Papelão e substância cancerígena ou exagero? O que se sabe - e o que é dúvida

editado March 2017 em Religião é veneno
Papelão e substância cancerígena ou exagero? O que se sabe - e o que é dúvida - na Operação Carne FracaCamilla Costa e Renata MendonçaDa BBC Brasil em São Paulo
  • 19 março 2017

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"Eles usam ácidos, outros ingredientes químicos, em quantidades muito superiores à permitida por lei pra poder maquiar o aspecto físico do alimento estragado ou com mal-cheiro", disse o delegado da PF ao deflagrar a operaçãoCarne com papelão? Vitamina C cancerígena na salsicha? Desde que a Operação "Carne Fraca" da Polícia Federal foi deflagrada na última sexta-feira, as informações se espalharam pela internet e causaram pânico em muitos consumidores.A BBC Brasil conversou com engenheiros de alimentos e especialistas em carnes para esclarecer o que pode e o que não pode ser adicionado no processamento de carnes e quais as preocupações que a investigação da PF deve despertar no consumidor.Para alguns deles, a maneira como a operação foi divulgada acabou gerando uma desconfiança "exagerada" sobre a carne brasileira."A polícia agiu mal com a maneira como divulgaram tudo. Acho que houve um certo exagero, para precipitar a loucura que foi na imprensa ontem", disse à BBC Brasil o médico veterinário e especialista em carnes Pedro Eduardo de Felício, da Faculdade de Engenharia de Alimentos da Unicamp.A engenheira de alimentos Carmen Castillo, da ESALQ - USP (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz), pontua que alguns ingredientes citados nas acusações, como o ácido ascórbico, são necessários para o processamento dos alimentos e é preciso tomar cuidado para não "demonizá-los"."Não é problema usar esses ingredientes (em alimentos processados e embutidos), o problema é não respeitar os níveis permitidos na lei", disse à BBC Brasil.De acordo com a Polícia Federal, esse seria um dos delitos cometidos pelas empresas, que utilizavam ingredientes no processamento de carnes em quantidades acima do que determina a regulamentação._95223989_1ab9a6dc-1a8a-4fac-816a-83029db5eb75.jpgImage caption

