Síndrome do gênio isolado
Ele era um gênio. Aos 5 anos de idade, já havia composto uma importante peça musical. Mas tinha um comportamento difícil. Não se relacionava com os outros; na verdade os ignorava. Cresceu sem amigos, seu casamento afundou rapidinho e o que sobrou de sua vida foi o que tinha de indiscutivelmente único: a genialidade musical. Essa é a história de Mozart, mas poderia ilustrar a vida de outros portadores de um tipo moderado de autismo, o transtorno (ou síndrome) de Asperger.
Em The Genesis of Artistic Creativity ("A Gênese da Criatividade Artística", sem tradução brasileira), o psiquiatra Michael Fitzgerald analisou a vida de 21 gênios das artes e concluiu: parte dos problemas que tiveram era decorrente dessa condição - assim como a sua genialidade. Ou seja, Mozart, Andy Warhol, Franz Kafka e George Orwell eram gênios autistas.
Portadores do transtorno de Asperger têm a mesma dificuldade para socializar, criar relações afetivas, comunicar-se, além da propensão a comportamentos repetitivos e solitários. Mas há uma diferença brutal em relação a outros autistas. Seu QI é acima da média. Às vezes, muito acima. Tanto que diferenciar um superdotado de um portador de Asperger na infância é quase impossível.
A razão para sua vantagem está em seu próprio problema. Como o mundo externo não importa, quem tem transtorno de Asperger consegue se focar mais em um único interesse: música, ciência, literatura. Como não consegue se comunicar verbalmente, volta-se para o estudo. O mesmo comportamento obsessivo de alinhar objetos e buscar semelhanças em coisas aleatórias os torna cientistas natos.
Daí os casos como o do economista Vernon Smith, que, ao ganhar o prêmio Nobel, atribuíu o prêmio ao autismo. Afinal, podia "desligar-se do mundo" quando quisesse e se concentrar só no estudo. Foi assim que Asperger virou pop.