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Novidade eleitoral: a ciência ‘bolivariana’
Uma pessoa pode ser marxista, ou pode ser "bolivariana", mas não se pode ser marxista e “bolivariana” ao mesmo tempo - diz o historiador e economista venezuelano José Toro Hardy, que há exatos 49 anos publicou o “Ideario Político-Social de Bolívar”, em parceria com Oscar Garcia Velutini.
Cabe um pouco de tudo dentro da moldura retórica do “bolivarianismo”, que o falecido Hugo Chávez expropriou de um grupo de filósofos ativistas alemães, espanhóis e argentinos, em meados dos anos 90. A começar pelo próprio Simón Bolívar, o general que lutou pela independência de seis nações sul-americanas.
Com petrodólares chavistas, os “bolivarianos” roubaram Bolívar da lista de ícones da direita, onde havia sido reverenciado até pelos fascistas de Benito Mussolini, e o internaram no panteão dos heróis revolucionários da esquerda.
Agora, aparentemente planejam criar uma novidade eleitoral: a ciência “bolivariana”. É o que sugere o “filho de Chávez”, como se define Nicolás Maduro, o “presidente encarregado” da Venezuela.
Na batalha para legitimar-se nas urnas, na eleição de abril, Maduro apresentou o primeiro compromisso do seu programa de governo: “revolucionar” todo o conhecimento científico acumulado sobre o câncer.
Esse é o sinônimo dicionarizado para tumores malignos formados pela multiplicação desordenada de células de um tecido ou de um órgão.
Na quinta-feira passada (21/3), em comício transmitido por cadeia nacional de rádio e televisão, Maduro prometeu aos eleitores venezuelanos que, se ganhar a eleição presidencial de abril, vai “designar uma comissão de cientistas para que investiguem a inoculação da doença do câncer”. Disse estar convicto de que não apenas isso é possível, como foi a causa da morte do “nosso comandante Chávez”, a quem cita em discursos pelo menos nove vezes ao dia. Foi obra, segundo ele, do capitalismo, do “Império”, da CIA e de seus prepostos, para “retirá-lo do caminho da revolução”.
Não há nada que incompatibilize o socialismo científico com a astrologia sideral, dizia o compositor Carlos Lyra, autor entre outras de "Herói do medo":
"Herói do medo, imolo a vítima
Que aplaca a vida íntima do herói
E aos vencidos (compatriotas)
O meu desprezo, porque nas derrotas
Não movo um dedo por impedir
Com vencedores eu me identifico
E justifico conquistadores
Por seu direito extremo de oprimir
Herói do medo, execro o mundo
E a Humanidade, sem lhe ver a face
Pretendo ao prêmio sem correr riscos
E conquistar a glória em luta fácil
Do comodismo desta moral
Falta de ação, mas pródiga de gestos
Lanço um olhar ao meu passado
Me paraliso e me converto em sal …”
O venezuelano Maduro não está sozinho nessa cruzada pela “revolução bolivariana” das ciências. Dois anos atrás, quando o Chile foi devastado por um terremoto, o presidente boliviano Evo Morales, outro “filho” chavista, chegou a propor o estudo desses fenômenos sob uma perspectiva inovadora, apoiado em uma conclusão que anunciou em discurso: “Os terremotos são consequência das políticas neoliberais.”
Depois, diante de uma escassez de açúcar nos mercados, Morales convocou uma cadeia de rádio e televisão para garantir aos bolivianos: “Consumir os ossos do nosso gado é alimento melhor que um café com açúcar.”
Em Buenos Aires, a sua amiga enlutada Cristina Kirchner, que só admite comparar o falecido marido Néstor a Chávez, lançou-se na frente de batalha da revolução científica “bolivariana”. E, em discurso, anunciou aos argentinos: “A gordura do porco é menos nociva do que a gordura do boi. Acabei de receber um dado, e não é um dado menor: a indigesta carne de porco melhora a atividade sexual. E é muito mais prazeroso comer um porquinho do que tomar Viagra.”
Ninguém está isento de dizer bobagens. O problema é quando são ditas a sério. Pelo que têm demonstrado os líderes, uma das características do “bolivarianismo“ é sua capacidade de fermentar asneirices, sempre pronunciadas com grande solenidade.
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Comentários
Parece que a estupidez não tem limites. Vão perder (será mesmo?) um bom tempo para provar que alguém pode fazer outra pessoa desenvolver câncer, coisa que poderiam economizar um bocado simplesmente perguntando às empresas de cigarros, que vêm fazendo isso há mais de século.
A melhor maneira de combate-los é deixá-los falar.