Servidor público liberal vs Servidor esquerda caviar

nguém se lembraria do Bom Samaritano se ele só tivesse boas intenções.
Ele possuía também dinheiro.
Margaret Thatcher

Gosto da polarização de ideias políticas que tomou conta do país porque, antes, só tínhamos um ponto de vista hegemônico, patrocinado por ricos artistas, políticos endinheirados e acéfalos de alguns movimentos sindicais e estudantis. Gente com bom senso - pessoas que ralam para construir, empregar, movimentar e pagar tributos pesados - quase nunca emitia opinião. Afinal: essas pessoas estavam ocupadas demais para fazer piquete nas ruas com pneus queimados, destruindo patrimônio público e propriedade privada. Quem trabalha para pagar energia elétrica caríssima não pode se dar ao luxo de parar no meio da semana para repetir mantras de guerra ideológica endeusando legendas. Um pouco dessa polarização de ideias é a novíssima concepção "radical e monstruosa" de que devemos respeitar um pouco mais quem empreende. Parece revolucionário, no Brasil, afirmar que quem investe seu capital sob grande risco para empregar e gerar riqueza não é malvadão. E é absurdo ousar criticar políticos podres de ricos, que nunca trabalharam, de nefastos, não é? Lula, por exemplo, é quase sacrossanto. Afinal, estes políticos estariam se esforçando pela "justiça social". Quem em sã consciência criticaria o petista com dólar na cueca, aquele mesmo que pede "mais Estado e menos mercado" em rede nacional? Bom mesmo é tacar pedra no padeiro da esquina, que só quer produzir alimentos, empregar, lucrar e pagar imposto.

Percebo entre diversos núcleos de servidores públicos ataques a empreendedores. Um conhecido meu soltou essa recentemente: "empresário no Brasil ganha muito dinheiro, sem exceção". Ainda respondi que nem todos, que quem mais se beneficia de facilidades são os Eikes da vida, amigos do poder, que vão às portas do BDNES pedir arrego para manter castelo de cartas. Aquele micro ou pequeno empreendedor, por sua vez, precisa de apoio para continuar empreendendo, movimentando riquezas e empregando. Mas não; pela visão desse colega, todos são malvados e merecem sentir constantemente o peso do Estado nas costas, os forçando para a baixa lucratividade e, de preferência, os levando à falência. É meio assombroso isso. Um cidadão ocupa um cargo público que lhe rende R$ 35.000,00 por mês, possui mimos como telefone celular (iPhone última geração) e computadore de presente da Administração, locomove-se em veículos oficiais e goza sessenta dias de férias por ano! E afirma que empresário pequeno, no Brasil, é que tem vida boa? Você abre um negócio e todos os meses têm, na sua porta, fiscalização sanitária, de obras, fiscais de tributos (União, Estado e Município), fiscais do trabalho e, se der mais azar, Oficiais de Justiça convidando para audiência porque foi demandado judicialmente pelo ex funcionário que lhe pede R$ 100.000,00 de indenização por danos morais porque se sentiu "dodói emocionalmente" no trabalho. E ainda deveria se foder mais?

O que está havendo no Rio de Janeiro é emblemático, reflexo da crença no Estado como salvador e, após décadas de corrupção, inchaço da máquina e falta de apoio ao desenvolvimento empreendedor. O modelo faliu. A contabilidade é básica: muita grana saindo, pouca entrando. Esse keynesianismo deficiente que leva nações ao colapso levou um Estado-membro à bancarrota. E agora, amigo Servidor Público que odeia empresário, quem pagará seu salário? Poder público não gera riquezas. O estado natural das nações é a pobreza. Adam Smith ensinou isso há séculos e ainda não aprendemos. A condição natural da humanidade é a escassez. Apenas com esforço, liberdade e mercado conseguimos produzir riqueza para todos. Nunca houve tantos bilionários em nossa História como hoje. Contudo, também nunca houve tanto operário classe média baixa podendo comprar carros populares. Não importa se o rico empreendedor de alguma tecnologia revolucionária anda de Lamborghini, mas, sim, se cada vez mais gente pode adquirir e manter veículos 1.6 litros e assistir ao seu seriado em ecrã de led com 50". O nacionalismo geográfico nos ensina que vivemos numa terra naturalmente rica, onde se plantando tudo dá. Então, a riqueza existiria de per si e a todos pertencem? Ledo engano. Até mesmo para cultivar, zelar, extrair e processar riquezas ditas naturais são necessários: investimentos poupudos, força de vontade, conhecimento técnico, estudos e planejamentos, todo um esquema de organização e divisão de mão de obra, gerenciamento e observância de toneladas de burocracia. E você acha mesmo que dá para satisfazer as necessidades de seis bilhões de pessoas com "riquezas naturais" sem investimento industrial? Sem a possibilidade de obter ganhos algum empreendedor topará planejar e fornecer produtos e serviços? Você já alimentou seu unicórnio com pó de fadas hoje, caro ativista de esquerda?

