E a questão moral da bomba atômica poder se comparar a um crime de guerra?

editado December 2019 em Religião é veneno
A bomba foi jogada em centros urbanos e tecnicamente crimes de guerra podem ser classificados quando os atos de guerra miram alvos civis.
Bom, eu primeiro quero deixar claro que não tenho opinião formada, quero saber o que os membros do fórum pensam do assunto.

A minha opinião em geral tende para o lado de que na guerra vale quase tudo, pois não existem regras para se defender quando alguém está tentando te matar.
Também sou da opinião de que todo alvo é militar. Definir um alvo como "civil" no contexto de uma guerra é complicado porque a economia de uma nação é parte da maquina de guerra.
Todo empreendimento econômico tem um potencial militar e atacar uma rodovia por onde passa o armamento do exercito inimigo, a empresa de softwares que produz o aplicativo usados na fabrica de tanques, ou ainda a tecelagem que produz os tecidos usados na confecção dos uniformes especiais do exercito me parecem coisa bastante similar.

Crime de guerra pra mim são os genocídios que os militares praticam tanto contra o próprio povo quanto contra o povo invadido, ou ainda atacar deliberadamente igrejas e hospitais não por algum valor estratégico ligado a economia, mas somente para "aterrorizar" o inimigo.
A bomba atômica jogada no Japão talvez esbarre nesse ultimo ponto, mas ela ainda guarda o potencial real de estrategia militar capaz de por fim a uma guerra.

Por exemplo, acho valido destruir uma cidade só de civis em atividade econômica não diretamente ligada a guerra, caso a prosperidade econômica gerada pela mesma seja uma das formas de financiamento do governo, mas como disse sou contra a atacar igrejas e hospitais para tentar persuadir pelo "terror".
As bombas que destruiram o Japão podem se encaixar nas duas coisas.
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Comentários

  • editado August 2017
    Cabia a Harry Truman decidir sobre o uso da bomba atômica, o que se resumia a como, quando e onde a bomba seria usada.
    Não havia questão sobre "se" a bomba seria usada.

    É impensável a ideia de que o presidente dos Estados Unidos proibiria o uso da arma definitiva, que permitiria derrotar o inimigo sem mais sacrifício de vidas americanas, optando por uma invasão das ilhas japonesas na qual as baixas do lado deles se contariam no mínimo em centenas de milhares e as baixas do inimigo certamente na casa dos milhões.

    Se a questão político militar do uso da bomba se resolve por si só, resta a questão moral.

    Uma das mais repetidas condenações ao uso da bomba atômica alega que seu lançamento se deu sobre civis inocentes quando uma demonstração de força contra áreas não povoadas ou instalações exclusivamente militares forçaria o Japão a se render da mesma forma.

    Balela!
    Os japoneses não se renderam NEM depois do ataque a Hiroshima. Se destruição e morte naquela escala não foi suficiente para provocar a rendição é óbvio que não seria a tal demonstração de força em muito menor escala que provocaria.

    E por mais cruel que possa parecer colocar as coisas nestes termos, aquilo era a Segunda Guerra Mundial e o inimigo era o Império do Japão.  Uma tirania tão genocida quanto a nazista.
    Pode-se admitir como moralmente aceitável QUALQUER coisa que pudesse encerrar de imediato aquela guerra, cessar a morte de dezenas de milhares de pessoas por semana, aplacar o sofrimento extremo de dezenas de milhões e destruir o projeto de poder continental japonês construído sobre a dominação, escravização e opressão sanguinária dos povos conquistados.

    Ai... mas os civis isto... os civis aquilo...
    Os japoneses não ligavam a mínima para os civis inimigos, que massacravam aos milhares por qualquer coisa, mesmo após rendidos e dominados.
    Também não ligavam a mínima para seus próprios civis, que chegaram a ser preparados para a Gloriosa Morte dos Cem Milhões, um projeto de resistência à invasão no qual TODA nação japonesa lutaria até a morte ou cometeria sepuku, o suicídio ritual samurai.

    Não se vence um bando de fanáticos malucos megalomaníacos sem o menor apreço pela vida humana como eram os militares japoneses com meias medidas.

