Ateu Maluco 4
Ateu Maluco 4
Conversa 4
H - Parágrafo inicial da quarta conversa, pela sexta vez...
D - Obrigado, pode prosseguir.
H - Esperou que eu indicasse o número de vezes?...
D - Não... Acabo de chegar.
H - Precisa mesmo fazer isto? Não vê que está reforçando a hipótese de que você não passa de um sintoma?
D - Tem sido uma hipótese útil, não é verdade?
H - Ora, por favor... Você não disse que estaria sempre imediatamente disponível?...
D - Não sempre...
H - É sério: teve reais motivos para me deixar repetindo o parágrafo inicial?
D - Apenas um ligeiro contratempo...
H - Você sabe como este tipo de resposta me irrita...
D - De fato estranhei que acharia divertido, sendo que não posso deixar de adaptar minhas respostas a você mesmo. Mas, caso queira, sempre podemos deixar para continuar uma outra hora...
H - Pelo jeito, o sintoma está se agravando!
D - Se eu puder fazer alguma coisa...
H - Você é o sintoma!
D - Como já afirmei, eu sou Deus.
H - Por isto mesmo!
D - Entendo. Bem, então, que tal fazer alguma pergunta...
H - Acabo de ter uma epifania!
D - Ah, sim? Como vinda da loucura?
H - Sim, tornou-se uma loucura epifânica!
D - E, faz alguma diferença?
H - Sim, por eu descobrir agora que, no meu caso, a loucura é o processo de um talento supercognitivo...
D - Ou seja, é o seu modo de ser genial...
H - Sim, tanto que você mesmo o está confirmando.
D - Foi mal...
H - É mesmo através destas piadinhas tolas, destas dialéticas ridículas, que o meu gênio vai aflorando...
D - E a sua genialidade ateia é manifesta logo em relação com Deus?
H - Sim, devido à potência inerente à figura, ou símbolo.
D - Então, poderíamos concluir que o símbolo divino é um instrumento intuitivo universal, pelo qual cada um extrai de si mesmo o quanto puder...
H - Perfeito! Isto mesmo!
D - Pode agradecer, se quiser - o símbolo funciona melhor assim...
H - Muito obrigado... Muito obrigado...
D - Contudo, o que não dá é para ficar sem fazer perguntas...
H - Ah... sim... tal como o conto do gênio fatídico, que matará seu amo se este não continuar dando-lhe tarefas!
D - Posso lhe conceder mais alguns segundos...
H - Espere aí... Ah, bem - NÃO: decido agora que, no meu caso, sou eu quem pode matar o gênio! Quem manda no gênio sou EU!
D - Não deixa de ser justo... Mesmo porque esta loucura é sua, e não de algum outro autor - menos genial, ou menos louco.
H - Exatamente. E não vou fazer pergunta alguma!
D - Nunca mais, ou só por algum tempo?
H - Não quero que você saiba!
D - Bem, então peço que me dê licença, só por uns dois minutinhos...
H - Para ir fazer o quê?
D - Ahá: isto foi uma pergunta...
H - Não - não foi! E você vai passar a iniciar as conversas assim que eu escrever o parágrafo inicial! Nada de esperas!
D - Mas, faz parte do símbolo de Deus que ele não obedece ordens: bem ao contrário, ele é o senhor absoluto, universalmente soberano!
H - Estou modificando o símbolo!
D - Tudo bem, mas, neste caso o símbolo não será mais representativo de Deus...
H - Hm... Está certo... Deus é o único símbolo de poder absoluto, do criador incriado, o ser original, inescrutável, árbitro da verdade, plenificador do nada...
D - Realmente inspirador - porém mais, muito mais! Além de transcender o símbolo, que na verdade origina.
H - Então - a genialidade pode exceder o gênio?
D - Sim, podendo até ser fatal...
H - Você é um impostor!
D - Impostando quem?
H - O símbolo!
D - Afinal, eu sou o símbolo, ou não sou?
H - Não vai ficar me enrolando com este papo!...
D - Como o tema do papo é seu, isto vai depender apenas de você. Por mim, pode deixar este assunto de lado e trazer alguma outra questão - menos custosa... Você decidirá.
H - Sério? Grande profecia! O probleminha aqui é que fico sem espaço para decidir meios termos, tolhido na relatividade. É sim, ou não! É, ou não é! Bela liberdade, esta...
