Precisamos Falar Sobre Desapropriação Cultural – ou: Índio quer apito, não Jeová

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Uma vez eu estava lendo um livro sobre mitologia grega. Não lembro o título. Contava em detalhes os mitos principais, mas algo não estava certo, o estilo do texto, algo não batia. Logo começaram a aparecer trechos tratando Zeus como uma Entidade diferente, como Deus-Pai de todos, basicamente negando o politeísmo. Mais adiante falava de heróis que morriam mas por terem sido bons reencarnariam em famílias felizes. Na parte sobre Prometheus foi dito com todas as letras que era seu KARMA ter o fígado devorado pelo abutre.

Basicamente era um livro de mitologia onde a autora ou mais provavelmente a tradutora enfiou uma mensagem subversiva de filosofia espírita.

Na época eu achei divertido, ridículo mas inofensivo, não há mais adoradores dos deuses antigos pra se ofender, e nenhum estudioso sério levaria em consideração o tal livro, mas com o tempo percebi que essa prática de enfiar a própria agenda político/ideológica na transcrição de mitos de outras culturas é bem comum.

Isso acontece muito com a mitologia indígena brasileira. Todo mundo aprendeu na escola que Tupã é o Deus Maior dos índios (mais sobre isso adiante), mas e a mitologia em si? Segundo a Wikipedia (e se está na Wikipédia é verdade) o mito da criação Guarani é mais ou menos assim:

“A figura primária na maioria das lendas guaranis da criação é Iamandu (ou Nhanderuvuçu ou Tupã), o Deus trovão e realizador de toda a criação. Com a ajuda da deusa lua Jaci (ou Araci), Tupã desceu à Terra num lugar descrito como um monte na região do Areguá, no Paraguai, e, deste local, criou tudo sobre a face da Terra, incluindo o oceano, florestas e animais. Também as estrelas foram colocadas no céu nesse momento.

Tupã, então, criou a humanidade (de acordo com a maioria dos mitos guaranis, eles foram, naturalmente, a primeira raça criada, com todas as outras civilizações nascidas deles) em uma cerimônia elaborada, formando estátuas de argila do homem e da mulher com uma mistura de vários elementos da natureza. Depois de soprar vida nas formas humanas, deixou-os com os espíritos do bem e do mal e partiu.”

Soa familiar? Demais, não? É quase como se o mito da criação bíblico fosse a Verdade, e por isso todos os outros derivassem dele. Em verdade isso seria uma evidência científica BEM interessante, infelizmente os mitos da criação são imensamente variados. Se esse mito Guarani fosse verdadeiro (não é) no máximo seria uma coincidência.

Mas calma que piora. Está rolando pelas interwebs um relato que teria sido ditado por um cacique dos índios guaranis Mbyás. vejam que pérola:

“NO PRINCÍPIO dos tempos, a Terra era habitada por criaturas abomináveis. Eram os “Pamba’e Djaguá” (Feras Extraordinárias). “Nhanderu ete”, o deus supremo do universo, decidiu eliminar os “Pamba’e Djaguá” lançando sobre a terra uma estrela incandescente, a “Djatchir Tata’i guatchú”.
Tidos como criaturas do mal, os “Pambá é Djaguá”, que a civilização ocidental chama de “Dinossauros” (“Lagartos Terríveis” em grego), foram mortos pelo terrível calor provocado pelo cometa. Sobre as cinzas deste mundo, “Nhanderú etê”decidiu repovoá-lo com um novo ser, o “Homem”.
Em guarani, “Nhanderú etê” significa “Deus Verdadeiro”. É o Deus de forma humana cujos olhos refletem a infinidade das cores. Onde aparece, reflete luz. Vaga pelo cosmos num veículo voador chamado Bairý”.

Acuma? Agora a tradição oral indígena preservou até a lembrança do Meteoro de Chicxulub? 65 milhões de anos atrás os mamíferos mais evoluídos eram parecidos com este camaradinha aqui:

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Será possível que a Religião Verdadeira seja a dos índios brasileiros, e que tragam em sua história fatos científicos só recentemente descobertos, e ao mesmo tempo corroborem o monoteísmo bíblico? Ou será mais provável que essas histórias tenham sido deturpadas e contaminadas por gente interessada em usar os índios pra vender suas próprias histórias da carochinha?

