Emoções Irracionais
Os filmes podem tentar provocar emoções / reações / impressões de forma racional ou irracional no espectador.
Uma "emoção racional" é quando o filme apresenta fatos, eventos, e espera que o espectador reaja / se emocione com base nesses fatos, após assimilar aquilo que viu, e julgar de acordo com seus valores.
Uma "emoção irracional" é quando o filme tenta provocar emoções de maneira direta, "analógica", apelando para os instintos primários do espectador - por exemplo, usando música, fazendo o atores emularem certas emoções na tela e esperando que a mesma emoção surja no espectador por "osmose", driblando a mente e apelando diretamente para o lado mais emotivo da plateia.
Não estou sugerindo aqui que esses recursos (trilha sonora, interpretação) sejam maus - apenas que eles não devem tentar substituir os fatos e o conteúdo da história. Nos bons filmes, as 2 coisas acontecem em conjunto: a história te conduz a uma certa emoção, e daí o cineasta utiliza todos os "truques" cinematográficos junto com os atores pra tornar aquela emoção mais vívida, intensa, real.
Os bons cineastas pressupõem sempre que o espectador seja racional e não esteja sujeito a manipulações baratas. Infelizmente, a verdade é que a maior parte da plateia está sim sujeita a essas manipulações, e responde prontamente a impressões superficiais, aparências, sensações, reações, como se fossem equivalentes a fatos.
Por causa dessa deficiência, alguns filmes e cineastas conseguem se tornar extremamente populares, apenas por saberem apertar esses "botões" e apelarem para o lado irracional dos espectadores (assim como um político pode chegar à presidência de um país sem ter nada de coerente para dizer, sem explicar claramente seus planos, apenas conseguindo criar certas emoções em seus discursos, sendo um bom comunicador, desenvolvendo seu carisma e sua imagem pessoal, passando um "ar" de poder e respeitabilidade que não estão fundados na realidade).
Pra ilustrar o que seriam emoções racionais, vamos pegar como exemplo o filme E.T. - O Extraterrestre (1982). Certamente a performance de Henry Thomas, os efeitos especiais, a música de John Williams contribuem muito para o impacto emocional do filme. Mas se o espectador se emociona no final, na sequência de despedida, por exemplo, não é apenas porque os personagens estão chorando em sua frente e a orquestra está tocando uma música bonita - e sim porque os eventos da história o prepararam para aquele estado (talvez para o espectador puramente emocional, bastassem as lágrimas, as reações e a música fora de contexto, mas um bom filme sempre tentará atingir o espectador consciente).
Por que a plateia está correta em ficar triste com o fato de E.T. ir embora? Porque o filme estabeleceu, cena após cena, ao longo do filme inteiro, que E.T. é um valor importante para o protagonista. Nós primeiro vimos como era a vida de Elliott antes da chegada de E.T. (uma criança que ninguém levava a sério, levando uma vida comum, tentando fazer parte da turma sem sucesso, sendo perturbado pelos colegas da escola, pelo irmão mais velho, etc), e depois vimos como E.T. transformou tudo isso para melhor. Como ele fez de Elliott um garoto mais forte, responsável, respeitado, tornou sua vida mais excitante, grandiosa, etc. E tão importante (ou mais) que E.T. ser um valor para Elliott, é o fato de E.T. ser um valor pra plateia - pelo personagem ter tornado a experiência do espectador mais agradável. Ao longo do filme, E.T. foi o causador de uma série de emoções prazerosas na plateia. O espectador riu com seu jeito atrapalhado, se encantou com seus poderes mágicos, etc. Então quando E.T. vai embora, a plateia não se comove apenas por consideração a Elliott, mas também por interesse próprio, porque o espectador também sentirá falta do personagem e das emoções positivas associadas a ele:
Ou seja, o espectador tem razões palpáveis pra se emocionar no final. De maneira simplificada, podemos colocar dessa forma: o espectador fica feliz quando um personagem que foi estabelecido como uma boa pessoa conquista algo que foi estabelecido como desejável e de primeira importância pra ele (especialmente quando isso também é essencial pra felicidade / prazer do espectador na história). E o espectador fica triste quando um personagem que foi estabelecido como uma boa pessoa perde algo que foi estabelecido como desejável e de primeira importância pra ele (especialmente quando isso também era essencial pra felicidade / prazer do espectador na história).
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Comentários
https://www.youtube.com/watch?v=LHtgKIFoQfE
Estou focando aqui na emoção de tristeza, mas isso vale pra todas as emoções e reações que um filme pode causar: um senso de vitória, a surpresa de uma reviravolta na trama, um sentimento romântico, etc. Há sempre a maneira racional de provocar essas emoções, e a maneira falsa, desonesta, que apela pra impressões, aparências, clichês, etc.
