A Lei de Say

editado July 2018 em Religião é veneno
A verdadeira Lei de Say - e não a distorção keynesiana
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"Keynes . . . além de não ter entendido, deturpou a Lei de Say. . . . Este é o legado mais duradouro de Keynes, um legado que deformou permanentemente toda a teoria econômica."— Steven Kates[1]   914254a3937e4cec8ac8277896196159.jpg

Enquanto pesquisava material para a elaboração do meu livro The Story of Modern Economics [A História da Moderna Ciência Econômica], descobri um extraordinário livro escrito pelo economista australiano Steven Kates, Say's Law and the Keynesian Revolution [A Lei de Say e a Revolução Keynesiana].  De acordo com Kates, John Maynard Keynes deturpou a teoria original de Jean-Baptiste Say — sua famosa lei de que os mercados sempre tendem ao equilíbrio — com o único objetivo de, ao atacar essa teoria deturpada, poder gerar uma revolução na ciência econômica.  Segundo Kates, toda a Teoria Geral "é uma tentativa de refutar a Lei de Say". A fim de refutar a Lei de Say, Keynes distorceu-a e adulterou-a gravemente.  Como afirma Kates, "Keynes se equivocou em sua interpretação da Lei de Say e, ainda mais importante, se equivocou quanto às implicações econômicas da mesma."[2]  E vale ressaltar que Kates é totalmente simpatizante da economia keynesiana!

Como Keynes entendeu tudo errado
Na introdução da edição francesa da Teoria Geral, de 1939, Keynes centrou-se na Lei de Say como sendo a questão central da macroeconomia. 
Creio que, até uma época recente, a ciência econômica em todos os lugares tem sido dominada . . . pelas doutrinas associadas ao nome de J.-B. Say.  É verdade que sua "lei dos mercados" já foi há muito abandonada pela maioria dos economistas; porém, eles próprios ainda não libertaram das suposições básicas criadas por Say, particularmente de sua falácia de que a demanda é criada pela oferta. . . . No entanto, uma teoria baseada nesta suposição é claramente incapaz de atacar os problemas do desemprego e dos ciclos econômicos.
Infelizmente, Keynes não foi capaz de entender a Lei de Say.  Ao incorretamente afirmar que a lei diz que "a oferta cria sua própria demanda", ele na realidade sugeriu que o objetivo de Say era dizer que qualquer coisa que for produzida será automaticamente comprada.  Logo, a Lei de Say não pode explicar os ciclos econômicos.[3]Keynes foi adiante e declarou que a Lei de Say "pressupõe pleno emprego".  Outros keynesianos cometem este erro até hoje, embora nada possa estar mais longe da verdade.  As condições do desemprego não proíbem a produção e nem as vendas, ambas as quais formam a base do aumento da renda e do aumento da demanda.

Ademais, a Lei de Say serviu especificamente de base para a teoria clássica dos ciclos econômicos e do desemprego.  Como declarou Kates, "A posição dos economistas clássicos era a de que o desemprego involuntário não somente era possível, como na realidade ocorria frequentemente, e com sérias consequências para os desempregados."[4]

Produção e consumo
Mas o que é exatamente a Lei de Say?  A descrição de sua famosa lei dos mercados pode ser encontrada no capítulo 15 do livro de Say, A Treatise on Political Economy:  "Quando um produto é criado, ele, desde aquele instante, por meio de seu próprio valor, proporciona acesso a outros mercados e a outros produtos".[5]  Quando um vendedor produz e vende um produto, ele instantaneamente se torna um potencial comprador, pois agora possui renda para gastar.  Para poder comprar alguma coisa, um indivíduo precisa antes vender.  Em outras palavras, a produção é o que gera o consumo, e um aumento na produção é o que permite que haja um maior gasto com consumo.Em suma, eis a Lei de Say: a oferta (venda) de X cria a demanda por (pela compra de) Y.

Say ilustrou sua lei com o exemplo de um agricultor que usufruiu uma boa colheita: "Quanto maior for a colheita, maior será o poder de compra do agricultor.  Já uma safra ruim, por outro lado, irá afetar enormemente a venda das mercadorias."[6]

E Say está correto.  De acordo com as estatísticas sobre ciclos econômicos, quando uma recessão se inicia, a produção é a primeira variável a entrar em declínio, bem antes do consumo.  E quando a economia começa a se recuperar, isso ocorre porque a produção foi retomada, sendo somente depois seguida pelo consumo.  O crescimento econômico começa com um aumento na produtividade, na produção de novos produtos e na criação de novos mercados.  Portanto, os gastos em produção sempre vêm antes dos gastos em consumo.

