Estamos caminhando para a Era do Paywall?
A piadinha do “jornalismo de qualidade exige recursos” está perdendo a graça. O que antes era uma exceção está aos poucos caminhando para se tornar a regra, com cada vez mais veículos de mídia se convencendo de que não é viável oferecer conteúdo original e/ou jornalístico de forma gratuita. Assim, o antipático paywall está se tornando cada vez mais presente.
Não é segredo para ninguém que nos últimos tempos as agências de mídia e notícias estão sangrando loucamente, principalmente porque o público rompeu a noção de séculos de que a informação tem um preço. Manter uma redação e profissionais não é barato e é imperativo que o leitor pague para manter tais custos. Sempre foi assim com jornais, revistas, rádio, TV e por consequência, deveria ser assim com a internet. Mas a princípio não foi.
Em geral os veículos de mídia foram arrastado para a web a força e nunca gostaram de oferecer seus conteúdos livremente, mas por pelo menos duas décadas esse foi o formato e muitas editoras se resignaram a ganhar dinheiro de outras formas, com anúncios e parcerias. No geral apenas indexadores como o Google fazem dinheiro com notícias, algo que não agrada os grandes barões da mídia.
Só que de 2011 para cá as coisas começaram a mudar: quando o The Wall Street Journal anunciou que ia fechar o acesso ao jornal digital e instituir um sistema de assinatura mensal, muita gente correu para o Google para buscar o significado do termo “paywall” utilizado na ocasião. A desculpa dada foi simples, a redação jogou com o prestígio do jornal impresso e credibilidade conquistada durante os anos para justificar o passo dado, de que o leitor teria que tirar o escorpião do bolso se quisesse acessar artigos que o jornal considerava de primeira qualidade.
O fato é que com o tempo, foi comprovado de realmente boa parte do público está disposta a pagar para ler artigos (até mesmo no Brasil): de lá para cá vários outros sites aderiram ao paywall e fecharam o acesso gratuito: Financial Times, The Atlantic, The New Yorker, The Washington Post e mais recentemente a bíblia geek, a Wired também abraçou o modelo de assinaturas: desde 1º de fevereiro visitantes podem acessar apenas cinco artigos especiais por mês, conforme o plano do atual editor-chefe Nick Thompson.
Depois de seis anos no The New Yorker, ao assumir a cadeira na Wired uma de suas primeiras atitudes foi instituir a implementação do paywall, sob seu mantra de que “o modelo torna o conteúdo melhor”. De certa forma ele tem razão, ao instituir um modelo de assinatura o site se compromete a manter ou elevar o nível de suas publicações e conteúdo original, de forma a justificar o investimento do leitor que se dignou a pagar.
No Brasil o movimento é semelhante: vários veículos, da Folha ao Estado de S. Paulo, passando pel’O Globo e Valor Econômico, entre outros aderiram totalmente ao modelo de assinatura e limitação do acesso a visitantes não-pagantes, se baseando no pretexto de que é preciso que o leitor pague se deseja consumir conteúdo. A diferença é que tal modelo que seria um convite ao desastre 15 anos atrás é viável hoje em dia, tanto que Apple e Facebook flexibilizaram suas plataformas de notícias de modo a dar suporte ao paywall.
Claro que tal estratégia gera antipatia no público, e alguns veículos procuram outras formas de se manterem: alguns oferecem campanhas de patronato, como nós através do Padrim; outros monetizam seus conteúdos através de vídeos no YouTube (que anda fechando a torneira) ou através de anúncios de empresas parceiras em posts patrocinados ou podcasts; outros criam versões sem anúncios de seus sites que são acessados através de assinaturas, sem bloquear o conteúdo ou até mesmo apelam para mineradores de criptomoedas, capturando (de forma clara ou não) o poder de processamento dos computadores de seus visitantes.
De qualquer forma, há quem esteja disposto a pagar de uma forma ou de outra e há aqueles que defendem a falácia de que “a informação quer ser livre”, que é só uma parte da citação de Stewart Brand na 1ª Conferência de Hackers realizada em 1984, tirada de uma conversa com Steve Wozniak:
“De um lado a informação quer ser cara, porque é valiosa demais (…); a informação certa no lugar certo pode mudar a sua vida. Por outro lado, porém a informação quer ser livre/gratuita, porque o custo de publica-la está caindo dia após dia. Então você tem essas duas forças em conflito.”
Trinta e quatro anos depois o conflito permanece: a informação é valiosa demais para ser gratuita, e ao mesmo tempo luta para chegar ao maior número de pessoas e não pode ser cara demais. O segredo para o sucesso do paywall e de outros métodos de monetização como modelo de negócios está em convencer o leitor de que está investindo em conteúdo de qualidade e não jogando dinheiro fora, ao mesmo tempo em que tenta embutir a ideia de que ele está colaborando com a manutenção de seus veículos favoritos. Porém, só veremos os resultados dessa experiência num futuro próximo.
http://meiobit.com/381467/era-do-paywall-numero-veiculos-de-midia-que-cobram-pelo-acesso-a-conteudo-original-ou-jornalistico-esta-aumentando-wired-o-mais-recente-a-aderir/
Não é segredo para ninguém que nos últimos tempos as agências de mídia e notícias estão sangrando loucamente, principalmente porque o público rompeu a noção de séculos de que a informação tem um preço. Manter uma redação e profissionais não é barato e é imperativo que o leitor pague para manter tais custos. Sempre foi assim com jornais, revistas, rádio, TV e por consequência, deveria ser assim com a internet. Mas a princípio não foi.