D - De fato... No mundo original sua liberdade era uma bênção, podendo simultaneamente usufruir de todos os contrários que quisesse. Aqui, não... Aqui e para você, a liberdade que herda de si mesmo torna-se uma penalidade, apesar de mesmo assim você estar livre para ser feliz do modo que quiser.
H - Qual pode ser o interesse em ser feliz assim... se nós, reles mortais, estamos condenados a uma liberdade espúria, cuja felicidade possível é toda dependente de decisões excludentes - em tudo!?
D - Mas, isto é culpa de quem? Foi você quem aceitou afogar-se nesta fossa dialética! Por que ingeriu o fruto proibido, sem antes consultar-me sobre o que a serpente alegou, em vez de já ir acatando a palavra dela?
H - Caramba! Você ainda está ressentido com essa m... mesquinharia! Esse é o nosso grande deus!
D - Um pai ressentido não pode ser magnânimo na correção de seus filhos e filhas. É exatamente por você ser perfeitamente livre, que é capaz de renunciar à sua liberdade. Nenhuma consequência de suas decisões - em especial esta originalmente pecaminosa - pode ser inconsequente, a não ser que você mesmo dignifique-se admitindo seu erro, assumindo sua culpa, arrependendo-se e aceitando minha misericórdia. Senão, eu teria criado apenas um incapaz protegido. Já criei muitos desses, de modo que, comparativamente, é privilégio seu felicitar-se por ser verdadeiramente responsável em seus livres arbítrios.
H - Eu sou uma planta autorregável...
D - Uma metáfora surpreendente... e, apesar de também deslocada, evidencia que você compreende sua situação. De fato, você é totalmente autônomo e autossuficiente. Eu assim o criei. Você sempre conseguirá o que decidir, inclusive consertar seus erros.
H - Entendo... Mas, considerando tecnicamente (e mais por curiosidade): tudo bem que este mundo seja inferior, mas, o que nele de fato impede podermos escolher contrários simultâneos?
D - É sua própria estrutura, tal como deve intuir, evidentemente. Como escolher fazer e não fazer algo, ao mesmo tempo? Este mundo é apenas parte do alicerce do mundo edênico perfeito, o qual, sendo feito de matéria, é aqui que fui progressivamente estruturando um necessário equilíbrio coerente entre elementos originalmente caóticos, até uma perfeita culminância elementar, totalmente capaz de compor-se ou decompor-se coerentemente para edificarem o mundo perfeito, como o céu, a terra, a luz, a treva, etc. Assim, por compor-se de fixações determinantes, aqui neste mundo nem eu posso resolver contrários simultâneos, senão ele se fragmentaria, tornando-se inútil.
H - Bem, se a razão é inevitavelmente esta, então eu renuncio a esta tola autonomia, e não decidirei nada! Simplesmente seguirei a sua própria sugestão de deixar o assunto de lado. Você que assuma o rumo da conversa!
D - Posso assumir, mas, claro que isto não o eximirá de decidir em todas as suas demais resoluções. Por exemplo, a de decidir quando e como iniciará nossas próximas conversas, como já decidiu hoje...
H - Ah, não tem problema - vou deixar pelo menos isto ao acaso: vou jogar uma moeda...
D - Mesmo assim será um acaso determinado por você, caso jogue a moeda.
H - Não escolherei de que lado ela cairá!
D - Apenas não saberá como cairá, mas, será precisamente o seu impulso o que determinará que ela caia num dos lados, o qual poderá escolher, ou não, tanto antes de cair, como depois também, e ainda podendo escolher o lado contrário - ou mesmo nenhum deles... Tudo por livre decisão pessoal.
H - Ora, também acabo de decidir iniciar este parágrafo. Poderia decidir não tê-lo iniciado. E você? Será que decidirá iniciar o seu próximo parágrafo?
D - Sim, decido iniciá-lo porque mantenho meu desígnio de cooperarmos por este meio.
H - E, então, isto tudo fica sendo uma brincadeira tola - e louca, na medida em que pretenda ter alguma importância!
D - Tanto você, como cada leitor e leitora, podem decidir se esta conversa é importante, ou não. Porém, enquanto não desistirem, permanecerão presos ao seu assumido jogo dos contrários: de fato, é sim ou não - a cada arbítrio.
H - Grande coisa... Estas são questões já tratadas e retratadas em filosofia, psicologia, direito... Estamos apenas remoendo farinha, aqui...
D - É normal: todas as ciências têm que repassar suas doutrinas aos aprendizes; e meus leitores não são especialistas nestas áreas, em maioria.