Imagine por exemplo um filme de esporte onde os heróis precisam vencer a disputa final. Pro espectador ficar feliz com a vitória, algumas coisas teriam que ser estabelecidas antes. Primeiro, os protagonistas têm que ser pessoas boas pelas quais vale a pena torcer. Depois temos que ter uma noção da importância da vitória pra eles. O que aquilo significará, que mudança irá trazer... E temos que saber do lado negativo também. O que de ruim pode acontecer caso eles não conquistem esse objetivo, e também por que os adversários não merecem a vitória. O espectador tem que ter também um "gostinho" das emoções negativas de desilusão, derrota, vergonha ao longo da história, pra que daí sim, quando ocorrer a vitória, ele tenha uma base pra ficar feliz. Essa seria a forma de criar uma emoção racional.
Ainda assim, através do poder do cinema, é possível provocar arrepios e reações superficiais no espectador simplesmente através da técnica, da manipulação, do uso da música, apelando pro subconsciente, etc. E muitas vezes, mesmo o espectador racional pode se ver "caindo" nessa manipulação - se arrepiando contra sua vontade, com um misto de prazer e ressentimento... mas serão sempre emoções descartáveis se sua mente não estiver igualmente comprometida com a história.
Alguns dos mestres das emoções irracionais atualmente são cineastas como Christopher Nolan e M. Night Shyamalan, provavelmente por serem ótimos diretores mas não tão brilhantes como roteiristas.
Peguem por exemplo a cena do filme Interestelar (2014) onde o personagem do Matthew McConaughey, que está há anos numa missão espacial, abre mensagens de vídeo de seus filhos na Terra e começa a chorar:
https://www.youtube.com/watch?v=MoLkabPK3YU
Se nos emocionamos com essa cena, não podemos dizer que é pelo apego que tínhamos em relação aos personagens dos filhos, pela importância que o protagonista atribui à paternidade, etc. A emoção vem fora de contexto, simplesmente por causa da performance do ator, da música, da edição, e por causa da vaga noção de que é triste estar separado de seus filhos. Nada que tenha de fato sido estabelecido como um valor dentro do contexto da história. Se Interestelar fosse um livro e lêssemos essa cena no papel, ela dificilmente teria um grande impacto emocional, pois estaríamos apenas lidando com os fatos da história, sem o poder do cinema de forjar certas sensações.
Em muitos de seus filmes, Nolan usa métodos parecidos pra provocar a impressão de profundidade e inteligência. Em vez de apresentar uma série de fatos e eventos palpáveis, e esperar que a plateia enxergue sozinha a inteligência naquelas associações, e com isso ficar inspirada, Nolan apela para o irracional: confunde o espectador com tramas obscuras, impedindo que ele tenha uma medida exata daquilo que está sendo afirmado, toca em temas técnicos e confusos como viagem no tempo, física quântica, o funcionamento do cérebro, etc, deixando o espectador "desarmado", sem o poder de julgar os fatos com clareza, e em cima disso, usa sua habilidade de causar emoções pra criar a impressão de um acontecimento profundo, arrebatador, com atores fazendo expressões de espanto, uma música épica tocando, etc.
Shyamalan é outro que apenas ocasionalmente consegue provocar emoções de maneira racional. SPOILER: Em seu último filme Fragmentado (2016), há um momento no final onde aparece o personagem do Bruce Willis, que conecta o filme com o universo de Corpo Fechado (2000):
https://www.youtube.com/watch?v=T4drX5Xzo5o
A revelação só parece impactante por causa da maneira como a cena é dirigida: a música edificante, a câmera se aproximando lentamente, a aparição inesperada de Bruce Willis, etc. Mas é uma reviravolta que não tem qualquer consequência pra história que acabamos de assistir, pros destinos dos personagens que estávamos acompanhando, e a conexão com o filme Corpo Fechado não parece especialmente lógica ou engenhosa a ponto de ficarmos admirados pelo roteiro. O filme simula muito bem a emoção de uma surpresa arrebatadora, mas não consegue suportar essa emoção com fatos. Algo bem diferente do final de O Sexto Sentido (1999), onde de fato tínhamos razões para ficarmos espantados.
Ou seja, estou apenas diferenciando o método que diferentes cineastas usam pra provocar impressões na plateia, e não o conteúdo dessas impressões. Um filme pode utilizar do método certo, e ainda assim desagradar o "espectador racional", caso ele esteja projetando valores que vão contra os seus.
No filme recente Okja (2016), eu critiquei a tentativa do filme de criar empatia pelo animal mostrando que ele arriscaria sua vida pela protagonista, pelo fato dele ser altruísta, além da ênfase dada pra características desagradáveis do bicho, etc. Minha crítica aqui não é em relação ao método (racional ou irracional) do filme. O método está certo: o filme tenta criar uma emoção de afeto mostrando a relação entre o animal e a garotinha, demonstrando as qualidades do bicho através de ações, etc. Minha objeção aqui foi em relação ao conteúdo, pois não achei que as qualidades demonstradas pela criatura eram de fato atraentes.
http://profissaocinefilo.blogspot.com.br/2017/07/emocoes-irracionais.html
Alguém faltou às aulas de biologia.
Você não disse que ia embora?
Masoquista @Percival , ele é masoquista e sádico pois defende genocídios/terroristas e gosta de ser humilhado nos debates aqui .