    Desde o início da Segunda Guerra Mundial o princípio da reciprocidade na guerra já havia deixado claro que as cidades inimigas seriam consideradas alvos legítimos, dado que nas modernas sociedades industriais as guerras eram vencidas mais pelo poderio econômico mantido em seus centros de produção nacionais do que nos campos de batalha.

    Finalmente, foi o Japão que começou a guerra, não em Pearl Harbor, mas antes de Hitler de atacar a Polônia ou a Tchecoslováquia os japoneses já espalhavam o terror pelo extremo oriente.
    Apresentar agressores brutais como coitadinhos por terem colhido os frutos de sua própria ambição é inverter a realidade dos fatos de modo idiota ou desonesto.

     
  • Acauan disse:

    Os japoneses não se renderam NEM depois do ataque a Hiroshima. Se destruição e morte naquela escala não foi suficiente para provocar a rendição é óbvio que não seria a tal demonstração de força em muito menor escala que provocaria.

    E por mais cruel que possa parecer colocar as coisas nestes termos, aquilo era a Segunda Guerra Mundial e o inimigo era o Império do Japão.  Uma tirania tão genocida quanto a nazista.
    Pode-se admitir como moralmente aceitável QUALQUER coisa que pudesse encerrar de imediato aquela guerra, cessar a morte de dezenas de milhares de pessoas por semana, aplacar o sofrimento extremo de dezenas de milhões e destruir o projeto de poder continental japonês construído sobre a dominação, escravização e opressão sanguinária dos povos conquistados.
    Acho que esses são os pontos mais importantes. Eu realmente fico me perguntando se caso as bombas tivessem sido jogadas na Alemanha nazista e não no Japão, se as pessoas continuariam questionando o ato.
    Foram os nazistas quem entraram para a historia como o mal supremo enquanto que seus aliados não ficaram marcados da mesma forma.
  • editado August 2017
    NadaSei disse:

    Acho que esses são os pontos mais importantes. Eu realmente fico me perguntando se caso as bombas tivessem sido jogadas na Alemanha nazista e não no Japão, se as pessoas continuariam questionando o ato.
    Foram os nazistas quem entraram para a historia como o mal supremo enquanto que seus aliados não ficaram marcados da mesma forma.

    Uma curiosidade histórica é que após a rendição da Alemanha, muitos cientistas do Projeto Manhattan perderam o entusiasmo com o uso da arma em sua fase final de produção, mas ainda não concluída.
    Motivo muito compreensível é que um monte daqueles cientistas eram judeus, conheciam melhor do que ninguém o imperativo categórigo de impedir a vitória dos nazistas e tinham suas justas razões pessoais para estarem ansiosos pelo dia em que fariam fazer chover fogo do céu sobre a Alemanha.

    O Japão, por outro lado, era para aqueles cientistas apenas aquele povo de baixinhos de óculos que atacou Pearl Harbor.
    Fazer chover fogo do céu sobre Kyoto, Hiroshima, Yokohama, Kokura ou Niigata, (Nagasaki entrou na lista depois, por um azar desgraçado para os moradores de lá...) não era a mesma coisa para eles de fazer chover fogo do céu sobre Düsseldorf, Colônia, Stuttgart, Nuremberg ou Dresden (sobre Dresden choveu fogo do céu de qualquer jeito...).

    Daí surgiram alguns dos mitos mais idiotas sobre a Segunda Guerra, os das motivações racistas do lançamento da Bomba sobre o Japão e não sobre a Alemanha.
    Oras... Não lançaram a bomba sobre a Alemanha única e exclusivamente porque ela ainda não estava concluída quando os nazistas se renderam.  

    Sobrou pro Japão, que, nunca é demais lembrar, foi avisado de que os Estados Unidos tinham a arma definitiva (que àquela altura os japoneses tinham ideia muito clara do que seria) e intimado a se render, não se rendeu, tomou a primeira bomba na cabeça e foi intimado a se render, não se rendeu e tomou a segunda.

    Deu no que deu.
     
  • editado August 2017
    O Japão não se recuperou rápido demais, cultural e economicamente, para um país liderado por malucos que tomaram duas bombas atômicas destruindo cidades inteiras? Quais os motivos para isso?