Comentários

  • Uma olhada rápida na Wikpedia só mostra fontes recentes, e nenhuma referenciando os mitos da criação em si. Nessa hora eu uso um truque bem sujo: Abandono os sites da web (qualquer idiota escreve o que quer em um blog) e vou atrás do Google Books, com um acervo de milhões de livros digitalizados.

    No google normal, 26 mil referências a NHANDERU, todas recentes, todas recontando a mesma história. Já no Google Books, em livros publicados no Século XX o termo aparece… 15 vezes. Nenhuma delas com significado de Deus. Na Third World Week, de 1990 Nhanderu é mencionado no trecho:

    “Tribal chiefs attribute the suicides to evil witchcraft and to the fact that there are no longer any Guarani religious leaders, or nhanderu.”

    Isso mesmo, Nhanderu significava líder religioso, não “Deus Verdadeiro”.

    Já pesquisando em livros do Século XIX, simplesmente não há nenhuma referência a Nhanderu, Nhanceduete, Nhanderuvuçu ou Iamandu. Curioso, não?

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    Onde estão esses deuses? Neil Gaiman em Deuses Americanos mostrou que os deuses morrem quando seus fiéis desaparecem, mas alguns se adaptam, e como sempre Gaiman está certo. Couto de Magalhães descreveu exatamente a mesma coisa 144 anos atrás, no livro Ensaio de anthropologia: região e raças selvagens do Brasil:

    “Todos nós brasileiros, criados nas fazendas do interior das províncias, sobretudo nas vizinhanças dos pequenos arraiais compostos de populações mestiças de índios, fomos, desde a infância, embalados no meio das tradições da religião dos selvagens.

    Tempo houve na vida de todos nós, em que o Deus dos cristãos foi tão venerado e temido quanto os deuses selvagens. Se nossas mães nos adormeciam muitas vezes com cânticos que recordavam a infância da Virgem Maria, ou o nascimento de cristo, nossas amas de leite nos contavam as histórias do Saci Pererê, narravam-nos como um certo menino havia sido desencaminhado nos bosques pelo Curupira; o como um velho tal, que caçava nos domingos, sem ouvir missa, fora impelido pelo Anhanga a precipitar-se em um abismo; ou como uma lavadeira de roupa tinha avistado no fundo dos poços o Unutara, e tantas outras histórias, que não são senão os fragmentos da teogonia aborígene, que desde pequenos nos foi ensinada, e na qual como disse, tempo houve em que todos nós acreditávamos.”

    E continua:

    “As crenças e superstições indígenas passaram todas para o nosso povo, e os deuses dos Tupis vivem ainda em nossos campos vida tão real como a que lhes davam os aborígenes.”

    Não que faltasse vontade de matar esses deuses.

    Com a chegada dos Jesuítas no Século XVI, a prioridade era catequizar os índios, salvar suas almas e adestrá-los para trabalhar. A estratégia usada foi adaptar a teogonia indígena, usando elementos conhecidos para vender o peixe cristão. E aí surgiu Tupã, que é basicamente o termo que os Tupis usavam para designar… um raio.

    Couto de Magalhães não fala isso sentado em um gabinete confortável com ar-condicionado, até porque ele publicou o livro em questão em 1874 e Willis Carrier só iria inventar o aparelho em questão em 1902, e devia chover pelo buraco na parede do Magalhães.

    Não senhor, ele era um Cientista de primeira. Militar com treinamento em Londres, matemático e antropólogo, que ao invés de ir chupar pirocas em um banheiro de rodoviária, passou mais de dez anos viajando pelo Brasil estudando índios. Ele conheceu e conviveu mais de 30 tribos de 10 nações, muitas delas tendo seu primeiro contato com o homem-branco. Era fluente em Tupi e vários dialetos.

