressistas toda a mudança é boa porque vem depois e seria um aperfeiçoamento. Não concordo com isso.
Existe uma “Lei Natural”?
FILOSOFIA
Por Dom Estevão Última Atualização 18 Out, 2019
Em síntese: A lei natural é a lei que o Criador promulga mediante a natureza de cada criatura. Pode ser física ou moral. A existência da lei natural moral é afirmada pelo testemunho de todos os povos assim como pela experiência individual ou coletiva dos homens contemporâneos. Quem nega a Metafísica, nega a lei natural, que tem índole imutável e universal.
Está de certo modo apagada a noção de uma lei básica anterior a qualquer lei humana destinada a reger o comportamento das pessoas. O legislador seria a única fonte da moralidade. Ora este modo de pensar é falso, como comprova a história contemporânea, com seus regimes totalitários daninhos à sociedade e aos indivíduos; daí a conveniência de se abordar o assunto.
1. Lei natural: noção
Chama-se “lei natural” aquela que o Criador incute através da natureza ou da realidade íntima das criaturas. Pode ser física ou moral.
A lei natural física compreende as leis da natureza que regem as criaturas destituídas de conhecimento e liberdade: leis da gravidade, da atração da matéria, da flutuação…
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A lei natural moral coincide com as normas morais que todo homem pode conhecer mediante a luz da razão: não matar, não roubar, não adulterar, honrar pai e mãe…
Da lei natural distingue-se a lei positiva, lei promulgada por Deus ou pelos homens em vista de situações concretas ou para explicitar e aplicar os princípios da lei natural.
Interessa-nos neste estudo apenas a lei natural moral, cuja existência é contraditada por correntes filosóficas modernas.
2. Lei natural moral: existência
A natureza é obra de Deus; por isto ela manifesta ao homem deveres que o Criador impõe à criatura para que chegue à sua plena realização. Hoje em dia há quem conteste a existência da lei natural, julgando que esta atrela o homem às leis físicas ou biológicas em detrimento da sua criatividade pessoal inteligente. Eis por que se impõe um exame dos argumentos pró-existência da lei natural.
1) O testemunho de todos os povos
Já entre os povos primitivos se encontra a noção de preceitos morais básicos como: é preciso fazer o bem, honrar pai e mãe, cultuar a divindade… Essas normas não são atribuídas a determinado chefe ou cacique, mas à própria natureza ou Divindade.
Também os povos mais civilizados da antigüidade (gregos e romanos) conheceram a lei natural, atribuindo-a à Divindade. Principalmente a filosofia greco-romana desenvolveu tal noção. Ovídio (+17 d.C.) chamava “Deus em nós” a voz que fala no íntimo de todo homem; Sêneca (65 d.C.) identificava-a como “deus junto de ti, contigo, em ti” e acrescentava: “Em nós habita um espírito santo que observa o bem e o mal” (cartas a Lucílio).
Nos tempos atuais a consciência de que existe uma lei natural com seus direitos naturais se tornou muito viva em conseqüência dos males causados pelos regimes totalitários do século XX: o Estado, atribuindo a si o supremo poder legislador, sacrificou milhões de pessoas – o que provocou a réplica das Nações Unidas formulada na Declaração Universal dos Direitos Humanos em 1948; esta, em grande parte, não é mais do que a reafirmação da lei natural.
2) Os dizeres da S. Escritura
No Evangelho lê-se a regra de ouro, que vale para todos os homens: “Tudo aquilo que quereis que os homens vos façam, fazei-o também a eles” (Mt 7, 12).
São Paulo é o arauto mais explícito da lei natural existente em todos os homens. Referindo-se aos pagãos, escreve:
“Deus os entregou, segundo o desejo dos seus corações, à impureza em que eles mesmos desonraram seus corpos. Eles trocaram a verdade de Deus pela mentira e adoraram e serviram à criatura em lugar do Criador, que é bendito pelos séculos. Amém.
Por isso Deus os entregou a paixões aviltantes: suas mulheres mudaram as relações naturais por relações contra a natureza; igualmente os homens, deixando a relação natural com a mulher, arderam em desejo uns para com os outros, praticando torpezas homens com homens e recebendo em si mesmos a paga da sua aberração” (Rm 1, 24-27).
“Todos aqueles que pecaram sem Lei, sem Lei perecerão; e todos aqueles que pecaram com Lei, pela Lei serão julgados. Porque não são os que ouvem a Lei que são justos perante Deus, mas os que cumprem a Lei é que serão justificados. Quando então os gentios, não tendo Lei, fazem naturalmente o que é prescrito pela Lei, eles, não tendo Lei, para si mesmos são Lei; eles mostram a obra da lei gravada em seus corações, dando disto testemunho sua consciência e seus pensamentos que alternadamente se acusam ou defendem… no dia em que Deus – segundo o meu evangelho – julgará, por Cristo Jesus, as ações ocultas dos homens” (Rm 2, 13-17).
3) O Concílio do Vaticano II
O Concílio do Vaticano II reafirmou tal doutrina em termos muito claros:
“Na intimidade da consciência, o homem descobre uma lei. Ele não a dá a si mesmo. Mas a ela deve obedecer. Chamando-o sempre a amar e praticar o bem e evitar o mal, no momento oportuno a voz desta lei lhe faz ressoar nos ouvidos do coração: ‘Faze isto, evita aquilo’. De fato, o homem tem uma lei escrita por Deus em seu coração. Obedecer a ela é a própria dignidade do homem, que será julgado de acordo com essa lei. A consciência é o núcleo secretíssimo e o sacrário do homem, onde ele está a sós com Deus e onde ressoa a voz de Deus” (Const. Gaudium et Spes no 16).
4) A razão natural
A própria razão aponta a existência da lei natural recorrendo a dois argumentos, entre outros:
a) Quem admite a existência de Deus Criador, admitirá que tenha infundido dentro das criaturas livres, feitas à sua imagem, algumas grandes normas que encaminhem o homem à consecução da vida eterna. Essa orientação interior é precisamente o que se chama “a lei natural”.
b) A negação da lei natural leva a dizer que os atos mais abjetos podem vir a ser considerados virtudes, e vice-versa. Quem não reconhece a lei natural, atribui ao Estado civil o poder de definir o bem e o mal éticos; a vontade do Estado torna-se a fonte da moralidade e do Direito; deste princípio segue-se a legitimação do totalitarismo e da tirania, de que dá testemunho o século XX.
3. Objeta-se…
Contra a existência da lei natural, a mentalidade moderna objeta:
1) O homem não pode estar sujeito à natureza; ele, que por sua inteligência, remove montanhas e aterra baías, como não tem o direito de alterar o curso mesmo da sua natureza corpórea? Tal objeção foi formulada com especial veemência a fim de tentar legitimar os meios artificiais de limitação da prole mediante os quais o homem interfere nas leis e no funcionamento do seu organismo.
Respondemos: o homem não pode considerar o seu corpo como considera os demais corpos da natureza física. Se o homem trata esses últimos a seu bel-prazer, desviando rios e removendo montanhas, não lhe é lícito tratar o seu corpo como bem lhe pareça. Na verdade, o corpo humano, à diferença dos demais corpos, faz parte integrante de um todo que é a pessoa humana; o homem não tem um corpo, mas é um corpo vivificado por uma alma espiritual. O corpo comunica à pessoa as suas características próprias; não é mero instrumento de uma pessoa espiritual.
Ora, assim como no plano fisiológico a corporeidade impõe ao homem certas leis (não posso comer pedras, não posso respirar gás carbônico, não posso deixar de dormir…), também no plano moral a corporeidade impõe ao ser humano certas normas (relativas à quantidade da comida, da bebida, do fumo, ao uso do sexo…); como a inobservância das leis fisiológicas leva a pessoa à morte, também o desprezo das leis morais naturais induz o ser humano à desintegração psíquica e quiçá física.
2) As mesmas idéias voltam sob a seguinte formulação: Nos tempos atuais é preciso passar de uma Ética naturalista para uma Ética personalista.
Que quer isto dizer?
O sujeito da Moral é a pessoa. A pessoa, porém, é a natureza colocada no tempo e no espaço; tais circunstâncias (tempo e espaço) mudam de modo que as leis do comportamento humano não podem ser as mesmas para todos os homens. Disto se segue um certo relativismo ético ou o existencialismo ético; a mesma conduta é boa ou má de acordo com as circunstâncias do agente.
Sem dúvida, este modo de pensar exprime a verdade até certo ponto, mas tem que ser completado pela seguinte ponderação:
A pessoa humana é uma criatura dependente de seu Criador, dependente inclusive no tocante às normas de comportamento que a levam a sua plena realização. Com outras palavras: a criatura não é autônoma, mas teônoma; não é fonte de moralidade, mas recebe do Criador o seu itinerário de volta ao Pai. Esses ditames têm caráter perene e universal, como perene é o ser de Deus e perene é a definição do ser humano (foi, é e será sempre um vivente racional). Essas normas perenes toleram exceções de acordo com as circunstâncias (uma pessoa doente não está obrigada a tudo o que a pessoa sadia faz). Em todos os tempos se reconheceu a necessidade de evitar cometer injustiças em nome de justiça cega e desumana. As exceções, porém, não significam cair no relativismo ou no existencialismo ético.
3) Já no passado a lei natural sofreu contestação.
Assim no século XVI Martinho Lutero, julgando que a natureza humana foi deteriorada pelo pecado, não lhe dava crédito em matéria de Moral; dizia atender apenas às diretrizes traçadas pela Bíblia Sagrada. Tal é o modo de pensar do protestantismo clássico. O catolicismo não o aceita, pois julga que existe a graça santificante, que cura as chagas do pecado e habilita o homem para a vivência dos filhos de Deus. Aliás é de notar, como dito, que o Decálogo Bíblico não faz senão repetir preceitos da lei natural (não matar, não roubar, não adulterar…) com exceção do terceiro preceito, que define o dia do Senhor como sendo o sétimo.
4) Sejam citados ainda os pensadores nominalistas e voluntaristas dos séculos XIV e XV. Afirmavam que a verdade e o bem são tais unicamente por vontade de Deus. Por conseguinte dois e dois seriam quatro unicamente porque Deus o quer, matar e roubar seriam atos moralmente maus tão somente porque Deus o quer.
– Em resposta afirmamos que todo ser é verdadeiro e bom não por vontade aleatória de Deus, mas porque o Criador quis dar a cada ente a condição de verdadeiro e bom. Em outros termos: a verdade e o bem têm seu fundamento na realidade do ser e não na vontade de Deus posterior à criação.
Fica, pois, de pé a noção de lei natural como norma incutida pelo Criador ao mais íntimo das suas criaturas para levá-las cada qual à sua meta suprema.
O que acaba de ser exposto, é corroborado pela palavra do Papa João Paulo II na encíclica Veritatis Splendor:
“Deus criou o homem e ordenou-o com sabedoria e amor ao seu fim mediante a lei inscrita no seu coração (cf. Rm 2, 15), a lei natural. Esta não é mais do que a luz da inteligência infundida por Deus em nosso coração. Graças a ela conhecemos o que se deve cumprir e o que se deve evitar. Esta luz e esta lei, Deus as concedeu na criação” (no 12).
Aliás, a encíclica confirma o clássico ensinamento da Moral proposto neste artigo.
– Vejamos agora…
4. Conteúdo e propriedades da lei natural
4.1. Conteúdo da lei natural
O primeiro princípio da lei natural soa: “Pratica o bem, evita o mal”. Deste princípio básico deduzem-se conclusões imediatas que explicitam o que sejam o bem a ser praticado e o mal a ser evitado; tais conclusões estão formuladas na chamada “regra de ouro” (“O que não queres que façam a ti, não o faças a outrem”, Tb 4, 16)(1) como também no decálogo (Ex 20, 1-27). Destas conclusões imediatas seguem-se outras, mais remotas, que a reflexão atenta sabe deduzir: a unidade e a indissolubilidade da união conjugal, o dever de educar e alimentar os filhos, a pecaminosidade do suicídio e do duelo, a condenação do aborto…
O princípio fundamental da lei natural pode ser conhecido com certeza por todo homem normal, pois é evidente por si mesmo. O mesmo se diga a respeito das conclusões imediatas. Quanto às conclusões remotas, embora sejam por si mesmas acessíveis à razão, podem não ser devidamente apreendidas por pessoas que vivam em ambientes moralmente pouco evoluídos, onde a consciência moral esteja embotada pela mediocridade e a dureza dos corações.
