CADERNOS DO CÁRCERE - TRANSIÇÃO PARA O SOCIALISMO
"É óbvio que a imensa maioria dos militantes petistas nunca leram e jamais vão ler a obra de Gramsci, Cadernos do Cárcere. Esta tarefa cabe aos dirigentes/intelectuais, para que possam convencer os seguidores de que este é o caminho da felicidade. Daí o Vade Mecum que me referi anteriormente. Equivale à Bíblia, que os fiéis acreditam, não discutem e tratam de seguir seus princípios. "
O tema mais importante, que reflete o conteúdo central dos CADERNOS DO CÁRCERE, é o pensamento político do autor, que traz contribuições inéditas e atualizadas ao marxismo e uma concepção pertinente da estratégia de tomada do poder, denominada TRANSIÇÃO PARA O SOCIALISMO.
Na sua obra Gramsci resolveu construir uma concepção melhor aplicável às sociedades OCIDENTAIS (países capitalistas e/ou liberal-democratas) do que a estratégia marxista-leninista, que saiu vitoriosa na revolução bolchevista da Rússia (considerada tipo ORIENTAL). Na época, a Revolução Russa se tornara o modelo clássico, dogmático, para a Internacional Comunista.
Quando Antonio Gramsci faleceu, sua cunhada Tatiana Schucht remeteu os CADERNOS para Moscou, onde chegaram às mãos de Palmiro Togliati, líder comunista italiano e camarada do autor. Togliati, no entanto, só conseguiu organizar a obra após o término da 2ª Guerra Mundial (1939-1945).
Assim, em 1948 publicou os CADERNOS DO CÁRCERE em seis volumes, saídos em sequência entre 1948 e 1950. Foi quando o pensamento de Gramsci foi colocado à disposição da intelectualidade mundial.
No Brasil, as primeiras iniciativas para publicação de uma tradução dos CADERNOS DO CÁRCERE tiveram início em 1962. No final da década de 1970 a obra foi reeditada e a partir de então Gramsci foi, finalmente, introduzido à intelectualidade do país. Detalhe: à época, a obra foi considerada uma contribuição muito importante para a formação de um novo espírito revolucionário da esquerda brasileira.
A CRIAÇÃO DO FORO DE SÃO PAULO
Em maio de 1990, seis meses depois da queda do muro de Berlim (novembro 1989), Lula, Fidel Castro e alguns representantes de organizações terroristas da América Latina fundaram, em São Paulo, o (até hoje pouco conhecido e/ou divulgado) FORO DE SÃO PAULO.
Esta organização, declarada pelos organizadores, como comunista, foi criada com o propósito, jamais desmentido, de transformar a América Latina no novo Eixo Comunista que acabara de ser esfacelado no leste Europeu.
Pois, naquela ocasião, os fervorosos membros do Foro de São Paulo elegeram, por unanimidade, a obra de Antonio Gramsci como o instrumento ESTRATÉGICO a ser seguido para fazer com que os partidos de esquerda chegassem ao Poder, nos países dos membros do FSP.
PASSO A PASSO
Como o PT almejava o Poder, a ordem firme emanada pelos dirigentes do partido, foi a de adotar, ipsis litteris, o programa desenvolvido por Gramsci. Assim, o livro CADERNOS DO CÁRCERE se transformou num legítimo Vade Mecum (que instrui o leitor a fazer tarefas de forma disciplinada).
A obra de Gramsci, como se vê, é um PASSO A PASSO. Coisa que os liberais e os social-democratas não têm, porque nunca construíram. Exatamente por isso não sabem por onde se começa uma verdadeira e correta resistência a este Plano Maquiavélico.
BÍBLIA PETISTA
É óbvio que a imensa maioria dos militantes petistas nunca leram e jamais vão ler a obra de Gramsci, Cadernos do Cárcere. Esta tarefa cabe aos dirigentes/intelectuais, para que possam convencer os seguidores de que este é o caminho da felicidade. Daí o Vade Mecum que me referi anteriormente. Equivale à Bíblia, que os fiéis acreditam, não discutem e tratam de seguir seus princípios.
Segundo Gramsci, a transição para o socialismo, como consta nos seus cadernos, deve ser feita em cada sociedade nacional, a partir da qual, se transferirá ou se irradiará para outros países. Pode-se dizer que, cada país que se -socialize- transforma-se em centro -irradiador-.
A posição de Gramsci, como se vê, é inquestionavelmente internacionalista, coerente com o marxismo, como se manifestou na divergência entre Trotski (revolução permanente, internacionalismo) e Stalin (revolução em um só país), que atingiu seu clímax em 1929.