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  • editado March 2018
    Couto de Magalhães era contra escravidão e a noção de que raças são superiores umas às outras, pregava a miscigenação como forma de aproveitar o melhor que cada grupo étnico tinha a oferecer, e dizia que a moralidade da família indígena era a mesma de uma família cristã. Ele chega a apontar erros na tradução bíblica, explicando que as evidências geológicas de uma Terra com milhões de anos demonstram que os 5000 anos de idade da Criação segundo o Gênesis estão errados.

    Na página 130 do mesmo livro ele diz com todas as letras:

    “Já observei, que me não inspira confiança o que a este respeito escreveram os jesuítas.”

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    No colégio aprendemos que Tupã é a divindade indígena, mas lendo o livro do cientista vejo que a mentira foi mais além. Tupã não era uma divindade menor que foi promovida. Vejam o que ele diz na pág 131 do mesmo livro:

    “Nunca encontrei entre os verdadeiros selvagens esta palavra Tupã para exprimir Deus: Tupã significa raio.

    O s jesuítas no entretanto a nacionalizaram na língua geral com o sentido de Deus. De onde a tiraram?

    Quiseram pela imagem do raio dar uma idéia do poder do Criador? Ou Tupã é uma corruptela da palavra Tuba -que significa pai? Não sei. O que sei é, que nunca encontrei tal Deus entre os índios; nunca o encontrei nas tradições do povo do Brasil; e portanto eu o excluo da teogonia aborígene si et in qnantum.”

    A figura de Tupã basicamente existe nas tribos catequizadas, mas não nas selvagens, e Couto de Magalhães vai além. Ele explica que a religião dos índios é por demais básica, basicamente animista, eles não chegaram ao ponto de monoteizar seus deuses, ainda são proto-entidades, por isso não há na linguagem deles um termo para Deus no sentido de entidade máxima acima de todas as coisas, como nós temos: David Bowie.

    Outra coisa que deve ter deixado os jesuítas putos nas batinas: Todos os deuses indígenas são mulheres, ou mais precisamente, elementos femininos.

    “A teogonia dos índios assenta-se sobre esta idéia capital: Todas as coisas criadas tem sua mãe. É de notar-se que eles não empreguem a palavra pai.

    (…)

    O sistema geral da teogonia Tupi, é este:

    Existem três deuses superiores: O Sol, que é o criador de todos os viventes; a Lua, que é a criadora de todos os vegetais, e Perudd ou Rudd, o deus do amor, encarregado de promover a reprodução dos seres criados. (…) Cada um deles é servido por tantos outros deses quanto eram os gêneros admitidos pelos índios: Estes por sua vez eram servidos por outros tantos seres, quanto eram as espécies que eles reconheciam: e assim por diante até que cada lago ou ruio ou espécie animal ou vegetal, tem seu gênio protetor, sua Mãe.”

    Os índios não davam nomes específicos e abstratos a seus deuses nessa época. O Sol, mãe dos seres vivos, era chamado de Guaracy, Guara é “vivente”, cy é “mãe”. Lua, mãe dos vegetais, é Jacy”. Já é vegetal. cy é mãe.

    Outra característica: Os índios não tinham o conceito de demônios. Não havia divindades maléficas ou vingativas, ameaçadoras. Ou melhor, não havia nenhuma entidade cujo objetivo fosse causar o mau gratuitamente.

    Havia, sim, criaturas sobrenaturais como o Caipora, um homem muito peludo e musculoso, montando um porco do mato e que sua simples visão era suficiente para levar um homem à loucura. Aparentemente malvado, certo? Só que segundo a lenda o Caipora só aparece pra homens que saem para caçar e matam uma família inteira de animais, sem poupar os filhotes ou mães amamentando.

    Isso é lindo, mesmo ainda na Idade da Pedra a sociedade dos caras já se estruturou para criar suas lendas com mensagens morais, algum índio mais esperto percebeu que matar todos os animais significava que não teriam o que caçar no ano seguinte, e apelou para uma justificativa sobrenatural para que quem não conseguisse entender o motivo real, respeitasse a regra. Literalmente todas as sociedades humanas passaram por isso.