Quem se aplica de coração sincero à reflexão sobre a vida moral, percebe que o preceito básico de “fazer o bem” é altamente exigente, implicando conseqüências cada vez mais delicadas e magnânimas. Todavia, para que as apreenda, a pessoa deve estar isenta de covardia ou do medo de crescer interiormente.
Consideremos as propriedades da lei natural.
4.2. Universalidade
A lei natural é válida para todos os homens e todos os tempos. Isto se deduz da unidade da natureza humana (na América, na Europa, na África, na Ásia…), da unidade de Deus e do plano divino de salvação. Tal afirmação será ulteriormente esclarecida nos parágrafos que se seguem.
1 Formulação positiva em Mt 7, 12.
4.3. Imutabilidade
A lei natural moral em si é imutável em virtude dos princípios que acabam de ser apontados. Todavia a aplicação da lei natural nem sempre foi a mesma entre os homens de bem no decorrer da história. Com efeito, para perceber certas conclusões da lei natural, o homem depende de circunstâncias, como mostram as considerações seguintes:
É imutável o princípio natural segundo o qual todo homem tem direito ao uso da sua liberdade pessoal e, por conseguinte, a escravatura é condenável. São Paulo, aliás, exortava os cristãos a tratar os escravos como irmãos (Filemon 16). Todavia a emancipação imediata dos escravos no tempo de S. Paulo e a reestruturação da sociedade eram algo de impensável naquela época. Na Idade Média, o servo da gleba poderia ter sido tratado com mais liberalidade; todavia era-lhe conveniente ficar fixo no solo do senhor feudal, porque este lhe garantia a proteção e a defesa que ele não teria em outras condições.
Estas considerações se estendem a outros tipos de comportamento dos antigos aceitos tranqüilamente em épocas passadas, mas hoje tidos como contrários à lei natural: o tratamento infligido às mulheres, a morte pelo fogo, as guerras religiosas… Para julgar a moralidade de tais costumes, não nos é lícito aplicar-lhes os critérios lúcidos que os tempos atuais nos oferecem, mas que os séculos passados não propiciavam aos homens. Cometeria injustiça quem quisesse defender a justiça tratando os antepassados como se trata em juízo um cidadão contemporâneo. Para avaliar a conduta dos antepassados, temos de nos transferir para a sua respectiva época e entender os valores morais dentro do grau de compreensão então vigente.
Notemos ainda o seguinte: assim como na vida de um indivíduo há três idades (a infantil, a adulta e a senil), assim também as há na história da humanidade em geral e dos povos em particular. Ora, como não se pode imputar a uma criança e a uma pessoa decrépita a responsabilidade de um adulto, também não se podem argüir povos primitivos e menos primitivos como se argüi um povo plenamente civilizado; sim, há povos primitivos que ainda devem chegar à sua maturidade como há outros que estão decadentes e em desaparecimento; cometem faltas graves contra a lei natural (a antropofagia, por exemplo), não porque esta não valha para todos os homens, mas porque não têm as condições históricas necessárias para compreender todo o alcance da mesma. Estas ponderações projetam luz sobre a lei do talião: “Dente por dente… olho por olho”. Para os homens primitivos, esta fórmula já era muito exigente, porque 1) impedia que a pessoa danificada se compensasse arbitrariamente infligindo ao adversário dano maior do que o que recebera; 2) valia para todos os componentes da tribo, de modo que os chefes e maiores não ficavam isentos de sanção.
4.4. Dispensabilidade da lei natural?
Para responder a esta pergunta, devemos distinguir entre preceitos primários e preceitos secundários da lei natural.
Preceitos primários são aqueles sem os quais a ordem moral se torna totalmente impossível: tenhamos em vista, por exemplo, a obrigação de não levantar falso testemunho, a de não blasfemar contra Deus, a de não adorar ídolos… Tais normas da natureza são absolutamente imutáveis e não admitem dispensa (pois uma dispensa em tais casos não concorreria para o bem do indivíduo ou da sociedade).
Preceitos secundários são normas muito úteis, a tal ponto que a ordem moral já não poderia subsistir ou ao menos ficaria seriamente comprometida, caso fossem violados de maneira geral e estável. Admitem, porém, dispensas transitórias e raras, devidas à fraqueza da natureza humana ferida pelo pecado original e ainda não resgatada pela graça do Redentor. – Ora entre os preceitos secundários da lei natural estão o da monogamia e o da indissolubilidade do matrimônio; com efeito, a geração e a procriação da prole, assim como o auxílio mútuo dos cônjuges, podem ser obtidos, embora em termos precários, mesmo sob uma legislação poligâmica e divorcista. É à luz destas considerações que se deve entender a permissão dada pela Lei de Moisés em Dt 24, 1-4; 17, 17 (onde há restrições à prática mesma do divórcio).
Não tem como falar sobre a Fé Católica se não a estuda e a pratica continuamente
Quer dizer que só pode falar sobre a fé católica quem que acredita em que é tudo verdade?
Só pode falar sobre Papai Noel quem acredita em que ele existe?
Pelo contrário: quem não acredita tem mais objetividade que aqueles cegos pela fé irracional.
Já ouvi coisas assim de outros cristãos:
- Quem é você, um ateu, para discutir comigo que até me formei em teologia?!
- Estudo religião há mais de 70 anos, portanto não posso estar errado.
Não tem como falar sobre a Fé Católica se não a estuda e a pratica continuamente
Quer dizer que só pode falar sobre a fé católica quem que acredita em que é tudo verdade?
Só pode falar sobre Papai Noel quem acredita em que ele existe?
Pelo contrário: quem não acredita tem mais objetividade que aqueles cegos pela fé irracional.
Já ouvi coisas assim de outros cristãos:
- Quem é você, um ateu, para discutir comigo que até me formei em teologia?!
- Estudo religião há mais de 70 anos, portanto não posso estar errado.
Se estudar a Fé Católica terá um melhor entendimento e mais aprofundado sobre qualquer assunto que se discute dentro do Catolicismo,melhor ainda será conhece-lo na prática mesmo que não acredite;ou seja,entender os conceitos e pressupostos abordados da Fé Católica.
Se Deus é a definição do Bem absoluto, então "Bem" é aquilo que Deus diz que é. Apenas uma imposição que temos que aceitar para não sermos torturados eternamente.
Na verdade, nem sabemos se existe vida após a morte e, se existir, se gostaremos do que nos espera.
Mesmo que Deus nos aparecesse e nos prometesse um monte de coisas, continuaríamos sem saber se é verdade, já que nos é impossível compreender os propósitos de uma entidade infinitamente incompreensível.
Estou perdendo meu tempo lendo essa baboseira e postando argumentos que não são refutados.
A sua "argumentação" consiste em despejar textões enfadonhos que não passam de afirmações de fé baseadas em nada.
Sim, porque usar a Bíblia, a Tradição, os supostos apóstolos e as baboseiras da Igreja como base tem valor ZERO num debate com céticos ou seguidores de outras religiões.
Acho que era aquela que dizia que tudo na Idade Média era maravilhoso e o que veio depois não prestava.
O que é uma atitude recorrente entre militantes católicos que se dizem tradicionalistas, defender que a Era Medieval foi uma espécie de Idade do Ouro, só por conta da hegemonia Católico Romana sobre a religiosidade e cultura da Europa.
São o outro extremo da turma que chama o período de Idade de Trevas e o classificam como um tempo quando tudo era ruim.
Como sempre, os dois extremos estão errados.
E tome de TFP, Opus Dei, Arautos do Evangelho e outras organizações inspiradas nos cruzados medievais.
Bandos de malucos...
A Opus Dei tem alguns intelectuais entre seus membros, mas fora daquele círculo é difícil de concordar com a sanidade de quem acha que machucar as coxas com o cilício é um ato elevado de espiritualidade.
Os Arautos iludem jovens desajustados, dando-lhes sensação de pertencimento e propósito construídos pela disciplina militar, técnica padrão deste tipo de seita.
E na TFP só tem doido mesmo.
Até a década de 60, a liturgia ainda incluía a menção aos "pérfidos judeus".
Foi o papa João XXIII que a eliminou.
O antissemitismo Europeu tem uma história antiga e trágica, culminando no episódio que todos sabem qual foi.
No Brasil, como sempre, acontecem aquelas jabuticabas, como o sujeito que até ontem não tinha nada contra os judeus, na verdade nunca conheceu nenhum, entra prá uma destas seitas neo-católicas autoproclamadas tradicionalistas e se torna antissemita de pai, mãe e das quatro patas imediatamente, só por entender que aquilo é um sinal de lealdade ao grupo.
A maluquete neo-nazista que pintou por aqui adotou o discurso covarde de 10 entre 10 antissemitas que negam sê-lo, afirmando-se anti-sionistas..., coisa muuuiiiito diferente...
Estou perdendo meu tempo lendo essa baboseira e postando argumentos que não são refutados.
A sua "argumentação" consiste em despejar textões enfadonhos que não passam de afirmações de fé baseadas em nada.
Sim, porque usar a Bíblia, a Tradição, os supostos apóstolos e as baboseiras da Igreja como base tem valor ZERO num debate com céticos ou seguidores de outras religiões.
Mas não adianta critica-la a partir de conceitos preciptados que se pode ter dela em virtude da ignorância culpável.
A NECESSIDADE DA FILOSOFIA
O astrofísico norte-americano Neil DeGrasse Tyson, em um podcast recente, demonstrou, através de suas declarações, um profundo desprezo (e desconhecimento) pela filosofia. Pouco tempo depois, me deparo com um blog brasileiro chamado Ceticismo.net demonstrando total apoio ao que foi dito pelo astrofísico (algo bastante irônico, já que “ceticismo” é um termo filosófico). O autor do texto, autodenominado “André”, defende, segundo ele mesmo, através de uma pergunta retórica, que a filosofia é inútil. Será mesmo?
Primeiramente, eu gostaria de ressaltar o profundo desconhecimento desses defensores a respeito do que é filosofia e do que ela trata. Não me surpreende que alguém que faça parte de um blog claramente cientificista seja pouco familiarizado com a filosofia. No entanto, é de ficar estupefato pela falta de noção de um famoso astrofísico, que teria a difícil missão de substituir o grande Carl Sagan como apresentador da série Cosmos, ao demonstrar tamanha carência de conhecimento a respeito do assunto de que está tratando. Todavia, esse desprezo e desconhecimento dos fundamentos da filosofia não é um caso isolado, mas, infelizmente, algo muito recorrente nos cursos de ciências naturais e engenharias. Se é recomendável não falar daquilo que não é da sua “alçada” (e, por conta disso, eu raramente tenho falado de ciência ou sobre a Bíblia nos textos mais recentes, mesmo quando tenho fontes a meu favor), parece que quando se trata de filosofia todos acham que são especialistas. É claro que aqui não se trata de crer no que diz um filósofo simplesmente porque foi Aristóteles, Hegel ou Marx quem falou. A filosofia não se faz desta forma, embora os adversários dela acreditem que sim, e todos que estudam filosofia sabem muito bem disso. O problema é não saber o básico da filosofia, isto é, do que ela se ocupa e quais são os seus métodos.
Em filosofia não importa o que fulano ou sicrano disse, e sim como ele defende seu ponto de vista. O nosso caro amigo André, do blog Ceticismo.net, defende que a filosofia é inútil e que somente a ciência é capaz de orientar o raciocínio. Para provar seu ponto de vista, ele teria que usar a filosofia ou a ciência. Como ele não pode provar seu ponto de vista cientificamente (algum cientista já comprovou em laboratório que a filosofia é inútil?), só lhe restaria comprovar filosoficamente. Mas se ele tentasse fazer isso, já estaria provando que sua opinião está errada, pois isso mostraria que a filosofia é útil, nem que seja para o absurdo de comprovar sua própria inutilidade. O grande Aristóteles já dizia que não é possível escapar da filosofia, porque, para provar que ela é desnecessária, você teria, necessariamente, que usar a filosofia. Não tem outra alternativa. Não se pode provar isso cientificamente. E se não se usar nem uma nem outra, a opinião de que a filosofia é inútil não passa de uma opinião vazia, sem fundamento, isto é, um mero preconceito. Não tem saída. Nosso amigo André entra num mato-sem-cachorro ao negar a filosofia.
