A Verdadeira Razão da Vitória Europeia Contra os Índios

Bichos domésticos foram ‘arma secreta’ de europeus contra índios

POR REINALDO JOSÉ LOPES

Esqueça o Estado monárquico, as espadas e armaduras de aço, os canhões e outras armas turbinadas pela pólvora: o fator crucial para a vitória europeia contra os indígenas do Brasil e de outros lugares das Américas foi a presença de animais domesticados no Velho Mundo, enquanto eles quase não existiam por aqui. Esses bichos foram cruciais não só pelo seu uso direto, mas pelas doenças infecciosas que traziam. Entenda essa história no novo vídeo do canal do blog no YouTube.

Resumindo uma história comprida: a convivência de longo prazo entre os europeus e seus bichos domésticos levou ao surgimento de doenças infecciosas com tremendo potencial destruidor — como o sarampo, a varíola e a gripe — derivadas desses bichos. Os europeus tiveram tempo de desenvolver resistência natural a essas doenças, as quais, enquanto essa capacidade não evoluiu entre os indígenas. Muitos europeus pegavam essas doenças quando eram pequenos e, se não morriam, ficavam imunes a elas pelo resto da vida.

O resultado, quando houve o contato, é o que costumo chamar de cenário de “Walking Dead”: mortandade em massa de gente de todas as idades — homens, mulheres e crianças –, com o resultado de uma profunda desarticulação das sociedades indígenas, às vezes antes mesmo do contado direto com os invasores.

Esse foi o caso do Império Inca, aliás — antes mesmo da chegada dos soldados espanhóis liderados por Francisco Pizarro, uma epidemia de varíola vinda dos domínios espanhóis do Panamá já estava dizimando os habitantes do império e desencadeando uma guerra civil.

É por isso que uma parte considerável do genocídio indígena foi não intencional — basicamente porque os europeus, nem ninguém daquela época, eram capazes de entender processos básicos de epidemiologia e transmissão de doenças, não sabiam que havia bactérias e vírus no mundo etc. Claro que eles pioraram muito a situação ao reunir muitos indígenas em espaços confinados nas missões religiosas e escravizando esses povos.

E por que os indígenas quase não chegaram a domesticar animais por aqui? Porque quase todos os mamíferos de grande porte e com estrutura social que favorecia a domesticação desapareceram nas Américas com o fim da Era do Gelo.

O vídeo explica tudo isso e muito mais — assim como meu novo livro, “1499: O Brasil Antes de Cabral”.

http://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2017/10/18/bichos-domesticos-foram-arma-secreta-de-europeus-contra-indios/

Comentários

  • Esta tese é do Jared Diamond, em Guerra, Germes e Aço.
  • editado October 2017
    A Europa medieval tinha níveis de higiene bem reduzidos, tipo lixo e dejetos despejados nas ruas e ratos à vontade.

    Por causa disto e da promiscuidade, com famílias amontoadas em pequenos espaços abafados, foram vítimas de várias epidemias devastadoras, como a Peste Negra, que, em alguns casos, reduziram a população a menos da metade.

    Os europeus que colonizaram o Novo Mundo eram sobreviventes de uma seleção darwinista, enquanto que os nativos estavam completamente despreparados.
  • Acauan disse: Esta tese é do Jared Diamond, em Guerra, Germes e Aço.

    Eu me lembro de ter lido um post bem longo no RV antigo que trazia trechos do livro. A capacidade racional desse cara é incrível, os raciocínios que ele segue para formular a tese são brilhantes.
  • NadaSei disse:

    Eu me lembro de ter lido um post bem longo no RV antigo que trazia trechos do livro. A capacidade racional desse cara é incrível, os raciocínios que ele segue para formular a tese são brilhantes.

    Diamond acumula tantas e tão variadas evidências quantitativas para demonstrar suas teses que faz outros cientistas renomados na área parecerem amadores.
    É um dos raros herdeiros dos exploradores cientistas, gente que se internava nos confins do mundo e ficava lá até aprender e descobrir tudo que havia para ser descoberto.
    As notações dele sobre produções agrícolas e como a domesticação de espécies vegetais definiu os destinos da Humanidade é simplesmente magnífica.
  • editado October 2017
    Mas tudo tem seus poréns.
    Ao comentar a conquista espanhola na América, Diamond joga praticamente todo mérito da vitória em um único fator: cavalos. Espanhóis tinham cavalos e os Incas e Astecas não.
    Só que a disparidade de número entre a meia dúzia de gatos pingados de conquistadores espanhóis e os exércitos de milhares de nativos não poderia ser resolvida com a meia dúzia de cavalos que a meia dúzia de gatos pingados montavam.
    Ninguém vai negar que um cavaleiro armado e treinado pode eliminar muitos inimigos a pé, vários, talvez dez, quem sabe algumas dezenas. Mas difícil acreditar que um espanhol + um cavalo matasse centenas ou milhares de guerreiros inimigos, que mesmo a pé tinham a opção de lançar pedras, lanças, flechas ou simplesmente se jogar em turba contra os cavalos e derrubá-los.

