Governo de SP lança bolsa para usuários de crack
Cartão será entregue às famílias dos dependentes somente para pagar clínicas credenciadas
Marcelle Ribeiro
Publicado: 8/05/13 - 10h09 Atualizado: 8/05/13 - 20h25
Cracolândia em São Paulo Eliaria Andrade / Arquivo O Globo
SÃO PAULO — O governo de São Paulo lançará oficialmente nesta quinta-feira um programa pelo qual usuários de crack receberão uma bolsa de R$ 1.350 por mês para custear despesas com unidades de reabilitação e acolhimento social e evitar recaídas. O programa, que é visto com algumas ressalvas por especialistas, é anunciado ao mesmo tempo em que o atendimento a dependentes de drogas no Centro de Referência de Álcool, Tabaco e Outras Drogas (Cratod), do governo estadual, ainda esbarra em dificuldades, segundo juízes.
Pelo programa Recomeço, cada dependente químico maior de 18 anos receberá um cartão que só poderá ser usado para pagar tratamento em comunidades terapêuticas, onde poderão morar e se tratar por até seis meses. Inicialmente, o projeto vai beneficiar 3 mil dependentes químicos que já tenham passado por atendimento psiquiátrico anterior. Caberá às prefeituras indicar os nomes dos dependentes que receberão o cartão, pois são os municípios que gerenciam os Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (Caps AD), onde os viciados recebem atendimento ambulatorial. O projeto chegará primeiro a 11 cidades do interior do estado onde há Caps AD.
— Na comunidade terapêutica, o dependente tem qualificação profissional, de fortalecimento de vínculos com a família. Não tem médico, tem assistente social e pessoas que ministram oficinas para ajudar ele a se inserir na sociedade e no mercado de trabalho. Médico ele verá na rede de saúde pública e no Caps. O cartão agilizará o avanço do atendimento para o interior — explica o secretário de Desenvolvimento Social, Rodrigo Garcia.
Segundo o secretário, na capital, o atendimento já é feito por comunidades terapêuticas conveniadas. Ele estima que em 60 dias já haverá pessoas começando a serem atendidas. As comunidades terapêuticas serão escolhidas pelo governo após passar por vistorias e terão que apresentar plano de atividades para os usuários, dentre outros requisitos. A iniciativa é inspirada num projeto similar feito pelo governo de Minas Gerais, onde a bolsa é de cerca de R$ 900.
A professora de psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e ex-presidente da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e Outras Drogas Ana Cecília Marques disse que numa situação em que pouco se faz para resolver o problema do crack no país, a iniciativa é positiva e pode ajudar pacientes que não teriam alternativa de tratamento caso não recebessem a bolsa. Mas ela acredita que o governo deveria exigir que houvesse um médico dentro das comunidades terapêuticas credenciadas.
— Precisa de médico para fazer avaliação da síndrome de abstinência, que é um quadro grave e tem que ser tratado por um médico — afirma.
Thiago Fidalgo, coordenador do Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes da Unifesp , diz que o governo não deveria privilegiar a internação como solução para o problema das drogas, e sim investir em prevenção e tratamento ambulatorial, pois a internação é necessária em apenas alguns casos. Segundo ele, muitas comunidades terapêuticas não trabalham de forma adequada atualmente e precisariam se adequar.
— Em muitas comunidades terapêuticas, pelo menos no período inicial, o dependente não pode deixar a unidade. Cerca de 70% dos usuários de drogas têm doenças psiquiátricas que precisam ser tratadas e a maior parte das comunidades terapêuticas não tem psiquiatra. O ideal é que a comunidade estimule a inserção social. E como ela vai fazer isso se afasta a pessoa da comunidade? — questiona Fidalgo.
Mais de três meses depois de um plantão judiciário ter sido instalado no Cratod, unidade de referência ao atendimento de dependentes no estado, a burocracia ainda emperra a ajuda a viciados. Segundo o juiz Iasin Issa Ahmedas, ainda há casos de dependentes em crack que esperam 30 dias para serem internados por falta de vagas, mesmo quando possuem laudo médico recomendando internação e decisão judicial determinando que o estado tome providências.