O nosso amigo poderia dizer que não está usando filosofia para provar sua tese de que a filosofia é inútil. Poderia alegar que está apenas fazendo uma comparação entre ciência e filosofia e mostrando que esta é inútil diante daquela. No entanto, teríamos primeiramente que nos perguntar se esse argumento é válido, o que já é fazer filosofia. Ao tentar fazer isso, veríamos que o argumento é inválido, porque parte do pressuposto de que ciência e filosofia tem a mesma função, o que é falso. O avanço da ciência e da tecnologia não é uma evidência contra a filosofia, simplesmente porque a explicação da natureza e o avanço tecnológico não é a função dela. Já foi em tempos muito remotos, e os estudantes de filosofia sabem muito bem por quê: porque a filosofia lida apenas com verdades que não podem ser comprovadas empiricamente. A partir do momento que se encontra meios de comprovar empiricamente uma tese, esta deixa de ser filosófica e passa a ser científica. Não quer dizer, no entanto, que antes disso todas as opiniões são igualmente válidas, pois elas devem ser sustentadas em fortes argumentos. A que tiver os melhores argumentos é a que devemos aceitar. Além do mais, existem questões que jamais serão passíveis de comprovação científica. O que fazer com elas, então? Crer que todas as alternativas são igualmente válidas, ou procurar aquela que fornece melhores razões para ser aceita?
Neil DeGrasse Tyson comete o mesmo erro. No seu podcast, ele afirma que os filósofos não são produtivos na compreensão do mundo natural. Eis o falso pressuposto: o de que a filosofia se preocupa em conhecer a natureza. Como disse acima, há muitos séculos a filosofia abandonou essa pretensão. Isso porque foram descobertos meios empíricos de fazê-lo. Mas o que é mais irônico é que até mesmo muitos daqueles que se consideram anti-filosofia tem convicções filosóficas sem o saber. Lembro muito bem de uma discussão que tive com um ateu (discuto mais com ateus que com religiosos) que dizia ser a metafísica algo inútil. No decorrer da conversa, ele declarou que apenas coisas materiais podem existir, que não há nada de metafísico no mundo. Eu mostrei que ele era um materialista, e forneci uma tonelada de informações mostrando que o materialismo é uma corrente filosófica – e metafísica. Esse jovem ateu cientificista e anti-metafísico era um metafísico convicto, sem o saber. Isso porque ele tinha uma má informação do que se tratava a metafísica. Para ele, era algo relacionado com fadas, duendes, espíritos, Deus (embora, sobre este, exista mesmo alguma relação, quer seja afirmativa ou negativa), mas ele estava totalmente errado. A metafísica é um ramo da filosofia que trata da POSSIBILIDADE do real. Quando alguém diz que apenas coisas materiais são possíveis, ele está filosofando sobre quais entidades podem ser reais. E isso é uma postura metafísica que chamamos de “materialismo”. Esse jovem ateu, na verdade, era bem mais metafísico que eu, que nem sou materialista (embora seja ateu). Acho que ele não ficou muito contente com a descoberta.
Muitos problemas científicos passam por problemas filosóficos e metafísicos. Não se sabe o que causou ou poderia ter precedido o Big Bang, mas quando se reflete sobre o que poderia ou não poderia tê-lo causado, isso é fazer metafísica, já que é uma reflexão sobre o que pode ser ou não ser real. Aqui não há nada de científico, pois nada foi comprovado cientificamente ainda, mas quando alguém diz, por exemplo, que é impossível que a causa do Big Bang seja material, ou que é impossível que ele tivesse tido causa, está falando de algo que não é comprovado, apenas especulado. E não é o caso que todas as especulações são igualmente válidas. Algumas, obviamente, são melhores que outras.
Quando alguém se pergunta pelos limites da ciência, sobre o que ela pode ou não pode conhecer, esta pessoa já está fazendo filosofia. Uma vez que a ciência não pode se fundamentar em si mesma, isto é, não se pode usar a ciência para justificar a ciência, o que seria uma falácia de petição de princípios, é preciso alguma outra coisa para justifica-la. E quem quer que tente fazer isso, terá que usar a filosofia para tal (o problema é que, geralmente, usa-se uma filosofia de péssima qualidade). Mesmo aqueles que acreditam que a ciência pode conhecer tudo, que só existe o que pode ser conhecido cientificamente (isso já é metafísica, pois não pode ser comprovado pela própria ciência, lembrem-se), essa pessoa já está fazendo filosofia, embora uma seja uma filosofia bem tacanha. Até mesmo se alguém diz que se DEVE crer apenas na ciência, ela terá que usar a filosofia para justificar essa opinião, pois a ciência lida apenas com o modo como as coisas SÃO, não o que elas são, nem como elas DEVEM SER. É impossível justificar cientificamente a opinião de que só se deve crer na ciência. Para isso, é preciso argumentar filosoficamente.
Para finalizar, vamos esclarecer um pouco essa última distinção. Imagine que existem três programas educativos A, B e C. A ciência pode determinar qual o melhor dos três? A resposta é: não! Você poderia dizer que o melhor é aquele em que os alunos aprendem mais, então o cientista certamente poderia medir em qual dos três programas, levando em conta todas as variáveis, os alunos aprendiam mais. Sem dúvidas isso poderia ser feito. No entanto, você está partindo do pressuposto de que o melhor programa de educação é aquele em que os alunos aprendem mais. E se, no programa A os alunos apreendessem mais conteúdos, mas no programa B eles se tornassem mais criativos e no programa C mais críticos, qual dos três programas seria o melhor? Para defender que o programa A, B ou C é melhor, deve-se primeiro estabelecer qual o dever da educação, isto é, como DEVE ser. A ciência pode medir qual tem mais sucesso em função de uma variável x, y ou z, mas não pode dizer qual das variáveis deve ser utilizada porque isso está no âmbito do que deve ser, não do que é.
O preconceito comum é de que filosofia se trata de “Heidegger disse isso, Kant falou aquilo”, como escreveu nosso amigo André. Filosofia trata-se de provar, não empiricamente, aquilo que se quer defender. Quem quer que se posicione contra a filosofia, terá que usar a filosofia para sustentar sua opinião, já que cientificamente seria impossível. E se não usá-la, sua opinião não passa de um preconceito vazio e descartável.
Igor Roosevelt
Enviado por Igor Roosevelt em 16/05/2014
Comentários
As traduções modernas partem do princípio de que "Deus não pode ter dito isto, então vamos procurar por uma versão mais suave ou sem contradições".
Um exemplo que me parece perfeito é o trecho em que Isaías fala de Lilith. Na minha Bíblia de Jerusalém, o trecho é claro. Já em outra, trocaram "Lilith" por "lhama" (?!!!), mas esqueceram de apagar as notas de rodapé:
Deus é o autor de tudo. Não há como fugir disto.
Nada acontece sem que ele tenha previsto ou planejado.
E, se previu e criou o universo mesmo assim, é o responsável.
Foi o papa João XXIII que a eliminou.
Tomá-los como premissas leva fatalmente a conclusões absurdas ou contraditórias. Mais uma vez, conclusões absurdas a partir de premissas absurdas. Em outras palavras: as pessoas são livres para amar a Deus ou não. Só que, se não amarem, serão torturadas por toda a eternidade. Não há livre arbítrio se o Criador criou um universo já sabendo, antes mesmo de criá-lo, de tudo o que aconteceria. Tinha a opção de fazer diferente, mas decidiu que seria assim. E nós não temos a opção de fazer diferente daquilo que o Criador já sabia que faríamos antes mesmo de criar o universo.
Em outras palavras, ele criou pessoas destinadas ao inferno. Isto é ridículo. Deus condenou suas criaturas ao inferno. Para poder se permitir mudar sua própria lei, teve que se entregar às suas criaturas para ser morto por elas. Faz algum sentido? Claro, claro, tem tudo a ver comparar não ajudar a fazer o dever de casa com impedir, por exemplo, que um irmão seja atropelado.
Sem falar em que não é um simples atropelamento e sim a condenação irreversível a uma eternidade de torturas. Por isso devemos deixar que os outros sejam atropelados para que aprendam a atravessar a rua?
Onde estão esses "recursos e treinamento"? A DE não serve como argumento. Deve ser por causa deles que nenhuma criança é atropelada, maltratada ou estuprada. Ou morre de fome.
Pecado Finito Ofensa Infinita
Liberdade diferente de Libertinagem
O Mal é uma falta uma desordem na hierarquia de bens
Somos parte do Ser de Deus assim como tudo o mais que existe
Não tem como falar sobre a Fé Católica se não a estuda e a pratica continuamente
Se vocês descrevem deus com um ser eterno que irá condenar a maior parte da humanidade com a exceção de alguns poucos escolhidos a tortura eterna depois de um suposto julgamento em circunstâncias das quais ele seria totalmente responsável, por ação ou por omissão, não reclame se chegarmos a conclusão de que ele não seria um sujeito legal e isento do Mal, são as suas premissas e não as nossas.
Não espere que aceitemos passivamente quando tenta defender a quadratura do círculo.
Deus é contra o roubo? Para ele roubar é pecado e o autor deve ser torturado pela eternidade por causa disso?
Então por que diabos criar um mundo escasso, com seres desesperados por recursos limitados (exceto o ar) para continuar existindo? O ato de roubo e por extensão parasitismo é extremamente comum no mundo natural que supostamente teria sido criado por ele, estranho um sujeito que supostamente odiaria tanto o ato de roubar a ponto de torturar pessoas pela eternidade por isso tenha criado o mundo dessa forma, correto?
O mesmo princípio se aplica a assassinatos, violência, mentira, etc..., para alguém que supostamente odeia o pecado ele teria criado um mundo excepcionalmente fértil para a prática do mesmo.
O ceticismo em relação a todos esses conceitos é mais do que justificado.
Uma premissa que faz muito mais sentido com os fatos conhecidos seria todos esses padrões morais surgirem e se desenvolverem com a sociedade humana e não a partir de um deus criador com controle e poder sobre tudo.
Claro, é tão sensata que parece ilusória.
Você já deve estar cansado de ouvir falar sobre a Lei de Causa e Efeito, ou, a lei do Carma.
"O estuprador consciente do mal que faz, será estuprado, mas... "
Veja que interessante. Isso somente ocorrerá porque, alertado no mundo espiritual sobre as consequências de seu crime e ali, sofrendo castigos de espíritos trevosos, retorna ao corpo físico e repete o mesmo crime. Reincidência.
Para evitar que ele faça novas vítimas colherá da própria semeadura... e então ficamos nós, os ateus, escandalizados, claro.
Pecado Original
Deus é a definição do Bem absoluto
Algumas são infantis, outras ingênuas, outras aterradoras e outras fazem dele um garoto de recado...
Acho que uma entidade que tenha criado esse espetacular Universo, tão complexo e misterioso, e ordena a sua evolução; além disso, cria a vida, a inteligência da criatura humana e a natureza, não pode ser compreendido e definido por sua própria criatura.
Por isso as "idas e vindas" ao/do plano invisível, quando então, em contato com espíritos mais evoluídos, acabamos por condicionar nossa mente a uma plausibilidade sobre Deus.
Verdades Reveladas aos apóstolos por Jesus Cristo
Condução da Igreja Católica pelo Espírito Santo de Deus
Como poderíamos discutir uma suposta relação de deus com o mal se partirmos de premissas como essas?
Vamos jogar par ou ímpar mas partindo da premissa que par eu ganho e ímpar você perde, ok?
Simplesmente não há o que debater e você parece se dar por satisfeito apenas descrever a doutrina, pode funcionar na igreja falando com convertidos mas em um debate com pessoas céticas é inócuo.
Alguém tem os dados estatísticos?
A ciência não tem condições de dizer nada sobre a eternidade transcendental, divindades, céu ou inferno mas tem plenas condições para falar sobre a ancestralidade humana e a morte nesse planeta.
1. Imortalidade, pois a morte é fruto do pecado (Gen 2, 7; 3,3 s; Sab 2,14; Rom 5, 12; Rom 6,23). Isto significa que , antes do pecado, o homem não morreria dolorosa e violentamente como ocorre hoje; poderia morrer, mas a morte seria um sono suave, como a de Maria.
2. Integridade, ou imunidade de concupiscência: os afetos, sentimentos e desejos não eram desordenados, mas submetidos docilmente à razão e à fé, sem conflitos interiores.
3. Impassibilidade, ou a ausência de sofrimento, fruto do pecado (Gen 3,16)
4. Ciência Moral infusa: que tornava o homem apto a assumir suas responsabilidades diante de Deus sem dificuldades.
O nosso Catecismo diz (§ 404s) que o homem, após a queda, não pôde mais transmitir aos descendentes o “estado de santidade” (participação perfeita na comunhão com Deus) e de ” justiça” (harmonia perfeita consigo, com a mulher, com a natureza e com Deus).
“Como a falta de um só acarretou condenação para todos os seres humanos, assim a justiça de um só trouxe para todos a justificação que dá a vida” (Rm 5,19).