Podemos ver como isso funciona também na escala do indivíduo.  O segredo para um maior padrão de vida é, primeiramente, um aumento na sua renda — isto é, na sua produtividade —, seja por meio de um aumento salarial, ou de um novo emprego, ou de uma maior especialização ou pela criação de um empreendimento rentável.  Seria uma insensatez querer aumentar seu padrão de vida simplesmente aumentando seus gastos ou se endividando para comprar um imóvel maior ou um automóvel novo sem antes ter aumentado sua produtividade.  Você pode até ser capaz de viver luxuosamente dessa maneira por algum tempo, mas um dia inevitavelmente a conta chegará — no caso, a fatura do cartão de crédito ou o vencimento dos empréstimos bancários.

De acordo com Say, o mesmo princípio se aplica às nações.  A criação de novos e melhores produtos cria novos mercados e possibilita o aumento do consumo.  Donde se conclui que "o estímulo ao mero consumismo não traz benefício algum para o comércio; pois a dificuldade jaz exatamente em como criar os meios para o consumo, e não em como estimular o desejo do consumo.  E já vimos que a produção, por si só, fornece estes meios."  E Say então acrescentou: "Sendo assim, o objetivo de um bom governo seria apenas permitir que a produção ocorresse desimpedidamente, ao passo que o objetivo de um mau governo seria estimular o consumo."[7]

A causa dos ciclos econômicos
A Lei de Say afirma que recessões não são causadas por uma insuficiência na demanda (a tese de Keynes), mas sim por um descompasso na estrutura da oferta e da demanda.  A recessão se inicia quando os produtores percebem que erraram em suas estimativas sobre o que os consumidores querem consumir, o que faz com que os bens não vendidos se acumulem nos estoques.  Ato contínuo, a produção é reduzida, a renda cai e, só então, o consumo diminui.  Como Kates esclareceu, "A teoria clássica explica as recessões demonstrando como os erros na produção surgem durante a fase da expansão econômica artificial, de modo que alguns bens permanecerão nos estoques sem serem vendidos, mesmo se cotados a preços que meramente cubram seus custos de produção."  O modelo clássico era uma "teoria altamente sofisticada que explicava a recessão e o desemprego", mas que foi varrida e "obliterada" de uma só vez pelo ilustre Keynes.[8]

Em seu livro, Kates destaca as contribuições de outros economistas clássicos, dentre eles David Ricardo, James Mill, Robert Torrens, Henry Clay, Frederick Lavington e Wilhelm Röpke, que ampliaram a Lei de Say.  Vários economistas clássicos centraram seus esforços em explicar como a inflação monetária exacerba os ciclos econômicos.  Eles foram os precursores dos austríacos Ludwig von Mises e F.A. Hayek.Logo, nada mais apropriado do que finalizar com a própria definição de Mises sobre a Lei de Say:
O mais sincero defensor e pregador da inflação em nossa época, Lord Keynes, estava certo, do seu ponto de vista, quando atacou aquilo que é chamado de "Lei de Say".  A Lei de Say é uma das grandes façanhas da teoria econômica.  O francês Jean-Baptiste Say, na chamada Lei de Say, disse que você não pode aprimorar as condições econômicas simplesmente aumentando a quantidade de dinheiro na economia; quando os negócios não estão indo bem, não é porque não há dinheiro suficiente.  O que Say tinha em mente, o que ele disse quando criticou a doutrina de que deveria haver mais dinheiro na economia, era que tudo o que alguém produz representa, ao mesmo tempo, uma demanda por outras coisas.  Se há mais sapatos produzidos, esses sapatos serão oferecidos no mercado em troca de outros bens.  A expressão "a oferta cria demanda" significa que o fator produção é essencial.  Expressada mais acuradamente, ele estava dizendo que "a produção cria consumo", ou, ainda melhor, que "a oferta de cada produtor cria sua demanda pelas ofertas de outros produtores".  Dessa forma, um equilíbrio entre oferta e demanda sempre existirá em termos agregados (embora Say reconheça que pode haver escassez e fartura em relação a produtos específicos).Em última instância, os bens não são trocados por dinheiro — o dinheiro é apenas um meio de troca; os bens são trocados por outros bens.  "Você quer minhas maçãs?  O que você me dá em troca delas?"  Say acreditava que a criação de mais dinheiro simplesmente cria inflação de preços; mais dinheiro perseguindo a mesma quantidade de bens.E se você aumentar a quantidade de dinheiro, você não estará melhorando a situação de ninguém, exceto daquele indivíduo — ou daquele grupo de indivíduos -. para quem você dá esse dinheiro recém-criado; esse indivíduo, ou esse grupo, poderá então comprar mais coisas, retirando mais bens do mercado, privando outras pessoas desses bens, piorando o bem-estar delas.
 Leia também: As pedras viram pães: o milagre keynesiano  [1] Steven Kates, Say's Law and the Keynesian Revolution (Northampton, Mass.: Edward Elgar, 1998), p. 1[2] Ibid., p. 212.[3] 
John Maynard Keynes, A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda (London: Macmillan, 1936), pp. 25-26.[4]
Kates, p. 18.[5] Jean-Baptiste Say, A Treatise on Political Economy (Augustus M. Kelley, 1971 [1832]), p. 134.[6] Ibid., p. 135.[7] Ibid., p. 139.[8] Kates, pp. 18, 19, 20. 
    
