O MBL e as notícias falsas
O MBL e as notícias falsas
Arthur do Val, integrante do MBL, publicou em janeiro de 2018 em seu canal do YouTube MamãeFalei cenas de um grupo de pessoas tentando invadir um prédio. Disse que eram sindicalistas tentando invadir um prédio público no Rio Grande do Norte em protesto contra a condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no caso tríplex. O vídeo foi compartilhado por Kim Kataguiri e chegou a ter quase 500 mil visualizações. Tratava-se, na verdade, de um protesto de funcionários públicos do Rio Grande do Norte contra privatizações e demissão de servidores. Após a revelação de que a notícia era falsa, o MBL retirou o vídeo do ar. Em junho de 2017, Kim Kataguiri postou um vídeo pelo fim do regime semiaberto no Brasil, afirmando que 70% dos criminosos no país eram reincidentes e que mais de 100 mil criminosos estariam em regime semiaberto. Questionado pela Agência Pública sobre a fonte das informações, o MBL classificou a checagem de fatos como intimidação, não respondeu às perguntas e enviou a foto de um pênis de borracha com um capacete escrito “imprensa” e a legenda “check this!” (cheque isso) à repórter. Apuração da Agência Pública mostrou que a reincidência no Brasil, segundo dados do Ipea de 2015, era de 24,4%. O número de presos no regime semiaberto apresentado por Kim Kataguiri estava correto, são 99 mil pessoas de acordo com levantamento feito em 2017 pelo Conselho Nacional de Justiça. Para além dos materiais produzidos pelo próprio movimento, o MBL compartilha com frequência o conteúdo de dois sites que o grupo considera “independentes”. São eles o Ceticismo Político e o Jornalivre. O MBL diz que a relação se dá apenas por afinidades ideológicas, mas há evidências de que os responsáveis por esses dois veículos possuem canais de comunicação diretos com os membros do movimento político. Os dois sites têm uma narrativa forte e frequentemente acusam opositores do MBL de serem de “extrema esquerda” e de produzirem “fake news”. Em setembro de 2017, o colunista da Folha de S.Paulo Pablo Ortellado, que pesquisa “guerras culturais”, disse que uma das estratégias do MBL para atacar seus críticos é “produzir uma manchete sensacionalista para uma matéria no site Jornalivre e compartilhá-la pela página do grupo no Facebook”.
Qual a relação com o Ceticismo político
A relação entre o Ceticismo Político e o MBL não é recente. Ao menos desde março de 2016 o site publica textos que rebatem críticas sofridas pelo movimento. Não raro, afirma que o grupo “inverte” as críticas e se “fortalece” quando recebe críticas da “extrema esquerda”. No mês de maio de 2016, o MBL publicou em seu próprio site um texto assinado por "Luciano Henrique Ayan" — nome do perfil falso que administra o Ceticismo. Já em novembro de 2017 o Ceticismo Político publicou uma matéria celebrando os três anos de existência do movimento. Em 22 de março de 2018, um dia antes da publicação de O Globo sobre a viralização da notícia falsa sobre Marielle Franco, o MBL compartilhou seis links do Ceticismo Político em seu Facebook. O caso da notícia falsa envolvendo a vereadora do PSOL colocou essa conexão entre MBL e Ceticismo Político em evidência, sobretudo depois que o jornal O Globo investigou a propagação dos boatos. Inicialmente, MBL e Ceticismo Político se defenderam da acusação de que produziram notícias falsas sobre o assassinato. O site afirmou que apenas relatou o texto da desembargadora. Já o MBL afirmou ao jornal O Globo que não conhecia “Luciano Ayan” e que não tem responsabilidade pelo site. No dia 23 de março, porém, uma nova reportagem de O Globo reforçou a suspeita de que a atuação dos dois grupos era coordenada. O