Nióbio: a ilusão da extrema-direita tosca

Parece mágica. Você joga um punhadinho de nióbio, apenas 100 gramas, no meio de uma tonelada de aço – e a liga se torna muito mais forte e maleável. Carros, pontes, turbinas de avião, aparelhos de ressonância magnética, mísseis, marcapassos, usinas nucleares, sensores de sondas espaciais… praticamente tudo o que é eletrônico, ou leva aço, fica melhor com um pouco de nióbio. Os foguetes da empresa americana SpaceX, os mais avançados do mundo, levam nióbio. O LHC, maior acelerador de partículas do planeta, e o D-Wave, primeiro computador quântico, também. Todo mundo quer nióbio – e quase todas as reservas mundiais desse metal, 98,2%, estão no Brasil. Nós temos o equivalente a 842 milhões de toneladas de nióbio, que valem inacreditáveis US$ 22 trilhões: o dobro do PIB da China, ou duas vezes todo o petróleo do pré-sal. Por isso, há quem diga que o nióbio pode ser a salvação do Brasil, a chave para o País se desenvolver e virar uma potência global. Mas de que forma o nióbio é explorado hoje em dia, e quem ganha com ele?

É verdade, como se ouve por aí, que estamos exportando nossas reservas a preço de banana? E, se esse metal vale tanto, por que há tão pouca informação sobre ele? Há muitas lendas a respeito do nióbio. A mais importante: ele é, de fato, um elemento estratégico e raro. Mas não se trata de uma fonte inesgotável de riqueza.

Se o nióbio é tão útil, e o Brasil controla quase todas as reservas, não poderia cobrar mais caro? O governo brasileiro não deveria exigir royalties sobre a venda? E por que apenas 10% das tubulações de aço do planeta usam nosso produto? Há respostas para tudo isso.

Nada é perfeito
A primeira delas: o nióbio é substituível. Vanádio e titânio cumprem basicamente a mesma função. O vanádio é encontrado na África do Sul, na Rússia e na China. O titânio está presente na África do Sul, na Índia, no Canadá, na Nova Zelândia, na Austrália, na Ucrânia, no Japão e na China. Esses países preferem explorar suas próprias reservas a depender de um mineral que é praticamente exclusivo de uma nação só – o Brasil. Em alguns casos, também é possível trocar o nióbio por tungstênio, tântalo ou molibdênio. “Não há mercado para mais nióbio”, afirma o economista Rui Fernandes Pereira Júnior, especialista em recursos minerais.

Outra questão é que é preciso pouco nióbio para que ele faça sua mágica. “As reservas brasileiras são suficientes para abastecer o mundo por séculos. Mas aquelas existentes em outras regiões do planeta, como o Canadá [que, como a Austrália, também possui nióbio], também são”, diz Roberto Galery, professor do departamento de Engenharia de Minas da UFMG. Quer dizer: não adianta aumentar muito o preço do nióbio, pois os compradores tenderão a optar por outros metais, nem tentar acelerar demais a exportação (pois aí haverá excesso de oferta de nióbio, fazendo o valor desse metal despencar).

Há outra questão: o Brasil só exporta o nióbio em si. Não fabrica produtos derivados dele. “Ninguém está disposto a pagar uma fortuna pelo nióbio, porque nós não conseguimos dar valor agregado a ele”, diz o professor Leandro Tessler, do Instituto de Física da Unicamp. “Nós repetimos nosso velho ciclo: vendemos matéria-prima e compramos produtos prontos. Vendemos nióbio e compramos fios de tomógrafos, por exemplo.” É um caso parecido com o do silício. Nós temos as maiores reservas de areia do planeta (e é da areia que o silício é extraído), mas só exportamos silício com 99,5% de pureza, menos que os 99,99999% exigidos pela indústria eletrônica.

https://super.abril.com.br/ciencia/a-verdade-sobre-o-niobio/

Comentários

  • No futuro, todas as baterias de niobio terão grafeno e os carros serão movidos a eletricidade.
  • ENCOSTO escreveu: »
    No futuro, todas as baterias de niobio terão grafeno e os carros serão movidos a eletricidade.

    Futuro lindo.
  • ENCOSTO escreveu: »
    No futuro, todas as baterias de niobio terão grafeno e os carros serão movidos a eletricidade.
    Já ouvi um idiota falar que o Brasil tem que proteger as minas de grafeno ...
  • Fernando_Silva escreveu: »
    ENCOSTO escreveu: »
    No futuro, todas as baterias de niobio terão grafeno e os carros serão movidos a eletricidade.
    Já ouvi um idiota falar que o Brasil tem que proteger as minas de grafeno ...

    KKKKKKKKKKKKKKKKK
  • editado April 2022
    Que eu me lembre, o primeiro a tornar público o problema do "Nióbio vendido a preço de banana" foi o Enéas Carneiro.
    Ele vendia a ideia de que o Nióbio reunia as propriedades do Adamantium, do Vibrânio e do Uru Encantado cuja correta exploração poderia elevar o Brasil a uma mistura de Wakanda com Asgard Imperial.

    Que pena que ele não foi eleito.
    O Brasil ia continuar sendo o Brasil, mas muito menos chato.
  • Acauan escreveu: »
    Ele vendia a ideia de que o Nióbio era uma espécie de liga de Adamantium, Vibrânio e Uru Encantado cuja correta exploração poderia elevar o Brasil a uma mistura de Wakanda com Asgard Imperial.
    🤣🤣🤣

  • Acauan escreveu: »
    Que eu me lembre, o primeiro a tornar público o problema do "Nióbio vendido a preço de banana" foi o Enéas Carneiro.
    Ele vendia a ideia de que o Nióbio reunia as propriedades do Adamantium, do Vibrânio e do Uru Encantado cuja correta exploração poderia elevar o Brasil a uma mistura de Wakanda com Asgard Imperial.

    Que pena que ele não foi eleito.
    O Brasil ia continuar sendo o Brasil, mas muito menos chato.

    Sim, verdade.
Entre ou Registre-se para fazer um comentário.