     
  • Cameron disse: O Japão não se recuperou rápido demais, cultural e economicamente, para um país liderado por malucos que tomaram duas bombas atômicas destruindo cidades inteiras? Quais os motivos para isso?

    Questão interessantíssima...
    Tem um livro do George Mikes, The land of the rising yen, publicado no Brasil como Japão para Principiantes, que apresenta uma explicação muito boa para sua pergunta.
    O legal é que o livro não é nenhum tratado de sociologia ou geopolítica e sim um livro de viagens bem humorado, mas acrescido de um conteúdo de pesquisa e observações muito argutas do autor.

    Numa destas observações ele destaca a habilidade dos japoneses de copiar o que dá certo.
    Ele resume a coisa em para os japoneses o que dá certo é bom .
    Assim, a sociedade industrial do ocidente deu certo, logo a sociedade industrial do ocidente é boa, assim o Japão copiou a sociedade industrial do ocidente nos seus aspectos científicos, econômicos e de engenharia.

    Para exemplificar, George Mikes cita o feito histórico do comodoro Perry, comandante naval americano que forçou os japoneses a abrir seus portos na base da porrada.
    Os japoneses viram que os americanos eram fortes e decidiram copiar aquilo que fazia os americanos fortes.
    Uns cinquenta anos depois do incidente com o Comodoro, os japonses venceram uma guerra com a Rússia, então uma das maiores potências de Europa.
    Mais três décadas e meia e atacaram Pearl Harbor.

    Aí... bomba atômica... rendição... derrota... humilhação...
    Entra de novo a regra.
    Os Estados Unidos venceram, o sistema americano é bom, vamos adotar o sistema americano.
    E se tornaram capitalistas industriais.

    Tá... não é tão simples assim e tem muitos outros fatores.
    Principalmente o mérito dos americanos de terem feito tudo a seu alcance para garantir o sucesso da sociedade japonesa após a derrota na guerra.
    Só para constar, quem ensinou aos industriais japoneses o que era qualidade foi Willian E. Deming, americano a serviço de seu governo.

    E também tinha, obviamente, a questão da Guerra Fria.
    Nem a pau Juvenal que os Estados Unidos permitiriam que o Japão caísse na esfera de influência da União Soviética, como aconteceu com a China.

    O resto todo mundo sabe.
     
  • Questão interessantíssima...
    Tem um livro do George Mikes, The land of the rising yen, publicado no Brasil como Japão para Principiantes, que apresenta uma explicação muito boa para sua pergunta.
    O legal é que o livro não é nenhum tratado de sociologia ou geopolítica e sim um livro de viagens bem humorado, mas acrescido de um conteúdo de pesquisa e observações muito argutas do autor.

    Numa destas observações ele destaca a habilidade dos japoneses de copiar o que dá certo.
    Ele resume a coisa em para os japoneses o que dá certo é bom .
    Assim, a sociedade industrial do ocidente deu certo, logo a sociedade industrial do ocidente é boa, assim o Japão copiou a sociedade industrial do ocidente nos seus aspectos científicos, econômicos e de engenharia.

    Para exemplificar, George Mikes cita o feito histórico do comodoro Perry, comandante naval americano que forçou os japoneses a abrir seus portos na base da porrada.
    Os japoneses viram que os americanos eram fortes e decidiram copiar aquilo que fazia os americanos fortes.
    Uns cinquenta anos depois do incidente com o Comodoro, os japonses venceram uma guerra com a Rússia, então uma das maiores potências de Europa.
    Mais três décadas e meia e atacaram Pearl Harbor.

    Aí... bomba atômica... rendição... derrota... humilhação...
    Entra de novo a regra.
    Os Estados Unidos venceram, o sistema americano é bom, vamos adotar o sistema americano.
    E se tornaram capitalistas industriais.

    Tá... não é tão simples assim e tem muitos outros fatores.
    Principalmente o mérito dos americanos de terem feito tudo a seu alcance para garantir o sucesso da sociedade japonesa após a derrota na guerra.
    Só para constar, quem ensinou aos industriais japoneses o que era qualidade foi Willian E. Deming, americano a serviço de seu governo.

