Ucranianos telefonam para a família na Rússia e falam que estão sendo bombardeados pelos russos, mas os parentes dizem que é mentira, que são os nazistas ucranianos que estão atacando.
Para reforçar esta ilusão, o governo russo quer que os ucranianos fujam para a Rússia, não para a Polônia.
Há milhares de russos protestando e sendo presos, mas o povão das cidades pequenas só se informa pelos canais oficiais e acredita nas mentiras.
(...)A infame Guerra da Ucrânia mudou o mundo como o conhecemos nas últimas décadas. Não vou falar sobre o Fim da História, porque o Fukuyama, no FT, e o Mendes da Silva, no Público, encarregaram-se disso no fim de semana, mas interpela-me a questão dos 4 Cavaleiros do Apocalipse, que afinal não morreram, como Yuval Noah Harari, mais benévola que intencionalmente, nos convenceu.
O futuro próximo do Ocidente dificilmente será liberal, mas é vital, e ainda vamos a tempo de o assegurar, que não seja iliberal. Não estou, no que à primeira parte da afirmação diz respeito, a falar do constitucionalismo liberal, pilar essencial das democracias ocidentais, mas estou a falar do liberalismo como ideologia. Digo ideologia para me referir, internamente aos Estados, às propostas políticas onde primordialmente, na clássica dicotomia Estado/Privados, os segundos prevalecem sobre o primeiro; onde os mercados e as sociedades restringem (ou recuperam, consoante os casos) ao Estado espaço e poder de interferência na vida quotidiana dos povos. Digo ideologia, também, para me referir às Relações Internacionais, sublinhando que a ideia de uma comunidade internacional, norteada por valores universais, soçobrou à lei da força, derrogando, sem fim à vista, a força da lei. Já no que diz respeito à segunda parte da afirmação, quanto ao risco de iliberalismo, estou a falar do constitucionalismo liberal, sim, e das ameaças que sobre ele pairam. Mas já lá vou.
Esta primeira afirmação, a de que o futuro próximo do Ocidente dificilmente será liberal, não é um desejo, nem uma profecia. Não é um desejo, porque não creio que isso seja bom. Na verdade, não são as virtudes do liberalismo que estão em causa, mas antes a sua viabilidade num mundo novamente marcial: quer do ponto de vista da capacidade de respostas eficazes aos problemas presentes e do futuro próximo, quer do ponto de vista, mais fatal para o liberalismo, de adesão das sociedades a essas ideias. E não é uma profecia, porque é já demasiado óbvia para o ser. Tão óbvia, que se as respostas já dadas e ainda por dar à Guerra da Ucrânia não o confirmassem, as respostas à crise pandémica da Covid19 já o tinham pré-anunciado.
Explico melhor: o anúncio da morte dos 4 Cavaleiros do Apocalipse (a Peste, a Fome, a Guerra e a Morte) talvez tenha sido exagerado. Yuval Noah Harari no seu díptico ensaístico sobre o Homem – Sapien e Homo Deus – desenvolve a ideia de que o Homem praticamente venceu os temerosos e imemoriais Cavaleiros. No seu segundo livro diz que “na alvorada do terceiro milénio, a humanidade desperta para uma constatação notável, (…) nas últimas décadas conseguimos dominar a fome, as epidemias e a guerra.” Menos mortes em conflitos armados do que por suícidio, menos mortes por má nutrição e excessos alimentares do que por fome, são algumas das evidências apresentadas. Mas não só: num mundo e numa economia em que os bens intangíveis passaram a ter mais valor económico, a guerra passou a ser mais cara do que a paz. Mais: os benefícios da paz passaram a ser muito superiores aos da guerra. Porém, Yuval sinaliza que “é certo que estes problemas não foram completamente resolvidos”, mas que “sabemos bem o que temos de fazer para evitar a fome, as epidemias e a guerra – e, regra geral, somos bem-sucedidos”. Parece que é tempo, agora, de recordar a sabedoria popular: não há regra sem excepção.
