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O problema do "problema de cálculo econômico"

O “problema de calculo econômico” é uma das falácias mais apelativas usadas contra o socialismo. Quem começou a abordar essa questão foi Von Mises (um teórico neoliberal). Ele pregou a ideia de que o socialismo tal como Marx formulou era impraticável justamente por conta do problema de calculo econômico sob o socialismo. Seria isso de fato verdade? Para confirmarmos é preciso entender do que se trata isso. Vão aqui alguns levantamentos sobre o mesmo.
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Alocação de recursos


- Levantamento dos liberais
Antes de começar, vamos ver o que é a alocação de recursos. Entendemos alocação de recursos como a “transferência de recursos”, transferência essa que deve ser direcionada para as necessidades vinculadas à algo. No caso de uma alocação de recursos numa empresa, seriam a transferência de equipamentos, veículos e etc., de um setor que não irá precisar desses recursos no momento, para um setor que está necessitando desses recursos mais urgentemente. Desse modo, a alocação de recursos no socialismo, segundo Mises, seria para as necessidades de cada pessoa, e essa alocação de recursos seria feita pelos dirigentes ou “burocratas” que tem poder de decisão.


- Levantamentos não considerados

O socialismo é o ponta-pé inicial para o comunismo, mas ainda não é o comunismo. No socialismo os trabalhadores ganham pela produtividade do que trabalham, e também é caracterizado pela presença do Estado. O comunismo é a finalidade do socialismo, e nele, os trabalhadores trabalham pela sua capacidade e ganham pela sua necessidade, e é caracterizado pela ausência de Estado.

A “alocação de recursos” já tem inserida em seu significado o intuito de suprir necessidades dos indivíduos. Se existem uma alocação de recursos neste nível, ela não será durante o socialismo, pois nesse primeiro período antes do comunismo, os trabalhadores ganhariam pelo quão foi produtivo --, ou seja: quem trabalhou mais, ganha mais; quem trabalhou menos, ganha menos -- e não pelas suas necessidades individuais (como deve ser numa alocação de recursos), e seguiria assim por determinado período. Isso já quebra o conceito de “Alocação de recursos sob o socialismo”, pois isso não existe sob o socialismo.
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Mercado


- Levantamento dos liberais

O “problema do calculo econômico” prega que é impossível nas economias socialistas, haver uma alocação eficiente de recursos, por conta da inexistência de “preços livres” (como afirmam que devem ser em sociedades de livre-mercado). Seu argumento principal era de que sem o mercado, não há formação de preços, e sem formação de preços, não pode haver calculo econômico, ou seja, se o governo é quem determina os preços, o calculo econômico se torna “não-real”, isso tudo, na perspectiva liberal, onde os valores dos recursos devem valer por mero valor de troca. Se o calculo econômico não era real, logo era irracional, e a alocação de recursos falharia.


- Levantamentos não considerados

Outro erro que é cometido nesse pensamento é a ideia de que no socialismo não existe “um mercado”, e que, logo por conta disso, os preços seriam determinados pelo governo. Tal afirmação complementa os erros conceituais encontrados antes. O que não existe no socialismo é um mercado aos moldes do capitalismo, e o valor da produção não é um mero valor de troca, mas é um valor equivalente ao esforço do produtor (no socialismo), isso é, no seu valor-trabalho. Independe de um “valor determinado pelo governo”, o preço das mercadorias é determinado pelo tempo socialmente necessário para produção dela, e se ela será produzida ou não será mais, dependerá da demanda da sociedade por esse produto. Para melhor entender o que eu quero dizer, clique aqui.
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O “burocrata onisciente”


- Levantamentos dos liberais

Se os preços são irracionais, e as necessidades das pessoas são diferentes, e um dirigente do Estado nunca conseguirá saber de fato a necessidade de toda população que ele “governa”, então ele nunca vai promover uma eficiente alocação dos recursos (a não ser que ele seja onisciente). E, logo com alocação de recursos falhando, ele não iria conseguir suprir as necessidades individuais de todos, e ainda por cima, iria fazer o povo passar por necessidades.

- Levantamentos não considerados


O primeiro erro encontrado nesse ponto é o que eu já demonstrei antes: Os teóricos liberais afirmam que o “Chefe do Estado” não é onisciente. Perceberam algo? Chefe de Estado. E se existe Estado, não é comunismo; mas, é socialismo. Se não é comunismo, a meta não é distribuir os recursos pela necessidade individual de cada pessoa (alocação), mas, sim, distribuir a partir da produtividade de cada trabalhador.