Não.
http://religiaoeveneno.com.br/discussion/508/filosofia-e-a-psicologia-como-modo-de-vida#latest
Antes de comentar as minhas próprias palavras digo: eu não debato, o problema é não entenderem isso. Parece que vocês necessitam de ter razão, quando do meu lado sou observador das diferentes perspectivas. Posso dizer não concordar, mas na prática aceito todas as perspectivas que não me impeçam de viver livremente.
Se leram as palavras, em nenhum momento é dito que me iria embora. Ficam chateados quando digo que não tomam atenção, mas é um facto agora, de novo, exposto.
etc.
Tenham mais calma, vocês são muito exaltados.
Você simplesmente jogou a toalha e está aqui de volta, o exaltado e reclamão aqui é você que precisa criar um tópico pra taxar os outros de isso aquilo aquilo outro ou de se achar gênio. Ninguém aqui faz isso que você faz. Um fórum é movido de debates sabia?
PECIVAL SÃO OS PSICOTRÓPICOS , QUANDO TOMADOS EM QUANTIDADE ERRADA O CARA FAZ UM MONTE DE BESTEIRA .EU DISTRIBUIA UM MONTE DE MERDA CRIACIONISTA PELA WEB.
O CASO DELE ME PARECE PIOR .
Não.
Identificação projectiva. Você está a ver a si mesmo, sabia?
Deduzo que ao olhar no espelho, a imagem reflectiva seja burro, pois é isso que você vocifera para nós que o escutamos?
Calma portuga , não infarta não ...e...que psicologia barata kkkkk
Claro que tem os movidos a trocação de Nudes, acho que tu precisa de uns pra se aliviar.
Eu mesmo gostei muito de "Carros", da Disney, quando vi pela primeira vez. Em geral eu não gosto de carros, então levei anos para dar uma chance a ele. Assisti quando já tinha chegado a TV a cabo e só o fiz por falta de opção, mas quando assisti adorei.
Só depois eu descobri que o roteiro é na verdade o mesmo de outro filme que eu gostei e assisti há muitos anos, chamado "Dr. Hollywood" (Ou "Doc. Hollywood" em ingles).
Bom, como carros e Dr. Hollywood podem ter o mesmo roteiro?
Eles pegam o mesmo roteiro, mudam as profissões e nomes das personagens, o nome da cidade e pegam a mesma trama básica de certos acontecimentos e mudam para algo diferente, mas com o mesmo resultado.
Por exemplo, em Dr. Hollywood ao invés de um piloto de sucesso, Michael J. Fox é um cirurgião de sucesso.
Em uma viagem ele sofre um acidente de carro com vacas e termina destruindo a cerca de um juiz em uma cidade pequena, o juiz o condena a prestar serviços médicos na cidade como forma de cumprir a pena com serviços sociais.
Em carros uma rua é destruída e a punição do carro piloto é ficar na cidade até arrumar o estrago.
Muitas outras coisas poderiam ser citadas, desde a personagem caipira representada pelo "guincho", até o fato do par romântico ser de uma personagem que se descobre que na verdade era da cidade grande, mas se mudou para a cidade pequena por escolha própria, bem como o fato dela no começo esnobar o protagonista.
Toda a trama se repete em ambos os filmes, mas sempre de modo diferente. uma das mais significativas é a parte onde em "Carros" o protagonista encontra na cidade um carro de corrida das antigas, que acaba dando uma "lição" no jovem ao derrotar ele numa corrida numa estrada de terra.
Em Dr. Hollywood essa cena é feita com o velho médico da cidade dando uma lição no novato. Ele "conhecia" as pessoas e as atendia por telefone durante a noite em muitos casos, o que deixava o protagonista irritado.
Quando o Michael J. Fox estava de plantão um garoto chega na clinica com falta de ar, o medico velho por telefone manda dar coca cola pra ele, o Micheal J Fox faz um diagnostico de problema no coração e está preparado para levar o garoto para cirurgia, briga com o medico velho que chega lá depois com uma lata de coca cola, da pro garoto que melhora e então pergunta se ele andou novamente fumando escondido o fumo do pai.
Cada "detalhe" de roteiro se repete em ambos os filmes, mas sempre com cenas transformadas em algo diferente. No entanto a "moral" da historia está ali, o velho da cidade pequena ensina uma "lição" ao jovem pretensioso da cidade grande que por sua vez aprende a respeitar mais a gente "simples" do interior.
Carros e Dr. Hollywood usam exatamente o mesmo roteiro e são ambos filmes de sucesso.
Veja a cena do acidente:
Continuações no plural? Eu nem sabia que tinha mais de uma.
Eu vi a que transformam o guincho em um tipo de agente 86.
As duas fizeram muito, muito sucesso .
Sim o 2 ainda é aceitável, só que tirou o foco do personagem principal parece.
Agora o 3 foi totalmente desvirtuado para celebrar a diversidade, além de um desenvolvimento fraco:
http://profissaocinefilo.blogspot.com.br/2017/07/carros-3.html
O carros 2 eu não achei ruim não, é engraçadinho. Mas o 3 eu não sabia que existia.