Direito de imagemCASADAPHOTO/GETTYImagecaptionLevantamento mostra que, nos governos dos Estados, o nível dos investimentos já retornou ao patamar da década de 1990O que a construção de rodovias, rede de esgoto, obras de hospitais e escolas, compra de equipamentos e pesquisas científicas têm em comum? Todas são classificadas pelos economistas como investimentos. Algo que se gasta hoje com o objetivo de obter algum benefício no futuro.Pois a crise econômica recente fará com que o investimento do setor público no Brasil retorne ao patamar (em termos relativos) da década de 1990. É o que diz o economista Rodrigo Orair, diretor da Instituição Fiscal Independente (IFI), órgão de pesquisa ligado ao Senado Federal.A BBC Brasil teve acesso a um estudo inédito da IFI, a ser divulgado na manhã desta segunda-feira. O levantamento mostra que, nos governos dos Estados, o nível dos investimentos já retornou ao patamar da década de 1990.
O investimento de todos os governos estaduais somados caiu de R$ 57,8 bilhões em 2014 para R$ 28,7 bilhões acumulados em 12 meses até junho de 2017, segundo o levantamento da IFI. De 1994 a 2000, o investimento médio dos Estados ficou em R$ 30,6 bilhões por ano, em valores corrigidos. O investimento dos Estados deve fechar este ano em 0,4% do PIB, que é a soma de tudo que o país produz. Em 2014, a cifra era de 1%.O mesmo deve se repetir no governo federal e nos municípios, segundo Orair, pesquisador que já estudava o tema no Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) há quase dez anos, desde 2009.A preocupação com a queda do nível de investimento não deveria ser só de economistas. A falta de investimentos em geração e distribuição de energia ao longo dos anos 1990, por exemplo, fez com que o país enfrentasse um racionamento severo de energia elétrica de julho de 2001 a fevereiro de 2002.Depois de atingir um pico em 2014, os investimentos públicos começaram a cair já em 2015, ainda no governo de Dilma Rousseff (PT).Image captionO país investiu pesado para os Jogos Olímpicos de 2016, no Rio | foto: Tânia Rêgo / Agência BrasilO episódio ficou conhecido como crise do "apagão". O economista Delfim Netto chegou a calcular que cada brasileiro perdeu R$ 320 por causa da crise energética.Vai piorar em 2018Em 2017, o que derrubou as contas públicas foi a queda da arrecadação de impostos, após três anos de recessão. Embora a crise tenha acabado oficialmente, a expectativa é que o baque maior nos investimentos venha em 2018.É só no ano que vem que as contas públicas sofrerão os efeitos mais drásticos do Novo Regime Fiscal, conhecido como "PEC do Teto".A PEC do Teto determina que as despesas públicas só podem crescer até o limite da inflação do ano anterior. Como em 2016 a inflação estava relativamente alta (6,29%, segundo o IBGE), o efeito de compressão do Orçamento foi pequeno.Em 2017, a alta de preços deve ser bem menor (abaixo de 3%, segundo o boletim Focus do Banco Central), criando um teto bem mais baixo para os gastos, diz Orair.Se o Orçamento como um todo sofrerá um achatamento, o efeito será ainda maior nos investimentos, já que gastos de outras áreas (principalmente salários e Previdência) são obrigatórios e continuarão crescendo.Segundo o economista Gil Castelo Branco, da ONG Contas Abertas, as indicações de uma queda ainda mais abrupta nos investimentos em 2018 já podem ser vistas no projeto de Lei Orçamentária Anual (Ploa) do ano que vem. A Ploa é enviada pelo Executivo ao Congresso e, depois de aprovada, torna-se o Orçamento da União para o ano seguinte.Image captionSetores que serão mais atingidos no Orçamento de 2018 | fonte: Contas AbertasOs investimentos da União previstos na lei de 2017 eram de R$ 129,1 bilhões. Em 2018, caíram para R$ 98,6 bilhões (24% menor).Gil Castelo Branco calculou a diminuição dos investimentos em dez áreas, tomando como base as leis orçamentárias de 2017 e 2018. Algumas das mais relevantes, segundo ele, serão o saneamento básico (32% a menos); o ministério da Educação (37% a menos) e o DNIT (ligado ao ministério dos Transportes), com 25% a menos.Os dados foram apresentados por Gil em uma palestra recente na Fundação Getúlio Vargas (FGV).Prejudicando nossos filhos e netos"Como o investimento tende a beneficiar mais as gerações futuras e não a atual, é geralmente a área mais atingida", diz ele. "O corte no investimento impacta pouco a prestação atual dos serviços. Entre fechar a escola, fechar o hospital, e cancelar a obra, o governo opta pela obra", acrescenta.