O segundo problema deste último levantamento, é que no socialismo, o que vigora é um Estado de alta participação popular (Estado esse que tem por função definhar e sumir), isso é: não é um burocrata onisciente que está administrando os recursos, mas, sim, a própria população que contribui e participa de tais administrações. Se existe algum cargo político-administrativo para isso, é apenas pela necessidade da organização desse Estado de proletários. Se houve alguma burocratização nos Estados socialistas, não foi "porque o socialismo é ou tem de ser assim", mas sim por questões objetivas na história dessas nações.

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Sobre as experiências socialistas


As conhecidas experiências socialistas do século XX conseguiram atingir vários pontos do ideal socialista, porém, não atingiram tudo. Existiram vários empecilhos para impedir que tais experiências se concretizassem como experiências de um “socialismo puro”, mas afirmar que o empecilho que fez esses países suprirem as necessidades da sua população é o “problema de calculo econômico” é desconhecimento ou desonestidade intelectual. As experiências socialistas do século XX enfrentaram problemas objetivos e materiais, mas não problemas “por cálculo econômico”.


Além dos empecilhos externos e internos, devemos considerar os exageros numéricos, exageros sobre a situação, e distorções de noticias a cerca dos países socialistas. Essa imposição midiática contra o socialismo faz com que as pessoas não tenham uma noção ideal dos problemas enfrentados nesses países (e sim uma noção distorcida/exagerada), e faz com que as pessoas não tenham noções dos inúmeros pontos positivos de tais experiências socialistas. Essas exageradas distorções contribuem para fazer com que os liberais passem a relacionar as [supostas/exageradas] necessidades que o as pessoas que vivem sob o socialismo passam, com o erro de calculo econômico. Destaquei o [supostas], porque apesar de existirem problemas e necessidades, as “necessidades” noticiadas na mídia que esse tipo de pessoa geralmente acompanha, são sempre noticias publicadas com má fé.


Podemos notar isso, por exemplo, quando em plena era da informação, existem pessoas que acreditam que a distribuição dos recursos em cuba é radicalmente igualitarista (todas as pessoas com salários iguais), como a velha falácia sem fundamento de que “o médico em cuba recebe tanto quanto um gari”, o que não é verdade. Ou mesmo quando as pessoas afirmam que a existência de algum cubano passando necessidade é devido a falha do calculo econômico, justamente porque o “burocrata” Raul (ou Fidel, antes de Raul) não é onisciente. Sabemos que não é bem assim.


Sabemos que tais experiências, mesmo para quem as não vêm como experiências genuinamente socialistas, tiveram obstáculos externos e internos, e aqui vai lista de boa parte deles. Os itens enumerados abaixo não fazem parte do histórico de todas as experiências, pois cada país teve suas particularidades que atrapalham, mas ainda sim, alguns obstáculos listados são compartilhados entre todas elas.


- Obstáculos externos: boicotes econômicos, embargos/cercos, imposição midiática, incitação a revoltas antissocialistas, financiamento à antissocialistas vindo de burgueses para propagar informações falsas (o caso da blogueira cubana é um exmplo), e etc.

- Obstáculos internos: condições materiais precárias dos meios de produção, localização e “situação” geográfica do país ruim, erros cometidos por alguém na esfera política, algum erro na questão econômica (o desvio o plano econômico socialista), medidas revisionistas de algum político e etc.
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Espero que tenham entendido a questão do calculo econômico sobre uma economia socialista, e sobre os pontos falaciosos que eu enumerei aqui, afinal, esse é um conceito que os liberais usam para tentar desprestigiar o socialismo, é preciso que nos posicionemos diante de investidas como essas, mesmo que falhas e idealistas, pois ainda há tolos que hão de acreditar.

http://vermelhoaesquerda.blogspot.com.br/2013/03/o-problema-do-problema-de-calculo.html
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Comentários

  • 7 Comentários sorted by Votes Date Added
  • Fernando_SilvaFernando_Silva Administrador, Moderador
    querosaber disse: o preço das mercadorias é determinado pelo tempo socialmente necessário para produção dela
    Isto é ridículo.