Comentários

  • Ainda sobre o Rio de Janeiro: todos estão pagando o preço. Servidores públicos, mais ainda. Olham para os lados e não veem de onde a grana toda sairá. Pagarão, agora, 14% ou 16% de contribuição previdenciária para, talvez, mesmo assim, no futuro, não haver bufunfa suficiente para quitar seus proventos integrais ou proporcionais. E onde estão os sindicatos? Ou melhor: onde estavam os sindicatos quando a grana era torrada entre amigos do poder e entre milhares de apadrinhados ocupando cargos em comissão? Estes cargos, aliás, atendem apenas ao fisiologismo político de ocasião, muitas vezes sendo totalmente dispensáveis. O que fazem os sindicatos contra sua existência? Nada, pelo simples fato de que, em regra, esses organismos apoiam o inchaço cada vez maior do Estado e o sufoco extremo sobre a atividade empreendedora. Ocorre então que, um dia, a fonte seca. Empresas demitem, produzem menos, endividam-se até que (se não forem amigas do BNDES) quebram. É menos recurso ingressando nos cofres públicos diretamente diante dos tributos que deixarão de ser recolhidos. Indiretamente, nem se fala. E é desse poço (com fundo, bem escasso) que servidores públicos retiram seus sagrados vencimentos, muitas vezes de até R$ 100.000,00 (cem mil reais) ao mês, como comprovam dados divulgados em portais de transparência.