H - Mas - eu - não quero... Aliás, o que assumo é decidir isto agora: eu não vou ser usado para ajudá-lo a dar aulas primárias para o seu rebanhozinho infeliz. O que quero são as respostas às minhas perguntas!
D - Você deve estar ciente de que suas perguntas também não são inéditas...
H - Provavelmente não - e muito menos para você, claro... Mas, se sua conversa aqui é comigo e está mantido meu direito de perguntar o que eu quiser sobre religião, então quero conversar apenas sobre aspectos que - eu - acho importantes. Não quero sua didática... - quero respostas diretas.
D - Também combinamos que eu usaria suas perguntas para fazer minhas revelações - o que venho fazendo - mas, parece que você está decidindo não aceitar mais que eu dê minhas aulas, aqui...
H - Ora, tudo bem, está certo. De fato combinamos que assim seria. E, com o que então, não poderemos sair deste assunto: de fazer escolhas?
D - Ora, por favor, não me faça rir - eu não tenho dentes...
H - Não foi piada...
D - Mesmo não sendo, continua divertido... Você reconheceu que neste mundo a necessidade de fazer escolhas é inexorável. Então, enquanto não acreditar que eu exista autonomamente, permanece sendo você quem escolhe o que eu escolho. Ou seja, no caso, é você quem escolhe se vai sair do assunto de fazer escolhas, ou não...
H - Que decepcionante! Novamente: famoso livre-arbítrio, hein?...
D - Agradecemos que retorne ao tema. E não é comum atribuírem-lhe fama, e sim algum estigma... Como o livre-arbítrio é a liberdade da vontade na escolha entre diferentes opções, ele torna-se responsável pelo ônus imposto por cada uma, tanto quanto por seu eventual conforto. Isto frequentemente é um desafio opressivo, porque significa ser livre, porém em estado parcial de cegueira, pois somente novas experiências podem prover novos conhecimentos, destinados a diferenciar o que funciona, do que não funciona; o bem, do mal - cada vez mais, a cada passo.
H - Desculpem. Acabo de atender um telefonema urgente e tenho que ausentar-me. Talvez possa retornar à conversa ainda hoje...
D - Sem problemas. Até logo...
H - Até logo.
* * *
Final da Conversa 4
Conversa 4
H - Parágrafo inicial da quarta conversa, pela sexta vez...
D - Obrigado, pode prosseguir.
H - Esperou que eu indicasse o número de vezes?...
D - Não... Acabo de chegar.
H - Precisa mesmo fazer isto? Não vê que está reforçando a hipótese de que você não passa de um sintoma?
D - Tem sido uma hipótese útil, não é verdade?
H - Ora, por favor... Você não disse que estaria sempre imediatamente disponível?...
D - Não sempre...
H - É sério: teve reais motivos para me deixar repetindo o parágrafo inicial?
D - Apenas um ligeiro contratempo...
H - Você sabe como este tipo de resposta me irrita...
D - De fato estranhei que acharia divertido, sendo que não posso deixar de adaptar minhas respostas a você mesmo. Mas, caso queira, sempre podemos deixar para continuar uma outra hora...
H - Pelo jeito, o sintoma está se agravando!
D - Se eu puder fazer alguma coisa...
H - Você é o sintoma!
D - Como já afirmei, eu sou Deus.
H - Por isto mesmo!
D - Entendo. Bem, então, que tal fazer alguma pergunta...
H - Acabo de ter uma epifania!
D - Ah, sim? Como vinda da loucura?
H - Sim, tornou-se uma loucura epifânica!
D - E, faz alguma diferença?
H - Sim, por eu descobrir agora que, no meu caso, a loucura é o processo de um talento supercognitivo...
D - Ou seja, é o seu modo de ser genial...
H - Sim, tanto que você mesmo o está confirmando.
D - Foi mal...
H - É mesmo através destas piadinhas tolas, destas dialéticas ridículas, que o meu gênio vai aflorando...
D - E a sua genialidade ateia é manifesta logo em relação com Deus?
H - Sim, devido à potência inerente à figura, ou símbolo.
D - Então, poderíamos concluir que o símbolo divino é um instrumento intuitivo universal, pelo qual cada um extrai de si mesmo o quanto puder...
H - Perfeito! Isto mesmo!
D - Pode agradecer, se quiser - o símbolo funciona melhor assim...
H - Muito obrigado... Muito obrigado...
