E se os EUA não houvessem entrado na primeira guerra mundial?

editado November 2018 em Religião é veneno
o que teria acontecido se, de acordo com suas próprias promessas feitas durante sua campanha de reeleição, Woodrow Wilson tivesse mantido os Estados Unidos fora da Primeira Guerra Mundial? Em virtude da sua natureza contrafatual, a resposta a uma questão como esta jamais pode ser empiricamente confirmada ou rejeitada. Todavia, isso não torna a questão sem sentido ou a resposta arbitrária. Pelo contrário: baseando-se na compreensão dos verdadeiros eventos e personagens históricos envolvidos, a questão acerca do mais provável curso alternativo da história pode ser respondida em detalhes e com considerável segurança.

Se os Estados Unidos tivessem seguido uma estrita política externa de não-intervencionismo, o conflito dentro da Europa provavelmente teria acabado ao final de 1917 ou no início de 1918, como resultado de várias iniciativas de paz, mais notadamente empreendidas pelo imperador austríaco Carlos I. Ademais, a guerra teria sido concluída por meio de acordos de paz mutuamente aceitáveis e que mantivessem a dignidade das partes, e não com o decreto que de fato foi imposto. Consequentemente, a Áustria-Hungria, a Alemanha e a Rússia teriam permanecido com as tradicionais monarquias em vez de serem transformadas em repúblicas democráticas de curta duração.

Com um czar russo, um kaiser alemão e um kaiser austríaco, teria sido quase impossível para os bolcheviques conquistar o poder na Rússia. Da mesma forma, também teria sido quase impossível para os fascistas e os nacional-socialistas (nazistas) — em reação à crescente ameaça comunista na Europa Ocidental — fazerem a mesma coisa na Itália e na Alemanha.

Os milhões de vítimas do comunismo, do nacional-socialismo (nazismo) e da Segunda Guerra Mundial teriam sido salvos. A extensão da interferência e do controle governamentais sobre a economia privada no mundo ocidental jamais teria alcançado o tamanho que hoje se vê. E, em vez de a região que abrange a Europa Central e a Europa Oriental (e, em consequência, metade do globo) cair em mãos comunistas e por mais de quarenta anos ser pilhada, devastada e coercivamente excluída dos mercados ocidentais, a Europa inteira (e todo o globo) teria permanecido economicamente integrada (tal como ocorrera no século XIX) por meio de um sistema de divisão do trabalho e de cooperação social de âmbito global.  

O padrão de vida no mundo como um todo seria hoje muito maior do que o atual. 96b740c80901414eb2d0e1f254822b75.jpg 

Diante do pano de fundo desse exercício imaginativo e do verdadeiro curso dos eventos, o sistema imposto ao mundo pelos EUA e a pax Americana parecem ser — ao contrário da história "oficial", a qual é sempre escrita pelos vencedores; mais especificamente, a partir da perspectiva dos proponentes da democracia — um desastre colossal.   

Por conseguinte, a Áustria dos Habsburgos e a era pré-democrática se tornam ainda mais atraentes. Ninguém menos do que George F. Kennan, embaixador americano na URSS e a própria encarnação do establishment, escrevendo em 1951, chegou muito perto de admitir isso:Contudo, hoje, se fosse oferecida a oportunidade de ter de volta a Alemanha de 1913 — uma Alemanha governada por pessoas conservadoras, mas relativamente moderadas, sem nazistas e sem comunistas, uma Alemanha vigorosa, unida e não-ocupada, cheia de energia e confiança, capaz de fazer parte de uma frente que contrabalançaria o poder russo na Europa —- bem, haveria objeções a isso de muitos lugares, e isso não faria todo mundo feliz; porém, de várias maneiras, e em comparação com os nossos problemas de hoje, isso não seria tão ruim.  Agora, pense no que isso significa.  Quando verificamos o saldo total das duas guerras, nos termos dos seus objetivos declarados, há uma enorme a dificuldade em perceber e discernir algum ganho. (George F. Kennan, American Diplomacy, 1900-1950 [Chicago: University of Chicago Press, 1951], pp. 55–56)


 Certamente, então, seria de grande valia realizar uma pesquisa sistemática sobre a transformação histórica da monarquia para a democracia.  E é exatamente isso o que pretendi fazer em meu livro Democracia, o deus que falhou___________________________________

O texto acima é a introdução do livro Democracia, o deus que falhou, o qual pode ser adquirido aqui.

https://www.mises.org.br/Article.aspx?id=1893

Comentários

  • Não sei. Os Estados Unidos entraram só no fim da guerra e, como se sabe, a Alemanha ajudou os bolcheviques a assumirem o poder, inclusive financiando-os, por que eles defendiam tirar a Rússia da guerra. O czar já havia sido deposto quando os Estados Unidos declararam guerra à Alemanha. Sem os Estados Unidos talvez a Primeira Guerra Mundial durasse mais tempo, mas eu acho que a Alemanha no fim ia perder.
  • editado November 2018
    Uma onda revisionista dá conta de que a revolução francesa foi uma bosta, a russia era uma maravilha antes dos comunistas, o Brasil era um pais menos atrasado no tempo de Pedro II, etc.

    Estou aguardando o lançamento de uma nova biografia do Pedro II que promete jogar uma luz sobre esse ultimo assunto.

     
  • A Alemanha quase ganhou a Guerra em 1918.
    Fontes americanas gostam de destacar que a entrada dos Estados Unidos foi decisivo para a virada, mas quem aguentou o tranco mesmo foram os franceses, num verdadeiro espetáculo de bravura patriótica.
    Nem parece o mesmo povo que 22 anos depois caiu na vergonha e humilhação.

    O Czar Nicolau era meio bobão.
    Seu regime já perigava desde 1905 e é possível que caísse com Bolcheviques ou sem.

    Também difícil acreditar que o Império Austro-Húngaro durasse muito tempo, mesmo que os rumos da guerra fossem outros.  Aquilo era uma bagunça de povos que não tinham nada em comum.  
    Mas é possível que criassem um tipo germânico de Commonwealth.

    O legal destes jogos imaginativos é que os desdobramentos são potencialmente infinitos.
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