Astrologia
Coloquei no facebook, partilho agora aqui:
Estava a ler Sartre e pensei: a astrologia não é inofensiva como acreditei. Esta diz que o homem é alguma coisa, torna-o susceptível a auto-persuadir-se de ser essa coisa. Deste modo não o responsabiliza pela sua própria construção enquanto pessoa.
Como pergunta Sartre: "mas quem pode resignar-se a não ser nada?"
Isto de não ser nada obriga a fazer escolhas, a exercer esforço sobre si, e isto, é cá uma daquelas chatices.
"L’Homme, parce qu’il est un être conscient, n’a donc pas d’essence, pas de stabilité, pas de pérennité. Il est condamné à n’être jamais ce qu’il est. Mais qui peut se résigner à n’être rien ?"
"O Homem sendo um ser consciente, não possui essência, nem estabilidade, nem perenidade. Ele está condenado a não ser nunca aquilo que é. Mas quem pode resignar-se a não ser nada?"
(tradução livre)
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Comentários
Ao longo dos últimos meses, venho dando-me conta: há pessoas cujo o comportamento, a atitude e características da personalidade parecem coincidir com a descrição dos astros. Mas há um detalhe importante. A pessoa adaptou-se à leitura e não foi a leitura que a descreveu.
O que pensam da astrologia ( tarot e afins)?
Alguma vez se deram conta do mesmo, i.e., pessoas que se esforçam para coincidir-se com aquilo que é esperado delas, inconscientes de que são elas a definirem-se enquanto pessoas?
Em seguida, perguntou à plateia quantos concordavam com as respectivas descrições e todos disseram que a correspondência era perfeita.
Só então ele pediu para cada um olhar os textos dos outros: eram todos iguais.
Um monte de generalidades que serviam para qualquer ser humano.
Isso também, mas o que me está fervilhar na mente é que ela condiciona a pessoa a ser ou agir de determinado modo. A meu ver, isto é nocivo mais não seja para essa pessoa. Depois, pode, já vi, afectar outras pessoas.
Todas as religiões fazem o mesmo que a astrologia, ao tornar o homem crente de suas deliberações.
Não sei se todas o fazem, mas a sua contribuição suscita-me pensar o assunto
Certas filosofias orientais parecem não se enquadrar.
Boa hora para demonstrar o que são esses crentes dessas religiões em detrimento do que acreditam.
Fui eu que não dei tanto valor ao futurismo da astrologia. Nem todas as religiões estão comprometidas com o futurismo.
Se o entendi correcto, vejo necessidade de isolar melhor o problema. Grato pela sua colaboração
Não serve o meu propósito, o ponto não é estudar as religiões.
Agradeço por me ter mostrado isso.
Se tem interesse em debater esse ponto, não sou a pessoa indicada para fazer o papel do contra. Não sigo nenhuma religião, nem lhes sou lá muito favorável. A sua intervenção teve a leveza de me deixar a reflectir...e pensar leva tempo.
Já outras, como o catolicismo, acham que o Diabo nos tenta, mas que somos nós que decidimos o que fazer.
"Ao tornar o homem crente de suas deliberações" , estava me referindo ao arcabouço das religiões visar a doutrinação dos homens.
Não sendo possível, nem saudável impedir estas influências. Desejamos que ao menos sejam boas influências.
Como? Começando por cultivar o pensamento crítico.
Se for pela ação da gravidade, ela não se diferencia, em seus efeitos, de um planeta ou estrela para outro, além de ser muito menor que todas as outras coisas, aqui na Terra, que rodeiam o bebê. E, se for por forças misteriosas com características que variam de um corpo celeste para outro, não há rigorosamente nenhuma evidência.
Outro problema é que os signos são atribuídos conforme a constelação diante da qual o Sol está no momento.
Acontece que já se passaram milhares de anos desde que esta babaquice foi inventada e as constelações se moveram, portanto quem nasce em julho, por exemplo, não é mais de câncer.
Outro problema é que os astrólogos distribuem as 12 constelações em ângulos uniformes de 30⁰ ao longo dos 360⁰ que o Sol parece percorrer durante o ano, só que os espaçamentos são irregulares e algumas delas estão mais aglomeradas enquanto outras estão isoladas. O resultado é que os períodos atribuídos a cada signo não deveriam ser iguais. Ou seja, alguém que acha que nasceu num signo, na verdade nasceu no seguinte ou anterior.
Além disto, as estrelas parecem estar agrupadas de tal ou tal forma apenas por que as vemos de um certo ângulo. Se as víssemos de lado, por exemplo, perceberíamos que estão a distâncias muito diferentes umas das outras. Cada estrela estaria então agrupada com outras estrelas, formando outras combinações.