jornal do Rio enviou um e-mail ao MBL com perguntas sobre a relação do movimento com o Ceticismo. E-mail similar, mas com diferenças significativas, foi enviado ao Ceticismo Político, questionando sua relação com o MBL. O e-mail de O Globo para o MBL foi usado por Luciano Ayan para escrever um texto contra o jornal publicado no Ceticismo Político, sugerindo que os dois grupos possuem canal de ligação não-público. E a nova publicação do Ceticismo Político também foi compartilhada pelo MBL. “Luciano Henrique Ayan” divulgou sua verdadeira identidade no site Ceticismo Político no sábado (24). Seu nome é Carlos Augusto Moraes Afonso, atua na área de tecnologia e começou a “desenvolver um método para a guerra política” — como ele próprio diz — em 2011. Afonso também afirmou que o Ceticismo Político passou a ser “monetizado” em 2017, mas não apresentou as fontes nem o montante de recursos recebidos pelo site. O dono do Ceticismo é sócio de um dos membros do MBL, Pedro D’Eyrot, na empresa Yey Inteligência Ltda., reforçando a hipótese de que os membros do movimento já sabiam quem era Carlos Afonso. Um texto publicado pelo site Catraca Livre — que já travou discussões públicas com o MBL — no sábado (24) afirma que outro membro do MBL, Rafael Rizzo, também já foi sócio de Carlos Afonso. No mesmo sábado, o Facebook removeu a página Ceticismo Político da rede social. O site ainda continua funcionando na internet. O Nexo entrou em contato com o MBL por e-mail na terça-feira (27) e perguntou qual é a relação entre o movimento e o Ceticismo Político, mas não obteve resposta até a publicação da reportagem.
Qual a relação com o Jornalivre
Outro site com ligação com o MBL é o Jornalivre, que costuma atacar jornalistas e políticos contrários ao movimento. Na página do MBL no Facebook é possível encontrar o compartilhamento de várias notícias desse veículo por dia. O jornal El País publicou um levantamento em 1º de outubro de 2017 mostrando que entre junho e setembro daquele ano, o MBL realizou 4.977 postagens no Facebook. Desse total, 2.321 eram links de textos do Jornalivre. Questionados pela reportagem do El País, o movimento afirmou que sua relação com o Jornalivre é “amigável, assim como é com diversos outros sites independentes”. Ainda em outubro de 2017, um levantamento realizado pela Vice mostrou que ao menos três membros do MBL escreviam textos que eram publicados no Jornalivre. Destes, dois — Renan Santos e Rafael Rizzo — não assinavam os materiais com seus nomes reais. Assim como o Ceticismo Político, pouco se sabia sobre quem era o responsável pelo Jornalivre até abril de 2017. Foi quando veio à tona que o site era editado também por um perfil falso. A sequência de fatos que levaram à revelação começa com o vereador Fernando Holiday — defensor do projeto “Escola Sem Partido” — visitando colégios municipais para verificar se professores de escola estavam fazendo “doutrinação ideológica de esquerda” em seus alunos. O secretário da Educação de São Paulo, Alexandre Schneider, considerou a medida abusiva. Armou-se, então, uma queda de braço. O prefeito João Doria, na época apoiado pelo MBL, passou a ser pressionado para exonerar Schneider. O MBL passou a propagar notícias falsas de que Schneider era vinculado ao PSOL. O Jornalivre aderiu aos ataques. Foi quando o site Catraca Livre mostrou que o administrador do Jornalivre, que se apresentava como “Roger Scar”, era na verdade Roberto Dias de André, ex-diretor de formação da Juventude do DEM de Santa Catarina. O Nexo entrou em contato com o MBL por e-mail na terça-feira (27) e perguntou qual é a relação entre o movimento e o Jornalivre, mas não obteve resposta até a publicação da reportagem.