O corte no investimento impacta pouco a prestação atual dos serviços. Entre fechar a escola, fechar o hospital, e cancelar a obra, o governo opta pela obraRodrigo Orair, diretor da Instituição Fiscal Independente (IFI)
O problema, diz Orair, é que para retomar os mesmos investimentos mais tarde há gastos adicionais e desperdício.O exemplo mais fresco na memória dos brasileiros talvez seja uma parte das obras de mobilidade urbana criadas para a Copa do Mundo de 2014 - uma parte dos projetos se converteu em esqueletos de concreto sem utilidade. Outras foram inauguradas com atraso de anos. Um exemplo é o Veículo Leve sobre Trilhos de Cuiabá (MT), que já consumiu mais de R$ 1 bilhão e ainda não foi inaugurado.A infraestrutura do país e dos serviços públicos também vai se comprometendo sem novos investimentos. Isto prejudica a capacidade do país de garantir direitos como saúde, educação e outros, diz Gil.Mais despesas obrigatórias"Na realidade já tem algum tempo que as despesas obrigatórias (como salários) crescem continuamente, comprimindo as demais, principalmente os investimentos", explica Gil. Segundo ele, cerca de 90% das despesas primárias (isto é, sem contar a dívida pública) são obrigatórias.Segundo Rodrigo Orair, o investimento público no país está em trajetória de queda (relativamente ao tamanho do PIB) desde os anos 1980. Chegou ao nível mais baixo em 2003 e 2004, no começo do governo do ex-presidente Lula (PT), quando houve forte ajuste fiscal. E se recuperou desde aquela época até o começo da crise, em 2015.Image captionCortes previstos para alguns ministérios na Lei Orçamentária de 2018 | fonte: Contas AbertasEm nota à reportagem da BBC Brasil, o Ministério do Planejamento informa que o governo teve de cortar despesas depois que a arrecadação em 2017 ficou abaixo do previsto no Orçamento. "Observado o fraco desempenho das receitas públicas e em busca de assegurar o cumprimento das metas fiscais, o governo federal se viu obrigado a fazer contingenciamentos de recursos", diz o texto.Image captionRodrigo Octávio Orair (dir.) com o senador Ataídes Oliveira (PSDB-TO), no Senado | foto: Marcos Oliveira / Senado Federal"Como, hoje, mais de 90% do orçamento federal corresponde a despesas obrigatórias ou não contingenciáveis, resta ao governo a obrigação de contingenciar os outros menos de 10% que corresponde a despesas de custeio e a despesas discricionárias (a maior parte delas diz respeito ao funcionamento da máquina pública)", diz o texto do Planejamento. http://www.bbc.com/portuguese/brasil-41949948
Alguém já viu algum esquerdista assumir o erro por alguma lambança que fez? Eu nunca vi. No máximo o que o Lula diz foi que não conseguiu aparelhar a tempo o Judiciário e as Forças Armadas. Se o tivesse feito, a Venezuela seria aqui...
Rui Falcão disse que o erro do PT foi não ter percebido que a zelites não toleravam dividir seu espaço num avião com alguém de sandálias havaianas...