Leio por aí que o Ocidente deveria ter antecipado isto, e deveria ter tomado medidas atempadas. Concordo que os sinais estavam todos à vista. Leio por aí que, nessa antecipação devida, nunca a Europa se deveria ter deixado entregar a uma dependência energética da Rússia. Que foi uma loucura deixar que as democracias europeias ficassem nas mãos de uma autocracia – já lhe podemos, entretanto, chamar tirania? Mas, e a China? Entre 2009 e 2019, a União Europeia substituiu os Estados Unidos pela China como principal parceiro para as suas importações. Se a União Europeia está energeticamente muito dependente da Rússia, que dizer, numa escala muito mais ampla, da sua dependência face à China? É a China um parceiro fiável, alinhado com a nossa mundividência, e defensor dos nossos valores de liberdade, democracia e respeito pelos direitos humanos? Muitos, a esta pergunta, responderão que não tem que ser: no comércio internacional isso não interessa. A esses contraponho com dúvida: e se a China tomar Taiwan? Já nem tanto por causa dos valores ou da mundividência, que já vi que não são, para esses, relevantes, derrogando boa parte do liberalismo em matéria de Relações Internacionais, mas por causa do controlo do mar da China e do impacto económico que isso tem no mundo.
O mundo aberto, o comércio livre, a interdependência dos Estados, e a Globalização permitiram os níveis de prosperidade mais extraordinários da história da Humanidade, mas tudo isso volta a estar em causa na nova ordem mundial. São já muito insistentes os alertas para a necessidade de uma geoeconomia e um regresso à geopolítica. Quererá isto dizer comércio livre apenas numa parte do mundo? Mas se isso for a tendência, isso quererá dizer também uma amputação à globalização como a temos experimentado. E quererá dizer também uma tensão militar entre as partes apartadas.
Outros sinais, mais internos aos Estados, foram os que os poderes políticos e as sociedades deram desde o início da crise pandémica que precedeu esta guerra. Se é verdade que a pandemia pôde ser vencida graças às virtudes do mundo aberto, de que a Ciência foi o porta-estandarte, também é verdade que a primeira resposta foi o fecho das famílias nas suas casas, e os países nas suas fronteiras. Daí, passaram a ser muito insistentes as narrativas nacionalistas de fecho de fronteiras ao “outro” e de proteccionismo económico. Mas não só. Para lá desta narrativa, mais sonora à direita, mas não só, há ainda outra, mais sonora à esquerda, mas também não só, que enaltece a aparente prosperidade, conforto e segurança do modelo chinês. Em ambos os casos, um ponto em comum: o profundo desprezo pela liberdade e pela democracia.
Dizia que o futuro próximo do Ocidente dificilmente será liberal. Por duas razões: porque agora o liberalismo apenas poderá dar uma resposta limitada pelas avaliações que se façam no quadro da nova geoeconomia e geopolítica, e porque estas avaliações pesarão mais do que a racionalidade dos ganhos económicos das transacções e limitarão a livre circulação, frustrando dois dos seus essenciais pilares; mas também porque as populações esperam dos Estados segurança, protecção, conforto e bem-estar, numa expectativa e numa exigência nunca experimentada desde o fim da Guerra Fria. Passado o frémito solidário com o povo Ucraniano – se o conflito não escalar, o que não parece provável -, perder o que alcançaram será insuportável para as sociedades do Ocidente. Para isso, estarão, talvez, disponíveis a penhorar boa parte da liberdade (e quiçá, também, da democracia) em favor dessa desesperada defesa do bem-estar experimentado. E voltar-se-ão, inexoravelmente, para os Estados.
Não será despropositado recordar, a este propósito, os resultados de um inquérito sobre os valores, feito pelo WEF em 2018 à juventude europeia: aí se vê como a tolerância, a paz ou os direitos humanos são mais valorizados que a liberdade e a democracia. Não deixa de ser curioso que as causas, as condições essenciais em torno das quais estas sociedades de conforto, paz e tolerância foram fundadas, precisamente a democracia e a liberdade, surjam depreciadas face às consequências. E se isto não bastar como argumento, a memória dos tempos de confinamento pandémico, as cedências, os juízos morais e as hetero-imposições ajudam a perceber o quanto a sociedade está disposta a alienar em nome da mitigação de riscos para a vida dos indivíduos; numa busca, às vezes demencialmente exacerbada, do risco zero.
Entre as narrativas nacionalistas e as narrativas globalistas, se a razão pende para estas, o mundo poderá bem vir a pender para aquelas. Cabe aos liberais, aos conservadores, aos democratas-cristãos, aos sociais-democratas, aos socialistas democráticos et tutti quanti (todos os defensores da ordem liberal: a do rule of law) travarem o inusitado combate das suas vidas: juntos, assegurarem a preservação da ordem democrática e liberal do Ocidente, contra todas as formas de iliberalismo. E isso, quando se ouve o rufar dos tambores da guerra, não se faz com tibiezas, com distracções, com divisionismos estéreis e exacerbados, nem com pacifismos complacentes com os opressores.