Carnes usadas como matéria-prima na produção de embutidos e processados foram a principal fonte de irregularidades encontradas pela PF"Eles usam ácidos, outros ingredientes químicos, em quantidades muito superiores à permitida por lei pra poder maquiar o aspecto físico do alimento estragado ou com mau cheiro", explicou o delegado da PF responsável pela investigação, Maurício Moscardi Grillo, em entrevista coletiva na sexta-feira.A operação deflagrada pela PF foi a maior de sua história e revelou que empresas do setor, incluindo as as gigantes JBS e a BRF, adulteravam a carne que vendiam no mercado interno e externo.A investigação também revelou um esquema de propinas e presentes dados pelos frigoríficos a fiscais do Ministério da Agricultura, que supostamente recebiam para afrouxar a fiscalização e liberar a comercialização de carne vencida e adulterada.Sobre as acusações, a JBS se manifestou dizendo que "é a maior interessada no fortalecimento da inspeção sanitária no Brasil", ressaltando que "no despacho da Justiça Federal que deflagrou a operação, não há qualquer menção a irregularidades sanitárias ou à qualidade dos produtos da JBS e de suas marcas."A BRF disse que "apóia a fiscalização do setor e o direito de informação da sociedade com base em fatos, sem generalizações que podem prejudicar a reputação de empresas idôneas e gerar alarme desnecessário na população."Exagero?O delegado Grillo explicou os problemas encontrados na carne das empresas investigadas pela operação - que iam desde mudar a data de vencimento e a embalagem de carnes estragadas, que eram usadas como matéria-prima para embutidos, até injetar água em frangos para alterar seu peso e mascarar a deterioração de carnes com o uso de ácido ascórbico."São dois anos de análise de fatos, desde utilização de papelão por essas empresas - até essas que já citei de grande porte (JBS e BRF) - para colocar esse tipo de situação em comidas, pra fazer enlatados, e outras coisas que podem prejudicar a saúde humana. (...) Tudo isso mostra que o que interessa para esse grupo é o capitalismo, é o mercado, independente da saúde pública", disse."Determinados produtos, cancerígenos até, em alguns casos, eram usados pra poder maquiar as características de um produto estragado ou com cheiro."Mas alguns especialistas ouvidos pela BBC Brasil avaliam o modo como as informações foram divulgadas como "sensacionalista"."A divulgação da operação foi muito sensacionalista. Essa é uma questão pontual. Estou nesse mercado, estudando e trabalhando, há 30 anos. Uma das empresas que dirijo importava carne do Uruguai e da Argentinos até 2012. Hoje, 100% da carne que usamos é produzida no Brasil porque melhorou muito a qualidade", afirma Sylvio Lazzarini, dono do restaurante Varanda Grill, em São Paulo.Já Felício ressaltou a importância da investigação e disse que a operação revela um problema no setor, que "precisa de uma renovação no sistema de fiscalização". Ele destaca, porém, que é preciso esclarecer melhor as informações divulgadas sobre ingredientes comuns na indústria de carnes, como o ácido ascórbico, "que é utilizado no mundo todo".Tanto Felício quanto Lazzarini apontaram o fato de que, ao anunciar a operação, a PF não explicitou quais infrações foram cometidas por quais empresas, o que facilitaria uma "generalização" do problema.A BBC Brasil procurou a Polícia Federal, mas não obteve resposta até o fechamento dessa reportagem._95223982_e47edf81-083c-418a-aaba-e6050f343508.jpg
Sistema de fiscalização precisa de renovação, mas carne brasileira é de alta qualidade, segundo Pedro FelícioPapelãoAo anunciar a operação, a PF mencionou que empresas envolvidas no esquema de corrupção "usavam papelão para fazer enlatados (embutidos)".Em uma das ligações telefônicas citadas no relatório da Polícia, funcionários da BRF falam sobre o uso de papelão na área onde produzem CMS (carne mecanicamente separada, comumente usada na produção de salsichas).No áudio, é possível ouvir:Funcionário: o problema é colocar papelão lá dentro do cms também né. Tem mais essa ainda. Eu vou ver se eu consigo colocar em papelão. Agora se eu não consegui em papelão, daí infelizmente eu vou ter que condenar.Luiz Fossati (gerente de produção da BRF): ai tu pesa tudo que nós vamos dar perda. Não vamos pagar rendimentos isso.Pedro Felício acredita que a referência ao papelão não foi feita como ingrediente para o processamento da carne. "Acho muito difícil isso ter acontecido. O que acontece é que tem áreas dentro das indústrias que são chamadas de áreas limpas, onde não podem entrar embalagens secundárias, como caixas de papelão", diz."Na gravação que ouvi, duas pessoas falavam em entrar com uma embalagem de papelão na área limpa. Evitar papelão nessas áreas faz parte das boas práticas de manufatura, mas não fazer isso não é o mesmo que usar papelão dentro da salsicha."Em nota, a empresa BRF afirmou que "houve um grande mal entendido na interpretação do áudio capturado pela Polícia Federal".A empresa afirma que um de seus funcionários falava que tentaria embalar a carne em papelão. O produto é embalado normalmente em plásticos."Na frase seguinte, ele deixa claro que, caso não obtenha a aprovação para a mudança de embalagem, terá de condenar o produto, ou seja, descartá-lo", afirma a empresa._95223979_73055240-6581-4eb3-82d9-f4ee1273fde1.jpgDireito de imagemAFPImagecaption
BRF diz que Polícia Federal interpretou de maneira incorreta conversa entre funcionários sobre papelão em carne processadaÁcido ascórbicoO ácido ascórbico - a popular vitamina C - também foi citado pelo delegado da PF como algo utilizado para "maquiar" o aspecto da carne."Eles usam ácido ascórbico e outras substâncias na carne pra maquiar essa imagem ruim que ficaria se ela fosse expostas dessa forma. Inclusive cancerígenas. Então se usa esses produtos multiplicados cinco, seis vezes pela quantia permitida pela lei para que não dê cheiro, e o aspecto de cor fique bom também", disse Grillo.A partir daí, muitas pessoas entenderam que o ácido ascórbico é uma substância potencialmente cancerígena.De acordo com a OMS, ela pode contribuir com distúrbios gastrointestinais, cálculos renais e outros problemas de saúde se for consumida em excesso e por longos períodos de tempo, mas não há evidências de relação direta com o câncer.Falta saber que substâncias cancerígenas estariam sendo usadas e por quais empresas, de acordo com a investigação da Polícia Federal.Os especialistas alertam que o uso de ácido