O que fazer com tanto tempo livre?
Este texto é antigo e muita coisa aconteceu de lá para cá, mas acho que ainda se aplica.
O que fazer com tanto tempo livre
Nunca a humanidade teve tanta tecnologia para lhe facilitar a vida
e nunca teve tão pouco tempo livre.
Qualquer tempo que se libera é imediatamente preenchido por novas
ocupações. Lembro-me do anúncio de um debugger numa revista para
programadores. O tal programa permitiria que o trabalho fosse
terminado muito mais rápido, ficando o sujeito com tempo livre
para aproveitar a vida. E o fundo do anúncio mostrava um esquiador
descendo uma montanha coberta de neve.
Qualquer um sabe que, se o funcionário pode fazer o trabalho na
metade do tempo, o patrão lhe dará dois serviços para fazer naquele
mesmo tempo. Ou, no caso de um autônomo, ele sairá em busca de mais
serviço.
O fato de se fazerem 10 coisas por dia em lugar de passar o dia
todo ocupado com apenas uma implica num stress adicional:
administrar 10 coisas diferentes. Antigamente, eu começava um
serviço, levava algum tempo até pegar o jeito e depois era só
levar em frente. Agora eu tenho que pegar o jeito 10 vezes por
dia. Com tantas transições, termino o expediente com a vaga
impressão de que esqueci alguma coisa importante.
Antes dos computadores, esperava-se menos da apresentação dos
documentos. Eu escrevia um manual a lápis e o passava para uma
secretária que o batia à máquina. Ele me era devolvido para
conferência, eu indicava os erros, eram corrigidos, novo retorno,
até que eu decidia que estava bom o bastante (cheio de corretivo,
com letras espremidas).
Hoje espera-se que eu digite tudo - e tem que ficar perfeito, bem
diagramado, sem erros.
Antes, eu desenhava à mão e passava para um desenhista fazer no
poliéster com nanquim e régua T. O resultado final era mais ou
menos, cheio de manchas e sombras de fita adesiva (colar e cortar
eram termos literais).
Hoje, cada engenheiro tem que fazer seus próprios desenhos no
computador e entregar um serviço perfeito.
Antes, terminava-se um serviço e mandava-se tudo pelo correio para
o cliente. Tínhamos pelo menos 4 dias antes que voltasse a papelada
com comentários. Hoje, com a Internet, volta no mesmo dia, não
importando onde o cliente esteja.
Outra coisa que se perdeu foi a privacidade. Há poucos anos, quando
se saía para almoçar, o tempo era todo dedicado ao almoço. A pessoa
ficava fora de alcance. Hoje, no restaurante ou no carro, estamos
sempre disponíveis para ouvir os problemas que nos trazem. E, em os
tendo ouvido, responsáveis por resolvê-los (e estressados).
Em resumo, está longe o dia em que morreremos de tédio. É mais
provável que morramos de stress.
O que fazer com tanto tempo livre
Nunca a humanidade teve tanta tecnologia para lhe facilitar a vida
e nunca teve tão pouco tempo livre.
Qualquer tempo que se libera é imediatamente preenchido por novas
ocupações. Lembro-me do anúncio de um debugger numa revista para
programadores. O tal programa permitiria que o trabalho fosse
terminado muito mais rápido, ficando o sujeito com tempo livre
para aproveitar a vida. E o fundo do anúncio mostrava um esquiador
descendo uma montanha coberta de neve.
Qualquer um sabe que, se o funcionário pode fazer o trabalho na
metade do tempo, o patrão lhe dará dois serviços para fazer naquele
mesmo tempo. Ou, no caso de um autônomo, ele sairá em busca de mais
serviço.
O fato de se fazerem 10 coisas por dia em lugar de passar o dia
todo ocupado com apenas uma implica num stress adicional:
administrar 10 coisas diferentes. Antigamente, eu começava um
serviço, levava algum tempo até pegar o jeito e depois era só
levar em frente. Agora eu tenho que pegar o jeito 10 vezes por
dia. Com tantas transições, termino o expediente com a vaga
impressão de que esqueci alguma coisa importante.