Na nova geoeconomia e geopolítica, será necessário encontrar uma via média entre o liberalismo globalista que conhecemos e os nacionalismos proteccionistas que se adivinham. De faca nos dentes.
Pedro Gomes Sanches escreve de acordo com a antiga ortografia
Mas claro que o Pudin quer que os ucranianos fujam para a Rússia: os campos de extermínio já estão prontos para recebê-los... Sugestão do Xing Ling Pin, que tem um monte desses campos para liquidar com os muçulmanos chineses...
Resuminho: essa invasão foi um fracasso absoluto. As baixas provavelmente passam de dez mil (10x o que admitem publicamente). Eles precisariam de 500 mil homens para ocupar efetivamente a Ucrânia, e isso sem resistência significativa (o que claramente não é o caso). Mas anunciar uma mobilização total traria o colapso político, econômico, e social da Rússia. E eles nem têm suprimentos e logística para isso. Há planos de trazer as forças que estão protegendo o governo da Síria, mas com isso é provável que seu aliado al-Assad será deposto. E se de alguma forma os russos conseguissem instalar um governo fantoche, ele seria deposto assim que virassem as costas. Teoricamente a Ucrânia pode passar anos lutando, mas a economia russa estará arruinada em alguns meses.
O mundo aberto, o comércio livre, a interdependência dos Estados, e a Globalização permitiram os níveis de prosperidade mais extraordinários da história da Humanidade, mas tudo isso volta a estar em causa na nova ordem mundial.
O Professor Olavo não viveu mais alguns meses para ver a opinião publica caindo de joelhos perante ele, pedindo mais explicações referente a esses assuntos que ele ja discutia ha uns 20 anos.
Resuminho: essa invasão foi um fracasso absoluto. As baixas provavelmente passam de dez mil (10x o que admitem publicamente). Eles precisariam de 500 mil homens para ocupar efetivamente a Ucrânia, e isso sem resistência significativa (o que claramente não é o caso). Mas anunciar uma mobilização total traria o colapso político, econômico, e social da Rússia. E eles nem têm suprimentos e logística para isso. Há planos de trazer as forças que estão protegendo o governo da Síria, mas com isso é provável que seu aliado al-Assad será deposto.
Mandaram recrutas inexperientes que nem sabiam que estavam indo para uma guerra de verdade.
Esse video diz que o governo russo acreditou em relatorios da inteligencia. só que o serviço de inteligencia russo sempre respondeu em todas as solicitações que a russia sempre se daria bem.
A esquerda brasileira apela para o "whataboutism" (variação da falácia tu quoque) para defender a Rússia:
Para relativizar as barbaridades cometidas pelo exército de Putin, dá-lhe whataboutism (“e o Iêmen?”, “e a invasão do Afeganistão?”), como se as analogias fossem cabíveis, como se erros passados chancelassem todos os erros por vir. E não fosse possível deixar passar a oportunidade de ostentar superioridade moral e intelectual (“é complexo...”, “vocês só veem um recorte; eu vejo o todo”). Ou de puxar brasa para outra sardinha (“os refugiados africanos não foram recebidos com a mesma solidariedade”).
Como escreveu o jornalista Rodrigo da Silva, “whataboutism é um método de propaganda que tem como objetivo diminuir o impacto de uma crítica manipulando a atenção para um adversário do alvo da crítica”. Não se trata apenas de uma falácia, mas de uma narrativa ideológica. De não se importar com Kims e Aylans — figurantes nessa cena, ovos quebrados para a omelete da geopolítica.
A esquerda que apoia o imperialismo russo na Ucrânia
Pablo Ortellado 12/03/2022
É perturbador acompanhar o debate na esquerda sobre a invasão à Ucrânia. Logo no começo do conflito, o perfil do PT no Senado no Twitter publicou nota dizendo que “condena a política de longo prazo dos EUA de agressão à Rússia e de contínua expansão da Otan em direção às fronteiras russas”. Depois de ser criticada, a nota foi apagada, e manifestações individuais de senadores petistas contrários à invasão foram retuitadas. Mas a primeira nota ter saído mostra que forças relevantes no partido consideram a invasão justificada. A nota oficial do PT, publicada dois dias depois, reflete bem essa ambivalência, condenando uma solução militar, mas não a invasão: “Entendemos que a solução do contencioso entre Rússia e Ucrânia deve se dar de forma pacífica, utilizando todas as possibilidades de mediação em fóruns multilaterais”. Em sites de esquerda, predomina o apoio à invasão russa, em clima de torcida.