Como Adão apagou a vida divina em sua alma e nas de seus descendentes, assim Cristo veio para restaurar aquela vida divina e nos habilitar a partilhá-la. Muitos de nós recebemos a vida divina quando éramos crianças, através do sacramento do Batismo.
O Batismo apaga em nós a mancha do pecado original, mas a concupiscência permanece. Nossos instintos e paixões, ambos bons em si mesmos, estão em desordem dentro de nós, e isso não é bom.
A concupiscência se perpetua por si mesma, e isso nos puxa para baixo. Achamos as criaturas atraentes, porque Deus as fez assim, como exemplos de Sua glória, a fim de nos levar a agradecer-Lhe, louvá-Lo e amá-Lo ainda mais. Mas, nós temos a tendência de retornar e fazer destas criaturas os objetos últimos do nosso desejo – ainda que seja nosso cônjuge ou um amigo, o chocolate ou o álcool, livros ou carros. Quanto mais nos entregamos às nossas paixões e desejos, mais eles tomam conta de nós, e aumentam em nós a nossa dependência deles. Quanto mais precisamos desses bens criados, menos sentimos necessidade de Deus – mesmo que tenha sido Ele quem nos deu tudo isso!
A concupiscência nos torna vulneráveis e frágeis na tentação. Somos tentados pelas coisas do mundo devido à nossa concupiscência.
Mas só porque nos entretemos com pensamentos errados, isto não quer dizer que somos culpados. Não, até que nós permitamos que esses pensamentos comecem a nos entreter e a nos levar a cometer um pecado real em nosso interior – e, se não nos arrependermos logo – em breve, o cometeremos na realidade, ou seja, no exterior.
A fim de eliminar os efeitos da concupiscência, primeiramente, é preciso saber quais são. A Tradição nos apresenta três:
1. Nossos intelectos ficam obscurecidos
A faculdade da razão, agora, se volta na direção do nosso corpo. É somente com a graça de Deus, a verdade revelada e o nosso esforço próprio que conseguimos refletir sobre as coisas que se passam conosco, com nosso corpo.
2. Nossas vontades ficam enfraquecidas
A vontade só pode desejar o bem. Mas a vontade age segundo os dados fornecidos pelo intelecto, que, agora, está obscurecido. Assim, muitas vezes, nossa vontade é mal direcionada – não com relação a Deus como nosso fim último, mas relativamente às criaturas como nosso fim imediato.
A vontade ainda escolhe coisas boas; mas escolhe bens inferiores, bens aparentes. Ninguém escolhe o mal pelo mal, mesmo uma pessoa que comete um suicídio ou um assassinato. Hitler pensava que estava praticando o bem ao querer livrar o mundo dos judeus, dos ciganos e dos padres católicos. É desta maneira que a natureza humana distorcida pode se transformar, uma vez que a concupiscência permite total liberdade no agir.
3. Nossos apetites ficam desordenados
Nosso desejo por comida, sono, intimidade sexual – todos são bens em si mesmos, quando estão ordenados para Deus, como foram criados para ser. Mas, por causa da concupiscência, eles ficaram desordenados; e, assim, nossos corpos têm uma tendência a nos arrastar para baixo pela gula, preguiça, luxúria e outros pecados habituais.
O intelecto fica obscurecido, e por isso não alimenta a vontade. Desse jeito, a vontade fica ainda mais enfraquecida. Finalmente, os desejos da carne se tornam desordenados, porque não é mais a alma que governa o corpo como deveria ser.
Adão não estava inicialmente sujeito a males
Após o pecado original debilitou-se a capacidade humana Quando Deus criou Adão e Eva, enriqueceu-os com dons especiais, alguns dos quais estavam acima da natureza humana: dons propriamente sobrenaturais, como a graça divina, que adota o homem à Família Divina, até tornando-o “participante” da própria divina natureza; os dons chamados preternaturais (praeter = além de), isto é, que vão além do essencialmente constitutivo do homem, e que são dons gratuitos, comuns à natureza dos anjos, que adornam a natureza do homem, sem lhe serem estritamente necessários. Tais são, quanto à alma, a imunidade da concupiscência desordenada e da ignorância; e quanto ao corpo, a imunidade em relação à morte e às misérias desta vida, à qual se acrescentava um certo domínio sobre o mundo animal e as forças da natureza. São os chamados dons preternaturais.
A imunidade da ignorância decorria da ciência infusa, isto é, o conhecimento das verdades religiosas, morais e físicas necessárias à instrução de si mesmo e de seus filhos. Esta ciência é chamada infusa porque não fora adquirida pelo estudo, mas infundida diretamente por Deus na alma, por uma benevolência especial do Criador.
Quanto à imunidade em relação à morte, fazia com que o homem, no Paraíso terrestre, após algum tempo de prova, passaria diretamente para o Céu sem conhecer a morte.
Porém, como é sabido, Adão e Eva pecaram, desobedecendo a Deus, e por esse pecado — o pecado original — entrou o mal no mundo. São Paulo o diz expressamente na Epístola aos Romanos (5, 12): “Por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte”.
Grifo meu.
Parei de ler aqui.
Imortalidade aonde se poderia morrer.
Você está defendendo a quadratura do círculo.
(Revista Pergunte e Responderemos, PR 028/1960)
«Que se entende por ‘natural, sobrenatural, preternatural’?
Quais as relações desses elementos com o ‘milagroso’?»
Pode-se dizer que as quatro noções acima supõem todas o conceito de natureza. Será preciso, portanto, começarmos a nossa explanação averiguando o sentido exato deste vocábulo.
1. Natureza e natural
Etimologicamente, natureza vem do radical latino gna, que significar gerar (donde nasci = nascer). Daí se vê que natura, natureza, já por sua etimologia designa (para falarmos em termos muito simples) «aquilo que faz que alguma coisa seja o que ela é».
Na linguagem precisa da Filosofia e da Teologia, por «natureza» de um ser entende-se a essência específica desse ser ou a sua estrutura ontológica. Assim a natureza do homem (aquilo que propriamente faz que o homem seja homem) é a sua racionalidade ou a sua composição de corpo e de alma racional.
Define-se conseqüentemente como natural «o que é proporcional à natureza» ou «o que é determinado pelas exigências da natureza» ou ainda «o que decorre da natureza».
Assim como há diversos tipos de natureza (a do homem, a do animal irracional, a da planta…), há também diversos tipos de «natural»: é, sim, natural, para o homem (não, porém, para a pedra), ter uma inteligência, uma vontade, sofrer a doença, a velhice, a morte; para que o olho veja, é condição natural haja luz (o mesmo, porém, não se requer para que o ouvido ouça).
A ordem natural, por conseguinte, é a reta disposição das criaturas necessária para que possam conseguir o fim último correspondente à sua natureza; no caso do homem:… para que este possa chegar à bem-aventurança de que é capaz a sua natureza.
2. Sobrenatural
1. Sobrenatural, em relação a determinada natureza, é em termos negativos: aquilo que não pertence à integridade dessa natureza nem é necessário para que ela se conserve ou para que consiga a sua perfeição ou finalidade natural;
em termos positivos: o que está acima das exigências dessa determinada natureza. O sobrenatural, portanto, é sempre um dom gratuito, que sobrevém à natureza já constituída.
O sobrenatural divide-se em
a) sobrenatural simplesmente dito e sobrenatural relativo.
Sobrenatural simplesmente dito é aquilo que excede as exigências de toda e qualquer criatura: tal é, por exemplo, a visão de Deus face a face;
Sobrenatural relativamente dito ou segundo determinado aspecto é aquilo que excede as exigências de determinada criatura apenas; assim o raciocínio é natural ao homem; seria sobrenatural, porém, para a pedra.
b) Sobrenatural quanto à substância e sobrenatural quanto ao modo.
Sobrenatural quanto à substância é aquilo que por si ou por sua própria essência está acima do alcance de determinada natureza; assim o conhecimento dos mistérios divinos.
Sobrenatural quanto ao modo diz-se aquilo que por sua essência é natural, mas que, pelo modo como é produzido, ultrapassa o alcance de determinada natureza; assim o desencadeamento de uma tempestade (coisa natural) num momento em que o céu esteja limpo e a atmosfera serena, é um fenômeno sobrenatural quanto ao modo.
Mais dois exemplos ilustrativos sejam aqui consignados.
A vida milagrosamente restituída a um cadáver é vida natural (vegetativa e sensitiva) causada de modo sobrenatural por Deus; a graça santificante, ao contrário, é vida essencialmente sobrenatural, em relação tanto ao homem como ao anjo, pois consiste em participação da vida íntima de Deus, dispondo a criatura a ver o Criador face a face.
2. À luz de quanto dissemos, depreende-se que ordem sobrenatural vem a ser a reta disposição das criaturas necessária para que possam conseguir o seu fim último sobrenatural simplesmente dito, ou também:… para que o homem possa chegar à visão de Deus face a face.
3. Tornam-se oportunas agora algumas observações em torno de quanto acaba de ser exposto:
1) O sobrenatural não se opõe por si ao natural nem destrói a estrutura da natureza. Ao contrário, o sobrenatural supõe a natureza e tende a aperfeiçoá-la. Conseqüentemente, os dons sobrenaturais podem ser comparados ao fogo, que penetra totalmente a barra de ferro, comunicando-lhe as propriedades de luz e calor características do fogo, sem, porém, destruir a natureza do ferro; são também comparados ao enxerto que, colocado em árvore selvagem, não extingue a vida desta, mas, ao contrário, faz que produza melhores frutos.
2) Ê fora de propósito dizer-se, com Ripalda, teólogo do séc. XVII († l648), que Deus poderia criar uma substância sobrenatural, ou seja, uma substância para a qual o sobrenatural simplesmente dito fosse natural. O sobrenatural simplesmente dito excede as exigências de toda e qualquer criatura; nunca, portanto, pode ser natural a uma criatura.
3. Preternatural
O preternatural vem a ser uma modalidade de sobrenatural: é aquilo que aperfeiçoa determinada natureza, excedendo as exigências dessa natureza, sem, porém, a elevar acima de si mesma; o preternatural, portanto, é um dom que liberta a natureza dos defeitos que lhe são congênitos, possibilitando-lhe mais fácil consecução de seu fim próprio.
Haja vista o seguinte exemplo. É natural ao homem morrer após alguns decênios de vida na terra; admita-se, porém, que a existência de determinada pessoa venha a ser prolongada por Deus de modo a não conhecer a morte, sem, porém, que essa pessoa deixe de exercer as faculdades de simples homem (portanto, sem ser elevada ao plano dos anjos ou dos filhos adotivos de Deus); diz-se então que o dom correspondente a tal prolongação é o dom preternatural da imortalidade. — «Preter.. .» denota o que está além das exigências da natureza, permanecendo, porém, na linha mesma da natureza, não passando para plano superior (sobrenatural).
Eis outro exemplo: o homem, como vivente racional, adquire lentamente as suas idéias mediante o raciocínio. Dado, porém. que, em vez de conquistar paulatinamente sua ciência pelo raciocínio, o homem venha a possuí-la imediatamente infundida por Deus no momento da sua criação, diz-se que recebe o dom preternatural da ciência; é um dom que não está propriamente acima da natureza, mas está fora de quanto é devido à natureza humana como tal.
Convém por fim notar que «sobrenatural» e «preternatural» não são termos sinônimos de «espiritual». Todo espírito tem sua natureza e por esta se acha integrado na sua respectiva ordem natural (de alma humana, de anjo…). Pode, porém, ser elevado à ordem sobrenatural ou preternatural mediante os dons que acabamos de caracterizar. Paralelamente, todo ser material tem sua natureza, pertencendo a determinada ordem natural (de corpo humano, p. ex.); além disto, pode ser sujeito de dons sobrenaturais (da glória dos filhos de Deus…) ou preternaturais (imortalidade da carne, isenção de dores e miséria…).
Observe-se também que o sobrenatural e o preternatural não são necessariamente algo de milagroso. Por «milagroso» (no sentido religioso) entende-se o fenômeno extraordinário que chame a atenção dos homens por ser sinal de Deus (cf. «P. R.» 6 1958, qu. 1). Ora pode-se muito bem admitir que dons sobrenaturais ou preternaturais sejam concedidos à natureza humana sem chamar a atenção da comunidade, nem mesmo a do sujeito agraciado. Doutro lado, porém, deve-se reconhecer que todo milagre é algo de sobrenatural ou, ao menos,… de preternatural (justamente por derrogar ao curso normal da natureza é que o milagre chama a atenção dos homens).
Estas noções já nos fornecem elementos para passarmos a ulterior questão.