ascórbico na carne não é problema."O uso dele tem benefícios e não é para mascarar carne adulterada. Ele tem uma função nas carnes processadas como antioxidante, ajuda a melhorar a estabilidade do sabor e reduzir o teor de nitrito residual. O nitrito é um aditivo para realizar a cura, que é uma etapa importante no processamento da maior parte dos produtos processados. Todo ingrediente não cárneo tem função a cumprir no processamento de alimentos", afirmou Carmen Castillo.Pedro Eduardo de Felício pontua que o ácido ascórbico "evita que a carne fique com uma coloração marrom" e que "isso é feito no mundo todo".A substância, segundo Felício, conseguiria mascarar a deterioração da carne no princípio, quando ela só tem algumas manchas, mas não quando o estado é mais avançado.De qualquer forma, ela só deve ser usada somente em produtos embutidos como parte de seu processamento, e não nas carnes que são vendidas como matéria-prima para estes produtos - nem nas carnes compradas no supermercado."A carne usada como matéria-prima não deve ter qualquer aditivo, nem o ácido ascórbico. Se a Polícia achou isso, não deveria acontecer", diz._95212490_carne_getty.jpg
​​​​​​​Brasil exporta carne para mais de 150 países em todo o mundo, em mercado que movimenta milhões de dólaresSalsicha de peru sem peruA descoberta de que, no Paraná, alunos da rede pública estadual consumiram salsicha de peru sem carne de peru - preenchida com proteína de soja, fécula de mandioca e carne de frango - deu início à investigação de dois anos."Muitas vezes verificou-se a falta de proteína, por exemplo, numa merenda escolar, trocada por fécula de mandioca ou então a proteína da soja, que é muito mais barata do que a carne, então substituía. Muitas vezes até tinha a quantidade de proteína suficiente, mas não era a proteína da carne, era proteína de outro alimento, que não traz as mesmas substâncias pro corpo humano como a carne", afirmou o delegado.O uso de soja e de fécula de mandioca são comuns na produção de embutidos em todo o mundo, segundo os especialistas, porém é preciso respeitar as quantidades determinadas pela lei."É preciso observar as quantidades usadas, porque elas só podem ser usadas dentro dos limites da lei. Senão, você tem um produto de carne que tem predominância de matérias-primas não cárneas", diz Felício.Injeção de água no frangoSegundo a PF, fiscais teriam descoberto que frangos da empresa BRF, a maior exportadora de frango do mundo, teriam "absorção de água superior ao índice permitido"."Injetar água no frango é um problemão com o qual o Brasil vive e luta contra há muito tempo. Há oito anos que o Ministério da Agricultura é cobrado pelo Ministério Público que o frango não pode ter mais de 8% de água", afirma Felício."É uma luta difícil. Eu não duvido que isso aconteça muito por aí, mas existe um esforço para combater."A prática não chega a ser prejudicial à saúde, mas altera o peso da carne. "É uma fraude econômica", diz o engenheiro._95215770_meatbrasil.jpgDireito de imagemREUTERSImagecaption
​​​​​​​Mais de 20 empresas estão sendo investigadas pela PF, incluindo as gigantes do setor, JBS e BRF, que negam irregularidadesCabeça de porcoO uso da carne de cabeça de porco ou de boi em linguiças é discutido em uma das ligações interceptadas entre os sócios do frigorífico Peccin.A utilização de cabeça de porco é admitida em outros países, segundo Felício. "Não será a melhor linguiça do mundo, mas não é prejudicial à saúde. Será um produto comestível, mas de categoria inferior.""No Brasil, essa carne é considerada como matéria-prima nas formulações de embutidos cozidos, como mortadela."O consumidor deve se preocupar?Segundo Sylvio Lazzarini, as irregularidades encontradas pela Polícia Federal devem ser punidas, mas não representam a totalidade dos produtos feitos no Brasil e vendidos em supermercados e restaurantes."A carne brasileira evoluiu muito nos últimos anos e é muito segura. Senão o Brasil não exportaria para os países asiáticos, e muito menos para os EUA, que tem um dos maiores controles fitossanitários do planeta", diz Lazzarini.Para o empresário, "irregularidades desse nível existem em todo o mundo porque bandidos existem em todo lugar".O Ministério da Agricultura divulgou nota também para acalmar os ânimos dos consumidores."O Serviço de Inspeção Federal é considerado um dos mais eficientes e rigorosos do mundo. Tem um quadro de 2.300 servidores e inspeciona 4.837 unidades produtoras habilitadas para exportação para 160 países. Foi com este Serviço que construímos uma reputação de excelência na agropecuária e conseguimos atender às exigências rigorosas de diferentes nações", afirma a pasta._95229595_carne_reuteras.jpgDireito de imagemREUTERSImagecaption
​​​​​​​Segundo delegado da PF, consumidores podem ter comprado produtos de qualidade inferior ao que deveria ser fornecido.O delegado da PF chegou a ser questionado na coletiva de imprensa se seria correto afirmar que "quase nenhum produto no mercado hoje está 100% livre dessas possíveis fraudes". Ele respondeu com cautela, mas não escondeu sua preocupação."É possível que a gente tenha consumido alimentos de baixa qualidade, no mínimo, com qualidade inferior do que deveria ser fornecido.""Hoje é realmente complicado. Tenho ido ao mercado e passeio um bom tempo até escolher um produto, mudou esse aspecto na minha vida. É difícil porque a confiança que a gente tem nas empresas, pelo menos da minha parte, mudou muito. São empresas que a gente considerava corretas, então assusta. Obviamente deve ter empresas sérias, corretas, mas na investigação foi assim, foi aparecendo uma, depois outra. Acho que a gente pode dizer que todas as empresas que a gente teve o azar ou a sorte de investigar tiveram problemas sérios. Foram quase 40."Para evitar problemas, Pedro Eduardo de Felício afirma que os consumidores devem conferir se os estabelecimentos de onde compram carne vendem produtos com certificação de origem e de inspeção, mesmo após as acusações de corrupção de inspetores federais."Este escândalo é de desvio de conduta de 33 funcionários, que foram afastados, entre mais de quatro mil inspetores. E o Ministério da Agricultura estar tomando atitudes para corrigir o problema. A partir de agora, todo mundo vai ficar alerta.""Os erros que foram cometidos devem ser comprovados e punidos, com certeza. Mas eu não acredito que essas acusações possam ser generalizadas, acho que esse foi problema localizado e o governo terá que resolver", diz.