Para além do passado soviético, com que o atual regime não tem identidade política nem ideológica, é difícil entender a simpatia de parte da esquerda pela Rússia. O país não tem um regime socialista, mas uma economia capitalista bastante desigual, entre as mais desiguais da Europa. A Rússia também tem uma história imperialista de desrespeito à soberania e à autodeterminação dos seus vizinhos, já tendo invadido a Geórgia (em 2008) e a própria Ucrânia (na região da Crimeia, em 2014).
As violações aos direitos humanos lá são tão numerosas que é difícil resumi-las. A Rússia não respeita a liberdade de associação; persegue e impede o trabalho das mais tradicionais e respeitadas ONGs; dissidentes e opositores são presos, alguns assassinados, mesmo no exílio; o governo controla a imprensa; persegue e multa veículos; prende e mata jornalistas; a tortura nas forças policiais e militares é uma prática disseminada e tolerada; a população LGBTQIA+ não tem direitos civis básicos e é perseguida por agentes do Estado; e as eleições, embora aparentemente vencidas por Putin, são mesmo assim fraudadas, apenas para demonstrar força.
Os vizinhos da Rússia têm bons motivos de querer se juntar à União Europeia e à OTAN.
Não é interferência dos EUA, são eles que decidiram.
A Rússia de Putin é o quê? Um capitalismo de compadres, crony capitalism, e uma ditadura assassina. E um maluco que se acha na “Grande Rússia”.
Para o ex-soviéticos, bastava entrar na União Europeia em busca de prosperidade. Não se interessavam pela Otan, muito menos por hostilizar a Rússia.
Por que, num determinado momento, resolveram entrar para a Otan? Por causa das ameaças de Putin, quando ele conseguiu dar uma arrumada na Rússia.
Em resumo, a URSS tinha uma proposta para o mundo — um baita equívoco, como se viu depois. Mas brilhou durante muito tempo.
A Rússia de Putin oferece o quê? Ameaças imperialistas.
Portanto chega dessa história de avanço da Otan para o Leste. Foram as populações do Leste que, democraticamente, fizeram sua opção.
Azar da Ucrânia, que se atrasou com aquele ditador pró-russo. Aliás, reparem: só ficam com a Rússia os ditadores, incluindo os nossos aqui da América Latina.
A Rússia não foi ameaçada. Ela é a ameaça. E Putin cairá do mesmo modo que caíram os outros: pela reação de seu próprio povo.
Chega de comparar a invasão da Ucrânia com Iraque, Líbia, Síria, Afeganistão — Estados incentivadores de terrorismo. EUA e Europa têm seus pecados, mas não se pode compará-los à Rússia de Putin.
A Europa abriu-se a negócios com as empresas russas. Companhias e investidores ocidentais foram para a Rússia. Empresas russas se instalaram na Europa.
Por que Putin simplesmente não deixou essa integração prosseguir? A melhor hipótese: ele temia que a ligação “excessiva” com o Ocidente mostrasse aos russos onde a vida é melhor.
E Putin simplesmente não podia se juntar à União Europeia. Seu regime não passa nos critérios de democracia e legislação de direitos humanos.
A esquerda brasileira apela para o "whataboutism" (variação da falácia tu quoque) para defender a Rússia:
Para relativizar as barbaridades cometidas pelo exército de Putin, dá-lhe whataboutism (“e o Iêmen?”, “e a invasão do Afeganistão?”), como se as analogias fossem cabíveis, como se erros passados chancelassem todos os erros por vir. E não fosse possível deixar passar a oportunidade de ostentar superioridade moral e intelectual (“é complexo...”, “vocês só veem um recorte; eu vejo o todo”). Ou de puxar brasa para outra sardinha (“os refugiados africanos não foram recebidos com a mesma solidariedade”).
Como escreveu o jornalista Rodrigo da Silva, “whataboutism é um método de propaganda que tem como objetivo diminuir o impacto de uma crítica manipulando a atenção para um adversário do alvo da crítica”. Não se trata apenas de uma falácia, mas de uma narrativa ideológica. De não se importar com Kims e Aylans — figurantes nessa cena, ovos quebrados para a omelete da geopolítica.
Os vizinhos da Rússia têm bons motivos de querer se juntar à União Europeia e à OTAN.
Não é interferência dos EUA, são eles que decidiram.
A Rússia de Putin é o quê? Um capitalismo de compadres, crony capitalism, e uma ditadura assassina. E um maluco que se acha na “Grande Rússia”.