— Na última sexta-feira houve um caso de um rapaz que estava há 30 dias esperando vaga, em casa. Ele estava estável, mas isso é um absurdo. Tem que ter vaga logo. A gente liga, cobra, e a vaga não sai. A novela desse rapaz acabou, ele conseguiu a vaga. Mas há uma burocracia enorme na área da saúde, as pessoas não se comunicam — disse Ahmedas.
Segundo a secretaria estadual de Saúde, desde que o plantão judiciário começou a atender no Cratod, em 21 de janeiro, até anteontem, o centro recebeu 25 mil telefonemas pedindo informações e foram realizadas 770 internações (sendo 712 voluntárias e 58 involuntárias, mas nenhuma compulsória). De acordo com a pasta, em 92% dos casos atendidos pela unidade, com necessidade constatada de internação, os pacientes permanecem por no máximo dois dias no Cratod, em leitos de observação, enquanto há a liberação de transferência para uma unidade hospitalar.
FONTE: http://oglobo.globo.com/pais/governo-de-sp-lanca-bolsa-para-usuarios-de-crack-8327595
OGlobo
"In any case, what westeners call civilization, the others would call barbarity, because it is precisely lacking in the essential, that is to say a principle of a higher order." - René Guénon
Comentários
O governo de SP não está dando um vale dinheiro para usar onde bem entender e sim só clinicas cadastradas poderão receber o dinheiro e ficam de posse do cartão. Agora, se haverá fraudes, isso e aquilo é outra história.
Contudo, se a iniciativa fosse do governo atual, apareceriam aqui furacões de críticas sobre a iniciativa...
O governo está é dizendo às famílias: "Tomem este dinheiro e se virem!"
Está distribuindo o NOSSO dinheiro e tirando o corpo fora.
― Winston Churchill
Mais de mil reais por mês para uma cambada de nóias imprestáveis, vagabundos e parasitas, valor maior que o salário de muitos trabalhadores decentes...
Vivemos tempos estranhos...
R$ 450,00 para o nóia que irá fingir se tratar.
R$ 450,00 para a clínica que fingirá tratá-lo.
R$ 450,00 para o fiscal que fingirá que fiscaliza.
http://oglobo.globo.com/pais/comunidades-terapeuticas-mantidas-por-parlamentares-podem-ganhar-verba-federal-8237104
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8609 + aquelas que tenho agora. ):-))
Ronaldo Laranjeira, duro crítico da descriminação das drogas, comandará programa anticrack em SP; não existe nem existirá “Bolsa Crack” no Estado; trata-se de uma absurda distorção
Informação em primeira mão: o psiquiatra Ronaldo Laranjeira, um dos maiores especialistas em dependência química do Brasil (candidato a ser o maior), internacionalmente reconhecido por seu trabalho na área, será o coordenador-geral do Projeto Recomeço, de combate ao crack, que está sendo implementado pelo governo de São Paulo. Atenção! Não existe “Bolsa Crack” nenhuma em gestação no Estado! Isso é uma grave distorção! Ainda que se queira dizer que “é como as pessoas estão chamando”, então é preciso que se lhes diga a verdade: “Pessoas, vocês estão erradas! Isso é uma besteira!”. Já chego lá. Laranjeira, PhD em psiquiatria pela Universidade de Londres (Maudsley Hospital), justamente no setor de Dependência Química, é um crítico severo da descriminação das drogas. Pesquisador rigoroso, é titular do Departamento de Psiquiatria da UNIFESP, diretor do INPAD (Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Políticas Públicas do Álcool e outras Drogas) e coordenador da UNIAD (Unidade de Pesquisas em Álcool e Drogas). Muito bem. O que é o Projeto Recomeço? PRESTEM BEM ATENÇÃO!