    Servidor público precisa acabar de confiar em governo e sindicato e passar a defender redução do Estado ao extremamente necessário, iniciado pela diminuição drástica (ou extinção) de cargos em comissão e funções de confiança. Cargos efetivos inúteis também precisam ser extintos ou transformados. Podem até mesmo ser extintos gradativamente, mediante a não lotação, mais, após claros por morte, exoneração e aposentadorias. Não é o governo que produz nosso salário. O governo não gera riqueza; muito menos sindicatos ocupados por ricos e bem relacionados dirigentes. No vídeo abaixo, o liberal Rodrigo Constantino, em 2014, já advertia para o que haveria no Brasil dos Servidores Públicos amantes do PT, CUT e forças sindicais. Foi quase uma profecia: falência de Estados e municípios e assalto a fundos de pensões. Vimos que, até agora, fundos de pensão até então prósperos, como Previ, Petros, Funcef e Postalis estão à bancarrota, tudo por má gestão, indicações políticas para cargos de gerenciamento dessas instituições e a utilização massiva para fins eleitoreiros e politiqueiros.
  • Na contramão, o próprio Constantino, assim como diversos liberais e libertários, são os que mais inviabilizam este urgente debate sobre a associação entre liberalismo e funcionalismo público. Não raras vezes, canais como o Ideias Radicais ou site Mises Brasil taxam, a rodo, a totalidade de servidores por parasitas inúteis que se dedicam a mamar nas tetas do Erário sem qualquer esforço. Falar isso é dar um tapa na cara da família do policial executado em serviço, nos enfermeiros plantonistas que pressionam sangramentos com as próprias mãos e utilizam saco de lixo como roupa cirúrgica porque está faltando material hospitalar, nos professores do ensino básico das ermas zonas rurais e dos motoristas de ônibus escolares, nos garis que carregam nas costas seus dejetos semanais. Na ânsia de criticar a ineficiência do Estado, a corrupção do políticos e de seus aspones, as gordas propinas que grandes empresários embolsam em obras e serviços delegados pelo setor público, acabam ofendendo uma totalidade de pessoas que apenas usou a lógica para ocupar cargos: sem bom "QI" (quem indica) na iniciativa privada e sem apadrinhamento político, tendo disciplina para estudar, optou por queimar as pestanas por noites a fio sobre metros de livros, passou num concurso, mudou-se para outra cidade para ocupar o cargo conquistado, trabalha dentro de seu horário e cumpre suas tarefas para, sem bajular ninguém, ganhar honestamente o sustento poupudo que não teria noutro local. Liberais infantilizaram o debate ao optar pelo genérico xingamento pueril, quando poderiam unir forças com servidores públicos efetivos que, em sua grande maioria (embora sem o respaldo sindical) também desejam a redução do Estado por meio da diminuição gradativa - e mesmo extinção - de tantos cargos em comissão e funções de confiança. O vídeo abaixo do Rafael Lima (vulgo Mr Hide) é emblemático neste sentido. Claro, ele é anarcocapitalista. Em meu cardápio de utopias, a ausência total de poder público também é um delírio gostoso de se cultivar. Entretanto, não existe. O mais próximo de anarcocapitalismo que visualizo é algo similar a Mad Max - e estamos próximo dessa hecatombe, creio. Mesmo com proselitismo pelo fim o Estado, teríamos que começar de alguma forma, não é? E o pontapé inicial é a redução da máquina inchada, gorducha. Ao apenas destilar ódio contra milhares de servidores honesto, que mereceriam ser demitidos para dar lugar a "empresas isentas e honestas selecionadas por métodos isentos de vícios e conluios", pessoas assim perdem a grande oportunidade de - ao menos num determinado momento, pela urgência que é reduzir o Estado brasileiro - unir forças com quem ganha seu pão dentro da toca do leão. Afinal, salários de ocupantes de cargos em comissão também são pagos com impostos de servidores efetivos. No meu caso, pago 38,5 % de minha renda mensal, retidos em folha. Sim: quase 40% de meu salário vem com descontos na fonte, sendo 27,5% de imposto de renda e 11% para uma previdência que, talvez, nem exista no futuro. Ao menos há o alento do limite de isenção, o que não faz a garfada chegar, diretamente, a esse percentual insano.
  • Com atitudes infantis, liberais e libertários apenas mantém a força política do funcionalismo cada vez mais alinhada com o ativismo sindical pelego e com legendas políticas que arruínam nossa economia. Vejamos um exemplo interessante. Dilma Rousseff, em 2015, ficou à frente da grande reforma previdenciária que deu aos servidores federais o teto do regime geral previdenciário e criou os fundos complementares duvidosos. Nem FHC conseguiu chegar perto de tal proeza. E fez isso sem enfrentamento. Tudo correu silenciosamente. Nenhum sindicato pelego ousou ergue a voz. Onde estava a CUT? No mesmo ato, limitou o alcance de pensões por morte: o que era integral e vitalício, tornou-se parcial e provisório nos regimes público e privado. Atualmente, basta o Governo Temer indicar reformas menos drásticas que o país está pegando fogo, sindicatos armam contra-ataques, a mídia não perdoa. Por quê? Simples: a maioria do funcionalismo está com legendas de extrema-esquerda não porque estas incham o Estado com seus parceiros; mas, sim, porque cai no canto da sereia, mesmo com as ações indicando o contrário. Em matéria de logística política e mobilização, a chamada "direita" ainda tem muito o que aprender.

    Retornando a Rodrigo Constantino, aproveito para recomendar o excelente livro Esquerda Caviar - A hipocrisia dos artistas e intelectuais progressistas no Brasil e no mundo. Dividido em três partes, a primeira delas elenca diversos aspectos que ajudam a diagnosticar um legítimo esquerda caviar, o radical chic das trincheiras tupiniquins. Reconheço, dentre aqueles sintomas, vários colegas servidores públicos. Estes, não são ricos. Afinal, setor público não deve enriquecer ninguém. Contudo, boa fatia também não é pobre. Num País onde a grande massa trabalha como jumento para embolsar um salário mínimo e pequenos empresários são tratados como lixo, vendendo o almoço para comprar a janta, alguém que ganha R$ 35.000,00 por mês, além de auxílios e mimos diversos, com 60 dias de férias ao ano mais 16 dias de recesso é, penso, uma espécie de aristocracia ultramoderna. E, não raro, grande parcela desses nobres acabam descambando para a esquerda festiva, talvez até mesmo por culpa em embolsar tanta grana pública para poucas horas de serviço efetivamente prestadas. E, detentores do Poder, são, em regra, aqueles que mais sentem a sede sádica de cair matando sobre o pequeno e médio empresariado nacional - o porquinho engordado durante o ano para, abatido, dar banha. "A arte da tributação consiste em depenar o ganso de modo a obter a maior quantidade de penas com o menor volume possível de grasnido", dizia Jean-Baptiste Colbert, Ministro de Finanças do Rei Luís XIV.