Para o ex-soviéticos, bastava entrar na União Europeia em busca de prosperidade. Não se interessavam pela Otan, muito menos por hostilizar a Rússia.
Por que, num determinado momento, resolveram entrar para a Otan? Por causa das ameaças de Putin, quando ele conseguiu dar uma arrumada na Rússia.
Em resumo, a URSS tinha uma proposta para o mundo — um baita equívoco, como se viu depois. Mas brilhou durante muito tempo.
A Rússia de Putin oferece o quê? Ameaças imperialistas.
Portanto chega dessa história de avanço da Otan para o Leste. Foram as populações do Leste que, democraticamente, fizeram sua opção.
Azar da Ucrânia, que se atrasou com aquele ditador pró-russo. Aliás, reparem: só ficam com a Rússia os ditadores, incluindo os nossos aqui da América Latina.
A Rússia não foi ameaçada. Ela é a ameaça. E Putin cairá do mesmo modo que caíram os outros: pela reação de seu próprio povo.
Chega de comparar a invasão da Ucrânia com Iraque, Líbia, Síria, Afeganistão — Estados incentivadores de terrorismo. EUA e Europa têm seus pecados, mas não se pode compará-los à Rússia de Putin.
A Europa abriu-se a negócios com as empresas russas. Companhias e investidores ocidentais foram para a Rússia. Empresas russas se instalaram na Europa.
Por que Putin simplesmente não deixou essa integração prosseguir? A melhor hipótese: ele temia que a ligação “excessiva” com o Ocidente mostrasse aos russos onde a vida é melhor.
E Putin simplesmente não podia se juntar à União Europeia. Seu regime não passa nos critérios de democracia e legislação de direitos humanos.
Querer entrar na OTAN destruiu a Ucrânia - nada muda isto - foi estupidez.
Na prática, os ucranianos sofrem e morrem a lutar, para fazer a guerra demorar o tempo suficiente para atingir economicamente a Rússia. Uma estupidez...compreendo a manipulação emocional das massas, mas não sou idiota para cair nesse (cantiga)...
A esquerda brasileira apela para o "whataboutism" (variação da falácia tu quoque) para defender a Rússia:
Para relativizar as barbaridades cometidas pelo exército de Putin, dá-lhe whataboutism (“e o Iêmen?”, “e a invasão do Afeganistão?”), como se as analogias fossem cabíveis, como se erros passados chancelassem todos os erros por vir. E não fosse possível deixar passar a oportunidade de ostentar superioridade moral e intelectual (“é complexo...”, “vocês só veem um recorte; eu vejo o todo”). Ou de puxar brasa para outra sardinha (“os refugiados africanos não foram recebidos com a mesma solidariedade”).
Como escreveu o jornalista Rodrigo da Silva, “whataboutism é um método de propaganda que tem como objetivo diminuir o impacto de uma crítica manipulando a atenção para um adversário do alvo da crítica”. Não se trata apenas de uma falácia, mas de uma narrativa ideológica. De não se importar com Kims e Aylans — figurantes nessa cena, ovos quebrados para a omelete da geopolítica.
todo sangue derramado mesmo que em nome das "boas intenções" será devidamente imputado no tempo mais proveitoso possível ao aprendizado,
lembrem de Elias @ João Batistas
Carro com jornalistas é atacado quando se aproxima da fronteira com os russos e jornalista morre.
Minha conhecida petelha logo comentou: "Como você sabe que foram os russos que atiraram?!"
Carro com jornalistas é atacado quando se aproxima da fronteira com os russos e jornalista morre.
Minha conhecida petelha logo comentou: "Como você sabe que foram os russos que atiraram?!"
Este artigo de Henry Kissinger premonitório é de uma enorme lucidez, algo que faz imensa falta nos líderes actuais. Igualmente, nas massas, que ignoram a complexidade do real.
Autoridades dos EUA dizem que mortes em tropas russas estão aumentando
Segundo especialista do Pentágono, abalo moral de soldados pode estar por trás do fraco desempenho dos contingentes em terra, na Ucrânia
Do New York Times - 17/03/2022
As forças armadas da Rússia perderam em três semanas mais de 7 mil soldados, segundo autoridades americanas. Os números de mortes de tropas russas, no entanto, não são exatos.
De acordo com as fontes ouvidas pelo NYT sob anonimato, os dados são compilados por meio de análises da mídia, números ucranianos (que tendem a ser altos, com o último em 13.500), números russos (que tendem a ser baixos, com o último em 498), imagens de satélite e leitura cuidadosa de imagens de vídeo de tanques e tropas russos que estão sob fogo.