    Diamond parece resistente à ideia amplamente aceita de que foram as estratégias espanholas e a estupidez estratégica dos Incas e Astecas que levaram estes dois impérios ao chão no primeiro pontapé.
     
  • Parece que os incas eram mais estupidos ainda. 
  • Acauan escreveu:
    Diamond parece resistente à ideia amplamente aceita de que foram as estratégias espanholas e a estupidez estratégica dos Incas e Astecas que levaram estes dois impérios ao chão no primeiro pontapé.
    O império Inca era formado por povos conquistados, que viram nos espanhóis uma chance de se libertar e lutaram ao lado deles.
     
  • O império Inca era formado por povos conquistados, que viram nos espanhóis uma chance de se libertar e lutaram ao lado deles.

    - Isso que eu ia dizer, os Incas eram dominadores cruéis, foi fácil para os espanhóis se cooptarem seus inimigos, que eram muitos.

    Abraços,
     
  • ENCOSTO disse: Parece que os incas eram mais estupidos ainda. 

    Os Incas tavam sempre arrancando o coração pulsante dos inimigos, mas sabe-se-lá porque, o imperador resolveu receber Pizarro - o Pizarro... - de braços abertos.
  • editado October 2017
    Os Astecas eram tão estupidos estrategicamente que não enganjavam. Era o contrário da doutrina overwhelming power Americana!
    Procuravam capturar vivo o inimigo como se a guerra fosse um "joguinho".
    Claro que foi isso que causou nessa fase inicial a derrota no frigir dos ovos.
    Aparentemente no tempo do ataque a Troia lutavam assim, à la duelos individuais.
    Idem no Japão – só se salvaram da invasão mongol graças à tempestade aquela!

    M/Tese é que o Montezuma tava farto daquela loucura, daqueles sacerdotes. Queria acabar com aquilo mas era refém do establishment sacerdotal.
    Sobre os Incas não conheço bem o que se sucedeu...
  • editado October 2017
    Gorducho escreveu:
    Aparentemente no tempo do ataque a Troia lutavam assim, à la duelos individuais.
    As guerras eram assim em toda parte: indivíduos contra indivíduos, cada um querendo se destacar como um herói para depois ser lembrado em prosa e verso.

    Foi só mais tarde que surgiu o conceito do soldado anônimo e sem iniciativa própria, cumprindo cegamente as ordens de um chefe.
  • Sobre os Incas não conheço bem o que se sucedeu...

    Basicamente o Imperador se deixou capturar por Pizarro, que o manteve como refém e com esta vantagem fez o Império ruir como uma sequência de dominós.
  • editado October 2017
    O ambiente urbano até favoreceria os Astecas. Arcabuzes & canhões ficam inefetivos uma vez que se pode atacar desde os prédios em volta da tropa (claro que frente-a-frente pelos 2 lados da rua não dá...) e eles combatendo com armaduras depois de derrubados estavam vulneráveis.
    O Mardônio foi abatido c/uma pedrada – nada mui "romântico", "samurai", mas efetivo.
    O Abimeleq tb.
    Bloquear a saída deles daquele pavilhão onde tinham se entocado, como Cæsar fez em Alesia...
    Até fogo que colocassem no alojamento deles forçando eles a saírem pra bretes...
    O Litold e o Gilbert de Tournai conseguiram formar a "cabeça-de-ponte" na tomada de Jerusalém graças à fumaça & fogo que se estabeleceu por acaso nas trincheiras de palha e algodão (sacos suponho...) que a guarnição usava (por que nunca entendi...) e forçou a guarnição abandonar aquele setor.
    É que os caras eram zilch de estratégia só preocupados em capturar prisioneiros dentre as tribos ainda mais indefesas praqueles sacrifícios. Era como um joguinho pra eles, não tinham noção militar.
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