Estudo: 85% dos professores de História são de esquerdaMas, segundo pesquisadores, a visão política não necessariamente significa doutrinação em sala
Rodrigo Azevedo, especial para a Gazeta do Povo
[23/01/2018]
[10h30]
Retrato de Che Guevara em muro de Havana: ícone da esquerda Pixabay 00COMENTE! [0]O debate sobre a posição ideológica dos professores tem ganhado destaque no debate público nos últimos anos. Em Brasília, um grupo de parlamentares articula a aprovação de uma lei – a Escola Sem Partido – que proibiria o docente de defender uma posição política dentro da sala de aula. O consenso entre os defensores do projeto é de que, especialmente na área de humanas, há uma doutrinação ideológica de esquerda por parte dos educadores. Mas, afinal, essa preferência política existe mesmo?Há poucos estudos dedicados a mapear as preferências políticas dos professores. Um deles, entretanto, traz resultados significativos.Uma dupla de pesquisadores realizou um levantamento com 288 professores de História de Brasil, Argentina Uruguai, Paraguai e Chile. O resultado: 84,5% dos professores brasileiros disseram preferir siglas de esquerda ou centro-esquerda. O centro, a centro-direita e a direita, somados, corresponderam a 15,5% das respostas. Intitulada “Esquerda ou direita? Professores, opção política e didática da história”, a pesquisa tem como autores os educadores Caroline Pacievitch, professora de História da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), e Luis Fernando Cerri, professor de História da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Em nenhum dos países participantes a maioria dos professores de História disse votar em algum partidos de direita. Na Argentina, 46,83% preferem a centro-esquerda ou a esquerda, um índice semelhante ao encontrado no Paraguai. O grupo de professores ouvidos que votam na esquerda e na centro-esquerda, no Uruguai, é 100%, no Chile, 93,33%, e, na Argentina, 69,62%. Os argentinos e paraguaios, de acordo com o estudo, são os que mais tendem a votar à direita do espectro político – 30,37% dos participantes da Argentina demonstraram esse comportamento. Embora o trabalho realizado pelos pesquisadores não tenha pretensões de “representatividade estatística”, os dados ajudam a identificar algumas tendências no ensino da disciplina de História. A preferência pela visão de esquerda da maior parte dos professores fica clara.
Outra ressalva do estudo é de que, no Brasil e na Argentina, a amostra é mais diversificada pelo fato de a formação universitária desses países estarem mais adiantadas. No caso do Paraguai, Uruguai e Chile, a amostra é mais restrita. UnescoUm relatório mais antigo, elabora em 2004 pela Unesco, chegou a conclusões semelhantes. Quando perguntados se concordam com a afirmação “A liberdade e a igualdade são importantes, mas se tivesse que escolher uma das duas, consideraria a igualdade como mais importante, isto é, que ninguém se veja desfavorecido”, 75,5% dos professores entrevistados responderam que “sim”. Embora o relatório da Unesco evite usar termos políticos, a frase em questão costuma ser usada para mapear pensamentos mais à esquerda. Impacto no aluno A partir de uma análise das respostas dos professores, os pesquisadores confirmam que a inclinação política do educador resulta em pequenas diferenças na aplicação didática dos conteúdos. Por esse motivo, os acadêmicos concluem que essas constatações “provocam reflexões sobre o papel dos formadores de professores de História”, o que reforça “a importância de conectar política e didática na constituição da responsabilidade docente”, afirma o artigo. Mesmo identificando a prevalência de visão esquerdista e com a constatação de diferenças didáticas dentro da sala de aula, o estudo afirma que não foi percebido o desejo consciente de doutrinação ideológica por parte dos professores, independentemente da crença política. Uma das autoras do artigo, a historiadora Caroline Pacievitch cita o exemplo das preferências de abordagem da ditadura militar brasileira entre os professores. Entre os educadores que participaram da pesquisa, ela afirma que nenhum deles abordou o tema fugindo daquilo que pode ser considerada uma explicação correta, do ponto de vista historiográfico. Neste caso, professores de esquerda costumam apresentar o período focando nas violações dos direitos humanos cometidos pelos militares. Já os educadores de direita preferem introduzir o assunto pela questão econômica, outro fato marcante da época. “Nenhum deles sai de uma interpretação correta do ponto de vista científico”, afirma Caroline. Publicidade