Após a redenção por Cristo,poderão os dons paradisíacos ser recuperados em casos especiais?》
Antes do mais, em nossa resposta convém elucidar o que sejam «dons paradisíacos» ou «estado paradisíaco». A seguir, verificaremos a que ficou reduzido o gênero humano em consequência do pecado de Adão.
1. O estado paradisíaco
O «estado paradisíaco» é o estado em que Deus quis colocar o primeiro casal humano (Adão e Eva) na fase inicial de sua história. Esse estado se achava associado a um local harmonioso (símbolo da harmonia que reinava dentro do próprio homem) chamado «paraíso terrestre»; donde o nome de «estado paradisíaco». Nessa situação o homem usufruía de dons sobrenaturais e preternaturais.
Vejamos em que consistiam pròpriamente.
a) Os dons sobrenaturais
Sendo o homem uma criatura intelectiva, ele é naturalmente orientado para Deus ou destinado a encontrar em Deus sua perfeição e bem-aventurança. Sim; a criatura intelectiva foi feita para apreender a verdade e dela fruir amorosamente. Ora a verdade por excelência é Deus, o Supremo Ser (Verdade e Ser são conceitos que se recobrem, ensina a Filosofia; cf. «P. R.» 20/1959, qu. 1). Frisemos bem: o homem, por sua inteligência, é capaz de apreender o infinito, de sorte que ele não se realiza plenamente senão na posse do Ser Infinito, que é Deus.
Contudo podem-se conceber duas modalidades ou duas vias pelas quais a criatura humana entre na posse de Deus: a natural e a sobrenatural.
1) A primeira modalidade, natural, é a que decorre da capacidade da natureza humana como tal. Nessas condições o homem tende a conhecer, sim, a Deus, mas de maneira análoga. Com efeito, o conhecimento humano tem por objeto primário as criaturas, e as criaturas tais como elas se apresentam no mundo material que nos cerca ; é a estas que a inteligência humana apreende diretamente. Quanto a Deus, o Ser Infinito, só O apreendemos através das criaturas, por analogia com estas. Tal conhecimento análogo de Deus pode-se tornar cada vez mais puro e penetrante, proporcionando finalmente ao homem o deleite máximo de que ele seja capaz por sua própria natureza. Tal é a chamada bem-aventurança natural do homem, que já os filósofos Platão e Aristóteles preconizaram independentemente da Revelação cristã.
Observe-se agora o seguinte : Deus podia ter criado o homem, destinando-o a conseguir, no currículo de sua vida terrestre, a bem-aventurança natural como fim supremo. O homem se acharia então na ordem natural ou no estado de natureza pura. Em tal condição, ele seria, sem dúvida, afetado das vicissitudes ou enfermidades decorrentes da estrutura mesma da natureza humana. O que quer dizer :
– sofreria de ignorância (pois só aos poucos o homem adquire idéias, nunca chegando à plenitude do saber);
– sofreria as dores, doenças e misérias resultantes dos desgastes do organismo humano e da ação do ambiente sobre este;
– sofreria a morte ou a decomposição, pois todo ser composto (e o homem é um composto de corpo e alma) tende naturalmente a se decompor;
– sofreria também a luta da carne contra o espírito, pois a nossa natureza sensível tem suas tendências, que por vezes antecedem a deliberação da razão e não sempre se harmonizam com os ditames desta.
Apesar de todas essas vicissitudes, porém, o homem poderia, com o auxilio do Criador, chegar ao conhecimento cada vez mais exato da Verdade (de Deus), conformar-se cada vez mais fielmente as normas da moralidade e assim, terminada esta vida, ir gozar de Deus para todo o sempre.
Criando o homem no estado de natureza pura, está claro que o Senhor não faria obra indigna da sabedoria ou da bondade divinas, pois todo ser criado, por definição, significa sempre perfeição finita, falível, capaz de recair no abismo do nada donde procedeu ; não há, nem pode haver, criatura que por sua natureza mesma não traga a marca da limitação e da falibilidade. O Ser Ilimitado ou Infalível simplesmente dito só pode ser um. Criado, por conseguinte, em estado de natureza pura, o homem não teria motivo de se queixar do Criador; seria certamente um artefato belo e bom da Sabedoria Divina.
Note-se outrossim que, nas referidas condições, a criatura humana faria uso de seu livre arbítrio, podendo assim renegar a Deus, seu Fim Supremo, pelo pecado. Pecando, porém, o homem não decairia do seu estado natural, pois o pecado não destrói nem diminui o que é constitutivo da essência ou da natureza das criaturas.
2) Na verdade, porém, (e é pela Revelação Divina que o sabemos), Deus quis ser estupendamente liberal ao criar o homem, concedendo-lhe a dignidade máxima que Ele podia dar a uma criatura intelectual. Sim ; Deus comunicou aos primeiros pais o consórcio da vida divina, fazendo do homem o filho adotivo de Deus, mediante um conjunto de dons que são chamados sobrenaturais. … Sobrenaturais, porque, excedendo as exigências de qualquer natureza criada, habilitavam o homem a conhecer e amar o Criador não através do espelho das criaturas, mas como o próprio Deus conhece e ama a Si.
Os dons sobrenaturais de que gozavam os primeiros pais no paraíso eram
– a graça santificante: entidade criada que se poderia comparar a uma semente ou a um enxerto da vida divina dentro da alma.
A graça santificante é como uma nova natureza ou um novo principio de ação, o qual se manifesta mediante seus órgãos próprios, constituindo com estes de certo modo um «organismo espiritual». Os órgãos de ação da graça eram (e ainda são):
as virtudes infusas, a saber,
as virtudes teologais: a fé, a esperança, a caridade;
as virtudes cardeais: a justiça, a prudência, a fortaleza, a temperança;
– os dons do Espírito Santo (sabedoria, Inteligência, ciência, conselho, fortaleza, piedade, temor de Deus), os quais tornam a alma particularmente apta para receber moções do Espírito Santo.
Possuidor dos dons sobrenaturais, o primeiro homem era chamado a ver a Deus face a face logo ao terminar a sua peregrinação na terra.
Eis, porém, que novo elemento surge ante a nossa mente:
b) Os dons preternaturais
Para facilitar a consecução de tão elevado objetivo (sobrenatural), o Criador ainda quis corrigir os defeitos da natureza humana de Adão e Eva, mediante dons preternaturais, isto é, mediante prerrogativas que constituíam a natureza num estado de maravilhosa integridade, vigor e retidão, mas não a elevavam acima do alcance de suas próprias forças. Assim como a graça santificante e os dons sobrenaturais anexos corroboravam a adesão do espírito de Adão a Deus, assim os dons preternaturais corroboravam a submissão da carne de Adão ao seu espírito, dando origem a estupenda harmonia dentro do próprio homem.
E quais seriam esses dons preternaturais ? Os teólogos enumeram os cinco seguintes:
1) O dom da retidão ou da imunidade de concupiscência; era a prerrogativa mediante a qual os primeiros pais subordinavam todas as tendências da sensibilidade ou da carne ao perfeito domínio da razão, razão que, por sua vez, estava plenamente sujeita ao supremo império de Deus.
Esta prerrogativa é insinuada pelos textos do Gênesis (225 ; 3,7): afirmam que, antes do pecado, Adão e Eva estavam sem vestes e não sentiam rubor por isto (o que só se explica pelo fato de estarem isentos de paixão desregrada, à semelhança de crianças inocentes); depois do pecado, porém, experimentaram a necessidade de se vestir (o que só se pode entender por efeito da concupiscência desordenada que neles se despertara).
2) o dom da imortalidade: mediante este privilégio, o homem, embora tendesse naturalmente a se dissolver na morte, era destinado a passar da Terra à visão beatífica de Deus sem atravessar a morte. Já que a natureza por si repudia a morte, era muito conveniente que o Criador concedesse à alma do primeiro homem o dom de conservar a vida do corpo, enquanto ela mesma conservava sua verdadeira vida, que é a união com Deus.
A existência deste dom no paraíso é atestada pelo fato de que a morte foi infligida ao homem como castigo d acorrente do pecado; cf. Gên 2,17; 3,25s. O livro da Sabedoria ensina outrossim que Deus não fez a morte, mas que esta entrou no mundo por inveja do demônio (cf. 1,13; 2.23s); veja-se também São Paulo, Rom 5,12-17.
O homem, no paraíso, deveria sustentar a sua existência com alimentos (cf. Gên 2,16); estes impediriam o natural desgaste dos órgãos e da energia vital do homem, coisa que atualmente não se dá. Após a ressurreição do corpo, no fim dos tempos, o homem não precisará em absoluto de alimentação corporal.
3) O dom da impassibilidade ou da imunidade de sofrimento. O sofrimento, entendido como doença e achaque do corpo, é um dos elementos precursores e concomitantes da morte. Visto, porém, que o homem no paraíso estava isento de morrer, entende-se que estivesse também imune de sofrer as moléstias portadoras da morte. É o que o texto sagrado dá a entender quando apresenta o sofrimento e a dor como consequências do pecado de Adão (cf. Gên 3,19).
4) O dom da ciência infusa ou da Imunidade de ignorância.
Por «ignorância» entende-se aqui não qualquer falta de conhecimentos, mas a carência das noções que determinado homem, em determinadas circunstâncias da vida, deve possuir (vista a debilidade da natureza humana, verifica-se que é muito fácil ocorrer tal carência). Adão no paraíso, juntamente com a fé infusa (dom sobrenatural), possuía os conhecimentos necessários ao bom desempenho de sua missão de pai do gênero humano; em outros termos: conhecia as verdades de ordem religiosa e filosófica pressupostas para que orientasse a sua conduta e educasse devidamente os seus filhos (cf. Eclo 17,1-8). Isto não significa que fosse conhecedor também das ciências profanas e dos esmerados procederes da técnica. Não se creia tampouco que contemplasse a Deus face a face ou conhecesse acontecimentos futuros contingentes ou ainda as segredos dos corações. Os primeiros pais viviam estritamente do regime da fé.
S. Agostinho e S. Tomás julgaram que ao dom da ciência infusa de Adão estava associado o dom da imunidade de erro (cf. S. Tomás, S. Teol. 194,4; De verit. 18,6); e erro é, sim, o mal da inteligência. Quanto ao erro de Eva, que se deixou seduzir pelas palavras do tentador, dizem os teólogos que ele se explica muito bem na hipótese de que Eva, ao atender ao Maligno, já havia pecado interiormente por orgulho.
A ciência infusa de Adão é insinuada pelo texto bíblico quando refere que o primeiro homem viu desfilar em sua presença todos os animais do paraíso e a cada um impôs o respectivo nome (cf. Gên 2,19). Esta cena não há de ser necessàriamente tomada ao pé da letra; ela provàvelmente significa em termos figurados que Adão teve o conhecimento exato do valor ou do significado dos animais irracionais que o cercavam ou, mais amplamente, do mundo material em que estava colocado. «Impor o nome», na linguagem dos antigos, significa «exprimir a essência ou as notas características» da pessoa ou do objeto nomeado.
5) O dom do perfeito domínio sobre as criaturas inferiores.
É natural que o homem, como criatura intelectiva, ocupe o primado entre as criaturas visíveis deste mundo. Este primado, porém, só se exerce mediante luta e fadiga, vistas as diversas tendências que movem os seres sobre a Terra. Ora, justamente para tornar fácil e perfeito o domínio do homem sobre as criaturas inferiores, o Senhor quis munir de um dom especial os primeiros pais: haveriam de lavrar o solo e dominar os animais (cf. Gên 2,8.15), sem daí ressentir incomodo ou preocupação (cf. Gên 3,17s).
Alguns teólogos incluem o dom do perfeito domínio no da impassibilidade, pois inegàvelmente também esta prerrogativa significa isenção de sofrimento ou de luta.
Os privilégios preternaturais e sobrenaturais que acabamos de assinalar, constituíam o que se chama «a justiça original». Esta, segundo o desígnio de Deus, estava destinada a ser o apanágio de todo o gênero humano ; era como que um patrimônio de família, confiado ao primeiro pai, devendo-se transmitir por geração, de sorte que todo filho de Adão seria, ao mesmo tempo, filho adotivo de Deus.
Os teólogos julgam que apenas o dom da ciência infusa não se comunicaria aos demais homens nas proporções em que Adão o possuía, pois o papel do primeiro homem, criado em idade adulta e destinado a ser pai de todo o gênero humano, exigia conhecimento mais profundo do plano de Deus.
Contudo, para que a transmissão da justiça original se fizesse, era preciso que o primeiro pai perseverasse na sua integridade inicial, obedecendo ao preceito divino.
A condição, porém, não foi preenchida : Adão pecou…
E quais as consequências dessa falta ?
