Marine Le Pen: De sobrevivente de atentado a líder da corrida presidencial francesa

Muito se fala sobre Marine Le Pen, mas pouco se fala sobre a pessoa por trás das palavras incisivas e políticas firmes. Filha de Jean-Marie Le Pen, fundador do partido Front National, Marine nasceu em 5 de agosto de 1968, em Neuilly-sur-Seine, nos subúrbios de Paris, e desde cedo experienciou os perigos da política.

Aos 8 anos, uma bomba explodiu na escada do lado de fora do apartamento onde ela morava com os pais e duas irmãs – o alvo era seu pai, que já atuava como um polêmico político de direita. Na época, a explosão foi a maior registrada na França desde o fim da Segunda Guerra Mundial e abriu um buraco que chegou até a parede exterior do prédio. Miraculosamente, ela, as irmãs mais velhas e os pais escaparam sem ferimentos. Até hoje, os autores do ataque não foram identificados.

O episódio não afastou Marine da vida política, com ela se filiando à Front National em 1986, aos 18 anos. No entanto, a sua carreira política só começaria em 1998, quando ela largou a carreira de advogada para se juntar à equipe política do partido. Sua ascensão política foi marcada por uma forte presença na mídia, onde Marine costumava participar de programas de debate político na TV francesa, com suas aparições sempre quebrando recordes de audiência devido à forma serena e firme com que ela defendia posições ainda consideradas extremas demais para o mainstream. O seu papel como presidente da Front National, cargo que exerce desde 2011, foi amaciar a imagem do partido, marcado devido às posições polêmicas e estilo provocador de Jean-Marie. O ciclo se fechou em 2015, quando Marine expulsou o próprio pai do partido, após ele ter reafirmado que os campos de concentração de judeus foram “um mero detalhe da Segunda Guerra Mundial”.

O autor francês Bernard-Henri Lévy, forte opositor da Front National, disse que Marine “deu uma face humana à extrema-direita”, com seu sorriso caloroso e tom moderado. Segundo Marine, sua estratégia não é abrandar as bandeiras da FN, mas apenas “mostra-las como elas realmente são”.

Apesar de ser chamada de extrema-direita pela mídia internacional, Marine Le Pen defende muitas bandeiras consideradas de esquerda por conservadores. Sob seu comando, a Front National passou a apoiar a manutenção da legalização do aborto e o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Sobre o aborto, Marine se opõe ao fim de subsídios públicos a clínicas que realizam o procedimento e defende a visão que o problema é social, ligado a populações de baixa renda, não médico, preferindo programas que fortaleçam a família nuclear e a ascensão social, ligados ao crescimento da taxa de natalidade, a proibição do aborto. Apesar de tudo, Le Pen acredita que o assunto é um sério dilema moral que muitas vezes é trivializado na sociedade francesa.

Sobre imigração, no auge da Primavera Árabe em 2011, 4 anos antes da crise dos refugiados, Le Pen avisou sobre a possível explosão de refugiados e imigrantes ilegais que encheriam a Europa devido ao conflito interno em seus países de origem. Além do combate a ilegais, ela propõe uma diminuição quase total da imigração legal, além do fim da dupla-nacionalidade. Para ela, cidadania é inseparável de nacionalidade e a prioridade deveria ser dada a filhos e descendentes de franceses expatriados que desejam morar no país. A naturalização deveria se tornar uma exceção, mediante prova de assimilação do estrangeiro aos valores e conceitos republicanos da França e renúncia de sua nacionalidade anterior. Além disso, ela defende a criação de uma lei que permita a remoção da nacionalidade francesa de estrangeiros que cometerem crimes hediondos.

Para Le Pen, o principal mal que aflige a França na atualidade é a perda da identidade nacional, recorrente da imigração desenfreada e da crescente islamização da sociedade – o país possui a maior população muçulmana da Europa. Ela é uma forte opositora de leis que protejam dogmas religiosos sobre leis republicanas, como a cessão de praças públicas para a reza diária e o uso obrigatório de véu pelas mulheres islâmicas.

Outra causa da perda da identidade francesa, seria a influência da União Europeia, que Le Pen opõe fortemente como membro do Parlamento Europeu. Suas posições sobre a UE refletem as do UKIP de Nigel Farage na Grã-Bretanha – a total remoção do país do acordo e da zona do euro, referente a consulta popular. Caso seja eleita, Le Pen garantiu um referendo sobre o ‘Frexit’.

Suas posições econômicas lembram as do Presidente Trump nos EUA – “comércio-inteligente” ao invés de livre-comércio, com o protecionismo sendo usado onde e quando necessário devido a diferentes condições internacionais, posição que é geralmente atacada por líderes da indústria e do establishment conservador do país. O ex-presidente Nicolás Sarkozy, por exemplo, já chamou Le Pen de “extrema-esquerda” após ela declarar apoio ao SYRIZA nas eleições gregas de 2015 e mesmo o socialista Hollande já disse que as posições de Marine pareciam ter saído de “um panfleto do Partido Comunista”.

Como Trump, ela é considerada liberal demais socialmente e economicamente por conservadores, enquanto é atacada pela esquerda devido a suas posições sobre imigração. É uma figura que existe fora do espectro preto-e-branco da política atual, incapaz de satisfazer as demandas ideológicas de ambos os lados, mas cujo sentimento nacionalista a faz uma estrela entre patriotas preocupados com o caminho em que a França se encontra.

Marine Le Pen atualmente lidera as pesquisas para o 1º turno das eleições presidenciais, em 23 de abril, porém sofre diante dos rivais Emmanuel Macron e François Fillon nas intenções de voto para o 2º turno, realizado duas semanas depois. Caso vença, se tornará a primeira mulher presidente da França.

http://lolygon.moe/2017/03/marine-le-pen-de-sobrevivente-de-atentado-a-lider-da-corrida-presidencial-francesa/

Comentários

  • Marine LePen diz para a mídia: “Ninguém confia em vocês”
    Toda interação com um jornalista da grande mídia é um embate de frames. Não podemos visualizar a coisa de maneira diferente disso.

    Os jornalistas dessa mainstream media são treinados para se colocarem num pedestal como se ocupassem a posição de “mais confiáveis” do que a mídia de Internet, por exemplo.

    Porém, a grande mídia é a maior propagadora de mentiras de que se tem notícia.

    Por isso, é sensacional ver a candidata de direita na França, Marine LePen, destroçar os frames da grande mídia em um vídeo traduzido pela Embaixada da Resistência.

    Uma dica de controle de frame no nível corporal é falar as coisas tranquilamente, como se fossem óbvias. Este foi outro belo acerto de LePen neste combate de frames.

    http://www.ceticismopolitico.com/marine-lepen-diz-para-a-midia-ninguem-confia-em-voces/

  • editado April 2017
    2º turno na França: Não espere uma vitória de Le Pen

    http://loly.systems/2017/04/2o-turno-na-franca-nao-espere-uma-vitoria-de-le-pen/
Entre ou Registre-se para fazer um comentário.