    E também tinha, obviamente, a questão da Guerra Fria.
    Nem a pau Juvenal que os Estados Unidos permitiriam que o Japão caísse na esfera de influência da União Soviética, como aconteceu com a China.

    O resto todo mundo sabe.

    Tinha um conhecido do meu avô que não acreditava (ou dizia não acreditar) que o Japão havia perdido a guerra e um de seus argumentos era a tecnologia japonesa, ele perguntava "Como um país arrasado por perder uma guerra poderia estar na vanguarda da tecnologia?"
  • editado August 2017
    Cameron disse:
    Tinha um conhecido do meu avô que não acreditava (ou dizia não acreditar) que o Japão havia perdido a guerra e um de seus argumentos era a tecnologia japonesa, ele perguntava "Como um país arrasado por perder uma guerra poderia estar na vanguarda da tecnologia?"

    A Alemanha também perdeu a guerra, antes da qual era tecnologicamente mais avançada que o Japão e depois passaram a disputar a vanguarda no pau a pau.
    Antes da guerra o Japão havia feito grandes progressos em termos de tecnologia militar, dos quais um dos mais bem sucedidos era o caça Mitsubishi Zero.
    Porém, nenhuma pesquisa científica relevante foi produzida no Japão naquele período.
    Enquanto alemães faziam experimentos com água pesada, desenvolviam foguetes e aviões a jato e os americanos avançavam na produção de um dispositivo de fissão nuclear, a prioridade dos japoneses era a engenharia mecânica direcionada à indústria bélica, sem grandes inovações.

    Até os anos sessenta os japoneses não tavam com esta bola toda.
    Foi a partir desta década que os investimentos maciços em educação somados ao apoio americano e mais a agressividade capitalista dos empresários japoneses viraram a mesa a favor deles.

    Um exemplo emblemático foi o microchip.
    De novo o talento japonês para transformar em prática a teoria desenvolvida por outros.
    Não foi o Japão que inventou o microchip ou pesquisou seus fundamentos físico-químicos.
    Porém os japoneses foram os primeiros a perceber o potencial revolucionário daquela nova tecnologia e em pouco tempo se tornaram líderes mundiais da eletrônica de massa.

    Exemplos como este se repetem em vários outros ramos da tecnologia industrial, sendo a mais óbvia a indústria automobilística.
    Um americano que comprasse um carro japonês nos anos sessenta seria considerado um esquisitão.  Vinte anos depois os automóveis do Japão estavam por toda parte nos Estados Unidos.

    São exemplos que mostram que a competência tecnológica dos japoneses tem aplicações muito direcionadas, bem sucedido sem dúvida, mas nada que permita duvidar que eles tivessem perdido a guerra por conta disto.
  • Passou na TV um documentário sobre a Sony. Nos anos 60, eles tentavam exportar radios para os EUA e não sabiam pq eles duravam poucos dias nas mãos dos clientes até descobrirem os efeitos da maresia  sobre os componentes eletricos.

    Nos anos 60, quem comprava moto Honda nos EUA era tido como idiota. 
  • "Copiar para criar, criar para competir, competir para vencer"
  • - Li um livro sobre isso uma vez, os Japas copiaram e depois aperfeiçoaram metodologias de gestão, ensinadas a eles por executivos americanos que participaram do plano de reconstrução.

    Abraços,
  • editado August 2017
    Spider disse: - Li um livro sobre isso uma vez, os Japas copiaram e depois aperfeiçoaram metodologias de gestão, ensinadas a eles por executivos americanos que participaram do plano de reconstrução.

    Abraços,

    Minha mãe comentava sobre isso também. E li em alguns artigos.
  • editado August 2017
    Percival disse:
    Spider disse: - Li um livro sobre isso uma vez, os Japas copiaram e depois aperfeiçoaram metodologias de gestão, ensinadas a eles por executivos americanos que participaram do plano de reconstrução.

    Abraços,

    Minha mãe comentava sobre isso também. E li em alguns artigos.