http://www.bbc.com/portuguese/brasil-39317738
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Comentários

  • Eu fiquei sem entender: afinal era só vitamina c ou era mais alguma coisa para mascarar as carnes que estavam impróprias pra consumo?

  • editado March 2017
    "Salsichas" e "presunto" brasileiros vai até soja...
    Mas isso é permitido pelas autoridades sanitarias, acredito que sob a lógica de que seja preferível encher a pança do povo a um valor compatível com a renda média...
     
  • Emmedrado disse: Papelão e substância cancerígena ou exagero? O que se sabe - e o que é dúvida - na Operação Carne FracaCamilla Costa e Renata MendonçaDa BBC Brasil em São Paulo
    • 19 março 2017

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    "Eles usam ácidos, outros ingredientes químicos, em quantidades muito superiores à permitida por lei pra poder maquiar o aspecto físico do alimento estragado ou com mal-cheiro", disse o delegado da PF...
    http://www.bbc.com/portuguese/brasil-39317738

    Pô, não é mal cheiro, cara alho, é mau cheiro!
  • Num certo desserviço, essa divulgação da Polícia foi desastrada, pois o caso é que pontualmente alguns pilantras aprontaram com apoio dos fiscais graças ao pagamento de propina, mas quer se dar a entender que TODA a rede empresarial de proteína animal está conivente com a coisa. Meu! Com todos os cuidados e exigências atendidas para se conseguir exportar, vão botar tudo a perder com aquilo que pode ser vendido para se fazer ração de cães e gatos? E divulgaram áudios em parte, quando no conjunto é percebido que NÃO se ia fazer compra de carne vencida para revender. Coisas assim exigem responsabilidade para se divulgar.
    Ah! Descobriram que o papelão na carne era para fazer a embalagem...
  • Eu não entendi como sabem que usam ácidos e/ou outros produtos químicos pra disfarçar o aspecto de deterioração das carnes.
    Porque laudo de amostras não saiu - não daria tempo.
    Foi constatado in loco?
    Como? 
  • A Operação Carne Fraca levantou muitas dúvidas. Nós checamos

    É isso mesmo?