Link para matéria: https://www.nexojornal.com.br/expresso/2018/03/31/MBL-do-discurso-anticorrup%C3%A7%C3%A3o-%C3%A0-proximidade-com-as-fake-news
Arthur do Val, integrante do MBL, publicou em janeiro de 2018 em seu canal do YouTube MamãeFalei cenas de um grupo de pessoas tentando invadir um prédio. Disse que eram sindicalistas tentando invadir um prédio público no Rio Grande do Norte em protesto contra a condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no caso tríplex. O vídeo foi compartilhado por Kim Kataguiri e chegou a ter quase 500 mil visualizações. Tratava-se, na verdade, de um protesto de funcionários públicos do Rio Grande do Norte contra privatizações e demissão de servidores. Após a revelação de que a notícia era falsa, o MBL retirou o vídeo do ar. Em junho de 2017, Kim Kataguiri postou um vídeo pelo fim do regime semiaberto no Brasil, afirmando que 70% dos criminosos no país eram reincidentes e que mais de 100 mil criminosos estariam em regime semiaberto. Questionado pela Agência Pública sobre a fonte das informações, o MBL classificou a checagem de fatos como intimidação, não respondeu às perguntas e enviou a foto de um pênis de borracha com um capacete escrito “imprensa” e a legenda “check this!” (cheque isso) à repórter. Apuração da Agência Pública mostrou que a reincidência no Brasil, segundo dados do Ipea de 2015, era de 24,4%. O número de presos no regime semiaberto apresentado por Kim Kataguiri estava correto, são 99 mil pessoas de acordo com levantamento feito em 2017 pelo Conselho Nacional de Justiça. Para além dos materiais produzidos pelo próprio movimento, o MBL compartilha com frequência o conteúdo de dois sites que o grupo considera “independentes”. São eles o Ceticismo Político e o Jornalivre. O MBL diz que a relação se dá apenas por afinidades ideológicas, mas há evidências de que os responsáveis por esses dois veículos possuem canais de comunicação diretos com os membros do movimento político. Os dois sites têm uma narrativa forte e frequentemente acusam opositores do MBL de serem de “extrema esquerda” e de produzirem “fake news”. Em setembro de 2017, o colunista da Folha de S.Paulo Pablo Ortellado, que pesquisa “guerras culturais”, disse que uma das estratégias do MBL para atacar seus críticos é “produzir uma manchete sensacionalista para uma matéria no site Jornalivre e compartilhá-la pela página do grupo no Facebook”.
Qual a relação com o Ceticismo político
A relação entre o Ceticismo Político e o MBL não é recente. Ao menos desde março de 2016 o site publica textos que rebatem críticas sofridas pelo movimento. Não raro, afirma que o grupo “inverte” as críticas e se “fortalece” quando recebe críticas da “extrema esquerda”. No mês de maio de 2016, o MBL publicou em seu próprio site um texto assinado por "Luciano Henrique Ayan" — nome do perfil falso que administra o Ceticismo. Já em novembro de 2017 o Ceticismo Político publicou uma matéria celebrando os três anos de existência do movimento. Em 22 de março de 2018, um dia antes da publicação de O Globo sobre a viralização da notícia falsa sobre Marielle Franco, o MBL compartilhou seis links do Ceticismo Político em seu Facebook. O caso da notícia falsa envolvendo a vereadora do PSOL colocou essa conexão entre MBL e Ceticismo Político em evidência, sobretudo depois que o jornal O Globo investigou a propagação dos boatos. Inicialmente, MBL e Ceticismo Político se defenderam da acusação de que produziram notícias falsas sobre o assassinato. O site afirmou que apenas relatou o texto da desembargadora. Já o MBL afirmou ao jornal O Globo que não conhecia “Luciano Ayan” e que não tem responsabilidade pelo site. No dia 23 de março, porém, uma nova reportagem de O Globo reforçou a suspeita de que a atuação dos dois grupos era coordenada. O jornal do Rio enviou um e-mail ao MBL com perguntas sobre a relação do movimento com o Ceticismo. E-mail similar, mas com diferenças significativas, foi enviado ao Ceticismo Político, questionando