Mark Skousen é professor de Administração na Grantham University, ex-presidente da Foundation for Economic Education e membro da Mont Pelerin Society. 

https://www.mises.org.br/Article.aspx?id=1164

Comentários

  • A Lei de Say é irrefutável e, sozinha, destrói todo o arcabouço keynesiano
    Apenas quem desvirtua seu significado pode alegar que ela é errada
    2721.pngPoucos conceitos são tão distorcidos e mal compreendidos quanto a chamada Lei de Say. Em parte, isso foi obra de John Maynard Keynes, que precisava acabar com ela para abrir espaço para suas políticas intervencionistas. Keynes precisava mostrar que a Lei de Say era falsa porque todo o seu tratado econômico foi construído tendo por base este pilar (o de que Say estava errado).E como você refuta uma "lei" que sempre havia sido central para os economistas entenderem e explicarem a economia de mercado nos últimos 150 anos? Simples. Você a distorce, cria um espantalho e então bate com gosto neste espantalho. Afinal, bater em espantalhos é muito mais fácil do que refutar a tese verdadeira.Consequentemente, a "Lei da Say" passou a ser conhecida, segundo os próprios termos criados por Keynes, como uma teoria que diz que "a oferta cria sua própria demanda", o que obviamente é uma descaracterização.A verdadeira Lei de SayOriginalmente, o significado era outro. Até mesmo o nome era outro. Economistas anteriores a Keynes se referiam a ela como a 'Lei dos Mercados', pois ela descrevia em termos muito simples os fundamentos de como um mercado funciona. Jean-Baptiste Say foi aquele que expressou e explicou a lei da maneira mais simples e direta, o que pode explicar por que ela passou a ter o seu nome.Say observou que o valor dos bens e serviços que qualquer indivíduo pode comprar é igual ao valor de mercado daquilo que esse indivíduo pode ofertar. Segundo o próprio: "Dado que cada um de nós só pode comprar a produção de terceiros com nossa própria produção, e dado que o valor do que podemos comprar é igual ao valor do que podemos produzir, então quanto mais o homem pode produzir mais ele pode comprar".Em outras palavras, a produção precede o consumo, e a demanda de um indivíduo só pode ser satisfeita se este indivíduo também ofertar algo a alguém.A Lei dos Mercados, portanto, diz que o valor dos bens e serviços que qualquer indivíduo pode comprar é igual ao valor de mercado daquilo que ele pode ofertar. Ou, em um sentido macroeconômico agregado, o valor dos bens e serviços que qualquer grupo de pessoas pode comprar no agregado é igual ao valor de mercado daquilo que eles podem ofertar no agregado.Say, em suma, simplesmente expressou a realidade de que nós produzimos (trabalhamos) para poder consumir.Como o mercado gera a abundânciaDesta maneira, a Lei dos Mercados sintetiza a natureza das ações de mercado, em que a divisão do trabalho faz com que a produção se torne mais especializada. Especificamente, nós produzimos para vender, com a intenção de então usar as receitas da venda para comprar aquilo que realmente queremos.Isso significa que a produção que ocorre no mercado é indireta, e não é incorrida de modo a satisfazer diretamente as necessidades de cada produtor. Nós produzimos para satisfazer os desejos de outras pessoas. Como consequência, isso nos fornece os meios para comprar a produção de terceiros e, assim, satisfazermos nossos próprios desejos.O benefício deste arranjo é que há uma separação entre aquilo que quero consumir e aquilo que quero produzir, o que significa que cada um de nós pode se especializar na produção daquilo em que somos comparativamente competentes, e não daquilo que queremos consumir mas não sabemos como produzir. Também significa que podemos nos especializar em produzir apenas um bem ou serviço, e não uma variedade deles, desta maneira cortando custos desnecessários, desenvolvendo habilidades e especialidades, e consequentemente aumentando nossa produção.Se eu quero um smartphone, posso obtê-lo por meio da minha produção de aulas e trabalhos