    A Operação Carne Fraca, deflagrada na sexta-feira pela Polícia Federal após dois anos de investigação, atingiu grandes empresas do setor de carnes e levantou dúvidas sobre a qualidade dos produtos. Reunimos aqui as informações sobre alguns dos questionamentos. 

    Todos os frigoríficos citados na Operação Carne Fraca fizeram irregularidades na produção de alimentos? 

    Não há confirmação

    A Polícia Federal não detalhou as irregularidades praticadas por cada frigorífico na Operação Carne Fraca. Citou mais genericamente alguns exemplos de fraudes na produção de alimentos, como uso de carne estragada em embutidos, "maquiagem" de carne estragada com substâncias químicas, carne com salmonela, injeção de água no frango e uso de cabeça de porco em embutidos.

    Entre os frigoríficos citados pela Operação Carne Fraca, estão JBS, Big Frango, BRF, Peccin, Dagranja, Frango a Gosto, E.H. Constantino, Frigobeto, Frigomax, Frigorífero 3D, Frigorífero Argus, Frigorífero Larissa, Frigorífero Oregon, Frigorífero Rainha da Paz, Frigorífero Souza Ramos, Mastercarnes, Novilho Nobre, Primor Beef, Central de Carnes Paraense, Fábrica de Farinha de Carnes Castro, Artacho Casings, Smartmeal. A JBS é dona das marcas Friboi e Seara. A BRF é dona das marcas Sadia e Perdigão.

    A JBS é citada apenas com a marca Seara, suspeita de irregularidade fiscal, não sanitária.

    Pedaços de papelão foram usados nas carnes?

    Controverso

    A Polícia Federal afirmou que carnes eram misturadas com papelão. Mas, de acordo com nota da BRF, houve um equívoco na interpretação do áudio capturado pelos investigadores. A empresa sustenta que o funcionário gravado, ao mencionar o papelão, estava se referindo às embalagens do produto e não ao seu conteúdo. A BRF afirma ainda que esse produto é normalmente embalado em plástico e que, na frase seguinte, o empregado “deixa claro que, caso não obtenha a aprovação para a mudança de embalagem, terá de condenar o produto, ou seja, descartá-lo”. O ministro da Agricultura, Blairo Maggi, também afirmou que a narrativa da PF foi mal interpretada. Segundo ele, é uma “idiotice” imaginar que as empresas misturassem papelão à carne.

    Ácido ascórbido é cancerígeno?

    Não há confirmação

    Segundo apurou a BBC, a OMS diz que o ácido ascórbico (vitamna C) pode contribuir com distúrbios gastrointestinais, cálculos renais e outros problemas de saúde se for consumido em excesso e por longos períodos de tempo, mas não há evidência de relação direta com o câncer. No despacho do juiz que autorizou as prisões na Operação Carne Fraca, há relatos de fiscais sobre uso de ácido ascórbico pelo frigorífico Peccin, para maquiar carne em mau estado.

    Mas vale ressaltar que, na reprodução de um diálogo dessa empresa, que consta do mesmo documento, o interlocutor cita outra substância: o ácido sórbico, que também é usado como conservante e para o qual igualmente não há estudos que indiquem relação com o câncer.

    Os dois tipos de ácido podem se usados em produtos processados, já que pela norma brasileira não é possível usar aditivos em carnes frescas ou congeladas. Na legislação, não há imposição de limite ao uso de vitamina C. É dito que é possível usá-la em “quantidade suficiente” para obter o efeito desejado. No caso do ácido sórbico, o limite é de 0,02g por 100g de carne.

    Em entrevista ao "Fantástico", o fiscal sanitário Daniel Gouvêa Teixeira, que denunciou o esquema à Polícia Federal, afirmou que o frigorífico Peccin usava ácido sórbico para enganar o consumidor. Ele explicou que o ácido sórbico é um descontaminante misturado na massa dos produtos para poder diminuir a contaminação bacteriana e mascarar os odores e as características da carne.

    Há recomendação oficial para parar de comer carne? 