sua relação com o MBL. O e-mail de O Globo para o MBL foi usado por Luciano Ayan para escrever um texto contra o jornal publicado no Ceticismo Político, sugerindo que os dois grupos possuem canal de ligação não-público. E a nova publicação do Ceticismo Político também foi compartilhada pelo MBL. “Luciano Henrique Ayan” divulgou sua verdadeira identidade no site Ceticismo Político no sábado (24). Seu nome é Carlos Augusto Moraes Afonso, atua na área de tecnologia e começou a “desenvolver um método para a guerra política” — como ele próprio diz — em 2011. Afonso também afirmou que o Ceticismo Político passou a ser “monetizado” em 2017, mas não apresentou as fontes nem o montante de recursos recebidos pelo site. O dono do Ceticismo é sócio de um dos membros do MBL, Pedro D’Eyrot, na empresa Yey Inteligência Ltda., reforçando a hipótese de que os membros do movimento já sabiam quem era Carlos Afonso. Um texto publicado pelo site Catraca Livre — que já travou discussões públicas com o MBL — no sábado (24) afirma que outro membro do MBL, Rafael Rizzo, também já foi sócio de Carlos Afonso. No mesmo sábado, o Facebook removeu a página Ceticismo Político da rede social. O site ainda continua funcionando na internet. O Nexo entrou em contato com o MBL por e-mail na terça-feira (27) e perguntou qual é a relação entre o movimento e o Ceticismo Político, mas não obteve resposta até a publicação da reportagem.
Qual a relação com o Jornalivre
Outro site com ligação com o MBL é o Jornalivre, que costuma atacar jornalistas e políticos contrários ao movimento. Na página do MBL no Facebook é possível encontrar o compartilhamento de várias notícias desse veículo por dia. O jornal El País publicou um levantamento em 1º de outubro de 2017 mostrando que entre junho e setembro daquele ano, o MBL realizou 4.977 postagens no Facebook. Desse total, 2.321 eram links de textos do Jornalivre. Questionados pela reportagem do El País, o movimento afirmou que sua relação com o Jornalivre é “amigável, assim como é com diversos outros sites independentes”. Ainda em outubro de 2017, um levantamento realizado pela Vice mostrou que ao menos três membros do MBL escreviam textos que eram publicados no Jornalivre. Destes, dois — Renan Santos e Rafael Rizzo — não assinavam os materiais com seus nomes reais. Assim como o Ceticismo Político, pouco se sabia sobre quem era o responsável pelo Jornalivre até abril de 2017. Foi quando veio à tona que o site era editado também por um perfil falso. A sequência de fatos que levaram à revelação começa com o vereador Fernando Holiday — defensor do projeto “Escola Sem Partido” — visitando colégios municipais para verificar se professores de escola estavam fazendo “doutrinação ideológica de esquerda” em seus alunos. O secretário da Educação de São Paulo, Alexandre Schneider, considerou a medida abusiva. Armou-se, então, uma queda de braço. O prefeito João Doria, na época apoiado pelo MBL, passou a ser pressionado para exonerar Schneider. O MBL passou a propagar notícias falsas de que Schneider era vinculado ao PSOL. O Jornalivre aderiu aos ataques. Foi quando o site Catraca Livre mostrou que o administrador do Jornalivre, que se apresentava como “Roger Scar”, era na verdade Roberto Dias de André, ex-diretor de formação da Juventude do DEM de Santa Catarina. O Nexo entrou em contato com o MBL por e-mail na terça-feira (27) e perguntou qual é a relação entre o movimento e o Jornalivre, mas não obteve resposta até a publicação da reportagem.
Link para matéria: https://www.nexojornal.com.br/expresso/2018/03/31/MBL-do-discurso-anticorrup%C3%A7%C3%A3o-%C3%A0-proximidade-com-as-fake-news
Entre ou Registre-se para fazer um comentário.
Comentários
No caso trata-se apenas de escolher a fonte que lhe é mais conveniente.
O número de 70% de reincidência criminal foi declarado pelo Departamento Penitenciário Nacional (Depen), do Ministério da Justiça, que me arrisco a achar que entende mais do assunto que o IPEA.