    Hoje essas lendas estão se perdendo, praticamente todas as tribos foram catequizadas, defendem com unhas e dentes uma teologia que lhes foi empurrada goela abaixo por um monte de gente carregando cruzes, varíola e más-intenções.

    Eu não defendo que o índio deva ser mantido na idade da pedra, só quero que sua História seja preservada. O que é inaceitável é ver muitos, mas muitos sites, mesmo os ditos sérios repetindo as bobagens regurgitadas desde o tempo dos jesuítas, e adaptando.

    Exterminar culturas não é uma coisa muito legal, mas apagá-las da história é imperdoável. Há um processo revisionista onde as culturas antigas estão sendo adaptadas pra se encaixar no discurso teológico moderno, legitimando assim o cristianismo protestante. E se você acha que estou exagerando, veja com que imagem termina um dos textos citados:

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  • Eu gostaria de dizer que não é uma batalha perdida, mas em seu livro Couto de Magalhães lamenta que os jovens talentos abandonaram as pesquisas com os índios, se baseando apenas nos livros de segunda e terceira mão, escritos por gente que nunca os estudou de perto, cheios de mentiras inverdades e informações erradas. Mesmo assim, deixo a mensagem de esperança, redigida 144 anos atrás por um Cientista que amava os índios e amava a Ciência:

    “Mas todas essas composições hão de passar. É na natureza estudada por observação própria que se inspira a grande arte, e nossos selvagens ministram soberbos tipos.

    Oxalá renasça o gosto por estudos, que em tão má hora, foram cobertos de desprestígio por quem já não tinha força para fazê-los.”

    https://contraditorium.com/2018/03/18/precisamos-falar-sobre-desapropriacao-cultural-ou-indio-quer-apito-nao-jeova/
  • editado March 2018
    Tupã não era um deus, era um ato de um deus. Ou seja, o raio (Tupã) era o efeito visível da ação de um deus.
    Monã
    O Deus supremo dos índios das nações falantes de idiomas da família Tupi-Guarani é conhecido como Monã, que é o criador do mundo, do céu e da terra, dos seres vivos, ou seja, de tudo que existe. A crença em Deus é semelhante à crença cristã, portanto Monã é um Deus semelhante ao cristão, com todos os seus poderes.

    A representação de Monã é como algo infinito. Para os índios das nações falantes das línguas tupi-guaranis não há noção de paraíso, nem céu, nem inferno como nas crenças cristãs e sim a "terra sem males" ou Ybymarã-e'yma, local para onde todos irão e que eles perseguem como uma espécie de paraíso.
    https://pt.wikipedia.org/wiki/Monã
    Tupã
    Os indígenas rezam a Nhanderuvuçu e seu mensageiro Tupã. Tupã não era exatamente um deus, mas sim uma manifestação de um deus na forma do som do trovão[1]. É importante destacar esta confusão feita pelos jesuítas. Nhanderuete, "o liberador da palavra original", segundo a tradição mbyá, que é um dialeto da língua guarani, do tronco lingüístico tupi, seria algo mais próximo do que os catequizadores imaginavam.

    Câmara Cascudo afirma que Tupã é um "trabalho de adaptação da catequese". Na verdade o conceito "Tupã" já existia: não como divindade, mas como conotativo para o som do trovão (Tu-pá, Tu-pã ou Tu-pana, golpe/baque estrondante), portanto, não passava de um efeito, cuja causa o índio desconhecia e, por isso mesmo, temia. Osvaldo Orico é da opinião de que os indígenas tinham noção da existência de uma Força, de um Deus superior a todos. Assim ele diz: "A despeito da singela ideia religiosa que os caracterizava, tinha noção de Ente Supremo, cuja voz se fazia ouvir nas tempestades – Tupã-cinunga, ou "o trovão", cujo reflexo luminoso era Tupãberaba, ou relâmpago. Os índios acreditavam ser o deus da criação, o deus da luz. Sua morada seria o sol.

