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Guia politicamente incorreto da América Latina
Leandro Narloch e Duda Teixeira
Antes de mergulhar nas crenças e nas ações do famoso
revolucionário, é preciso fazer uma viagem à Cuba da
década de 1950, pouco antes de Che e os outros guerrilheiros
comandados por Fidel Castro tomarem o poder. O passeio é cheio
de turbulência.
Quem ainda hoje é a favor do regime comunista costuma
descrever a ilha dos tempos pré‑revolucionários como
um bordel dos americanos, um playground para marmanjos
repleto de prostitutas, mafiosos e cubanos miseráveis.
Já aqueles que se opõem ao regime tratam de destacar o
progresso da Cuba anterior à revolução e alguns números
de qualidade de vida da época bem melhores que a média
latino‑americana.
É mais complicado que isso. Como qualquer grande cidade
turística da América, Cuba tinha prostitutas, corruptos,
ricos e pobres, é verdade. Havana formava com Las Vegas
e Miami um triângulo de negócios de turismo que envolvia
cassinos administrados por mafiosos, shows internacionais
e grandes hotéis.
Os mafiosos que inspiraram o filme O Poderoso Chefão
tinham negócios em Cuba – não é à toa que o protagonista,
Michael Corleone, visita a ilha no segundo filme da trilogia.
Charles “Lucky” Luciano, líder da máfia siciliana de Nova
York, se escondeu em Havana depois de ser deportado pelos
Estados Unidos para a Itália; em Cuba ele se reunia com
outros chefões, como o judeu Meyer Lansky e Vito Genovese.
Esses figurões mantinham negócios com o ditador Fulgencio
Batista, ninguém menos que o presidente e ditador de Cuba.
No entanto, como também é de esperar de qualquer lugar com
o turismo em ascensão, Cuba vivia um surto de crescimento
e otimismo. Na década de 1950, a economia mundial se
recuperava e o uso dos aviões a jato se difundia.
O turismo de massa ganhou assim um belo impulso – e a ilha
caribenha foi um dos primeiros destinos dos novos turistas
americanos. “Combinado com os baixos custos da viagem
depois da Segunda Guerra, Havana de repente se tornou
um destino exótico de escolha de centenas de milhares de
americanos excitados para ver a terra de Babalu”, afirma o
historiador Peter Moruzzi no livro "Havana before Castro".
A maior vantagem competitiva era a de ser um destino
internacional a apenas 150 quilômetros dos Estados Unidos.
“Excitante, exótica. Cuba: onde o passado encontra o futuro”,
dizia um anúncio de 1957 da Comissão Cubana de Turismo,
similar às propagandas de qualquer cidade turística
que deseja atrair visitantes e movimentar a economia.
Havia na época 28 voos diários entre cidades cubanas e
americanas – e muitos americanos viajavam para Cuba de carro,
por meio de um serviço diário de ferryboat a partir da Flórida.
Essa expansão dava dinheiro não só a mafiosos, prostitutas e
magnatas, mas também a donos de restaurantes, garçons, chefs
de cozinha, guias de turismo, empresas de city tour, enfim,
todos os trabalhadores e empresários envolvidos com o turismo.
O crescimento levava mais cubanos à classe média e aquecia
outros setores da economia, como a construção civil. Prédios
e casas cheios de novidades arquitetônicas se espalhavam por
Havana e atraíam atenção internacional.
“A recuperação da economia durante a Segunda Guerra e o
crescimento do turismo tiveram um efeito estimulante no setor
de construção, levando a um boom que encorajou a pesquisa de
formas e novas tecnologias”, afirma o arquiteto Eduardo Luis
Rodríguez.
As cidades, onde vivia 66% da população, se beneficiavam
ainda do dinheiro vindo da alta do preço da cana‑de‑açúcar,
principal produto de exportação de Cuba. Engenheiros e
arquitetos ligados ao modernismo transformavam Havana
construindo arranha‑céus e edifícios de linhas retas e longas
curvas – os mesmos que marcariam a arquitetura modernista
latino‑americana.
Com três revistas especializadas em arquitetura, a ilha abrigava
encontros internacionais – era quando profissionais de todo
o mundo visitavam obras de arquitetos formados na Universidade
de Havana no começo dos anos 40, como Nicolás
Arroyo e Mario Romañach.
Em 1955, com um grupo de profissionais experientes, Havana
criou um plano urbanístico que previa ruas só para pedestres
e edifícios modernistas, espaço especial para pequenas lojas
nas ruas do centro histórico, limite de altura aos prédios
fora do centro financeiro, aumento de áreas verdes e recreativas
pela cidade.
Se Havana era um playground dos americanos, o movimento inverso
também acontecia. Os cubanos ricos e da crescente classe média
adoravam se divertir nos Estados Unidos. Existia entre os dois
países um turismo bilateral, assim como o de brasileiros nas
ruas de Buenos Aires e de argentinos nas praias brasileiras.
Não eram números desprezíveis. Em meados dos anos 50, havia
mais cubanos em férias nos Estados Unidos que americanos em Cuba.
A classe média cubana era um grupo consumidor tão importante
nos Estados Unidos que “as lojas de departamento da Califórnia,
de Nova York e da Flórida frequentemente anunciavam promoções
nos jornais de Havana”, conforme descreve o historiador Louis A.
Pérez Jr. no livro "Cuba and the United States: Ties of Singular
Intimacy".
Assim como os americanos investiam em Cuba, empresas cubanas
apostavam nos vizinhos. Pouco antes da revolução, o investimento
do imperialismo cubano nos Estados Unidos ultrapassava
meio bilhão de dólares.
Se hoje os cubanos fogem de seu país, na década de
1950 acontecia o contrário: imigrantes se mudavam para
Cuba. Entre 1933 e 1953, mais de 15 mil judeus,
74 mil espanhóis e 7.500 alemães se mudaram para lá.
Sobre essa época, até mesmo Che Guevara afirmou que Cuba
tinha um “padrão de vida relativamente elevado”.
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Comentários
Poxa, se até mesmo Che disse isso, o que fizeram com Cuba?
Não conheço Cuba e nunca me aprofundei na história desse país, mas um dia vi que lá não podem vender suas casas, carros e demais proibições absurdas, pergunto: A revolução em Cuba foi boa para seus cidadãos?
Depois:
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Um velho texto sobre Cuba
CUBA, O INFERNO NO PARAÍSO
Juremir Machado da Silva
http://www.correiodopovo.com.br/blogs/juremirmachado/?p=3418
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http://gilghamesh.blogspot.com/