Gramsci completa esta evolução das teses marxistas, fazendo a identificação das sociedades do tipo -Oriental- (de capitalismo atrasado) e das sociedades do tipo -Ocidental- (de capitalismo moderno). A partir daí desenvolveu objetivamente a Estratégia de Transição para o Socialismo nos países de sociedade do tipo Ocidental.
A luta de classes, assentada na insolúvel contradição -proletariado versus burguesia- é o princípio básico de caráter nacional sobre a qual se desenvolve a visão revolucionária marxista. A luta de classes se desenvolve na sociedade civil e com ela se busca a eliminação da burguesia e do estado liberal-democrático porque este sistema representa a sociedade fundada na divisão de classes.
Em última instância, escreveu Gramsci, o objetivo será o fim do estado e da própria classe na sociedade comunista.
A luta de classes, na visão de Gramsci, tem dois momentos importantes: 1- a conquista da hegemonia das classes subalternas sobre a inteira sociedade civil; e, 2- a destruição ou absorção da burguesia eliminando-a como classe.
A luta pela hegemonia não se trata de um processo Reformista, mas de um processo Transformador, revolucionário, conduzido numa LONGA E ORIGINAL TRANSIÇÃO PARA O SOCIALISMO, diz Antonio Gramsci.
Para Gramsci, a burguesia incorpora a Classe Média, que abrange as -camadas intelectuais, os profissionais liberais empregados. Já a Classe Média Alta corresponde à burguesia capitalista e aos executivos empresariais não empregados. Esta classe é definida como NÃO-POVO. E a expressão Classes Subalternas é uma referência mais abrangente do que Classe Proletária.
CONCEITO ESTRATÉGICO
A fim de criar condições históricas para conduzir o processo PROGRESSIVO de transição para o Socialismo Marxista, a estratégia tem três fases:
1- Fase Econômico-Corporativa, ou seja, organizar o partido das classes subalternas, lutar pelo estado democrático e pela ampliação das franquias democráticas, abrindo espaço e condições para o desenvolvimento da ação política e revolucionária;
2- Fase que trata da Luta pela Hegemonia - tornando as classes subalternas mais presentes sobre a sociedade civil, tornando-a dirigente e criando as condições para a tomada do poder;
3- Fase Estatal - que significa tomar o poder, impor a nova ordem e estabelecer o socialismo, etapa provisória e anterior de passagem para o comunismo.
É oportuno lembrar que o PT surgiu da organização sindical espontânea de operários paulistas no final da década de 1970, em resposta à repressão do regime militar aos partidos comunistas tradicionais e aos grupos armados de Esquerda então existentes.
Desde a sua fundação, em 1980, apresenta-se como UM PARTIDO DE ESQUERDA QUE DEFENDE O SOCIALISMO COMO FORMA DE ORGANIZAÇÃO SOCIAL. Ora, como isto está escrito, sacramentado e registrado nas atas do PT, não cabe dizer que tudo que aqui escrevo é fruto da minha imaginação, certo?
Mais: até a sua fundação, ou seja durante toda a década de 1980, o PT mantinha estreita relação com os partidos comunistas que então governavam países do SOCIALISMO REAL, como a União Soviética, República Democrática Alemã, República Popular da China, Coréia do Norte e Cuba.
Mais ainda: O PT jamais escondeu o quanto mantém estreita relação com diversos partidos e grupos de esquerda latino-americanos, como: a Frente Ampla uruguaia, partidos comunistas de Cuba, do Brasil e de outros países, o MST e, principalmente, o Foro de São Paulo.
Aliás, no último encontro do Foro de São Paulo, o ex-presidente Lula disse, alto e bom som, o seguinte: - PRECISEI CHEGAR À PRESIDÊNCIA DO BRASIL PARA DESCOBRIR O QUÃO IMPORTANTE FOI CRIAR O FORO DE SÃO PAULO. Que tal?
O tal reformismo gramscista, como também consta nos registros do PT, é a base da ação política e eleitoral do partido. Com um detalhe importante: quem inspirou Gramsci foi Nicolau Maquiavel, através de sua obra - O Príncipe -. Daí a razão de ter escolhido - Plano Maquiavélico- como título da série.
Na sua obra, Maquiavel (1513) aconselha os governantes como governar e manter o poder absoluto, mesmo que tenha que usar a força militar e fazer inimigos. Esta obra, que tentava resgatar o sentimento cívico do povo italiano, situava-se dentro do contexto do ideal de unificação italiana.
Assim, o termo -MAQUIAVÉLICO- passou a definir aqueles que praticam atos desleais (até mesmo violentos) para obter vantagens, manipulando as pessoas. Muitos afirmam que é uma injustiça atribuir o termo a Maquiavel, pois que o mesmo pregava a ética na política.