Costumam ser resumidas na fórmula seguinte :
2. “Despojado dos dons gratuitos, ferido em sua natureza“
É com as palavras acima (inspiradas da parábola do bom samaritano em Lc 10,30) que os teólogos exprimem os males de que vem sofrendo o gênero humano por efeito do pecado de Adão. Velamos o seu significado, considerando separadamente cada um dos dois membros da fórmula.
2.1 «Despojado dos dons gratuitos». Tendo-se revoltado contra o Senhor, compreende-se tenha Adão perdido imediatamente os privilégios que o elevavam acima de si mesmo, tornando-o filho adotivo de Deus (privilégios sobrenaturais) Compreende -se também que haja perdido as prerrogativas preternaturais, que corroboravam sua natureza como tal, fazendo-a mais seguro suporte da graça. O Criador não força a liberdade do homem ; desde que êste diga «Não», Deus lhe retira todas as dádivas acessórias ou gratuitas que caracterizam o «Sim» ou o estado de adesão ao Senhor. Esta proposição é clara ; a que mais atenção requer, é a que concerne à natureza humana.
2.2 «…Ferido em sua natureza». É doutrina comum entre os teólogos (já atrás mencionada) que o pecado não deteriora nem destrói a estrutura ou a essência dos seres. Não se pode, por conseguinte, dizer que a natureza humana haja sido diretamente afetada pela culpa dos primeiros pais. O termo «ferido» ou «chagado», na expressão acima, significa antes o seguinte:
A natureza humana está hoje reduzida à sua condição meramente natural e às suas misérias congênitas, depois de ter sido uma vez elevada a condição superior ou sobrenatural; em consequência, o aparecimento, no homem, dos defeitos da natureza já não é simplesmente um fenômeno natural, mas é o produto concreto e perene de uma revolta contra Deus verificada no início da nossa história. Sem dúvida, o homem, após o pecado, pode ainda apreender a verdade e amar o bem ; a culpa dos primeiros pais não colocou alguma energia má no interior da natureza humana, mas retirou a esta os dons que .remediavam às suas misérias congênitas, deixando-a a braços com dificuldades das quais Deus a queria preservar. Donde se segue que a lentidão natural com que o homem apreende a verdade, a concupiscência desregrada que êle padece ao procurar o bem, significam, em última análise, um estado de coisas hediondo, porque destoante do exemplar concebido nos desígnios divinos.
Note-se mais: o homem, hoje reduzido ao seu estado natural, continua, não obstante, destinado a um fim sobrenatural, único fim, aliás, a que Deus chama suas criaturas; Deus ainda quer dar-lhe a visão de Si face a face. É o que faz que o estado atual, embora pareça natural, seja, ainda a novo titulo, um estado de desequilíbrio e desordem.
Em outros termos, diríamos: no estado de natureza pura a ausência dos dons preternaturais e sobrenaturais seria mera ausência, mera falta de um aparato não devido à natureza humana. No estado presente, porém, tal ausência representa depauperamento e decadência em relação a um estado anterior muito nobre. O homem, hoje em dia, é, do ponto de vista religioso, um pobre que já foi muito rico, mas perdeu sua riqueza por imprudência ou loucura sua e, não obstante, continua a ser estimado como rico — o que é muito diferente de um.- pobre que sempre foi pobre e sempre se comportou prudentemente em sua pobreza. O estado atual da natureza humana significa desarmonia e culpa, ao passo que o estado de natureza pura, nunca elevada à ordem sobrenatural, não implicaria tal nota pejorativa.
E quatro são as chagas que os teólogos costumam apontar no estado atual da natureza humana (cf. S. Tomás, Suma Teológica I/n 85, 3) :
1) no paraíso, a inteligência apreendia a Verdade de maneira fácil e certeira — o que hoje não se dá. Donde a chaga da Ignorância;
2) a vontade tendia, de modo espontâneo e eficaz, ao bem, contràriamente ao que hoje se verifica. Donde a chaga da malicia;
3) o apetite irascível se entregava enèrgicamente à árdua pugna; hoje não. Donde a chaga da fraqueza;
4) o apetite concupiscível aderia harmoniosamente aos prazeres moderados pela razão, diversamente do que hoje se dá. Donde a chaga da concupiscência.
Eis as notas que caracterizam o estado religioso e moral do gênero humano após o pecado. Poder-se-iam compendiar todos esses traços numa só palavra : insuficiência. Sim; o homem sofre, hoje em dia, de insuficiência absoluta para conseguir por si o fim último sobrenatural ao qual ele está destinado; insuficiência relativa para chegar ao seu pleno desenvolvimento, mesmo na linha meramente humana.
3. Natureza caída, mas resgatada
Deus em sua misericórdia não quis deixar nem Adão nem algum de seus descendentes no estado de desequilíbrio em que o primeiro pecado projetou o gênero humano. O Pai Celeste, de um lado, houve por bem manter, como dissemos, o destino sobrenatural do homem, não permitindo que este, apesar de toda a ingratidão, vise bem menor do que a filiação divina e a contemplação de Deus face a face ; de outro lado, porém, o Pai decretou dar remédio à incapacidade da natureza humana frente a .tão elevado fim.
Esse remédio consistiu no envio à Terra, de um segundo Adão, Jesus Cristo, que é o próprio Filho de Deus feito homem. Este mereceu para todo o gênero humano, desde Adão até a última geração, novo acesso à graça santificante, às virtudes e aos dons sobrenaturais anexos, restituindo assim ao homem pecador a possibilidade de conseguir o seu fim sobrenatural. Por Cristo e pela aplicação dos méritos de Cristo no Antigo e no Novo Testamento, os homens estão de novo adaptados ao seu fim sobrenatural e positivamente integrados na ordem sobrenatural.
Quanto aos dons preternaturais, cuja função era conferir um subsídio à natureza humana, isentando-a de suas misérias congênitas, eles não nos foram restituídos. Não; o caminho de volta para Deus após o pecado é árduo. Pode-se dizer que Deus mesmo quis que fosse tal.
E porque o quis?
Para que o sofrimento mesmo e a morte, que assinalaram o nosso caminho de afastamento do Pai Celeste, marquem atualmente, por efeito da Redenção de Cristo, nossa senda de regresso à casa do Pai; padecendo e morrendo, pagamos, de um lado, nosso tributo à Justiça e, de outro lado, desembocamos estupendamente na vida eterna. As próprias misérias da natureza, aceitas em união com a Cruz de Cristo, tornam-se os instrumentos concretos de nossa purificação e santificação. O Criador quis que a marca do mal se tornasse destarte também marca do bem; por isto Ele não extinguiu «a marca» (o sofrimento e a morte), ó Sabedoria Divina, que sabe envolver todas as coisas (até o que é mau) num plano benéfico!
Não restituindo os dons preternaturais ao homem, Deus não comete a mínima injustiça, pois o Senhor nada deve à criatura (injustiça em Deus suporia direito da parte do homem). Ao contrário, o desígnio divino manifesta maravilhosa arte do Criador, que, sem derrogar às exigências da justiça, faz que a própria e justa sanção sirva de resgate ao homem!
Pode acontecer, porém, que Deus conceda a uma ou outra alma justa aqui na Terra uma certa assemelharão ao estado paradisíaco; houve, por exemplo, santos que dominaram a natureza, acalmando tempestades, convivendo harmoniosamente com feras, ou curaram doenças, ressuscitaram mortos, falaram línguas novas, predisseram o futuro, etc. Trata-se de dons que o Senhor outorga esporadicamente, sem que isto possa ser previsto nem provocado; em geral, os santos não os pedem nem estão predispostos a crer que o Senhor os esteja agraciando desse modo. Nenhum desses fenômenos maravilhosos ou «paradisíacos» é característico necessário da graça santificante concedida aos filhos de Deus.
Acontece também que, por meio de processos hipnóticos e letárgicos, se deem casos de clarividência, impassibilidade, etc.; tais resultados, porém, obtidos por tal via nada têm de religioso; não podem ser relacionados com os dons paradisíacos nem com os milagres efetuados pelos santos, pois dons paradisíacos e milagres dos santos são essencialmente sinais religiosos ou sinais da presença de Deus que se digna .responder à fé e às orações dos homens (cf. «P. R. 11/1958, qu. 1).
Existe uma “Lei Natural”?
FILOSOFIA
Por Dom Estevão Última Atualização 18 Out, 2019
Em síntese: A lei natural é a lei que o Criador promulga mediante a natureza de cada criatura. Pode ser física ou moral. A existência da lei natural moral é afirmada pelo testemunho de todos os povos assim como pela experiência individual ou coletiva dos homens contemporâneos. Quem nega a Metafísica, nega a lei natural, que tem índole imutável e universal.
Está de certo modo apagada a noção de uma lei básica anterior a qualquer lei humana destinada a reger o comportamento das pessoas. O legislador seria a única fonte da moralidade. Ora este modo de pensar é falso, como comprova a história contemporânea, com seus regimes totalitários daninhos à sociedade e aos indivíduos; daí a conveniência de se abordar o assunto.
1. Lei natural: noção
Chama-se “lei natural” aquela que o Criador incute através da natureza ou da realidade íntima das criaturas. Pode ser física ou moral.
A lei natural física compreende as leis da natureza que regem as criaturas destituídas de conhecimento e liberdade: leis da gravidade, da atração da matéria, da flutuação…
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A lei natural moral coincide com as normas morais que todo homem pode conhecer mediante a luz da razão: não matar, não roubar, não adulterar, honrar pai e mãe…
Da lei natural distingue-se a lei positiva, lei promulgada por Deus ou pelos homens em vista de situações concretas ou para explicitar e aplicar os princípios da lei natural.
Interessa-nos neste estudo apenas a lei natural moral, cuja existência é contraditada por correntes filosóficas modernas.
2. Lei natural moral: existência
A natureza é obra de Deus; por isto ela manifesta ao homem deveres que o Criador impõe à criatura para que chegue à sua plena realização. Hoje em dia há quem conteste a existência da lei natural, julgando que esta atrela o homem às leis físicas ou biológicas em detrimento da sua criatividade pessoal inteligente. Eis por que se impõe um exame dos argumentos pró-existência da lei natural.
1) O testemunho de todos os povos
Já entre os povos primitivos se encontra a noção de preceitos morais básicos como: é preciso fazer o bem, honrar pai e mãe, cultuar a divindade… Essas normas não são atribuídas a determinado chefe ou cacique, mas à própria natureza ou Divindade.
Também os povos mais civilizados da antigüidade (gregos e romanos) conheceram a lei natural, atribuindo-a à Divindade. Principalmente a filosofia greco-romana desenvolveu tal noção. Ovídio (+17 d.C.) chamava “Deus em nós” a voz que fala no íntimo de todo homem; Sêneca (65 d.C.) identificava-a como “deus junto de ti, contigo, em ti” e acrescentava: “Em nós habita um espírito santo que observa o bem e o mal” (cartas a Lucílio).
Nos tempos atuais a consciência de que existe uma lei natural com seus direitos naturais se tornou muito viva em conseqüência dos males causados pelos regimes totalitários do século XX: o Estado, atribuindo a si o supremo poder legislador, sacrificou milhões de pessoas – o que provocou a réplica das Nações Unidas formulada na Declaração Universal dos Direitos Humanos em 1948; esta, em grande parte, não é mais do que a reafirmação da lei natural.
2) Os dizeres da S. Escritura
No Evangelho lê-se a regra de ouro, que vale para todos os homens: “Tudo aquilo que quereis que os homens vos façam, fazei-o também a eles” (Mt 7, 12).
São Paulo é o arauto mais explícito da lei natural existente em todos os homens. Referindo-se aos pagãos, escreve:
“Deus os entregou, segundo o desejo dos seus corações, à impureza em que eles mesmos desonraram seus corpos. Eles trocaram a verdade de Deus pela mentira e adoraram e serviram à criatura em lugar do Criador, que é bendito pelos séculos. Amém.
Por isso Deus os entregou a paixões aviltantes: suas mulheres mudaram as relações naturais por relações contra a natureza; igualmente os homens, deixando a relação natural com a mulher, arderam em desejo uns para com os outros, praticando torpezas homens com homens e recebendo em si mesmos a paga da sua aberração” (Rm 1, 24-27).