Skip“Os alunos não chegam vazios à sala de aula. A gente não está conversando com quem não sabe nada de História. O conhecimento circula. Do ponto de vista científico, não acreditamos que o professor pode ser neutro. Ele tem que ser objetivo”, afirma a historiadora. Autor do estudo em parceria com Caroline, o professor do Departamento de História da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UFPG), no Paraná, Luis Cerri afirma que o levantamento demonstra uma variação sutil na forma do professor lecionar, conforme a posição política. De acordo com Cerri, há pesquisas em andamento que tentam identificar a origem de certos pensamentos dos alunos. Um trabalho deste tipo, segundo o educador, apontaria para caminhos mais claros em relação à influência sofrida pelo estudante. Cerri, no entanto, acredita que o professor, atualmente, tenha um papel limitado na interferência do pensamento do aluno. “Trabalho com formação de professores, e a orientação que damos aos graduandos é que sempre se considera o ponto de vista de uma forma geral. Seria desonesto o professor dizer que não tem opinião, os alunos percebem que o professor tem. Um bom professor é aquele que, para além de sua posição, trabalha de forma completa os assuntos”, analisa. Cerri afirma que o professor de História tem um perfil mais voltado para um humanista do que para um esquerdista. Neutralidade: realidade ou utopia? A possibilidade de se atingir uma neutralidade dentro da sala de aula é um dos principais debates gerados após a proposição do Escola sem Partido. Amaury Cesar Moraes, professor de de Metodologia do Ensino de Ciências Sociais, na Universidade de São paulo (USP), defende a adoção de uma metodologia de aula baseada na alfabetização científica. Praticado há décadas na área das ciências naturais, o método preconiza que o professor deve respeitar o conhecimento científico no momento de ensinar. Isto é: o posicionamento não está proibido, mas o docente deve sempre estar baseado no que mostra a ciência. Assim, de acordo com Moraes, “o ensino de Sociologia cumpriria um importante e necessário papel na educação básica, fazendo diferença”, assinala. Moraes é autor do estudo “Ciência e Ideologia na Prática dos Professores de Sociologia no Ensino Médio: da neutralidade impossível ao engajamento indesejável, ou seria o inverso?”, em que analisa as escolhas feitas pelo professor dentro da sala de aula. No artigo, Moreas afirma que as aulas dos docentes não podem ser ditadas pelas suas próprias convicções ou crenças – sendo assim, o aluno teria preservada a construção de sua autonomia. “O professor deve ensinar uma visão variada, deve formar o aluno em vários vieses”, defende. O educador, porém, acredita que a influência da escola sobre o aluno, atualmente, esteja muito reduzida em relação há cerca de 30 anos. “A escola era mais estruturada, era um segundo espaço de forte influência das crianças. Hoje, não há mais uma influência tão decisiva. Ela concorre com outras fontes de informação”, compara. Conforme Moraes, as teorias do campo social não são só de esquerda. Da tríade de autores clássicos da sociologia – Karl Marx, Max Weber e Émile Durkheim –, os dois últimos têm visões mais de direita. Para o professor de sociologia João Valdir Alves Souza, vice-diretor da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o docente assumir claramente uma ideologia não é um problema – fazer proselitismo e ativismo político dentro da sala de aula, porém, é algo comprometedor. “Eu posso deixar claro e devo deixar claro para os alunos o que penso. Mas não posso jamais impor isso a eles”, diz. A própria neutralidade, conforme Souza, já configura uma tomada de decisão – além de algo impossível de atingir. O educador acredita que o ponto central da discussão seja o esforço do professor em ensinar com base em argumentos científicos, e não levar para a sala de aula o seu próprio ponto de vista como verdadeiro. “Mesmo que o professor se diga neutro, o tempo todo ele será traído pelas posições que ele defende. Não existe essa neutralidade absoluta”. Souza afirma que os cursos de História tendem a recrutar pessoas que venham de um meio sociocultural mais alinhado aos pensamentos de esquerda. Apesar desse predomínio, o educador enxerga hoje uma reação a esse pensamento. “O mundo caminha para um retorno ao conservadorismo, o que favorece a emergência de nomes mais conservadores da historiografia dentro das universidades”, projeta Sousa. PUBLICIDADE http://www.gazetadopovo.com.br/educacao/estudo-85-dos-professores-de-historia-sao-de-esquerda-5fdaah5yrtneczgck9qhb6ia1
Esperava o quê? As faculdades de Ciências Humanas, pedagogia inclusive, estão todas dominadas por esquerdistas que PROÍBEM a entrada de qualquer um que seja de direita. Daí então os formandos para licenciatura necessariamente serão esquerdistas ou, em caso de exceção, direitistas fingidos para poderem ao menos se formar...
Comentários
http://www.bbc.com/portuguese/brasil-41949948
EXATO !
Rui Falcão disse que o erro do PT foi não ter percebido que a zelites não toleravam dividir seu espaço num avião com alguém de sandálias havaianas...