FASE ATUAL NO BRASIL
Nas três fases descritas por Gramsci para fazer a Transição para o Socialismo, o Brasil está passando pela Fase de Luta pela Hegemonia. Agora, a atuação mais importante é a consolidação dos Intelectuais Orgânicos e dos Intelectuais Tradicionais Adesistas.
Tirante o corpo de intelectuais orgânicos do PT, que já está bem estruturado e atuante em todos os níveis, os demais intelectuais comprometidos com a causa estão atuando em várias frentes, como: nos partidos aliados, nos órgãos de comunicação social, nas cátedras, nos aparelhos privados de hegemonia, nas ONGs (principalmente), nas comunidades (de moradores, de favelas, acadêmicas, de minorias, etc.) e nas manifestações artísticas.
Como reza a cartilha de Gramsci, trata-se de uma atuação orquestrada, difusa, abrangente, anônima na generalidade. Tudo de forma muito ativa, efetiva, moderna e uníssona.
REFLEXO DO PLANO
O resultado da aplicação do Plano Maquiavélico de Gramsci pode ser mensurado através de pesquisas de opinião pública. No Brasil, os altos índices de aprovação e popularidade obtidos por Lula e Dilma deixam claro e evidente o quanto tem sido eficaz o programa-modelo que Gramsci prega nos Cadernos do Cárcere.
O estado de torpor da maioria dos brasileiros nada mais é do que o reflexo do cumprimento do Plano.
Este chamado SENSO PRATICAMENTE COMUM (confirmado pelos índices de aprovação do governo) identifica o conjunto das opiniões aceitas e aplaudidas pela sociedade. Isto faz com que as opiniões contrárias e discrepantes pareçam totalmente descabidas e/ou desajustadas.
A superação do senso comum significa a substituição e/ou modificação de valores, tradições, costumes, modo de pensar da sociedade.
SUBVERSÃO DOS VALORES
Isto prova que parte da AÇÃO REVOLUCIONÁRIA é traduzida pela sutil subversão dos valores contidos no senso comum, que servem de critério de comportamento e de julgamento. Uma vez substituídos por outros, modificam significativamente o modo de pensar, de agir e de sentir das pessoas, contribuindo, assim, para a reforma intelectual e moral de toda a sociedade.
Na sociedade brasileira já é possível constatar que as novas gerações (desde anos 80), não mais percebem que os critérios anteriores foram modificados radicalmente. Ou seja: para os jovens, nada mudou porque não conheceram os velhos valores; para os mais velhos, as modificações até parecem espontâneas, naturais, evolutivas, aceitáveis como sinal dos tempos.
Isto tudo é resultado de uma penetração cultural bem conduzida pelos INTELECTUAIS ORGÂNICOS nos últimos 20 anos.
Vejam algumas dessas mudanças conceituais provocadas, as quais são pra lá de evidentes:
1- O conceito de LIVRE OPINIÃO (independência intelectual) já foi plenamente substituído pelo conceito de POLITICAMENTE CORRETO. Ou seja: a Opinião Individual, franca e sincera, foi substituída pela Opinião Coletiva POLITICAMENTE (homogênea) CORRETA (ética). Este resultado é decorrente do patrulhamento ideológico (controle intelectual, estigmatização e censura) e pela orquestração (repetição).
2- O conceito de LEGALIDADE vem sendo substituído pelo conceito de LEGITIMIDADE. Ou seja: a norma legal perde eficácia diante da violação dita socialmente legítima. A invasão de terras, a ocupação de imóveis e prédios públicos, o bloqueio de ruas e estradas, o saque de estabelecimentos, etc., são LEGÍTIMOS (éticos) porque correspondem a reivindicações justas.
3- O conceito de FELICIDADE PESSOAL (dever e compromisso) já foi substituído pelo conceito de FELICIDADE INDIVIDUAL. O prazer (em oposição à solidariedade, ao altruísmo, à abnegação) é o critério do comportamento social e moral, moderno e livre.
4- O conceito de CIDADÃO vem sendo paulatinamente substituído pelo conceito de CIDADANIA. O termo cidadania perde o sentido de relação do indivíduo com o Estado, no gozo dos direitos civis e políticos e no desempenho dos deveres para com ele, e passa a ser uma relação de demanda de minorias e/ou de grupos organizados. Embora não seja aparente é um instrumento diretamente ligado à luta pela hegemonia.
5- O conceito de SOCIEDADE NACIONAL está sendo substituído pelo conceito de SOCIEDADE CIVIL.
Além dos exemplos acima há outras SUPERAÇÕES do senso comum. Menos evidentes, talvez, mas visíveis se apontados, porque o Antes e o Depois já estão muito afastados do tempo e porque já estão integrados, intelectual e moralmente. Principalmente no Senso Comum dos mais jovens.
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