“Todos aqueles que pecaram sem Lei, sem Lei perecerão; e todos aqueles que pecaram com Lei, pela Lei serão julgados. Porque não são os que ouvem a Lei que são justos perante Deus, mas os que cumprem a Lei é que serão justificados. Quando então os gentios, não tendo Lei, fazem naturalmente o que é prescrito pela Lei, eles, não tendo Lei, para si mesmos são Lei; eles mostram a obra da lei gravada em seus corações, dando disto testemunho sua consciência e seus pensamentos que alternadamente se acusam ou defendem… no dia em que Deus – segundo o meu evangelho – julgará, por Cristo Jesus, as ações ocultas dos homens” (Rm 2, 13-17).
3) O Concílio do Vaticano II
O Concílio do Vaticano II reafirmou tal doutrina em termos muito claros:
“Na intimidade da consciência, o homem descobre uma lei. Ele não a dá a si mesmo. Mas a ela deve obedecer. Chamando-o sempre a amar e praticar o bem e evitar o mal, no momento oportuno a voz desta lei lhe faz ressoar nos ouvidos do coração: ‘Faze isto, evita aquilo’. De fato, o homem tem uma lei escrita por Deus em seu coração. Obedecer a ela é a própria dignidade do homem, que será julgado de acordo com essa lei. A consciência é o núcleo secretíssimo e o sacrário do homem, onde ele está a sós com Deus e onde ressoa a voz de Deus” (Const. Gaudium et Spes no 16).
4) A razão natural
A própria razão aponta a existência da lei natural recorrendo a dois argumentos, entre outros:
a) Quem admite a existência de Deus Criador, admitirá que tenha infundido dentro das criaturas livres, feitas à sua imagem, algumas grandes normas que encaminhem o homem à consecução da vida eterna. Essa orientação interior é precisamente o que se chama “a lei natural”.
b) A negação da lei natural leva a dizer que os atos mais abjetos podem vir a ser considerados virtudes, e vice-versa. Quem não reconhece a lei natural, atribui ao Estado civil o poder de definir o bem e o mal éticos; a vontade do Estado torna-se a fonte da moralidade e do Direito; deste princípio segue-se a legitimação do totalitarismo e da tirania, de que dá testemunho o século XX.
3. Objeta-se…
Contra a existência da lei natural, a mentalidade moderna objeta:
1) O homem não pode estar sujeito à natureza; ele, que por sua inteligência, remove montanhas e aterra baías, como não tem o direito de alterar o curso mesmo da sua natureza corpórea? Tal objeção foi formulada com especial veemência a fim de tentar legitimar os meios artificiais de limitação da prole mediante os quais o homem interfere nas leis e no funcionamento do seu organismo.
Respondemos: o homem não pode considerar o seu corpo como considera os demais corpos da natureza física. Se o homem trata esses últimos a seu bel-prazer, desviando rios e removendo montanhas, não lhe é lícito tratar o seu corpo como bem lhe pareça. Na verdade, o corpo humano, à diferença dos demais corpos, faz parte integrante de um todo que é a pessoa humana; o homem não tem um corpo, mas é um corpo vivificado por uma alma espiritual. O corpo comunica à pessoa as suas características próprias; não é mero instrumento de uma pessoa espiritual.
Ora, assim como no plano fisiológico a corporeidade impõe ao homem certas leis (não posso comer pedras, não posso respirar gás carbônico, não posso deixar de dormir…), também no plano moral a corporeidade impõe ao ser humano certas normas (relativas à quantidade da comida, da bebida, do fumo, ao uso do sexo…); como a inobservância das leis fisiológicas leva a pessoa à morte, também o desprezo das leis morais naturais induz o ser humano à desintegração psíquica e quiçá física.
2) As mesmas idéias voltam sob a seguinte formulação: Nos tempos atuais é preciso passar de uma Ética naturalista para uma Ética personalista.
Que quer isto dizer?
O sujeito da Moral é a pessoa. A pessoa, porém, é a natureza colocada no tempo e no espaço; tais circunstâncias (tempo e espaço) mudam de modo que as leis do comportamento humano não podem ser as mesmas para todos os homens. Disto se segue um certo relativismo ético ou o existencialismo ético; a mesma conduta é boa ou má de acordo com as circunstâncias do agente.
Sem dúvida, este modo de pensar exprime a verdade até certo ponto, mas tem que ser completado pela seguinte ponderação:
A pessoa humana é uma criatura dependente de seu Criador, dependente inclusive no tocante às normas de comportamento que a levam a sua plena realização. Com outras palavras: a criatura não é autônoma, mas teônoma; não é fonte de moralidade, mas recebe do Criador o seu itinerário de volta ao Pai. Esses ditames têm caráter perene e universal, como perene é o ser de Deus e perene é a definição do ser humano (foi, é e será sempre um vivente racional). Essas normas perenes toleram exceções de acordo com as circunstâncias (uma pessoa doente não está obrigada a tudo o que a pessoa sadia faz). Em todos os tempos se reconheceu a necessidade de evitar cometer injustiças em nome de justiça cega e desumana. As exceções, porém, não significam cair no relativismo ou no existencialismo ético.
3) Já no passado a lei natural sofreu contestação.
Assim no século XVI Martinho Lutero, julgando que a natureza humana foi deteriorada pelo pecado, não lhe dava crédito em matéria de Moral; dizia atender apenas às diretrizes traçadas pela Bíblia Sagrada. Tal é o modo de pensar do protestantismo clássico. O catolicismo não o aceita, pois julga que existe a graça santificante, que cura as chagas do pecado e habilita o homem para a vivência dos filhos de Deus. Aliás é de notar, como dito, que o Decálogo Bíblico não faz senão repetir preceitos da lei natural (não matar, não roubar, não adulterar…) com exceção do terceiro preceito, que define o dia do Senhor como sendo o sétimo.
4) Sejam citados ainda os pensadores nominalistas e voluntaristas dos séculos XIV e XV. Afirmavam que a verdade e o bem são tais unicamente por vontade de Deus. Por conseguinte dois e dois seriam quatro unicamente porque Deus o quer, matar e roubar seriam atos moralmente maus tão somente porque Deus o quer.
– Em resposta afirmamos que todo ser é verdadeiro e bom não por vontade aleatória de Deus, mas porque o Criador quis dar a cada ente a condição de verdadeiro e bom. Em outros termos: a verdade e o bem têm seu fundamento na realidade do ser e não na vontade de Deus posterior à criação.
Fica, pois, de pé a noção de lei natural como norma incutida pelo Criador ao mais íntimo das suas criaturas para levá-las cada qual à sua meta suprema.
O que acaba de ser exposto, é corroborado pela palavra do Papa João Paulo II na encíclica Veritatis Splendor:
“Deus criou o homem e ordenou-o com sabedoria e amor ao seu fim mediante a lei inscrita no seu coração (cf. Rm 2, 15), a lei natural. Esta não é mais do que a luz da inteligência infundida por Deus em nosso coração. Graças a ela conhecemos o que se deve cumprir e o que se deve evitar. Esta luz e esta lei, Deus as concedeu na criação” (no 12).
Aliás, a encíclica confirma o clássico ensinamento da Moral proposto neste artigo.
– Vejamos agora…
4. Conteúdo e propriedades da lei natural
4.1. Conteúdo da lei natural
O primeiro princípio da lei natural soa: “Pratica o bem, evita o mal”. Deste princípio básico deduzem-se conclusões imediatas que explicitam o que sejam o bem a ser praticado e o mal a ser evitado; tais conclusões estão formuladas na chamada “regra de ouro” (“O que não queres que façam a ti, não o faças a outrem”, Tb 4, 16)(1) como também no decálogo (Ex 20, 1-27). Destas conclusões imediatas seguem-se outras, mais remotas, que a reflexão atenta sabe deduzir: a unidade e a indissolubilidade da união conjugal, o dever de educar e alimentar os filhos, a pecaminosidade do suicídio e do duelo, a condenação do aborto…
O princípio fundamental da lei natural pode ser conhecido com certeza por todo homem normal, pois é evidente por si mesmo. O mesmo se diga a respeito das conclusões imediatas. Quanto às conclusões remotas, embora sejam por si mesmas acessíveis à razão, podem não ser devidamente apreendidas por pessoas que vivam em ambientes moralmente pouco evoluídos, onde a consciência moral esteja embotada pela mediocridade e a dureza dos corações.
Quem se aplica de coração sincero à reflexão sobre a vida moral, percebe que o preceito básico de “fazer o bem” é altamente exigente, implicando conseqüências cada vez mais delicadas e magnânimas. Todavia, para que as apreenda, a pessoa deve estar isenta de covardia ou do medo de crescer interiormente.
Consideremos as propriedades da lei natural.
4.2. Universalidade
A lei natural é válida para todos os homens e todos os tempos. Isto se deduz da unidade da natureza humana (na América, na Europa, na África, na Ásia…), da unidade de Deus e do plano divino de salvação. Tal afirmação será ulteriormente esclarecida nos parágrafos que se seguem.
1 Formulação positiva em Mt 7, 12.
4.3. Imutabilidade
A lei natural moral em si é imutável em virtude dos princípios que acabam de ser apontados. Todavia a aplicação da lei natural nem sempre foi a mesma entre os homens de bem no decorrer da história. Com efeito, para perceber certas conclusões da lei natural, o homem depende de circunstâncias, como mostram as considerações seguintes:
É imutável o princípio natural segundo o qual todo homem tem direito ao uso da sua liberdade pessoal e, por conseguinte, a escravatura é condenável. São Paulo, aliás, exortava os cristãos a tratar os escravos como irmãos (Filemon 16). Todavia a emancipação imediata dos escravos no tempo de S. Paulo e a reestruturação da sociedade eram algo de impensável naquela época. Na Idade Média, o servo da gleba poderia ter sido tratado com mais liberalidade; todavia era-lhe conveniente ficar fixo no solo do senhor feudal, porque este lhe garantia a proteção e a defesa que ele não teria em outras condições.
Estas considerações se estendem a outros tipos de comportamento dos antigos aceitos tranqüilamente em épocas passadas, mas hoje tidos como contrários à lei natural: o tratamento infligido às mulheres, a morte pelo fogo, as guerras religiosas… Para julgar a moralidade de tais costumes, não nos é lícito aplicar-lhes os critérios lúcidos que os tempos atuais nos oferecem, mas que os séculos passados não propiciavam aos homens. Cometeria injustiça quem quisesse defender a justiça tratando os antepassados como se trata em juízo um cidadão contemporâneo. Para avaliar a conduta dos antepassados, temos de nos transferir para a sua respectiva época e entender os valores morais dentro do grau de compreensão então vigente.
Notemos ainda o seguinte: assim como na vida de um indivíduo há três idades (a infantil, a adulta e a senil), assim também as há na história da humanidade em geral e dos povos em particular. Ora, como não se pode imputar a uma criança e a uma pessoa decrépita a responsabilidade de um adulto, também não se podem argüir povos primitivos e menos primitivos como se argüi um povo plenamente civilizado; sim, há povos primitivos que ainda devem chegar à sua maturidade como há outros que estão decadentes e em desaparecimento; cometem faltas graves contra a lei natural (a antropofagia, por exemplo), não porque esta não valha para todos os homens, mas porque não têm as condições históricas necessárias para compreender todo o alcance da mesma. Estas ponderações projetam luz sobre a lei do talião: “Dente por dente… olho por olho”. Para os homens primitivos, esta fórmula já era muito exigente, porque 1) impedia que a pessoa danificada se compensasse arbitrariamente infligindo ao adversário dano maior do que o que recebera; 2) valia para todos os componentes da tribo, de modo que os chefes e maiores não ficavam isentos de sanção.
4.4. Dispensabilidade da lei natural?
Para responder a esta pergunta, devemos distinguir entre preceitos primários e preceitos secundários da lei natural.
Preceitos primários são aqueles sem os quais a ordem moral se torna totalmente impossível: tenhamos em vista, por exemplo, a obrigação de não levantar falso testemunho, a de não blasfemar contra Deus, a de não adorar ídolos… Tais normas da natureza são absolutamente imutáveis e não admitem dispensa (pois uma dispensa em tais casos não concorreria para o bem do indivíduo ou da sociedade).
Preceitos secundários são normas muito úteis, a tal ponto que a ordem moral já não poderia subsistir ou ao menos ficaria seriamente comprometida, caso fossem violados de maneira geral e estável. Admitem, porém, dispensas transitórias e raras, devidas à fraqueza da natureza humana ferida pelo pecado original e ainda não resgatada pela graça do Redentor. – Ora entre os preceitos secundários da lei natural estão o da monogamia e o da indissolubilidade do matrimônio; com efeito, a geração e a procriação da prole, assim como o auxílio mútuo dos cônjuges, podem ser obtidos, embora em termos precários, mesmo sob uma legislação poligâmica e divorcista. É à luz destas considerações que se deve entender a permissão dada pela Lei de Moisés em Dt 24, 1-4; 17, 17 (onde há restrições à prática mesma do divórcio).