Oficiais militares e de inteligência americanos sabem, por exemplo, quantos soldados geralmente estão em um tanque e podem extrapolar, a partir disso, o número de baixas quando um veículo blindado é atingido, por exemplo.
Com mais de 150.000 soldados russos agora envolvidos na guerra na Ucrânia, as baixas do exército de Putin, incluindo cerca de 14 mil a 21 mil feridos, estão perto desse nível. E os militares russos também perderam pelo menos três generais na luta, segundo autoridades ucranianas, da Otan e russas.
Autoridades do Pentágono dizem que um número alto e crescente de mortos na guerra pode abalar a motivação da tropa em continuar lutando. O resultado, dizem eles, apareceu em relatórios de inteligência que altos funcionários do governo Biden leem todos os dias: um relatório recente descreveu soldados apenas estacionando seus veículos e caminhando para a floresta.
Uma alta taxa de baixas poderia explicar por que a tão alardeada força da Rússia permaneceu em grande parte paralisada fora de Kiev, capital da Ucrânia.
“Perdas como essa afetam o moral e a coesão da unidade, especialmente porque esses soldados não entendem por que estão lutando”, disse Evelyn Farkas, a principal autoridade do Pentágono para a Rússia e Ucrânia durante o governo Obama.
Comentários
Vale a pena ler.
Para reforçar esta ilusão, o governo russo quer que os ucranianos fujam para a Rússia, não para a Polônia.
Há milhares de russos protestando e sendo presos, mas o povão das cidades pequenas só se informa pelos canais oficiais e acredita nas mentiras.
https://oglobo.globo.com/mundo/parentes-na-russia-nao-acreditam-que-haja-guerra-contam-ucranianos-sob-ataque-25422719
O futuro próximo do Ocidente dificilmente será liberal, mas é vital, e ainda vamos a tempo de o assegurar, que não seja iliberal. Não estou, no que à primeira parte da afirmação diz respeito, a falar do constitucionalismo liberal, pilar essencial das democracias ocidentais, mas estou a falar do liberalismo como ideologia. Digo ideologia para me referir, internamente aos Estados, às propostas políticas onde primordialmente, na clássica dicotomia Estado/Privados, os segundos prevalecem sobre o primeiro; onde os mercados e as sociedades restringem (ou recuperam, consoante os casos) ao Estado espaço e poder de interferência na vida quotidiana dos povos. Digo ideologia, também, para me referir às Relações Internacionais, sublinhando que a ideia de uma comunidade internacional, norteada por valores universais, soçobrou à lei da força, derrogando, sem fim à vista, a força da lei. Já no que diz respeito à segunda parte da afirmação, quanto ao risco de iliberalismo, estou a falar do constitucionalismo liberal, sim, e das ameaças que sobre ele pairam. Mas já lá vou.
Esta primeira afirmação, a de que o futuro próximo do Ocidente dificilmente será liberal, não é um desejo, nem uma profecia. Não é um desejo, porque não creio que isso seja bom. Na verdade, não são as virtudes do liberalismo que estão em causa, mas antes a sua viabilidade num mundo novamente marcial: quer do ponto de vista da capacidade de respostas eficazes aos problemas presentes e do futuro próximo, quer do ponto de vista, mais fatal para o liberalismo, de adesão das sociedades a essas ideias. E não é uma profecia, porque é já demasiado óbvia para o ser. Tão óbvia, que se as respostas já dadas e ainda por dar à Guerra da Ucrânia não o confirmassem, as respostas à crise pandémica da Covid19 já o tinham pré-anunciado.
Explico melhor: o anúncio da morte dos 4 Cavaleiros do Apocalipse (a Peste, a Fome, a Guerra e a Morte) talvez tenha sido exagerado. Yuval Noah Harari no seu díptico ensaístico sobre o Homem – Sapien e Homo Deus – desenvolve a ideia de que o Homem praticamente venceu os temerosos e imemoriais Cavaleiros. No seu segundo livro diz que “na alvorada do terceiro milénio, a humanidade desperta para uma constatação notável, (…) nas últimas décadas conseguimos dominar a fome, as epidemias e a guerra.” Menos mortes em conflitos armados do que por suícidio, menos mortes por má nutrição e excessos alimentares do que por fome, são algumas das evidências apresentadas. Mas não só: num mundo e numa economia em que os bens intangíveis passaram a ter mais valor económico, a guerra passou a ser mais cara do que a paz. Mais: os benefícios da paz passaram a ser muito superiores aos da guerra. Porém, Yuval sinaliza que “é certo que estes problemas não foram completamente resolvidos”, mas que “sabemos bem o que temos de fazer para evitar a fome, as epidemias e a guerra – e, regra geral, somos bem-sucedidos”. Parece que é tempo, agora, de recordar a sabedoria popular: não há regra sem excepção.