    Deming conta a história toda no livro Qualidade, a Revolução da Administração.
    Antes da disseminação destas ideias, por incrível que pareça hoje, os executivos industriais entendiam que qualidade era um problema dos técnicos de chão de fábrica.
  • Eu lembro que minha mãe comentava também que eles copiaram o modelo suiço de relógios.
  • De certa forma, é isto que torna o capitalismo tão eficiente: se estamos fazendo errado, vamos mudar para o jeito certo, não interessando a ideologia ou o país de quem inventou.

    Resultados prevalecem sobre a ideologia.
  • editado August 2017
    Percival disse: Eu lembro que minha mãe comentava também que eles copiaram o modelo suiço de relógios.
    O caso dos relógios suiços virou um exemplo clássico do que se chamou cegueira de paradigma, quando uma empresa era tão bem sucedida em sua atividade que perdia a capacidade de inovar.
    Foram os suiços que desenvolveram a tecnologia dos relógios de cristal de quartzo, mas eles estavam tão apegados aos seus relógios mecânicos que consideravam obras de arte e símbolos nacionais, que torceram o nariz para aquela inovação que simplicava e barateava os relógios.

    Os japoneses enxergaram a oportunidade e em pouco tempo eram os maiores produtores de relógios do mundo.
     
  • Eu lí um depoimento de um brasileiro, descendente de japoneses, que mora no Japão, em um fórum parecido com este aqui. Ele conversou com veteranos de guerra japoneses e eles disseram que só se renderam por causa da bomba atômica. E outra coisa que eles disseram: jamais permitiriam que o imperador fosse capturado.
  • Volpiceli disse: Eu lí um depoimento de um brasileiro, descendente de japoneses, que mora no Japão, em um fórum parecido com este aqui. Ele conversou com veteranos de guerra japoneses e eles disseram que só se renderam por causa da bomba atômica. E outra coisa que eles disseram: jamais permitiriam que o imperador fosse capturado.

    O Imperador era um semideus , depois da Guerra as coisas mudaram 
    http://japaoejaponeses.org/o-imperador-e-um-deus/
  • O imperador descende da deusa Amaterasu.
  • Emmedrado disse:

    O Imperador era um semideus , depois da Guerra as coisas mudaram 
     
    Fernando_Silva disse: O imperador descende da deusa Amaterasu.

    Depois da guerra os americanos chutaram sua divindade prá condição de monarca sem poderes em uma democracia parlamentar e mandaram-no ficar muito satisfeito por não ter sido pendurado na ponta de uma corda.
  • editado August 2017
    Acho que a imagem abaixo resume melhor a derrota do Japão que as fotos de Hiroshima após o ataque.
    O general MacArthur sequer se deu ao trabalho de por uma gravata para receber o Imperador.

    hirohito_macarthur_1945_small.jpg
  • Fernando_Silva disse: O imperador descende da deusa Amaterasu.

    Como não lembrar desse jogo:



    ps2_518.jpg
  • A história secreta de uma anarquia militar

    Elio Gaspari 29-12-2019 "O Globo"

    Está nas livrarias “A História Secreta da Rendição Japonesa de 1945”, do americano Lester Brooks. Publicado em 1967, ainda é um clássico e conta o comportamento da elite militar e civil japonesa nos últimos dias da Segunda Guerra Mundial, com uma narrativa minuciosa do que aconteceu entre os dias 6 de agosto, quando uma bomba atômica devastou Hiroshima e 2 de setembro, quando os japoneses renderam-se a bordo do encouraçado Missouri. Foi traduzido pelo generais da reserva Gleuber Vieira e Joubert Brízida. Gleuber comandou o Exército de 1999 a 2003. Viu de tudo, mas nunca falou.

    Quando a bomba caiu em Hiroshima o Japão já estava perdido. “A História Secreta” mostra como a corporação militar quis continuar a guerra, chegando mesmo a tentar um golpe contra o Palácio Imperial. Acreditavam em qualquer coisa: a bomba seria de fósforo, os americanos não jogariam outra (jogaram, em Nagasaki), não teriam artefatos suficientes (tinham, e a terceira poderia cair em Tóquio).