D - Contudo, o que não dá é para ficar sem fazer perguntas...
H - Ah... sim... tal como o conto do gênio fatídico, que matará seu amo se este não continuar dando-lhe tarefas!
D - Posso lhe conceder mais alguns segundos...
H - Espere aí... Ah, bem - NÃO: decido agora que, no meu caso, sou eu quem pode matar o gênio! Quem manda no gênio sou EU!
D - Não deixa de ser justo... Mesmo porque esta loucura é sua, e não de algum outro autor - menos genial, ou menos louco.
H - Exatamente. E não vou fazer pergunta alguma!
D - Nunca mais, ou só por algum tempo?
H - Não quero que você saiba!
D - Bem, então peço que me dê licença, só por uns dois minutinhos...
H - Para ir fazer o quê?
D - Ahá: isto foi uma pergunta...
H - Não - não foi! E você vai passar a iniciar as conversas assim que eu escrever o parágrafo inicial! Nada de esperas!
D - Mas, faz parte do símbolo de Deus que ele não obedece ordens: bem ao contrário, ele é o senhor absoluto, universalmente soberano!
H - Estou modificando o símbolo!
D - Tudo bem, mas, neste caso o símbolo não será mais representativo de Deus...
H - Hm... Está certo... Deus é o único símbolo de poder absoluto, do criador incriado, o ser original, inescrutável, árbitro da verdade, plenificador do nada...
D - Realmente inspirador - porém mais, muito mais! Além de transcender o símbolo, que na verdade origina.
H - Então - a genialidade pode exceder o gênio?
D - Sim, podendo até ser fatal...
H - Você é um impostor!
D - Impostando quem?
H - O símbolo!
D - Afinal, eu sou o símbolo, ou não sou?
H - Não vai ficar me enrolando com este papo!...
D - Como o tema do papo é seu, isto vai depender apenas de você. Por mim, pode deixar este assunto de lado e trazer alguma outra questão - menos custosa... Você decidirá.
H - Sério? Grande profecia! O probleminha aqui é que fico sem espaço para decidir meios termos, tolhido na relatividade. É sim, ou não! É, ou não é! Bela liberdade, esta...
D - De fato... No mundo original sua liberdade era uma bênção, podendo simultaneamente usufruir de todos os contrários que quisesse. Aqui, não... Aqui e para você, a liberdade que herda de si mesmo torna-se uma penalidade, apesar de mesmo assim você estar livre para ser feliz do modo que quiser.
H - Qual pode ser o interesse em ser feliz assim... se nós, reles mortais, estamos condenados a uma liberdade espúria, cuja felicidade possível é toda dependente de decisões excludentes - em tudo!?
D - Mas, isto é culpa de quem? Foi você quem aceitou afogar-se nesta fossa dialética! Por que ingeriu o fruto proibido, sem antes consultar-me sobre o que a serpente alegou, em vez de já ir acatando a palavra dela?
H - Caramba! Você ainda está ressentido com essa m... mesquinharia! Esse é o nosso grande deus!
D - Um pai ressentido não pode ser magnânimo na correção de seus filhos e filhas. É exatamente por você ser perfeitamente livre, que é capaz de renunciar à sua liberdade. Nenhuma consequência de suas decisões - em especial esta originalmente pecaminosa - pode ser inconsequente, a não ser que você mesmo dignifique-se admitindo seu erro, assumindo sua culpa, arrependendo-se e aceitando minha misericórdia. Senão, eu teria criado apenas um incapaz protegido. Já criei muitos desses, de modo que, comparativamente, é privilégio seu felicitar-se por ser verdadeiramente responsável em seus livres arbítrios.
H - Eu sou uma planta autorregável...
D - Uma metáfora surpreendente... e, apesar de também deslocada, evidencia que você compreende sua situação. De fato, você é totalmente autônomo e autossuficiente. Eu assim o criei. Você sempre conseguirá o que decidir, inclusive consertar seus erros.
H - Entendo... Mas, considerando tecnicamente (e mais por curiosidade): tudo bem que este mundo seja inferior, mas, o que nele de fato impede podermos escolher contrários simultâneos?
D - É sua própria estrutura, tal como deve intuir, evidentemente. Como escolher fazer e não fazer algo, ao mesmo tempo? Este mundo é apenas parte do alicerce do mundo edênico perfeito, o qual, sendo feito de matéria, é aqui que fui progressivamente estruturando um necessário equilíbrio coerente entre elementos originalmente caóticos, até uma perfeita culminância elementar, totalmente capaz de compor-se ou decompor-se coerentemente para edificarem o mundo perfeito, como o céu, a terra, a luz, a treva, etc. Assim, por compor-se de fixações determinantes, aqui neste mundo nem eu posso resolver contrários simultâneos, senão ele se fragmentaria, tornando-se inútil.