    Falso

    Não há recomendação oficial para suspender o consumo de carne. Especialistas avaliam que as irregularidades são pontuais e que a carne produzida no Brasil é de alta qualidade. Mas o consumidor deve olhar a qualidade dos produtos. A carne imprópria para consumo, seja bovina, suína ou de frango, apresenta normalmente cor, odor e textura alterados. Na dúvida sobre a adequação do produto, recomenda-se entrar em contato com o supermercado ou com o fabricante. Se o cheiro, a cor ou a aparência estiverem estranhos, não consuma. Em última análise, deve-se recorrer aos órgãos de defesa do consumidor e à Vigilância Sanitária.

    Se o consumidor está com receio de consumir ou tem alguma dúvida sobre a procedência ou a qualidade do produto que tem em casa, pode ligar para a Vigilância Sanitária pelo 1746 e solicitar o recolhimento da peça para que seja feita análise da mercadoria.

    Devo descartar os produtos que tenho em casa?

    Falso

    Não. Em primeiro lugar, porque ainda não se sabe precisamente quais produtos estão, de fato, impróprios para o consumo. Além disso, em caso de recall é preciso ter o produto para fazer jus à indenização.

    Será feito um recall das carnes?

    Não há confirmação

    Segundo o secretário-executivo do Ministério da Agricultura, os códigos de barra dos produtos dos três frigoríferos em que as fraudes foram confirmadas começarão a ser rastreados dia 20 de março. Mas não esclareceu se será feito um recall nem como ele seria realizado. A Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon), do Ministério da Justiça, também notificou as empresas e pediu esclarecimentos para verificar se seria o caso de um recall.

    Cabeça de porco em embutidos é uma fraude?

    Controverso

    A PF afirma que, nas gravações, sócios de um frigorífico falam sobre o uso de carne de cabeça de porco na produção de linguiça. O uso de carne de cabeça de porco em embutidos é permitida por lei, desde que essa carne seja congelada após sua retirada e usada apenas em produtos previamente cozidos, como mortadela e salsicha. Em linguiça de churrasco, a chamada linguiça frescal, o uso não é permitido justamente porque ela não passa por cozimento.

    De acordo com o professor de tecnologia de carnes do Departamento de Engenharia de Alimentos da USP, Marco Antonio Trindade, a carne de cabeça de porco é muito manipulada e, por isso, é mais vulnerável à contaminação por microorganismos que estão no ar ou na faca. Daí a determinação de seu congelamento e uso em embutidos cozidos. O consumo desse tipo de carne em si não faz mal à saúde humana.

    E a salmonela encontrada na carne da BRF, era fraude?

    Controverso

    Segundo a Polícia Federal, a partir de áudios da investigação, havia carnes contaminadas com salmonela em sete contêineres da companhia que seriam exportados para a Europa. No entanto, a BRF (dona das marcas Sadia e Perdigão, entre outras) sustenta que o tipo de bactéria (Salmonella Saint Paul) é tolerado pela legislação europeia para carnes in natura, e, portanto, não impediria a entrada do produto no continente.

    O governo sabe para onde foi a carne investigada?

    Falso

    As investigações foram conduzidas por dois anos e não é possível saber exatamente o destino da carne. Porém, segundo o governo, será possível identificar o que foi destinado para exportação. Segundo o Ministério da Agricultura, os códigos de barra dos produtos dos três frigoríficos que foram fechados começarão a ser rastreados esta semana.

    Países importadores já estão suspendendo a compra de carne brasileira? 

    Verdadeiro

    A carne brasileira já sofre barreiras no exterior. A Coreia do Sul anunciou que vai banir temporariamente as importações de frango brasileiro do grupo BRF. O Chile também decidiu pelo encerramento temporário de suas importações de carne do Brasil. O Ministério da Agricultura negou que que haja qualquer embargo da China em relação aos produtos de origem animal brasileiros. O que houve, segundo a pasta, foi um comunicado do governo chinês informando que o desembaraço aduaneiro de 65 autorizações que chegaram aos portos daquele país ficará paralisado até que todas as perguntas enviadas ao governo brasileiro sejam esclarecidas e o minstro Blairo Maggi disse que as repostas serão enviadas ainda nesta segunda-feira. 

