Dar versão brasileira de “Last Week Tonight” para Gregorio Duvivier é uma putaria

Talvez eu seja antiquado, mas acho que se você, enquanto pessoa pública, se define com uma posição ideológica, a ponto de participar literalmente de comícios e campanhas de partidos políticos, você não está exatamente bem qualificado pra fazer jornalismo que não seja explicitamente ideológico. Fazer o contrário, esconder um agente partidário sob o véu de imparcialidade é uma putaria, é cuspir na cara do público, o mesmo que abaixar as suas calças no meio da rua e torar-lhe a leca ali mesmo.

Mas não é assim que pensa a HBO Brasil, subsidiária da uber-liberal HBO, casa de Bill Maher, VICE e John Oliver. O canal anunciou durante a Rio Content Market, uma feira de conteúdo audiovisual, que irá produzir, em parceria com o grupo Porta dos Fundos, um programa nos moldes do Last Week Tonight de John Oliver, apresentado por… Gregorio Duvivier.

No programa, Duvivier irá comentar de forma engraçada os principais assuntos do Brasil e do mundo na semana que se passou. A HBO Brasil fez questão de destacar que o “humorista” terá total liberdade editorial para tratar de assuntos políticos e polêmicos do momento da forma que quiser. Sim, um ideólogo assumido, com uma agenda política ligada a um partido e movimento ideológico, irá ter uma plataforma na TV para noticiar e comentar fatos do mundo sem nenhum aviso ou sinal sobre a sua posição política. Bem “nos moldes” de John Oliver, chegando a ser uma adaptação quase literal do programa do britânico.

Jornais e sites noticiaram isso sem nem pestanejar ou citar a retórica esquerdista de Gregorio Duvivier, assim como, acredito, acontecerá no programa. É quase como se fosse… natural. Nós aqui no Lolygon somos totalmente a favor da liberdade de expressão sempre, o problema não é ter um programa de viés esquerdista na TV, mas sim não assumir para o espectador a posição. Isso é algo que aflige não só esse caso, mas toda a mídia brasileira, incluindo casos de veículos com tendências mais centristas, como a Veja de antigamente. Esse uso da palavra “jornalismo” como um véu para esconder propaganda partidária é o grande mal do discurso político no século XXI.

E isso é uma tática. Ao disfarçar propaganda como jornalismo, você cria a impressão de que o discurso partidário é o “normal”, o status quo da cultura, automaticamente pintando tudo que destoa daquilo como agenda política, logo, o partido defende aquilo que é certo, contra o que é errado. É pura desonestidade. Sites americanos como Slate, Salon, Breitbart, The Daily Wire, revistas brasileiras como a Carta Capital, ao menos não escondem a sua identidade ideológica. É o que tentamos fazer aqui no Loly – é claro que não dá pra pôr um banner ESTE SITE É DE DIREITA na home, mas a nossa linha editorial e tom comunicam isso claramente. E isso só ajuda na produção do conteúdo e na análise. Quando você admite o seu posicionamento, você passa a filtrar tudo por ele – o que inclusive ajuda na hora de ser imparcial ou justo -, se você sabe que o leitor sabe o que você defende, você irá atrás de garantir dados e fatos que corroborem suas afirmações, para tentar convence-lo da sua versão dos fatos.

Quando você se esconde atrás da “imparcialidade”, é o contrário. Você passa a contorcer a verdade para que ela soe o máximo possível com a sua agenda, enquanto o público precisa ficar atento a innuendos para enxergar o seu alinhamento político. É pura desonestidade e um estupro da confiança que as pessoas investem na instituição de onde está propagando sua mensagem.

Vamos torcer para que Duvivier respeite a audiência da HBO e deixe claro o seu posicionamento político antes de começar a defender um ponto de vista como a mais pura, lógica e científica verdade. Mas algo me diz que isso não irá acontecer.

http://lolygon.moe/2017/03/dar-versao-brasileira-de-last-week-tonight-para-gregorio-duvivier-e-uma-putaria/

Comentários

  • editado March 2017
    Pois é, a partir de escolas com agentes ideológicos já botando as garras em "barro fresco" moleza de ser moldado, o caminho já fica pavimentado para a zumbificação lá na frente, com esse tipo de programação.
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