Em geral os veículos de mídia foram arrastado para a web a força e nunca gostaram de oferecer seus conteúdos livremente, mas por pelo menos duas décadas esse foi o formato e muitas editoras se resignaram a ganhar dinheiro de outras formas, com anúncios e parcerias. No geral apenas indexadores como o Google fazem dinheiro com notícias, algo que não agrada os grandes barões da mídia.
Só que de 2011 para cá as coisas começaram a mudar: quando o The Wall Street Journal anunciou que ia fechar o acesso ao jornal digital e instituir um sistema de assinatura mensal, muita gente correu para o Google para buscar o significado do termo “paywall” utilizado na ocasião. A desculpa dada foi simples, a redação jogou com o prestígio do jornal impresso e credibilidade conquistada durante os anos para justificar o passo dado, de que o leitor teria que tirar o escorpião do bolso se quisesse acessar artigos que o jornal considerava de primeira qualidade.
O fato é que com o tempo, foi comprovado de realmente boa parte do público está disposta a pagar para ler artigos (até mesmo no Brasil): de lá para cá vários outros sites aderiram ao paywall e fecharam o acesso gratuito: Financial Times, The Atlantic, The New Yorker, The Washington Post e mais recentemente a bíblia geek, a Wired também abraçou o modelo de assinaturas: desde 1º de fevereiro visitantes podem acessar apenas cinco artigos especiais por mês, conforme o plano do atual editor-chefe Nick Thompson.
Depois de seis anos no The New Yorker, ao assumir a cadeira na Wired uma de suas primeiras atitudes foi instituir a implementação do paywall, sob seu mantra de que “o modelo torna o conteúdo melhor”. De certa forma ele tem razão, ao instituir um modelo de assinatura o site se compromete a manter ou elevar o nível de suas publicações e conteúdo original, de forma a justificar o investimento do leitor que se dignou a pagar.
No Brasil o movimento é semelhante: vários veículos, da Folha ao Estado de S. Paulo, passando pel’O Globo e Valor Econômico, entre outros aderiram totalmente ao modelo de assinatura e limitação do acesso a visitantes não-pagantes, se baseando no pretexto de que é preciso que o leitor pague se deseja consumir conteúdo. A diferença é que tal modelo que seria um convite ao desastre 15 anos atrás é viável hoje em dia, tanto que Apple e Facebook flexibilizaram suas plataformas de notícias de modo a dar suporte ao paywall.
Claro que tal estratégia gera antipatia no público, e alguns veículos procuram outras formas de se manterem: alguns oferecem campanhas de patronato, como nós através do Padrim; outros monetizam seus conteúdos através de vídeos no YouTube (que anda fechando a torneira) ou através de anúncios de empresas parceiras em posts patrocinados ou podcasts; outros criam versões sem anúncios de seus sites que são acessados através de assinaturas, sem bloquear o conteúdo ou até mesmo apelam para mineradores de criptomoedas, capturando (de forma clara ou não) o poder de processamento dos computadores de seus visitantes.
De qualquer forma, há quem esteja disposto a pagar de uma forma ou de outra e há aqueles que defendem a falácia de que “a informação quer ser livre”, que é só uma parte da citação de Stewart Brand na 1ª Conferência de Hackers realizada em 1984, tirada de uma conversa com Steve Wozniak:
“De um lado a informação quer ser cara, porque é valiosa demais (…); a informação certa no lugar certo pode mudar a sua vida. Por outro lado, porém a informação quer ser livre/gratuita, porque o custo de publica-la está caindo dia após dia. Então você tem essas duas forças em conflito.”
Trinta e quatro anos depois o conflito permanece: a informação é valiosa demais para ser gratuita, e ao mesmo tempo luta para chegar ao maior número de pessoas e não pode ser cara demais. O segredo para o sucesso do paywall e de outros métodos de monetização como modelo de negócios está em convencer o leitor de que está investindo em conteúdo de qualidade e não jogando dinheiro fora, ao mesmo tempo em que tenta embutir a ideia de que ele está colaborando com a manutenção de seus veículos favoritos. Porém, só veremos os resultados dessa experiência num futuro próximo.
http://meiobit.com/381467/era-do-paywall-numero-veiculos-de-midia-que-cobram-pelo-acesso-a-conteudo-original-ou-jornalistico-esta-aumentando-wired-o-mais-recente-a-aderir/
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Comentários
O ideal é juntar as duas coisas: profissionais especializados e bem equipados e pessoas comuns que estavam lá na hora por acaso e filmaram tudo.
Mas, por causa do modelo de negócio Freemium, essa de haver necessidade da existência de jornalistas profissionais bem equipados não requer Paywall. O Antagonista tem jornalistas profissionais bem equipados e os leitores não pagam um centavo pela informação. O Jornal Nacional tem jornalistas profissionais bem equipados e os telespectadores não pagam um centavo pela informação. Finalmente, o UOL e a Veja ainda têm uma blogosfera variada e informativa sem cobrar um centavo dos leitores.
Mas essas empresas maiores, salvo o Antagonista se não me engano, não recebem a tal verba dos governos? Será que sobreviveriam sem ela?
Antes do petista André Petry entrar na diretoria da Veja, a revista chegou a ver o PT cancelar publicidade do governo federal e de empresas estatais. Se a memória não me falha, foi o Rodrigo Constantino, um ex-colunista da revista, que disse isso.