    Já a Comissão Europeia pediu ao Brasil que não permita a exportação de carnes para a Europa de frigoríficos envolvidos no escândalo da Carne Fraca, segundo o jornal "Valor Econômico". Segundo o porta-voz para Saúde e Segurança Alimentar, Enrico Brivio, a região não está suspendendo a entrada da carne brasileira. "O que pedimos foi para o Brasil não continuar a exportação dos frigoríficos investigados”. Ao mesmo tempo, os países europeus vão dobrar a vigilância na checagem da carne que está chegando nos portos.

    O funcionário da JBS detido trabalhava para o governo?

    Controverso

    As explicações são conflitantes. Flavio Cassou, funcionário da Seara (uma das marcas do JBS) detido na Operação Carne Fraca, foi apresentado pela Polícia Federal como executivo do grupo. Mas Cassou trabalharia, segundo uma nota da empresa divulgada na sexta-feira, como “médico veterinário, funcionário da companhia, cedido ao Ministério da Agricultura”. O ministro da Agricultura, em entrevista ao GLOBO, afirmou: “Não existe isso, toda a fiscalização é feita por técnicos públicos, não há possibilidade de termos pessoas privadas cedidas por empresas para fazer esse controle, sempre são servidores públicos”. A JBS, por sua vez, enviou nova nota, na qual afirma que o funcionário estaria “a serviço do governo”. O sistema de fiscalização sanitária brasileiro prevê que a verificação de qualidade das carnes é de responsabilidade da empresa. Ela realiza os testes e repassa os resultados aos servidores do Ministério da Agricultura, que são responsáveis por verificar a veracidade dos dados e se aquele produto, com aqueles índices, pode ir para as prateleiras dos supermercados.

    http://blogs.oglobo.globo.com/eissomesmo/post/operacao-carne-fraca-levantou-muitas-duvidas-nos-checamos.html
  • Capitalismo na sua pureza. 
    O sistema não é perfeita, imagina se fosse puro ( anarcocapitalismo).
  • editado March 2017
    Duas coisas muito estranhas:

    1) Por que se não fosse obtida aprovação para a mudança de embalagem, teriam que descartar o lote?
    Será que tinha terminado o estoque de embalagens plásticas e demoraria até receberem outra remessa do fornecedor dessas?
    Isso tem que ser esclarecido pela empresa acusada em nota oficial bem clara e objetiva.

    2) O suposto funcionário da empresa - facilmente verificável via as anotações trabalhistas...- estava ou não cedido ao Ministério, i.e., atuando como fiscal do seu próprio patrão...
    De novo: obrigação de ser esclarecido muito claramente via notas oficiais tanto do MAPA ou outro órgão estatal quanto do suposto empregador dele.
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  • Quem dá os nomes a essas operações? :D
  • editado March 2017
    PugII escreveu: »
    Capitalismo na sua pureza. 
    O sistema não é perfeita, imagina se fosse puro ( anarcocapitalismo).

    Se você analisar o grande responsável foi o governo por ser omisso na fiscalização.

    O capitalismo não foi a causa desse escândalo, pessoas que foram a causa disso. Pessoas com ganância em não medir as consequências de seus atos, junto com governantes que deveriam zelar pelo bem estar da população (estes os mais culpados por serem coniventes com isso).

  • editado March 2017
    O governo é o bode expiatório de uma realidade concreta - os humanos não são necessariamente bons.

    Muitas religiões tentam limpar a sua imagem com a famosa afirmação - não é X de verdade.

    Os comunistas para explicarem o fracasso falam - não se aplicou o comunismo de verdade.

    Os capitalistas  dizem - sim vc acertou, complete a frase :)
    E, ainda, o capitalista arranja o diabo como desculpa - o governo é culpado de todos os males que o empresário faz.
    Diria mesmo - o governo é a razão pela qual os bancos roubam. Por aí vai.

    Ao passo que pessoas pensantes, dão conta que a realidade é mais complexa. Isto de falar mal do governo apazigua as consciencias preguiçosas. Jamais, colocar em causa o sistema que faz das pessoas burros de carga e/ou consumidores - isto é que nem pensar.
    Um sistema que busca a máxima produção, que torna em finalidade o viver dos humano em trabalhar por trabalhar - não merece crédito nenhum.