Será impossível contar com instituições públicas e leitos públicos em todas as cidades do estado de São Paulo para dar atendimento aos dependentes químicos. Esse trabalho terá de ser feito também por instituição privadas, devidamente credenciadas. O Estado de São Paulo estabeleceu o valor de R$ 1.350 para pagar por esse serviço. Anotem:
1: O DINHEIRO NÃO SERÁ DADO AO DEPENDENTE.
2: O DINHEIRO NÃO SERÁ DADO À FAMÍLIA DO DEPENDENTE.
3: O DINHEIRO SERÁ REPASSADO DIRETAMENTE À INSTITUIÇÃO QUE PRESTAR O SERVIÇO.
A família de quem estiver em tratamento, esta sim, receberá um cartão atestando que FULANO DE TAL está em tratamento na unidade “x”. Por que isso é importante? Porque é uma forma a mais de saber se o serviço está mesmo sendo prestado, abrindo, ademais, a possibilidade de avaliar a sua efetividade ou não.
ISSO É “BOLSA CRACK”? TENHAM A SANTA PACIÊNCIA!!!
O governo de São Paulo, felizmente, não é um “liberacionista” — Laranjeira tampouco. Ao contrário. A polícia do estado é uma das mais intolerantes com o tráfico e é a que mais prende, no que faz muito bem. Alckmin implementou a internação involuntária no estado e apresentou um projeto para que menores que cometem crimes hediondos possam ficar até oito anos retidos. Estou a dizer que não se trata de um governo que tem um postura nefelibata diante do crime.
Falar em “Bolsa Crack” sugere que o governo repassará aos familiares dos dependentes R$ 1.350 para que gastem como lhes der na telha, de sorte que ter um viciado em casa poderia significar até um ativo. Isso não existe!!! O dependente que quiser tratamento poderá contar também com a rede privada, se a pública não puder atendê-lo. Uma vez cadastrado, sua família recebe o cartão. Não é um cartão de débito nem de crédito, mas de mera identificação. E por que fica com a família? Porque esse tipo de doente é sabidamente arredio a controles.
São Paulo cumpre o que Dilma prometeu
O programa de combate ao crack do governo federal, por enquanto, é pura ficção. O estado de São Paulo tem procurado apertar o cerco ao tráfico e prestar auxílio médico aos dependentes. Essas são as linhas gerais do programa. E estão, até onde se alcança, corretas.
É absurda a ilação de que se trata de uma “bolsa”. Fosse assim, melhor seria dar R$ 1.350 às famílias dos alunos que só tiram A no boletim, não é mesmo? Não se trata de um prêmio ou de uma compensação para a família que tem em casa um viciado. Não! Já que o estado brasileiro decidiu que a dependência química é uma doença e já que existe a urgência social de tratá-la, que se faça isso, então, de maneira organizada.
O programa, de resto, estará em mãos seguras. Laranjeira não é um desses que, com a mão direita, oferece tratamento aos dependentes e, com a esquerda, facilitam o acesso àquilo que os mata. Ao contrário: ele tem a clareza — mera questão de lógica elementar — de que, junto com o tratamento, é preciso criar dificuldades para a circulação de substância entorpecentes.
Quem quer Bolsa Droga é o aloprado ex-presidente da Colômbia César Gaviria, membro da Comissão Latino-Americana Sobre Drogas e Democracia. Este, sim, defende que o estado forneça a drogataos viciados. Laranjeira, felizmente, é de outra cepa.
Texto publicado originalmente à 1h01
Por Reinaldo Azevedo
Fonte:veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/ronaldo-laranjeira-duro-critico-da-descriminacao-das-drogas-comandara-programa-anticrack-em-sp-nao-existe-nem-existira-bolsa-crack-no-estado-trata-se-de-uma-absurda-distorcao/
Espero estar errada, que o programa ajude a resolver o problema mas o ceticismo em relacao a isso esta mais do que justificado.
Por que se alguém sugerir algo semelhante para as instituições de ensino, logo será ridicularizado pelos pedagogos do país inteiro?
R$1350 é uma mensalidade superior à cobrada pelas escolas campeãs do ENEM.