Leio por aí que o Ocidente deveria ter antecipado isto, e deveria ter tomado medidas atempadas. Concordo que os sinais estavam todos à vista. Leio por aí que, nessa antecipação devida, nunca a Europa se deveria ter deixado entregar a uma dependência energética da Rússia. Que foi uma loucura deixar que as democracias europeias ficassem nas mãos de uma autocracia – já lhe podemos, entretanto, chamar tirania? Mas, e a China? Entre 2009 e 2019, a União Europeia substituiu os Estados Unidos pela China como principal parceiro para as suas importações. Se a União Europeia está energeticamente muito dependente da Rússia, que dizer, numa escala muito mais ampla, da sua dependência face à China? É a China um parceiro fiável, alinhado com a nossa mundividência, e defensor dos nossos valores de liberdade, democracia e respeito pelos direitos humanos? Muitos, a esta pergunta, responderão que não tem que ser: no comércio internacional isso não interessa. A esses contraponho com dúvida: e se a China tomar Taiwan? Já nem tanto por causa dos valores ou da mundividência, que já vi que não são, para esses, relevantes, derrogando boa parte do liberalismo em matéria de Relações Internacionais, mas por causa do controlo do mar da China e do impacto económico que isso tem no mundo.
O mundo aberto, o comércio livre, a interdependência dos Estados, e a Globalização permitiram os níveis de prosperidade mais extraordinários da história da Humanidade, mas tudo isso volta a estar em causa na nova ordem mundial. São já muito insistentes os alertas para a necessidade de uma geoeconomia e um regresso à geopolítica. Quererá isto dizer comércio livre apenas numa parte do mundo? Mas se isso for a tendência, isso quererá dizer também uma amputação à globalização como a temos experimentado. E quererá dizer também uma tensão militar entre as partes apartadas.
Outros sinais, mais internos aos Estados, foram os que os poderes políticos e as sociedades deram desde o início da crise pandémica que precedeu esta guerra. Se é verdade que a pandemia pôde ser vencida graças às virtudes do mundo aberto, de que a Ciência foi o porta-estandarte, também é verdade que a primeira resposta foi o fecho das famílias nas suas casas, e os países nas suas fronteiras. Daí, passaram a ser muito insistentes as narrativas nacionalistas de fecho de fronteiras ao “outro” e de proteccionismo económico. Mas não só. Para lá desta narrativa, mais sonora à direita, mas não só, há ainda outra, mais sonora à esquerda, mas também não só, que enaltece a aparente prosperidade, conforto e segurança do modelo chinês. Em ambos os casos, um ponto em comum: o profundo desprezo pela liberdade e pela democracia.
Dizia que o futuro próximo do Ocidente dificilmente será liberal. Por duas razões: porque agora o liberalismo apenas poderá dar uma resposta limitada pelas avaliações que se façam no quadro da nova geoeconomia e geopolítica, e porque estas avaliações pesarão mais do que a racionalidade dos ganhos económicos das transacções e limitarão a livre circulação, frustrando dois dos seus essenciais pilares; mas também porque as populações esperam dos Estados segurança, protecção, conforto e bem-estar, numa expectativa e numa exigência nunca experimentada desde o fim da Guerra Fria. Passado o frémito solidário com o povo Ucraniano – se o conflito não escalar, o que não parece provável -, perder o que alcançaram será insuportável para as sociedades do Ocidente. Para isso, estarão, talvez, disponíveis a penhorar boa parte da liberdade (e quiçá, também, da democracia) em favor dessa desesperada defesa do bem-estar experimentado. E voltar-se-ão, inexoravelmente, para os Estados.
Não será despropositado recordar, a este propósito, os resultados de um inquérito sobre os valores, feito pelo WEF em 2018 à juventude europeia: aí se vê como a tolerância, a paz ou os direitos humanos são mais valorizados que a liberdade e a democracia. Não deixa de ser curioso que as causas, as condições essenciais em torno das quais estas sociedades de conforto, paz e tolerância foram fundadas, precisamente a democracia e a liberdade, surjam depreciadas face às consequências. E se isto não bastar como argumento, a memória dos tempos de confinamento pandémico, as cedências, os juízos morais e as hetero-imposições ajudam a perceber o quanto a sociedade está disposta a alienar em nome da mitigação de riscos para a vida dos indivíduos; numa busca, às vezes demencialmente exacerbada, do risco zero.