  • O problema dos que dizem e pensam que pode haver um "mercado" num socialismo no sentido-forte não capitalista, num sentido de mercado junto com a ausência de propriedade privada de meios de produção e distribuição de tamanho suficiente para ter empregados na produção e distribuição mesmo, e com essa ausência sendo conseguida através do confisco sem indenização dos desses meios de produção e distribuição, o problema dos que pensam que depois disso, e de um modo em que se impeça a volta a esse tipo de propriedade se pode haver mercado, é que eles não sabem o que é mercado. Mercado é liberdade de escolha, de escolha do que comprar.
    E um lugar de distribuição que seja só dar uma ração (de comida e de coisas) estatal (ou de algo que é Estado de fato e esquizofrenicamente se dizendo sem Estado)sem liberdade de escolha, não é mercado, mesmo que tenham umas imitações de notinhas na mão, como acontecia no socialismo real nas décadas de 1960 e 1970.
    E não dá para fazer um verdadeiro mercado sem que isso, cedo ou tarde, faça que volte o tipo de propriedade de meios de produção e distribuição com assalariados na produção e distribuição mesmo.
    Além do que, de todo modo, coisas como os kibbutz de Israel não passam de capitalismo popular, em que a distribuição igualitária é feita só entre os cerca de 700 a 1000 membros do kibbuts, para fora do kibbuts o que há é o capitalismo exceto em algumas ocasiões rituais e de caridade, mas que também acontecem com empresas capitalistas com empregados e além do que, os kubbuts tem a posse de fato, algo já bastante parecido com a propriedade, e na verdade, é um tipo de posse de fato, que já não é compatível com o socialismo no sentido forte, no sentido de não-capitalista mesmo.
  • LaraAS disse: Além do que, de todo modo, coisas como os kibbutz de Israel não passam de capitalismo popular, em que a distribuição igualitária é feita só entre os cerca de 700 a 1000 membros do kibbuts, para fora do kibbuts o que há é o capitalismo exceto em algumas ocasiões rituais e de caridade, mas que também acontecem com empresas capitalistas com empregados e além do que, os kubbuts tem a posse de fato, algo já bastante parecido com a propriedade, e na verdade, é um tipo de posse de fato, que já não é compatível com o socialismo no sentido forte, no sentido de não-capitalista mesmo.

    E além disso, num sentido voluntario só uma minoria da população quer viver em coisas como kibbuts.

  • querosaber disse: Isso já quebra o conceito de “Alocação de recursos sob o socialismo”, pois isso não existe sob o socialismo.

    A única possibilidade de desconsiderar a alocação de recursos seria com um mundo onde os recursos são infinitos.

    Daí pra frente, já não vale a pena ler.
    "In any case, what westeners call civilization, the others would call barbarity, because it is precisely lacking in the essential, that is to say a principle of a higher order." - René Guénon
  • Fernando_SilvaFernando_Silva Administrador, Moderador
    LaraAS disse: Além do que, de todo modo, coisas como os kibbutz de Israel não passam de capitalismo popular, em que a distribuição igualitária é feita só entre os cerca de 700 a 1000 membros do kibbuts, para fora do kibbuts o que há é o capitalismo exceto em algumas ocasiões rituais e de caridade
    Os kibbutzim estão mais para cooperativas agrícolas do que para socialismo.
  • Fernando_Silva disse: LaraAS disse: Além do que, de todo modo, coisas como os kibbutz de Israel não passam de capitalismo popular, em que a distribuição igualitária é feita só entre os cerca de 700 a 1000 membros do kibbuts, para fora do kibbuts o que há é o capitalismo exceto em algumas ocasiões rituais e de caridade
    Os kibbutzim estão mais para cooperativas agrícolas do que para socialismo.

    Exatamente, foi mais ou menos isso que eu quis dizer, se bem que nos kibbuts, a pessoa não paga para ser membro do kibbuts (não é a mesma coisa que comprar ações de uma propriedade agrícola), e também não é só um assalariado ao ser membro (embora hoje em dia, existam alguns assalariados neles, mas são minorias e além disso, os que são membros, continuam não tendo que pagar nada para ser membro, isso é ser membro de um kibbuts não é a mesma coisa que comprar ações de uma propriedade agrícola), e também os kibbuts formalmente são propriedade estatal, embora na prática sejam posses de fato.
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