    Lester Brooks respeita a noção segundo a qual os militares japoneses tinham um código de honra, dispostos a morrer pela pátria e pelo Imperador. Mesmo assim expõe o delírio dos generais e almirantes que pretendiam obter condições dos americanos. Em 1945 o Japão tinha almirantes dispostos a continuar a guerra, mas desde 1944 não tinha Marinha. Desde fevereiro os americanos bombardeavam Tóquio e Yokohama com a perda de apenas 3% dos aviões. Os generais japoneses atacavam com kamikases, matando 100% de seus jovens pilotos.

    Desde março de 1945 o primeiro-ministro japonês sabia que a guerra estava perdida e em maio começaram as primeiras negociações secretas e irrealistas. Em junho os generais estavam prontos para continuar a luta com lanças de bambu, enquanto os americanos discutiam sobre qual cidade deveria ser jogada a bomba atômica.

    Do livro de Brooks emergem dois personagens, o general Anami, ministro do Exército, e o coronel Ida. Anami foi para cá e para lá, mas desautorizou o golpe e matou-se numa cena de ritual samurai. Ida articulou um suicídio coletivo, decepcionou-se ao saber que só dois em cada dez oficiais que consultou topavam morrer (topavam matar mais soldados, mas essa é uma velha história). Cuspindo fogo, Ida fez o possível e, ao fim da história, mudou seu nome para Iwata, vestiu um terno e foi trabalhar numa agência de publicidade, onde Brooks o entrevistou. (Outro ferrabrás, o general Umezu, perfilou-se no convés do Missouri durante a cerimônia da rendição).

    Lendo-se a “História Secreta” de Brooks, fica a eterna pergunta: As bombas eram necessárias? Ele não trata disso.

    Quem responde é o historiador Max Hastings, no seu livro “Retribution”:

    “Se a guerra tivesse continuado, mesmo que por poucas semanas, mais gente teria morrido, sobretudo japoneses, do que os mortos de Hiroshima e Nagasaki”.
    https://oglobo.globo.com/brasil/elio-gaspari-nao-existe-terrorismo-light-24163414


  • editado December 2019
    [color=#ff8c00]Fernando_Silva disse:[/color]
    A história secreta de uma anarquia militar

    Elio Gaspari 29-12-2019 "O Globo"

    ...

    Lendo-se a “História Secreta” de Brooks, fica a eterna pergunta: As bombas eram necessárias? Ele não trata disso.

    Quem responde é o historiador Max Hastings, no seu livro “Retribution”:

    “Se a guerra tivesse continuado, mesmo que por poucas semanas, mais gente teria morrido, sobretudo japoneses, do que os mortos de Hiroshima e Nagasaki”.
    https://oglobo.globo.com/brasil/elio-gaspari-nao-existe-terrorismo-light-24163414

    Alguém reconhece esta foto?

    BattleOfShanghaiBaby.gif

    Não... não é a foto de uma criança japonesa vítima de um bombardeio americano.
    A foto intitulada "Sábado Sangrento" retrata a cidade de Xangai em 1937, após um ataque áereo japonês.

    Esta data tem conteúdo moral decisivo para a questão levantada neste tópico, pois evidencia que os japoneses foram os primeiros a utilizar o bombardeio estratégico de áreas urbanas civis densamente povoadas.
    Já faziam isto ANTES do início da Segunda Guerra Mundial e continuaram fazendo por todo conflito, sem qualquer drama de consciência durante ou arrependimento depois.

    A questão colocada na abertura do tópico sobre considerar os bombardeios atômicos crimes de guerra deve ser enquadrada na questão mais abrangente de considerar bombardeios estratégicos de cidades como tal.
    Moralmente o que vale é condenar o morticínio de civis, não o tipo de tecnologia que produz estas mortes.

    Assim, como imperialistas japoneses e seus amigões nazistas foram os primeiros a se valer deste recurso, os japoneses na China e os alemães no ensaio de Guernica e depois prá valer em Varsóvia, contra eles recai a lógica da reprocidade na guerra.
    Se um dos lados se vale do recurso de atacar áreas urbanas que de qualquer modo contribuem para o esforço de guerra inimigo, enquanto o outro lado se nega por questões morais a utilizar do mesmo meio, o lado moralista dá ao agressor uma vantagem militar que pode ser decisiva, ou seja, seria a moralidade recompensando o agressor, o que é... imoral.