Entre as narrativas nacionalistas e as narrativas globalistas, se a razão pende para estas, o mundo poderá bem vir a pender para aquelas. Cabe aos liberais, aos conservadores, aos democratas-cristãos, aos sociais-democratas, aos socialistas democráticos et tutti quanti (todos os defensores da ordem liberal: a do rule of law) travarem o inusitado combate das suas vidas: juntos, assegurarem a preservação da ordem democrática e liberal do Ocidente, contra todas as formas de iliberalismo. E isso, quando se ouve o rufar dos tambores da guerra, não se faz com tibiezas, com distracções, com divisionismos estéreis e exacerbados, nem com pacifismos complacentes com os opressores.
Na nova geoeconomia e geopolítica, será necessário encontrar uma via média entre o liberalismo globalista que conhecemos e os nacionalismos proteccionistas que se adivinham. De faca nos dentes.
Pedro Gomes Sanches escreve de acordo com a antiga ortografia
Fonte já referida anteriormente
https://www.mirror.co.uk/news/world-news/leaked-russian-spy-report-claims-26411866
Aqui a tradução completa pro inglês.
https://threadreaderapp.com/thread/1500301348780199937.html
Resuminho: essa invasão foi um fracasso absoluto. As baixas provavelmente passam de dez mil (10x o que admitem publicamente). Eles precisariam de 500 mil homens para ocupar efetivamente a Ucrânia, e isso sem resistência significativa (o que claramente não é o caso). Mas anunciar uma mobilização total traria o colapso político, econômico, e social da Rússia. E eles nem têm suprimentos e logística para isso. Há planos de trazer as forças que estão protegendo o governo da Síria, mas com isso é provável que seu aliado al-Assad será deposto. E se de alguma forma os russos conseguissem instalar um governo fantoche, ele seria deposto assim que virassem as costas. Teoricamente a Ucrânia pode passar anos lutando, mas a economia russa estará arruinada em alguns meses.
Agora estão apelando para milícias de mercenários como o grupo Wagner.
https://www.dn.pt/internacional/quem-sao-os-mercenarios-russos-que-querem-assassinar-zelensky-14652510.html
Agora estão caçando as bruxas na agencia.
Não é interferência dos EUA, são eles que decidiram. https://blogs.oglobo.globo.com/opiniao/post/e-russia-nao-urss-que-ataca-ucrania.html
Fernando,
Os erros passados e dos outros são relevantes, sim. Tem tudo a ver com a congruência - "faz o que eu digo, não faças o que eu faço"
O direito internacional feito à la carte pelo Ocidente, através da força, não é sem consequências.
Nota: defender a Rússia ou Ucrânia conforme se é de esquerda ou de direita, nada tem a ver com o que virtuoso ou legal.
Querer entrar na OTAN destruiu a Ucrânia - nada muda isto - foi estupidez.
Na prática, os ucranianos sofrem e morrem a lutar, para fazer a guerra demorar o tempo suficiente para atingir economicamente a Rússia. Uma estupidez...compreendo a manipulação emocional das massas, mas não sou idiota para cair nesse (cantiga)...
Na prática, ucranianos morrem...ocidentais e russos empobrecem.
A vida é curta para a desperdiçar em nome de interesses políticos dos oligarcas de um lado e do outro
Um cristão fanatico entra na sua casa e mata os teus filhos, dai eu digo: "Mas os muçulmanos já mataram sei lá quantas pessoas".
Como isso pode ser relevante para o absurdo do ato de quem entrou na tua casa e matou os teus filhos?
A resposta é simples: Não é relevante. É mera falácia usada para passar pano para um assassino de crianças.
O Putin invadiu a Ucrânia e esta matando geral por razões ideológicas pessoais. Ponto final. Isso é tudo o que existe de mais relevante nessa questão.
lembrem de Elias @ João Batistas
Minha conhecida petelha logo comentou: "Como você sabe que foram os russos que atiraram?!"
mais uma crente inPutim
Este artigo de Henry Kissinger premonitório é de uma enorme lucidez, algo que faz imensa falta nos líderes actuais. Igualmente, nas massas, que ignoram a complexidade do real.