Engrenagem nazista
Eichmann não sentiu remorso por levar milhões à morte, mas não era psicopata
Quando os juízes perguntaram em maio de 1960 ao homem calvo, de óculos grossos e olhar calmo, se sentia culpa pela morte de milhões de judeus durante o Holocausto, Otto Adolf Eichmann pensou um pouco. E disse que não. Funcionário de Hitler, era o responsável pelos trens que conduziam as vítimas até os campos de concentração.
Ajudar em milhões de mortes e não sentir nada é indício de psicopatia, certo? Não. Essa questão estava errada, escreveu a filósofa Hannah Arendt, em Eichmann em Jerusalém. Ele não era doente, apenas um funcionário-padrão. No fim, agiu "certo" e para o "bem" de um sistema, esse, sim, essencialmente criminoso. Como seria possível condenar Eichmann, e não a nação inteira, que considerava certo matar judeus?
Esperava-se encontrar em Eichmann uma aberração psiquiátrica. Mas meia dúzia de psiquiatras atestou a sua "normalidade". Ele seria "ao menos mais normal do que fiquei depois de examiná-lo", teria dito um dos médicos. Seu comportamento com a mulher, os filhos, a família e os amigos era "não apenas normal mas inteiramente desejável".
Eichmann não se achava um monstro. Apenas cumpria ordens. "Só ficava com a consciência pesada quando não fazia aquilo que lhe ordenavam - embarcar milhões de homens, mulheres e crianças para a morte, com grande aplicação e o mais meticuloso cuidado", escreveu Arendt. Eichmann sabia o que fazia e o fez bem. Daí sua frase que chocou o mundo: "Arrependimento é para criancinhas".
Seu caso não era o de um antissemita. "Por trás da comédia dos peritos da alma estava o duro fato de que não se tratava, evidentemente, de um caso de sanidade moral e muito menos de sanidade legal." Eichmann não era psicopata, mas um homem comum. "Esse novo tipo de criminoso comete seus crimes sob circunstâncias que tornam impossível para ele saber ou sentir que está fazendo algo errado", escreveu Arendt. É o que ela batizou de "banalidade do mal".
Comentários
um excelente funcionário do capeta, em matéria de irracionalidade o homem se torna insuperável.
sem nenhuma consciência sem existências
Após a execução o corpo de Eichmann foi cremado, suas cinzas foram levadas de barco até fora das águas territoriais israelenses e despejadas no oceano. Em seguida os oficiais lavaram o balde para que nem um grão das cinzas do criminoso de guerra repousassem em Eretz Israel.
Nós, Indios.
Lutar com Bravura, morrer com Honra!
Esta era uma desculpa mentirosa na Alemanha nazista. No Brasil durante o regime militar então nem se fale.
Nunca vi uma única menção a algum soldado (soldado, não SS) punido na Alemanha nazista por se recusar a atuar como torturador ou executor em massa de civis sabidamente não envolvidos na Resistência (execuções de acusados de espionagem ou sabotagem são admitidas pela Convenção de Genebra).
O fato trágico é que tanto na Alemanha, quanto no Brasil, sempre havia quem se dispusesse ao serviço. O comando se limitava ao você não quer, tem quem queira.
Horror.
Nós, Indios.
Lutar com Bravura, morrer com Honra!
Assim como seu colega, Franz Wagner, que foi assassinado, mas o governo brasileiro anunciou a morte como suicídio.
Stangl trabalhou na Volkswagen de São Bernardo, aqui pertinho.
Me arrepia a idéia de que meu pai pode ter cruzado com ele por aí...
Mas acho que Stangl e Wagner eram outra categoria de criminosos se comparados a Eichmann, que era um burocrata, enquanto os outros dois não viam problema algum em meter a mão na massa, sabendo-se o que isto significava.
Nós, Indios.
Lutar com Bravura, morrer com Honra!
Não sei se já viu, Acauan, mas tem um ótimo documentário do Natgeo sobre a extradição do Stangl:
Permita-me discordar.
Himmler era apenas um gangster a quem as peripécias da História deram poder ilimitado. A frase que melhor o personifica é "me sinto incomodado em matar um homem e deixar seu filho vivo para vingar-se", bem o que um cappo siciliano diria.
Seu culto ao paganismo ariano me parece tão autêntico quanto uma nota de três dólares com a efígie do Bin Laden. Além do que, sempre posso chamar o testemunho de Hitler, que nos derradeiros dias expressou sua decepção com Himmler, a quem considerava incorruptível, mas que só quis saber de tentar salvar a própria pele quando a casa caiu, diferente do sinistrão do Goebbels e esposa, que se mataram e aos seis filhos, leais ao führer até a morte.
Não vi, o que é surpreendente, pois sou um devorador compulsivo destes documentários. Posso ter assistido dez vezes, mas se zapeio e está passando eu vejo de novo. Valeu a dica, vou assistir.
Nós, Indios.
Lutar com Bravura, morrer com Honra!