    Se queremos recuperar a nossa liberdade, necessitamos voltar a valorizar as nossas vidas. Não sermos meros números numa máquina infernal de produção.


    p.s. Byung é uma boa leitura para os tempos actuais

     
  • editado March 2017
    Textão cheio de alertas vermelhos que não refuta nem comprova nada.

    Aposto que reclama disso e tem smart tv, a melhor internet e não tem uma vida com tantos problemas como a minha.

  • Evidencia anedótica ou não, já comprei carne de boi e de porco que ao cozinhar apresentou uma coloração não muito comum, avermelhada flagrantemente diferente, e com sabor descaracterizado.
  • Senhor escreveu: »
    Evidencia anedótica ou não, já comprei carne de boi e de porco que ao cozinhar apresentou uma coloração não muito comum, avermelhada flagrantemente diferente, e com sabor descaracterizado.

    Uma coisa que aprendi depois de tomar prejú foi comprar carne, até porque quem se responsabilizava mais pela compra desses produtos era minha finada mãe.
  • Ontem comprei um pacote de coxa e sobrecoxas da Seara com cheirim de remédio, mesmo depois de frita.
  • editado March 2017
    Eu aqui só compro Rica.

    16446.jpg

    Mais barato que muitas marcas mencionadas (talvez por ser produzido no Rio de Janeiro).
  • Percival disse: Eu aqui só compro Rica.

    16446.jpg

    Mais barato que muitas marcas mencionadas (talvez por ser produzido no Rio de Janeiro).

    Tem que ver se é de alguma empresa treta citada na denúncia.
  • Nas que estavam não a vi mencionada.

    Engraçado que minha mãe costumava comprar muitos produtos Sadilá e e da BRF a mesma da Sadia.
  • Aqui tem um resumo sobre o caso:



  • Eu estou comendo carne.
    Tomara que caia o preço .
  • Emmedrado disse: Eu estou comendo carne.
    Tomara que caia o preço .

    Também acho que vai rolar. Lembro que quando suspenderam importações de laranjas o preço interno caiu 80%, e chegou a custar 1,20 reais, agora voltou a subir e está a mais de 3 reais. Com a carne suína também foi igual.
  • Senhor disse:
    Emmedrado disse: Eu estou comendo carne.
    Tomara que caia o preço .

    Também acho que vai rolar. Lembro que quando suspenderam importações de laranjas o preço interno caiu 80%, e chegou a custar 1,20 reais, agora voltou a subir e está a mais de 3 reais. Com a carne suína também foi igual.

    Amém 
  • editado March 2017
    Percival disse: Textão cheio de alertas vermelhos que não refuta nem comprova nada.

    Aposto que reclama disso e tem smart tv, a melhor internet e não tem uma vida com tantos problemas como a minha.

     

    Tanta subjectividade - pára por favor, vou acabar tendo um enfarte.
  • editado March 2017
    PugII escreveu: »
    Percival disse: Textão cheio de alertas vermelhos que não refuta nem comprova nada.

    Aposto que reclama disso e tem smart tv, a melhor internet e não tem uma vida com tantos problemas como a minha.

     



    Tanta subjectividade - pára por favor, vou acabar tendo um enfarte.

    Se você morrer, vai estar é fazendo um favor ao mundo.

  • Que bom servir a comunidade - morrerei com alegria, deixando um belo legado à humanidade.
     
  • PugII escreveu: »
    Que bom servir a comunidade - morrerei com alegria, deixando um belo legado à humanidade.
     


    Dando muito, já que és versátil.
  • Muito, darei todo o meu Amor a esta mulher que sabe quando um fala o outro cala-se, e assim, se passa no sexo.
  • PugII escreveu: »
    Muito, darei todo o meu Amor a esta mulher que sabe quando um fala o outro cala-se, e assim, se passa no sexo.

    Mulher banana?
  • Deve haver uns 4000 frigoríficos no país e só 21 foram os que eventualmente estariam envolvidos em adulteração. Se não fosse o grande desejo dos gualdas de serem protagonistas de espetáculos, talvez nem ficaríamos sabendo dessa tal operação...
    Se a coisa fosse tão ampla, geral e irrestrita como deram a impressão que seria no início, estaríamos todos mortos, exceto os vegetarianos...
  • Não importa a quantidade de envolvidos na prática em relação ao todo e sim o quanto  significam em termos de mercado.
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