Dom Pedro II — o primeiro sintetizador de voz

Postado Por Carlos Cardoso em 30 05 2017 em Brasil, Engenharia


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Hoje em dia qualquer porcaria fala. Tablets, celulares, calculadoras, todos possuem sintetizadores de voz. Daqui a pouco até comentaristas de portal estarão falando. É algo natural, normal. Mas nem sempre foi assim. Sintetizar voz humana é algo notoriamente difícil, são milhares de variáveis e nem nós conseguimos falar corretamente fonemas que não estamos acostumados. Brasileiros por exemplo se entregam no “th” dos americanos. Nossos sons nasais são um terror pra eles.

 Embora haja relatos de que uma máquina totalmente mecânica conseguiu sintetizar voz humana na metade do século XIX, o primeiro equipamento documentado a fazer isso o fez na Feira Mundial de Nova York, em 1939. Foi um monstro mecânico chamado… Pedro.O nome foi uma homenagem a uma peça fundamental na popularização do telefone: Dom Pedro II que, durante uma feira de tecnologia na Filadélfia, em 1876 foi convidado a fazer parte de um juri que avaliaria os projetos exibidos.

 Entre eles, Alexander Graham Bell e seu telefone, na época envolvido em disputas de patentes e ceticismo por parte das empresas de telégrafo. Ao experimentar o telefone o Imperador Nerd teria exclamado, com a mesma surpresa de um usuário da TELERJ: “MEU DEUS! ISSO FALA!

 Pedro foi o nome escolhido por Homer Dudley, cientista e engenheiro acústico dos Laboratórios Bell para batizar o VODER — Voice Operating Demonstrator:

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Lembre-se, isso é 1939, a tecnologia da época era basicamente barro fofo e pedra lascada. Além de criar um modelo fonético da voz humana, Homer tinha que simplificar esse modelo até ele ser tecnicamente viável. E operável por um humano, não adiantaria levar 10 horas programando um equipamento para dizer “hello, world”.

 Um dos usos propostos do Voder era em centrais de atendimento, pois os clientes muitas vezes se recusavam a falar com mulheres, já uma voz masculina era percebida como autoridade. Ironicamente todos os operadores do Voder eram mulheres, e a principal, Helen Harper, treinou todas as outras operadores e era melhor na máquina do que seu criador.

 Para os padrões de hoje o Voder não é grande coisa, mas seu teclado e pedais conseguiam variar até a inflexão da voz gerada em tempo real.


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Uma operadora treinada conseguia fazer o Voder produzir até sotaques, mas mesmo assim o Voder nunca se tornou um produto. Ele era complicado demais e a demanda não existia. Usar uma máquina pra simular uma voz perde o sentido se você gasta um humano pra isso, por mais que a cultura sexista reclame que esse humano é mulher. Fora o preço, não há informações mas barato não era.

 Do ponto de vista tecnológico o Voder era uma maravilha, Dom Pedro ficaria impressionado, se não assustado, como muita gente que considerou ofensivo e perturbador algo “miraculoso” como a voz humana ser produzida por uma máquina sem alma.


E sim, temos gravações do Voder em ação, escute: é melhor do que você imagina.
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