Tive um professor que após a primeira prova disse aos alunos - quem escrever mais do que o necessário terá 0.
Um resto de um bom dia.
Só pode falar sobre Papai Noel quem acredita em que ele existe?
Pelo contrário: quem não acredita tem mais objetividade que aqueles cegos pela fé irracional.
Já ouvi coisas assim de outros cristãos:
- Quem é você, um ateu, para discutir comigo que até me formei em teologia?!
- Estudo religião há mais de 70 anos, portanto não posso estar errado.
Se estudar a Fé Católica terá um melhor entendimento e mais aprofundado sobre qualquer assunto que se discute dentro do Catolicismo,melhor ainda será conhece-lo na prática mesmo que não acredite;ou seja,entender os conceitos e pressupostos abordados da Fé Católica.
Não precisa ler agora e nem tudo de uma vez,pode ler aos poucos;sem pressa.
Sendo que tanto o AT quanto o NT dizem que os filhos não devem pagar pelos pecados dos pais. Afirmação arbitrária e sem provas.
Se Deus é a definição do Bem absoluto, então "Bem" é aquilo que Deus diz que é. Apenas uma imposição que temos que aceitar para não sermos torturados eternamente.
Na verdade, nem sabemos se existe vida após a morte e, se existir, se gostaremos do que nos espera.
Mesmo que Deus nos aparecesse e nos prometesse um monte de coisas, continuaríamos sem saber se é verdade, já que nos é impossível compreender os propósitos de uma entidade infinitamente incompreensível.
Estou perdendo meu tempo lendo essa baboseira e postando argumentos que não são refutados.
A sua "argumentação" consiste em despejar textões enfadonhos que não passam de afirmações de fé baseadas em nada.
Sim, porque usar a Bíblia, a Tradição, os supostos apóstolos e as baboseiras da Igreja como base tem valor ZERO num debate com céticos ou seguidores de outras religiões.
São o outro extremo da turma que chama o período de Idade de Trevas e o classificam como um tempo quando tudo era ruim.
Como sempre, os dois extremos estão errados.
Bandos de malucos...
A Opus Dei tem alguns intelectuais entre seus membros, mas fora daquele círculo é difícil de concordar com a sanidade de quem acha que machucar as coxas com o cilício é um ato elevado de espiritualidade.
Os Arautos iludem jovens desajustados, dando-lhes sensação de pertencimento e propósito construídos pela disciplina militar, técnica padrão deste tipo de seita.
E na TFP só tem doido mesmo.
O antissemitismo Europeu tem uma história antiga e trágica, culminando no episódio que todos sabem qual foi.
No Brasil, como sempre, acontecem aquelas jabuticabas, como o sujeito que até ontem não tinha nada contra os judeus, na verdade nunca conheceu nenhum, entra prá uma destas seitas neo-católicas autoproclamadas tradicionalistas e se torna antissemita de pai, mãe e das quatro patas imediatamente, só por entender que aquilo é um sinal de lealdade ao grupo.
A maluquete neo-nazista que pintou por aqui adotou o discurso covarde de 10 entre 10 antissemitas que negam sê-lo, afirmando-se anti-sionistas..., coisa muuuiiiito diferente...
Mas não adianta critica-la a partir de conceitos preciptados que se pode ter dela em virtude da ignorância culpável.
A NECESSIDADE DA FILOSOFIA
O astrofísico norte-americano Neil DeGrasse Tyson, em um podcast recente, demonstrou, através de suas declarações, um profundo desprezo (e desconhecimento) pela filosofia. Pouco tempo depois, me deparo com um blog brasileiro chamado Ceticismo.net demonstrando total apoio ao que foi dito pelo astrofísico (algo bastante irônico, já que “ceticismo” é um termo filosófico). O autor do texto, autodenominado “André”, defende, segundo ele mesmo, através de uma pergunta retórica, que a filosofia é inútil. Será mesmo?
Primeiramente, eu gostaria de ressaltar o profundo desconhecimento desses defensores a respeito do que é filosofia e do que ela trata. Não me surpreende que alguém que faça parte de um blog claramente cientificista seja pouco familiarizado com a filosofia. No entanto, é de ficar estupefato pela falta de noção de um famoso astrofísico, que teria a difícil missão de substituir o grande Carl Sagan como apresentador da série Cosmos, ao demonstrar tamanha carência de conhecimento a respeito do assunto de que está tratando. Todavia, esse desprezo e desconhecimento dos fundamentos da filosofia não é um caso isolado, mas, infelizmente, algo muito recorrente nos cursos de ciências naturais e engenharias. Se é recomendável não falar daquilo que não é da sua “alçada” (e, por conta disso, eu raramente tenho falado de ciência ou sobre a Bíblia nos textos mais recentes, mesmo quando tenho fontes a meu favor), parece que quando se trata de filosofia todos acham que são especialistas. É claro que aqui não se trata de crer no que diz um filósofo simplesmente porque foi Aristóteles, Hegel ou Marx quem falou. A filosofia não se faz desta forma, embora os adversários dela acreditem que sim, e todos que estudam filosofia sabem muito bem disso. O problema é não saber o básico da filosofia, isto é, do que ela se ocupa e quais são os seus métodos.
Em filosofia não importa o que fulano ou sicrano disse, e sim como ele defende seu ponto de vista. O nosso caro amigo André, do blog Ceticismo.net, defende que a filosofia é inútil e que somente a ciência é capaz de orientar o raciocínio. Para provar seu ponto de vista, ele teria que usar a filosofia ou a ciência. Como ele não pode provar seu ponto de vista cientificamente (algum cientista já comprovou em laboratório que a filosofia é inútil?), só lhe restaria comprovar filosoficamente. Mas se ele tentasse fazer isso, já estaria provando que sua opinião está errada, pois isso mostraria que a filosofia é útil, nem que seja para o absurdo de comprovar sua própria inutilidade. O grande Aristóteles já dizia que não é possível escapar da filosofia, porque, para provar que ela é desnecessária, você teria, necessariamente, que usar a filosofia. Não tem outra alternativa. Não se pode provar isso cientificamente. E se não se usar nem uma nem outra, a opinião de que a filosofia é inútil não passa de uma opinião vazia, sem fundamento, isto é, um mero preconceito. Não tem saída. Nosso amigo André entra num mato-sem-cachorro ao negar a filosofia.
O nosso amigo poderia dizer que não está usando filosofia para provar sua tese de que a filosofia é inútil. Poderia alegar que está apenas fazendo uma comparação entre ciência e filosofia e mostrando que esta é inútil diante daquela. No entanto, teríamos primeiramente que nos perguntar se esse argumento é válido, o que já é fazer filosofia. Ao tentar fazer isso, veríamos que o argumento é inválido, porque parte do pressuposto de que ciência e filosofia tem a mesma função, o que é falso. O avanço da ciência e da tecnologia não é uma evidência contra a filosofia, simplesmente porque a explicação da natureza e o avanço tecnológico não é a função dela. Já foi em tempos muito remotos, e os estudantes de filosofia sabem muito bem por quê: porque a filosofia lida apenas com verdades que não podem ser comprovadas empiricamente. A partir do momento que se encontra meios de comprovar empiricamente uma tese, esta deixa de ser filosófica e passa a ser científica. Não quer dizer, no entanto, que antes disso todas as opiniões são igualmente válidas, pois elas devem ser sustentadas em fortes argumentos. A que tiver os melhores argumentos é a que devemos aceitar. Além do mais, existem questões que jamais serão passíveis de comprovação científica. O que fazer com elas, então? Crer que todas as alternativas são igualmente válidas, ou procurar aquela que fornece melhores razões para ser aceita?
Neil DeGrasse Tyson comete o mesmo erro. No seu podcast, ele afirma que os filósofos não são produtivos na compreensão do mundo natural. Eis o falso pressuposto: o de que a filosofia se preocupa em conhecer a natureza. Como disse acima, há muitos séculos a filosofia abandonou essa pretensão. Isso porque foram descobertos meios empíricos de fazê-lo. Mas o que é mais irônico é que até mesmo muitos daqueles que se consideram anti-filosofia tem convicções filosóficas sem o saber. Lembro muito bem de uma discussão que tive com um ateu (discuto mais com ateus que com religiosos) que dizia ser a metafísica algo inútil. No decorrer da conversa, ele declarou que apenas coisas materiais podem existir, que não há nada de metafísico no mundo. Eu mostrei que ele era um materialista, e forneci uma tonelada de informações mostrando que o materialismo é uma corrente filosófica – e metafísica. Esse jovem ateu cientificista e anti-metafísico era um metafísico convicto, sem o saber. Isso porque ele tinha uma má informação do que se tratava a metafísica. Para ele, era algo relacionado com fadas, duendes, espíritos, Deus (embora, sobre este, exista mesmo alguma relação, quer seja afirmativa ou negativa), mas ele estava totalmente errado. A metafísica é um ramo da filosofia que trata da POSSIBILIDADE do real. Quando alguém diz que apenas coisas materiais são possíveis, ele está filosofando sobre quais entidades podem ser reais. E isso é uma postura metafísica que chamamos de “materialismo”. Esse jovem ateu, na verdade, era bem mais metafísico que eu, que nem sou materialista (embora seja ateu). Acho que ele não ficou muito contente com a descoberta.
Muitos problemas científicos passam por problemas filosóficos e metafísicos. Não se sabe o que causou ou poderia ter precedido o Big Bang, mas quando se reflete sobre o que poderia ou não poderia tê-lo causado, isso é fazer metafísica, já que é uma reflexão sobre o que pode ser ou não ser real. Aqui não há nada de científico, pois nada foi comprovado cientificamente ainda, mas quando alguém diz, por exemplo, que é impossível que a causa do Big Bang seja material, ou que é impossível que ele tivesse tido causa, está falando de algo que não é comprovado, apenas especulado. E não é o caso que todas as especulações são igualmente válidas. Algumas, obviamente, são melhores que outras.
Quando alguém se pergunta pelos limites da ciência, sobre o que ela pode ou não pode conhecer, esta pessoa já está fazendo filosofia. Uma vez que a ciência não pode se fundamentar em si mesma, isto é, não se pode usar a ciência para justificar a ciência, o que seria uma falácia de petição de princípios, é preciso alguma outra coisa para justifica-la. E quem quer que tente fazer isso, terá que usar a filosofia para tal (o problema é que, geralmente, usa-se uma filosofia de péssima qualidade). Mesmo aqueles que acreditam que a ciência pode conhecer tudo, que só existe o que pode ser conhecido cientificamente (isso já é metafísica, pois não pode ser comprovado pela própria ciência, lembrem-se), essa pessoa já está fazendo filosofia, embora uma seja uma filosofia bem tacanha. Até mesmo se alguém diz que se DEVE crer apenas na ciência, ela terá que usar a filosofia para justificar essa opinião, pois a ciência lida apenas com o modo como as coisas SÃO, não o que elas são, nem como elas DEVEM SER. É impossível justificar cientificamente a opinião de que só se deve crer na ciência. Para isso, é preciso argumentar filosoficamente.
Para finalizar, vamos esclarecer um pouco essa última distinção. Imagine que existem três programas educativos A, B e C. A ciência pode determinar qual o melhor dos três? A resposta é: não! Você poderia dizer que o melhor é aquele em que os alunos aprendem mais, então o cientista certamente poderia medir em qual dos três programas, levando em conta todas as variáveis, os alunos aprendiam mais. Sem dúvidas isso poderia ser feito. No entanto, você está partindo do pressuposto de que o melhor programa de educação é aquele em que os alunos aprendem mais. E se, no programa A os alunos apreendessem mais conteúdos, mas no programa B eles se tornassem mais criativos e no programa C mais críticos, qual dos três programas seria o melhor? Para defender que o programa A, B ou C é melhor, deve-se primeiro estabelecer qual o dever da educação, isto é, como DEVE ser. A ciência pode medir qual tem mais sucesso em função de uma variável x, y ou z, mas não pode dizer qual das variáveis deve ser utilizada porque isso está no âmbito do que deve ser, não do que é.
O preconceito comum é de que filosofia se trata de “Heidegger disse isso, Kant falou aquilo”, como escreveu nosso amigo André. Filosofia trata-se de provar, não empiricamente, aquilo que se quer defender. Quem quer que se posicione contra a filosofia, terá que usar a filosofia para sustentar sua opinião, já que cientificamente seria impossível. E se não usá-la, sua opinião não passa de um preconceito vazio e descartável.
Igor Roosevelt
Enviado por Igor Roosevelt em 16/05/2014