Quer elimitar definitivamente um vegetal?
- Corte-o pela raiz.
Qual a base de uma sociedade sadia?
- Educação.
O que a esquerda fez com a educação?
- Detonou.
O resto é consequência.
Retrato de Che Guevara em muro de Havana: ícone da esquerda Pixabay
00COMENTE! [0]O debate sobre a posição ideológica dos professores tem ganhado destaque no debate público nos últimos anos. Em Brasília, um grupo de parlamentares articula a aprovação de uma lei – a Escola Sem Partido – que proibiria o docente de defender uma posição política dentro da sala de aula. O consenso entre os defensores do projeto é de que, especialmente na área de humanas, há uma doutrinação ideológica de esquerda por parte dos educadores. Mas, afinal, essa preferência política existe mesmo?Há poucos estudos dedicados a mapear as preferências políticas dos professores. Um deles, entretanto, traz resultados significativos.Uma dupla de pesquisadores realizou um levantamento com 288 professores de História de Brasil, Argentina Uruguai, Paraguai e Chile. O resultado: 84,5% dos professores brasileiros disseram preferir siglas de esquerda ou centro-esquerda. O centro, a centro-direita e a direita, somados, corresponderam a 15,5% das respostas. Intitulada “Esquerda ou direita? Professores, opção política e didática da história”, a pesquisa tem como autores os educadores Caroline Pacievitch, professora de História da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), e Luis Fernando Cerri, professor de História da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Em nenhum dos países participantes a maioria dos professores de História disse votar em algum partidos de direita. Na Argentina, 46,83% preferem a centro-esquerda ou a esquerda, um índice semelhante ao encontrado no Paraguai. O grupo de professores ouvidos que votam na esquerda e na centro-esquerda, no Uruguai, é 100%, no Chile, 93,33%, e, na Argentina, 69,62%. Os argentinos e paraguaios, de acordo com o estudo, são os que mais tendem a votar à direita do espectro político – 30,37% dos participantes da Argentina demonstraram esse comportamento. Embora o trabalho realizado pelos pesquisadores não tenha pretensões de “representatividade estatística”, os dados ajudam a identificar algumas tendências no ensino da disciplina de História. A preferência pela visão de esquerda da maior parte dos professores fica clara.
Outra ressalva do estudo é de que, no Brasil e na Argentina, a amostra é mais diversificada pelo fato de a formação universitária desses países estarem mais adiantadas. No caso do Paraguai, Uruguai e Chile, a amostra é mais restrita. UnescoUm relatório mais antigo, elabora em 2004 pela Unesco, chegou a conclusões semelhantes. Quando perguntados se concordam com a afirmação “A liberdade e a igualdade são importantes, mas se tivesse que escolher uma das duas, consideraria a igualdade como mais importante, isto é, que ninguém se veja desfavorecido”, 75,5% dos professores entrevistados responderam que “sim”. Embora o relatório da Unesco evite usar termos políticos, a frase em questão costuma ser usada para mapear pensamentos mais à esquerda. Impacto no aluno A partir de uma análise das respostas dos professores, os pesquisadores confirmam que a inclinação política do educador resulta em pequenas diferenças na aplicação didática dos conteúdos. Por esse motivo, os acadêmicos concluem que essas constatações “provocam reflexões sobre o papel dos formadores de professores de História”, o que reforça “a importância de conectar política e didática na constituição da responsabilidade docente”, afirma o artigo. Mesmo identificando a prevalência de visão esquerdista e com a constatação de diferenças didáticas dentro da sala de aula, o estudo afirma que não foi percebido o desejo consciente de doutrinação ideológica por parte dos professores, independentemente da crença política. Uma das autoras do artigo, a historiadora Caroline Pacievitch cita o exemplo das preferências de abordagem da ditadura militar brasileira entre os professores. Entre os educadores que participaram da pesquisa, ela afirma que nenhum deles abordou o tema fugindo daquilo que pode ser considerada uma explicação correta, do ponto de vista historiográfico. Neste caso, professores de esquerda costumam apresentar o período focando nas violações dos direitos humanos cometidos pelos militares. Já os educadores de direita preferem introduzir o assunto pela questão econômica, outro fato marcante da época. “Nenhum deles sai de uma interpretação correta do ponto de vista científico”, afirma Caroline. Publicidade