    Para os indígenas, antes dos jesuítas os catequizarem, Tupã representava um ato divino, era o sopro, a vida, e o homem a flauta em pé, que ganha a vida com o fluxo que por ele passa.
    https://pt.wikipedia.org/wiki/Tupã
     
  • editado April 2018
    História de um ‘ex-pajé’ mostra o avanço de pastores evangélicos sobre índios

    Retratada em filme, ela ilustra como a intolerância religiosa está ameaçando os nativos brasileiros

    O 'ex-pajé' Perpera Suruí, do território indígena dos paiter suruís, entre Rondônia e Mato Grosso, recusa-se a dormir com a luz desligada: ataque de espíritos e perseguição de pastores evangélicos assombram antiga autoridade religiosa

    É noite no Território Indígena Paiter Suruí, na fronteira de Rondônia com Mato Grosso, e Perpera Suruí se recusa a descansar enquanto a lâmpada queimada de seu quarto não for trocada.

    — Eu não consigo dormir no escuro — explica para a família. — Os espíritos da floresta me batem a noite toda, estão bravos por causa da igreja. Por isso tem que arrumar (a lâmpada) agora.

    Nos últimos 40 anos, pastores evangélicos chegaram ao território e converteram a maioria dos 1.500 indígenas locais. O avanço do rebanho cristão provocou a decadência de Perpera, até então a maior autoridade religiosa dos paiter suruís. A cruzada contra rituais tradicionais, como a adoração a espíritos, jogou-o no limbo — deixou de receber remédios, bolsa de assistência social e carona para a cidade. Para se proteger, Perpera agora apresenta-se como “ex-pajé”.

    — Os espíritos apareciam para nós, diziam que iam arrumar peixes e os entregavam em nossas mãos — recorda Perpera no documentário “Ex-pajé”, que estreia nos cinemas nesta quinta-feira. — Depois que o pastor disse que pajé é coisa do diabo, ninguém mais falou comigo. Viraram o rosto para mim. Isso só acabou quando eu entrei na igreja.

    Para especialistas, a conversão religiosa dos paiter suruís, que é reproduzida em dezenas de aldeias na Amazônia, é comparável à imposta pelos portugueses ao chegar ao Brasil no século XVI. Em ambos casos, os povos nativos foram severamente acometidos por doenças trazidas do Velho Mundo, como sarampo, gripe e varíola. À época da colonização, a resistência aos europeus resultou em guerras que se arrastaram por décadas. Agora, as populações hesitantes à chegada do homem branco vivem com o temor de perda de programas que oferecem cesta básica e da invasão de seu território por atividades econômicas.

    Perpera ainda se preparava para ser pajé, em 1969, quando seu território, habitado por cerca de 800 indígenas, foi visitado pela primeira vez por cristãos. Metade da população local morreu nos dois anos seguintes em decorrência de enfermidades desconhecidas por aqueles povos. Os remédios foram entregues por pastores, que creditaram a catástrofe ao fato de que aquelas comunidades viviam em pecado, já que não cultuavam Jesus Cristo.

    Diretor e roteirista de “Ex-pajé”, Luiz Bolognesi relata como a autoridade paiter suruí abandonou práticas como o nudismo em troca de uma camisa de manga comprida e gravata, seu uniforme como zelador de um templo.

    — A população não dá comida para os pajés se eles tocarem flautas, que são usadas desde o século XVI para chamar os espíritos da floresta responsáveis pela proteção da aldeia — conta o cineasta. — Seus adereços religiosos e a rede em que dormiam foram queimados. A igreja também condenou a nudez, considerando-a uma ofensa a Jesus. Colares típicos da cultura local só podem ser usados em festas. A chicha, que é uma bebida dos religiosos, e as canções também não são mais aceitas.
    https://oglobo.globo.com/sociedade/historia-de-um-ex-paje-mostra-avanco-de-pastores-evangelicos-sobre-indios-22620415
  • É isso que prova que a fé cristã é imprestável para fazer pessoas melhores... E a verdade nisso tudo é que as superstições cristãs em nada são melhores do que as superstições indígenas.
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