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A estupidez a galope
Olhe bem por onde você anda ou o que você ouve. As milícias estão vigiando você nas redes sociais e podem te transformar num dejeto em um abrir e fechar de olhos.
Elas acompanham teus passos e se você não gosta de Daniela Mercury, cuide-se: você pode ser um homofóbico sem caráter pronto para ser dizimado.
Mas o que você quer é apenas evitar que alguém te obrigue a ouvir Daniela Mercury e está se lixando pra vida particular dela? Pouco te importa se ela casou com um homem ou com uma mulher, ou mesmo se ela apenas se casou? Prefere simplesmente ouvir Elis Regina, Ella Fitzgerald, Maria Callas ou Renata Tebaldi?
Cuidado, as milícias estão de olho em você.
Se Daniela Mercury avisou ao mundo que casou com uma mulher - a esposa dela- e está feliz, e você estiver simplesmente se lixando pra isso, pode ser sinal de que você apoia o pastor Feliciano. E isso é pior do que jogar pedra na cruz. Mas receber o espírito de Hugo Chavez em forma de “pajarito chiquitito” passa a ser conversa de estadista.
O futuro presidente Maduro, da Venezuela, não é um "bocó" , mas apenas um sensitivo. Se ele insinua que o adversário pode ser homossexual, isso não é homofobia, é pensamento dialético de esquerda.
A estupidez, que antes trotava, agora galopa.
Se você diz que o deputado Feliciano - que a maioria prefere chamar de “pastor” em vez de deputado, como se isso fosse uma ofensa - é uma belíssima besta quadrada, mas tem todo direito constitucional de dizer o que bem entender, dado que não existe delito de opinião no País, você passa a ser um felicianista, e consequentemente racista e homofóbico, que hoje em dia é crime mais grave do que o genocídio.
Ou você sai por aí a beijar um semelhante do mesmo sexo, ou você está condenado ao fogo do inferno. Absolva-se beijando o vizinho. Ou um artista de certo renome - de preferência que já tenha passado pela Globo. Você tem que garantir um mínimo de mídia, ou morre anônimo. Ninguém notará a sua existência.
A marcha da estupidez é implacável.
Esta semana apareceu nas redes sociais uma gravíssima acusação contra o eventual-quem-sabe-futuro-candidato-do-PSDB-à-presidência, o mineiro Aécio Neves: ele chamou o golpe de 64 de revolução. Um escândalo. A milícia sequer se deu ao trabalho de recorrer a qualquer Houaiss da vida para conhecer o significado da palavra “revolução”.
Simplesmente saiu condenando o quase-futuro-candidato por adesão precoce ao golpe de 64. Na época ele tinha 4 anos e é difícil que tenha participado da Marcha da Família com Deus pela Liberdade. Mesmo porque o vovô não deixaria.
E assim seguimos. Pra onde?
Sandro Vaia é jornalista. Foi repórter, redator e editor do Jornal da Tarde, diretor de Redação da revista Afinal, diretor de Informação da Agência Estado e diretor de Redação de “O Estado de S.Paulo”. É autor do livro “A Ilha Roubada”, (editora Barcarolla) sobre a blogueira cubana Yoani Sanchez. E.mail: svaia@uol.com.br
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