Antes dos computadores, esperava-se menos da apresentação dos
documentos. Eu escrevia um manual a lápis e o passava para uma
secretária que o batia à máquina. Ele me era devolvido para
conferência, eu indicava os erros, eram corrigidos, novo retorno,
até que eu decidia que estava bom o bastante (cheio de corretivo,
com letras espremidas).
Hoje espera-se que eu digite tudo - e tem que ficar perfeito, bem
diagramado, sem erros.
Antes, eu desenhava à mão e passava para um desenhista fazer no
poliéster com nanquim e régua T. O resultado final era mais ou
menos, cheio de manchas e sombras de fita adesiva (colar e cortar
eram termos literais).
Hoje, cada engenheiro tem que fazer seus próprios desenhos no
computador e entregar um serviço perfeito.
Antes, terminava-se um serviço e mandava-se tudo pelo correio para
o cliente. Tínhamos pelo menos 4 dias antes que voltasse a papelada
com comentários. Hoje, com a Internet, volta no mesmo dia, não
importando onde o cliente esteja.
Outra coisa que se perdeu foi a privacidade. Há poucos anos, quando
se saía para almoçar, o tempo era todo dedicado ao almoço. A pessoa
ficava fora de alcance. Hoje, no restaurante ou no carro, estamos
sempre disponíveis para ouvir os problemas que nos trazem. E, em os
tendo ouvido, responsáveis por resolvê-los (e estressados).
Em resumo, está longe o dia em que morreremos de tédio. É mais
provável que morramos de stress.
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Comentários
Hoje em dia, assim que você aprende alguma coisa, ela fica obsoleta e você tem que recomeçar o processo.
Chega um ponto em que você se cansa desse ciclo e fica para trás.
Fernando o Hans Selye sinalizou esse fenômeno como : Síndrome Geral de Adaptação, (SGA)
O homem moderno sofre estresse por estar sempre em alerta... Sempre tendo de se adaptar.
Esse processo é composto de três fases sucessivas: alerta, resistência e exaustão.
Na Fisiologia, compreende: dilatação do córtex da suprarenal, atrofia dos órgãos linfáticos e úlceras gastro-intestinais, além de perda de peso e outras alterações.
Contudo... Mesmo na adaptação: a probabilidade de adoecimento vai depender do como os indivíduos avaliam e enfrentam esses estímulos, bem como de sua vulnerabilidade orgânica.
É verdade. Atualmente o que se valoriza é a capacidade da pessoa de se adaptar aos ambientes.
[Fraternos]
Sim. Isso me lembrou uma roda de conversa em que eu estava... Discutiamos a importância de ser um profissional generalista ou o especialista em um tema específico ( doutor, phd)...
No final chegamos a conclusão que depende da área... Por exemplo... Se for para atender a área acadêmica melhor que seja um generalista. Se for para desenvolvimento de pesquisa, um especialista é mais adequado...
O problema é que em dado momento o generalisa acaba por ultrapassar o outro, pois este desenvolve habilidades para a resolução de problemas, o que normalmente o especialista não desenvolve.
[Fraternos]
A vida sempre foi um eterno aprendizado, só que antes o acesso a esse aprendizado era mais restrito.
Hoje, você tem que jogar fora e começar de novo, concorrendo de igual para igual com novatos que acabaram de chegar, cheios de disposição.
Ou você tem que reciclar o conhecimento agregando algo novo, que acho que é a mesma coisa do que você disse.
De um dia para o outro, você não é mais ninguém porque não há mais nada rodando Symbian.
Ainda lhe resta a experiência em criar aplicativos, mas você terá que concorrer com um bando de gente melhor que você nas novas plataformas.
Lembro de um cara que sabia tudo sobre madeira para dormente de trilhos de bonde.
Os bondes acabaram, os dormentes de ferrovias agora são de concreto.
O que ele faz com o conhecimento dele? Quem vai querer empregá-lo?
As tirinhas do Dilbert deitam e rolam com esse tipo de coisa.
E não raro tem salários mais altos do que aqueles que produzem.
Exatamente, por isso é necessário se reciclar e procurar sempre se capacitar em outras áreas promissoras.
Depois de uma certa idade, com a experiência de muitos recomeços, a coisa cansa.
Fato, uma hora isso cansa. Depende da empolgação individual no final.