acadêmicos (que é aquilo que faço melhor), não sendo necessário que eu próprio tenha de um montar um smartphone do nada (o que seria uma tragédia).Porém, se, de um lado, a especialização universal sob este arranjo de divisão do trabalho significa que a produção geral será significativamente aumentada, de outro também significa que nos tornamos dependentes uns dos outros. Não somente temos de vender aquilo que produzimos para obter os meios necessário para consumirmos, como também temos de transacionar com aqueles que produzem aquilo que desejamos para satisfazer nossas necessidades.Assim, nós nos tornamos interdependentes. Foi por isso que Mises disse que "Sociedade é divisão de trabalho e combinação de esforços. Por meio da colaboração e da divisão do trabalho, o homem substitui uma existência isolada — ainda que apenas imaginável — pela existência conjunta. Por ser um animal que age, o homem torna-se um animal social."Este "animal social" se beneficia da (inter)ação do mercado, pratica essa interação e ascende por meio dela. Dado que só podemos nos beneficiar se soubermos como corretamente direcionar nossos esforços produtivos para satisfazer os desejos de outras pessoas, temos de entender essas outras pessoas. Ao fazermos isso, podemos antecipar melhor quais são seus desejos e necessidades, e então nos ocuparmos em tentar satisfazer esses desejos e necessidades.E dado que a produção é algo que leva tempo, a produção tem necessariamente de preceder a demanda.O que gera o crescimento econômicoPelo fato de a demanda ser incerta, toda produção é necessariamente especulativa e empreendedorial. A demanda real só será descoberta quando os bens forem apresentados aos compradores em potencial. Consequentemente, empreendedores são prognosticadores, avaliadores de projetos, tomadores de risco. Em uma economia avançada, eles direcionam fundos para a mão-de-obra, para os proprietários de terra, e para os fabricantes de bens de capital, e só conseguirão recuperar este investimento se forem bem-sucedidos nesta antecipação das demandas dos consumidores e, consequentemente, conseguirem vender seus produtos a preços que viabilizem todo o seu investimento.Ao mesmo tempo, os consumidores só poderão comprar esses bens e serviços se tiverem eles próprios praticado uma produção que tenha atendido aos desejos e demandas de terceiros — caso contrário, eles terão apenas o desejo de comprar, mas não a capacidade (e isso não é demanda).Isso não é um argumento circular, mas sim a própria explicação de como ocorre o crescimento econômico. A capacidade de vender bens no mercado, e consequentemente de incorrer em uma produção especializada, requer investimentos anteriores. Por isso, para se especializar em algo, foi necessário que esta pessoas produzisse bens e vendesse em uma quantidade que excedesse a própria necessidade de consumo (para assim acumular poupança). Esta poupança será utilizada para financiar o desenvolvimento de um novo bem. Isso caracteriza um investimento. E esse investimento será especulativo porque a verdadeira demanda só será conhecida quando o produto chegar ao mercado.A implicação deste raciocínio é que nunca é possível haver uma "superprodução" ou um "excesso de oferta" na economia. Consequentemente, não é possível haver uma "deficiência na demanda agregada", sendo este o cerne de toda a teoria keynesiana. É certamente possível haver um excesso de oferta ou uma escassez de uma mercadoria específica, algo que ocorre regularmente em decorrência de empreendedores não terem sido bem-sucedidos em antecipar corretamente a demanda de mercado por seu produto.Mas isso só pode ocorrer no curto prazo.Quando os erros ocorremDado que toda produção é feita com o intuito de vender os bens produzidos para então comprar os bens e serviços que irão satisfazer os desejos do produtor, sua eventual incapacidade de vender irá se tornar sua incapacidade de consumir. Não é possível demandar sem antes ter produzido.Consequentemente, quando uma pessoa