Os conceitos de esquerda e direita
As discussões "direita versus esquerda" usualmente não levam em conta que ambos os lados usam significados diferentes para se referir a mesma palavra. Por exemplo, enquanto esquerdistas tipicamente acham que a dicotomia esquerda versus direita se resume a igualitarismo versus não-igualitarismo - como na famosa definição de esquerda declarada por Bobbio-, direitistas tipicamente acham que essa dicotomia se resume a coletivismo versus individualismo. É por isso que esquerdistas usualmente acham que o fascismo é de direita e alguns acham que o stalinismo seja de direita (usando o famoso argumento do "não é o socialismo de verdade" ou variantes), enquanto os direitistas usualmente acham que o stalinismo é de esquerda e que o fascismo é algo mais próximo da extrema-esquerda do que da direita.
Para complicar, os libertários acham que a dicotomia esquerda versus direita seja, no mínimo, bidimensional. Existiria a direita e a esquerda na dimensão econômica (que trata da liberdade econômica) por um lado e a direita e a esquerda na dimensão cultural (que trata das liberdades civis). Isso é bem retratado pelo famoso Diagrama de Nolan.
Para complicar ainda mais, o significado original (e antigo) de esquerda estava associado aos liberais clássicos reformistas, que formaram a primeira esquerda, com os monarquistas que defendiam mais amplos poderes do rei fazendo o papel dos direitistas.
Por fim, existem aqueles que rejeitam o grau muito informativo de tais conceitos. O filósofo Nassim Taleb é deles. Segundo ele, não existiria espectro político universal independente de escala. Alguém poderia ser libertário no nível federal, republicano no nível estadual, democrata no nível municipal, socialista no nível comunitário (pequena comunidade) e comunista no nível familiar. Ele também acha que a distinção política de esquerdistas e direitistas é inferior a distinção entre os conceitos de "gregos" e "romanos". Enquanto os primeiros colocariam a teoria acima da prática, os segundos colocariam a prática acima da teoria.
Para complicar, os libertários acham que a dicotomia esquerda versus direita seja, no mínimo, bidimensional. Existiria a direita e a esquerda na dimensão econômica (que trata da liberdade econômica) por um lado e a direita e a esquerda na dimensão cultural (que trata das liberdades civis). Isso é bem retratado pelo famoso Diagrama de Nolan.
Para complicar ainda mais, o significado original (e antigo) de esquerda estava associado aos liberais clássicos reformistas, que formaram a primeira esquerda, com os monarquistas que defendiam mais amplos poderes do rei fazendo o papel dos direitistas.
Por fim, existem aqueles que rejeitam o grau muito informativo de tais conceitos. O filósofo Nassim Taleb é deles. Segundo ele, não existiria espectro político universal independente de escala. Alguém poderia ser libertário no nível federal, republicano no nível estadual, democrata no nível municipal, socialista no nível comunitário (pequena comunidade) e comunista no nível familiar. Ele também acha que a distinção política de esquerdistas e direitistas é inferior a distinção entre os conceitos de "gregos" e "romanos". Enquanto os primeiros colocariam a teoria acima da prática, os segundos colocariam a prática acima da teoria.
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Comentários
Direita é fundamentada no passado, em alguma herança histórica que promova a união da sociedade. O Fascismo é a versão extremista deste fundamento, criando um passado mítico que constrói o ideal da nação ou da raça e propondo recriar este passado mítico no presente.
A Esquerda se fundamenta em um futuro a ser criado, a sociedade justa, na qual os erros do presente serão corrigidos. O extremo, o Comunismo, entende que a construção deste futuro paraíso na Terra justifica quaisquer males utilizados no presente para construí-lo, mesmo sem especificar quando este futuro paradisíaco chegará.
Nada surpreendente.
O Fascismo é por definição um movimento de reação ao comunismo.
Boa parte dos conteúdos comunistas estão presentes no Fascismo, com a transferência destes conteúdos da defesa da classe para a defesa da nação (ou da raça).
Tem gente que diz que Nazismo é de Esquerda porque, de fato, muitos elementos doutrinários do Comunismo são fundamentos do Nacional Socialismo, a começar de serem ambos coletivismos estatólatras totalitários.
E tanto os Nazistas, quanto os Comunistas prometiam uma sociedade futura paradisíaca.
A diferença seria quem usufruiria deste paraíso, para os nazistas reservado exclusivamente para a raça ariana e para os comunistas destinado ao desfrute do proletariado.
Seria, claro, porque ninguém matou, torturou, escravizou, oprimiu e tiranizou mais gente do proletariado que os comunistas. Mas a promessa era dar vida boa para os trabalhadores no futuro, não no presente.
De prático temos que Nazismo e Comunismo são movimentos revolucionários similares no geral e diferentes em pontos específicos. Ambos entusiasticamente dispostos ao genocídio, apenas com escolhas diferentes sobre que grupos humanos cada um deveria exterminar.
Essa definição deixaria os anarcocapitalistas libertários como Murray Rothbard e H. H. Hoppe na curiosa condição de serem descritos como esquerdistas. Pois a defesa da abolição do Estado e da negação do direito espontâneo (grande parte dele incompatível com o princípio da não-agressão) é uma negação de uma herança histórica que torna a sociedade coesa.