    A lógica e a moral da guerra não é a lógica e a moral dos tempos de paz.
    Muito menos a lógica e moral da Segunda Grande Guerra, quando estavam em jogo o destino da Humanidade e o futuro da civilização.

    Mesmo nesta circunstância extrema, há uma linha moral óbvia que JAMAIS poderia ser transpassada sob nenhuma justificativa que é a obrigatoriedade do vencedor respeitar e dar garantia aos inimigos rendidos, militares ou civis que se submeteram à sua autoridade.

    É esta linha que separa moralmente Aliados Ocidentais dos Alemães e Japoneses.

    Alemães e japoneses bombardearam primeiro e foram bombardeados depois, até aí, no máximo temos um empate moral.
    A diferença é que enquanto os Aliados Ocidentais davam aos inimigos rendidos todas as garantias de seus sistemas legais democráticos, os alemães e japoneses massacravam e escravizavam estas populações rendidas aos milhões, apenas porque queriam e podiam fazer isto para consolidar sua supremacia sobre quem consideravam inferiores.

    Após as bombas atômicas, a rendição e ocupação do Japão, os americanos cuidaram de julgar e executar uma meia dúzia de altos oficiais japoneses que ordenaram crimes de guerra e se dedicaram à reconstrução do país, começando por assegurar os recursos de alimentação, saúde e moradia das populações japonesas flageladas pela guerra.

    Fosse o contrário, como nas ficções de História Alternativa, e os japoneses tivessem obtido a bomba atômica primeiro, os ataques nucleares a Los Angeles e San Francisco seriam seguidos das mesmas práticas brutais de ocupação sofridas pelas populações civis da Manchúria, Coréia, Filipinas e outros territórios invadidos e ocupadas pelo expansionismo imperialista japonês.

    No fim, por cruel que pareça este julgamento, o fato resumo é dos males, o menor.
  • Tenho uma pergunta: não bastaria uma bomba?
  • O título deste tópico e aquele mesmo? Parece que seria comparar em vez de comprar.
  • patolino disse: Tenho uma pergunta: não bastaria uma bomba?

    Não...
    Como disse lá atrás, após a primeira bomba os americanos intimaram os japoneses à rendição, que foi rejeitada pelo Alto Comando em Tóquio, que considerou o suicídio nacional opção melhor.
    NEM depois da segunda bomba os generais aceitaram render-se, sendo preciso que o próprio Imperador interviesse.
    É mesmo assim, os comandantes cogitaram de prender o Imperador e continuar a luta até o trágico fim.
    No que dependeu dos líderes militares japoneses, duas bombas teriam sido só o começo.
  • Assistiram "The Man in the High Castle"

    Seriado da Amazon onde em uma realidade paralela os nazi venceram.

    Tem muita coisa interessante como por exemplo fuscas circulando nos EUA logo no início da série.


    OS EUA foram divididos entre a Alemanha e o Japão.
  • Judas disse: Assistiram "The Man in the High Castle"

    Seriado da Amazon onde em uma realidade paralela os nazi venceram.

    Tem muita coisa interessante como por exemplo fuscas circulando nos EUA logo no início da série.


    OS EUA foram divididos entre a Alemanha e o Japão.


    Quando terminar de assistir "The Expanse" vou dar uma conferida.
  • Tem uma cena onde a propagandista nazista faz um vídeo para circular no agora "Greater American Reich" onde o Sino da Liberdade que fica na Filadélfia é derretido e transformado em uma Suástica.

    A Estátua da Liberdade também é substituída no decorrer da série.

    Tem um personagem muito interessante que é um comerciante de antiguidades da história americana que agora só vai até 1945. Seus clientes são os japoneses invasores que se interessam pela antiga cultura do país que agora dominam.

    Teve muito diálogo interessante a partir deste personagem que dá a entender que os seus clientes japoneses se encantaram com a cultura dos EUA e portanto seriam eles os colonizados, ainda que em situação de invasores colonizadores.

    Vale a pena ver.

  • editado December 2019
    São Francisco na série
    39109-The-Man-in-the-High-Castle-NY-and-San-Francisco.jpg
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