H - Bem, se a razão é inevitavelmente esta, então eu renuncio a esta tola autonomia, e não decidirei nada! Simplesmente seguirei a sua própria sugestão de deixar o assunto de lado. Você que assuma o rumo da conversa!
D - Posso assumir, mas, claro que isto não o eximirá de decidir em todas as suas demais resoluções. Por exemplo, a de decidir quando e como iniciará nossas próximas conversas, como já decidiu hoje...
H - Ah, não tem problema - vou deixar pelo menos isto ao acaso: vou jogar uma moeda...
D - Mesmo assim será um acaso determinado por você, caso jogue a moeda.
H - Não escolherei de que lado ela cairá!
D - Apenas não saberá como cairá, mas, será precisamente o seu impulso o que determinará que ela caia num dos lados, o qual poderá escolher, ou não, tanto antes de cair, como depois também, e ainda podendo escolher o lado contrário - ou mesmo nenhum deles... Tudo por livre decisão pessoal.
H - Ora, também acabo de decidir iniciar este parágrafo. Poderia decidir não tê-lo iniciado. E você? Será que decidirá iniciar o seu próximo parágrafo?
D - Sim, decido iniciá-lo porque mantenho meu desígnio de cooperarmos por este meio.
H - E, então, isto tudo fica sendo uma brincadeira tola - e louca, na medida em que pretenda ter alguma importância!
D - Tanto você, como cada leitor e leitora, podem decidir se esta conversa é importante, ou não. Porém, enquanto não desistirem, permanecerão presos ao seu assumido jogo dos contrários: de fato, é sim ou não - a cada arbítrio.
H - Grande coisa... Estas são questões já tratadas e retratadas em filosofia, psicologia, direito... Estamos apenas remoendo farinha, aqui...
D - É normal: todas as ciências têm que repassar suas doutrinas aos aprendizes; e meus leitores não são especialistas nestas áreas, em maioria.
H - Mas - eu - não quero... Aliás, o que assumo é decidir isto agora: eu não vou ser usado para ajudá-lo a dar aulas primárias para o seu rebanhozinho infeliz. O que quero são as respostas às minhas perguntas!
D - Você deve estar ciente de que suas perguntas também não são inéditas...
H - Provavelmente não - e muito menos para você, claro... Mas, se sua conversa aqui é comigo e está mantido meu direito de perguntar o que eu quiser sobre religião, então quero conversar apenas sobre aspectos que - eu - acho importantes. Não quero sua didática... - quero respostas diretas.
D - Também combinamos que eu usaria suas perguntas para fazer minhas revelações - o que venho fazendo - mas, parece que você está decidindo não aceitar mais que eu dê minhas aulas, aqui...
H - Ora, tudo bem, está certo. De fato combinamos que assim seria. E, com o que então, não poderemos sair deste assunto: de fazer escolhas?
D - Ora, por favor, não me faça rir - eu não tenho dentes...
H - Não foi piada...
D - Mesmo não sendo, continua divertido... Você reconheceu que neste mundo a necessidade de fazer escolhas é inexorável. Então, enquanto não acreditar que eu exista autonomamente, permanece sendo você quem escolhe o que eu escolho. Ou seja, no caso, é você quem escolhe se vai sair do assunto de fazer escolhas, ou não...
H - Que decepcionante! Novamente: famoso livre-arbítrio, hein?...
D - Agradecemos que retorne ao tema. E não é comum atribuírem-lhe fama, e sim algum estigma... Como o livre-arbítrio é a liberdade da vontade na escolha entre diferentes opções, ele torna-se responsável pelo ônus imposto por cada uma, tanto quanto por seu eventual conforto. Isto frequentemente é um desafio opressivo, porque significa ser livre, porém em estado parcial de cegueira, pois somente novas experiências podem prover novos conhecimentos, destinados a diferenciar o que funciona, do que não funciona; o bem, do mal - cada vez mais, a cada passo.
H - Desculpem. Acabo de atender um telefonema urgente e tenho que ausentar-me. Talvez possa retornar à conversa ainda hoje...
D - Sem problemas. Até logo...
H - Até logo.
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