"Mesmo que concorde com determinada previsão, você precisa se preocupar com a possibilidade real de uma divergência significativa. [...] afirmaria que o que importa ao abraçar uma política é o limite inferior das estimativas (ou seja, a pior hipótese) - a pior hipótese é muito mais significativa do que a própria previsão. Isso é especialmente verdadeiro se o cenário ruim for inaceitável. [...] Costuma-se dizer que ‘Sábio é aquele que ver as coisas que estão para acontecer’. Talvez o sábio seja quem saiba que não pode ver coisas que estão muito distantes."
Ainda assim, não é claro qual seria a receita do conservadorismo para que tirássemos nossas dúvidas sobre o que deveria ser feito concretamente em diferentes casos e também não é claro se o direitismo implica conservadorismo.
Em qualquer ideologia se encontrará elementos classificáveis como esquerda ou direita, daí o empurra-empurra sobre onde situar o nazismo.
O ponto é que, sem uma definição, não há o que discutir.
E qualquer definição que se estabeleça, sempre aparecerá alguma coisa mal enquadrada.
Mas, como anarcocapitalismo libertário é história da carochinha, enquanto nazismo e fascismo são experiências históricas reais, se a definição serve para os casos relevantes, já tá bom.
Em sendo revolucionário é anticonservador, embora o discurso de retorno à Idade do Ouro mítica possa ser erroneamente assumido por conservadores sensíveis à propaganda, como o registro histórico confirma.
Liberais defendem a liberdade sexual. não defendem pedofilia, não defendem o aborto, defendem o uso irrestrito de drogas, a posse de armas e a liberdade economica. defendem que contratos são sagrados e podem ser quebrados se as partes que o assinaram concordarem.
Liberais, segundo o próprio Mises, defendem a existencia de uma instituição que atue com o uso da força contra atividades antisociais.
Esquerda defende estado forte e controlador, dando a falsa impressão de que se voce for livre para dar o cu, será um homem livre.
A esquerda econômica atual não é generalizadamente liberal cultural (pró-aborto, legalização das drogas, liberdade sexual irrestrita). Existe a esquerda econômica que é culturalmente conservadora, basta ver os blogs Ação Avante, Resistência Terceiro Mundista e o site do filósofo Marcus Valério XR. Como exemplos de nomes da política assim, existem o Ciro Gomes e o Cabo Daciolo.
E o que se chama de esquerda econômica aqui no Brasil tem significado distinto em muitos países desenvolvidos. A esquerda econômica lá evoluiu e já é um grupo bem heterogêneo no pensamento econômico. Felipe González, Tony Blair e a esquerda trabalhista da Nova Zelândia da década de 1980 mantiveram ou promoveram reformas econômicas inimagináveis ao que geralmente se chama esquerda econômica no Brasil. Defesa da quebra de contratos e controle total da economia? Isso não existe na parte da esquerda que mencionei.
A ideia que liberais generalizadamente não defendem a legalização do aborto é falsa. Ayn Rand defendia. Segundo o Youtuber Alexandre Porto, só 50% dos libertários são contra o aborto. Aqui no Brasil, o Partido Novo deixa a entrada livre de políticos que defendem tal legalização, embora o estatuto proíba muitas outras coisas. Quanto à legalização das drogas, ela já foi defendida por Milton Friedman e outros economistas liberais da Escola de Chicago.
Se defender queda de barreiras alfandegárias fosse "nada a ver com as ideias da esquerda", então Karl Marx, uma pessoa declaradamente contra o protecionismo, era não-esquerdista e ninguém sabia: https://www.mises.org.br/Article.aspx?id=2386
E defender belicismo pró-EUA nunca foi obstáculo para alguém ser considerado esquerdista. Os presidentes americanos do Partido Democrata (Bill Clinton, Obama, etc.) que o digam.
Também sou a favor de liberar o LSD. Não me consta que tenha efeitos colaterais e ao que parece pode ser sintetizado sem muita sofisticação.
Já cocaína e opiáceos que causam a dependência física é outra história.
E uma boa seria se nossas crianças mais velhas e adolescentes pudessem aprender a fazer desenho com o lado direito do cérebro. O que as drogas fazem é romper a dominância do hemisfério esquerdo sobre o direito. Mas se eles aprenderem como entrar nesse direito sem interferência do esquerdo, eles podem ter um barato de droga sem droga alguma.
Tive um colega de faculdade que era muito inteligente, ganhou bolsa para estudar no exterior, usou ácido e voltou meio perturbado.
https://oglobo.globo.com/sociedade/educacao/sou-irresistivel-diz-olavo-de-carvalho-sobre-ter-indicado-dois-ministros-23254589
Agora roubam a direita, qualificando-a de extrema direita, direita raivosa, direita chucra...
A dicotomia "liberal versus conservador" nos EUA é furada. Ela ignora que, em terras ianques, existe o Partido Libertário e seus apoiadores. Talvez essa seja uma razão que explica que foi um libertário que criou o diagrama de Nolan.
Na pauta cultural (liberalização das drogas, casamento gay, pacifismo, imigração, etc.), mesmo um fã de Ludwig von Mises na Economia pode, em certa dimensão, ser semelhante a um socialista progressista:
https://www.gazetadopovo.com.br/rodrigo-constantino/artigos/candidato-libertario-americano-concorda-com-socialista-bernie-sanders-em-quase-tudo/