    Vários colegas servidores públicos ainda chegam ao cúmulo de levantar bandeiras esquerdistas ultrapassadas, como o antiamericanismo, por exemplo. Na cidade onde resido, os principais produtos de exportação são mel orgânico de abelha e cera de carnaúba. Esta destina-se, especialmente, à indústria cosmética e tecnológica. O maior comprador dessas duas commodities são os Estado Unidos. Muitos moradores da região preferem utilizar açúcar de cana vindo de outros Estados ao próprio mel produzido por aqui. Toneladas de caju vão para o lixo porque poucos conterrâneos gostam verdadeiramente de cajuína artesanal. Em restaurantes, vejo umas dez cocas para cada garrafa de cajuína. Lá fora, nosso mel orgânico é bem valorizado. Já quanto ao uso da cera, não investimos diretamente em suas aplicações mais lucrativas por 1. falta de tato empresarial, 2. má vontade e 3. obstáculos nacionais com excessos de burocracia e tributação. Aí vem a grana americana movimentar nossa economia e servidores públicos que sobrevivem graças aos impostos da atividade produtiva optam por levantar a bandeira antiamericana sem refletir, apenas pelo automatismo em macaquear gritos de guerra de sindicatos vermelhos. É osso.

    Passou da hora de termos maturidade nesse debate e unir forças ao menos para chegarmos ao ponto desejado pela esmagadora maioria de brasileiros: menos gasto estatal com inutilidades e ineficiências. Achar que todo o serviço público funciona como deveria é delirante. Acreditar que todos os que ocupam cargos públicos ralam como deveriam é para quem reside na catedral ebúrnea dos poetas simbolistas. Acreditar, por seu turno, que o Estado desaparecerá porque você quer e mesmo assim haverá organização social é uma ideologia tão perigosa quanto à revolucionária marxista. Achar que a iniciativa privada é um poço de meritocracia onde os melhores são devidamente recompensados com promoções - mesmo não sendo amigos do chefe - não cola. E empreender, no Brasil, é apenas para quem é amigo do poder e tem trânsito lubrificado junto à burocracia e ao crédito fácil das instituições de fomento. Então vamos colocar os pés no chão, cair na real. Com ataques pueris e achismos não chegaremos a lugar algum a não ser à bancarrota, onde o setor produtivo será reduzido às cinzas, não haverá nem moscas nos cofres públicos e os mandachuvas dessa joça toda, aqueles que realmente decidem os destinos da nação, gozarão dos frutos do propinoduto alocados em paraísos fiscais. Não sou grande entusiasta de Leandro Karnal, até porque sempre o vejo com discursos eivados de frases-feitas e lugares-comuns, carregados de verve ideológica. No vídeo abaixo, entretanto, ele foi feliz (penso) ao pedir ao menos um melhor e mais sério debate sobre o assunto.

    Não me estenderei mais. As ideias gerais, acima, foram repassadas. Torço para que servidores públicos efetivos larguem essas bandeiras de inchaço estatal e que liberais e libertários, compreendendo que - ao menos por enquanto, há um serviço público existindo - não joguem no mesmo saco da ineficiência todos os agentes públicos, especialmente misturando políticos e ocupantes de cargos em comissão com pessoas que se submeteram a concurso público, batem metas internas e ponto eletrônico religiosamente. É isso. Abraços e até a próxima.

    http://kleitongoncalves.blogspot.com/2017/01/servidor-publico-liberal-vs-servidor.html
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