Novos Conservadores X Conservadores Mainstream

A marca de Glenn Beck já sofreu todos os danos possíveis durante a eleição de 2016, quando o empresário e comentarista conservador tomou uma forte posição anti-Trump, chegando até a, praticamente, declarar apoio à democrata Hillary Clinton. Foi um ano de queda para Beck, que figurava como um dos poucos líderes conservadores na mídia a reconhecer a necessidade de lutar a guerra ideológica no campo da cultura e entretenimento.

A sua visão para o TheBlaze, uma rede de comunicação conservadora que se expande por TV, rádio e internet, era ambiciosa. Beck uma vez sonhou com o primeiro conglomerado de mídia verdadeiramente conservador, chegando a contar até com um estúdio de cinema. No entanto, no caminho havia um Donald Trump e, na contra-mão do maior fenômeno republicano desde Ronald Reagan, Beck viu a sua marca, o seu prestígio e, mais importante, a audiência do TheBlaze se deteriorarem mais rápido que a candidatura de Jeb Bush.

Um daqueles que gritava aos céus a impossibilidade de Trump vencer, Beck acabou se tornando uma piada para a nova geração de conservadores, aquela que ele desejava tanto conquistar, e teve que demitir mais de quarenta funcionários do TheBlaze, enquanto se justificava sentado no meio da réplica de Salão Oval que construiu para a cobertura da eleição presidencial.



Foi em 2016 também que Glenn Beck fez o discurso de fechamento da CPAC (Conservative Political Action Conference), uma conferência anual onde políticos e ativistas conservadores discursam e debatem o atual cenário político. Eis que o escolhido para fechar o evento esse ano era ninguém mais, ninguém menos que Milo Yiannopoulos, o editor do Breitbart e provocador profissional. Ao contrário de Beck, Milo surfou alto a onda Trump e, com a ajuda de manifestantes violentos de esquerda, alcançou notoriedade com seu estilo provocante e divertido de abordar temáticas conservadoras, se tornando o garoto-propaganda da luta pela liberdade irrestrita de expressão. Ele também frequentemente zombava de Beck.

Era a derrota final para Glenn, a prova cabal de que o seu estilo de comentarismo político havia perdido para o entretenimento de pessoas como Milo e o próprio Presidente Trump. Mas eis que a apenas 2 dias do começo do evento surge um áudio de Milo num podcast supostamente defendendo pedofilia, destacando como a relação de “meninos homossexuais” e “homens mais velhos” é saudável para o descobrimento sexual deles, enquanto em outra passagem, ele escolhe brincar com o abuso sexual que sofreu de um padre quando era jovem, dizendo que “se não fosse pelo Padre Michael, eu não seria tão bom no oral hoje em dia”.

Milo também aparece comentando sobre a idade de legalidade, dizendo que ela está “praticamente certa”, mas que algumas pessoas que são sexualmente ativas mais cedo na vida são capazes de dar consentimento em uma idade inferior. Tirando a óbvia piada, são declarações complicadas, sendo tiradas de fora do contexto ou não. Porém, o histórico de condenação da pedofilia de Milo fala mais alto. Como quem acompanha o seu trabalho pode atestar, ele foi um dos mais ferozes críticos de sites de extrema-esquerda como Salon, Slate e Cracked por artigos que tentavam normalizar a pedofilia e, em sua carreira, já ajudou a denunciar muitos abusadores de criança. Sobre as declarações polêmicas, Milo, em vídeo, culpou frases mal construídas e a escolha errada de palavras, antes de retificar a sua abominação a pedofilia e exemplificar a edição maliciosa dos clipes.

O que uma coisa tem a ver com a outra? Foi o TheBlaze de Beck o primeiro site de relevância a publicar os vídeos – editados e acompanhados de uma manchete sensacionalista. O estilo te lembra alguma coisa? Pois é, Glenn Beck realizou um hit-piece a la mídia mainstream contra Milo, tentando pinta-lo como uma das cores do arco-íris de literalmente Hitler.

Na era de grandes personalidades e novas mídias, o TheBlaze acabou de se posicionar como mais um dinossauro da velha imprensa tradicional. Só ter a ideologia certa não é o suficiente, é preciso também abrir mão das táticas e tramoias da MSM. Uma simples busca dos termos “milo pedophilia” revela o efeito que a hit-piece do TheBlaze teve. Tal mãe, tal filha. A CNN ficaria orgulhosa.

A ação é particularmente perigosa por que uma denúncia de fonte conservadora contra um outro conservador é a única hora em que a grande mídia dá credibilidade a veículos e comentaristas de direita, afinal, “Se até eles mesmo dizem isso, não podemos estar errado”. Um bom exemplo desse fenômeno foi a recente e absurda cobertura de um discurso do senador John McCain onde ele critica a visão de mundo de Trump. É a atitude máxima de um covarde – jogar outra pessoa no fogo para sair bonito no jornal.

Depois do artigo, a American Conservative Union, instituição que organiza a CPAC, tirou Milo do evento, seguida de declarações negativas de agentes do establishment republicano. Apesar da grande notoriedade entre os jovens, figuras como Milo geralmente não são reconhecidas pela elite republicana, que ainda não se acostumou à nova onda da contra-cultura conservadora. Antes de mais nada, é um conflito de gerações, algo muito mais profundo que neocons contra a alt-right. É a geração Trump, que bate forte na mídia e na cultura, que valoriza a liberdade de expressão acima de tudo, contra a velha guarda de Reagan e Nixon, com seu conservadorismo clássico e grande apreço à moralidade no entretenimento e meio cultural.

São dois grupos que possuem mais em comum do que contra, mas que discordam em pontos tão essenciais que isso torna a sua coexistência quase que impossível. Felizmente, só um deles é o futuro.

http://lolygon.moe/2017/02/milo-e-quando-conservadores-agem-como-a-midia-mainstream/

Comentários

  • Tem muita confusão sobre quem e o que são os Neocon's e no que se diferem dos conservadores tradicionais.
    Neocon's no geral não fundamentam seu discurso na moralidade cristã ou em qualquer base religiosa, diferente dos conservadores americanos tradicionais.
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