Skip“Os alunos não chegam vazios à sala de aula. A gente não está conversando com quem não sabe nada de História. O conhecimento circula. Do ponto de vista científico, não acreditamos que o professor pode ser neutro. Ele tem que ser objetivo”, afirma a historiadora. Autor do estudo em parceria com Caroline, o professor do Departamento de História da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UFPG), no Paraná, Luis Cerri afirma que o levantamento demonstra uma variação sutil na forma do professor lecionar, conforme a posição política. De acordo com Cerri, há pesquisas em andamento que tentam identificar a origem de certos pensamentos dos alunos. Um trabalho deste tipo, segundo o educador, apontaria para caminhos mais claros em relação à influência sofrida pelo estudante. Cerri, no entanto, acredita que o professor, atualmente, tenha um papel limitado na interferência do pensamento do aluno. “Trabalho com formação de professores, e a orientação que damos aos graduandos é que sempre se considera o ponto de vista de uma forma geral. Seria desonesto o professor dizer que não tem opinião, os alunos percebem que o professor tem. Um bom professor é aquele que, para além de sua posição, trabalha de forma completa os assuntos”, analisa. Cerri afirma que o professor de História tem um perfil mais voltado para um humanista do que para um esquerdista. Neutralidade: realidade ou utopia? A possibilidade de se atingir uma neutralidade dentro da sala de aula é um dos principais debates gerados após a proposição do Escola sem Partido. Amaury Cesar Moraes, professor de de Metodologia do Ensino de Ciências Sociais, na Universidade de São paulo (USP), defende a adoção de uma metodologia de aula baseada na alfabetização científica. Praticado há décadas na área das ciências naturais, o método preconiza que o professor deve respeitar o conhecimento científico no momento de ensinar. Isto é: o posicionamento não está proibido, mas o docente deve sempre estar baseado no que mostra a ciência. Assim, de acordo com Moraes, “o ensino de Sociologia cumpriria um importante e necessário papel na educação básica, fazendo diferença”, assinala. Moraes é autor do estudo “Ciência e Ideologia na Prática dos Professores de Sociologia no Ensino Médio: da neutralidade impossível ao engajamento indesejável, ou seria o inverso?”, em que analisa as escolhas feitas pelo professor dentro da sala de aula. No artigo, Moreas afirma que as aulas dos docentes não podem ser ditadas pelas suas próprias convicções ou crenças – sendo assim, o aluno teria preservada a construção de sua autonomia. “O professor deve ensinar uma visão variada, deve formar o aluno em vários vieses”, defende. O educador, porém, acredita que a influência da escola sobre o aluno, atualmente, esteja muito reduzida em relação há cerca de 30 anos. “A escola era mais estruturada, era um segundo espaço de forte influência das crianças. Hoje, não há mais uma influência tão decisiva. Ela concorre com outras fontes de informação”, compara. Conforme Moraes, as teorias do campo social não são só de esquerda. Da tríade de autores clássicos da sociologia – Karl Marx, Max Weber e Émile Durkheim –, os dois últimos têm visões mais de direita. Para o professor de sociologia João Valdir Alves Souza, vice-diretor da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o docente assumir claramente uma ideologia não é um problema – fazer proselitismo e ativismo político dentro da sala de aula, porém, é algo comprometedor. “Eu posso deixar claro e devo deixar claro para os alunos o que penso. Mas não posso jamais impor isso a eles”, diz. A própria neutralidade, conforme Souza, já configura uma tomada de decisão – além de algo impossível de atingir. O educador acredita que o ponto central da discussão seja o esforço do professor em ensinar com base em argumentos científicos, e não levar para a sala de aula o seu próprio ponto de vista como verdadeiro. “Mesmo que o professor se diga neutro, o tempo todo ele será traído pelas posições que ele defende. Não existe essa neutralidade absoluta”. Souza afirma que os cursos de História tendem a recrutar pessoas que venham de um meio sociocultural mais alinhado aos pensamentos de esquerda. Apesar desse predomínio, o educador enxerga hoje uma reação a esse pensamento. “O mundo caminha para um retorno ao conservadorismo, o que favorece a emergência de nomes mais conservadores da historiografia dentro das universidades”, projeta Sousa. PUBLICIDADE
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