não consegue vender o que produziu, isso não caracteriza uma "deficiência da demanda". Ao contrário, caracteriza uma falha na produção. É uma falha na produção o que causa uma redução na demanda efetiva — uma falha empreendedorial.Para tornar seus bens atrativos ao consumidor e, assim, conseguir vendê-los, este produtor terá de reduzir seus preços. Houve um erro empreendedorial de sua parte. Ou ele estimou erroneamente seus custos de produção ou ele estimou erroneamente seu preço de venda. Um dos dois, ou ambos, terá de ser corrigido. Caso contrário, ele não conseguirá vender. E consequentemente não conseguirá demandar.O que houve, portanto, foi um erro na precificação, o qual deve ser corrigido. Empreendedores — por vários motivos — imaginaram que os consumidores atribuiriam a seus bens e serviços valores maiores do que aquele que de fato foi atribuído. Não houve um 'excesso de produção'; houve, isso sim, um erro de cálculo quanto ao futuro valor de mercado dessa produção.Esse tipo de erro empreendedorial coletivo ocorre tipicamente quando o governo embarca em uma política de crédito farto e barato, o qual gera um aumento temporário da renda disponível das pessoas, que então passam a consumir mais. Ludibriados por esse consumo maior — o qual foi causado pelo mero endividamento barato e não por um aumento genuíno da produção e da renda —, empreendedores passam a crer que haverá maior renda disponível no futuro, de modo que seus bens e serviços serão mais demandados, o que significa que poderão cobrar preços maiores. Mas tão logo essa expansão do crédito é interrompida, todo o cenário de aumento da renda se revela fictício e artificial, mostrando que nunca houve realmente um aumento da renda da população. Houve apenas endividamento. Consequentemente, seus bens e serviços não poderão ser vendidos pelo maior preço antecipado pelos empreendedores.Logo, se empreendedores erraram em sua estimativa e em sua produção — por qualquer motivo —, então a correção deve necessariamente passar pelo rearranjo dos esforços produtivos, de modo a estimar mais corretamente os desejos dos consumidores e a mais bem servi-los.Esse diagnóstico da recessão é bastante diferente do diagnóstico keynesiano, que enfatiza que houve uma redução da demanda em decorrência de misteriosas flutuações no "espírito animal" dos empresários, o qual deve ser retificado por meio de mais expansão do crédito, mais endividamento e mais gastos governamentais.No diagnóstico de Say, o governo deve remover ao máximo os obstáculos burocráticos e regulatórios para que os empreendedores possam rapidamente corrigir seus erros e descobrir quais bens e serviços os consumidores realmente querem (e podem comprar). Dado que o mecanismo de preços é a principal fonte de informação dos empreendedores, uma flexibilidade nos preços de mercado é essencial para uma rápida recuperação.Se o governo, no entanto, impedir essa correção por meio de política que estimulem a demanda, isso irá apenas subsidiar estes bens que foram produzidos a um custo muito alto. Consequentemente, os erros empresariais serão protegidos e blindados das preferências do consumidor. Os consumidores perderão e os empreendedores ineficientes são premiados. E a economia continuará desalinhada, com a oferta não sendo aquela demandada pelos consumidores.Ao final, a produção estará em descompasso com a demanda, os empreendedores ruins continuarão no mercado consumindo recursos escassos (e, com isso, prejudicando os mais competentes), os consumidores terão menos poder, e a economia será menos eficiente.ConclusãoPor isso, é fácil entender por que os defensores do intervencionismo querem abolir a Lei dos Mercados. Se a demanda for separada da oferta e passar a operar independentemente desta, então os mercados jamais serão eficientes, jamais tenderão ao equilíbrio e o governo sempre terá de intervir para nos salvar de nós mesmos.

    https://mises.org.br/Article.aspx?id=2721
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