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Catolicismo primitivo encanta os jovens cariocas
Comunidades de vida representam um sopro de renovação na Igreja
RIO - Para os que estão hesitantes, a música apressa a decisão. Enquanto preparam os kits dos peregrinos da Jornada Mundial da Juventude, jovens sorridentes cantam com fervor: “Largue a faculdade, a família e o namorado. Não deixe Jesus de lado. Venha ser feliz de fato”.
Comunidades católicas como a Obra de Maria, na Penha, reúnem jovens em torno de símbolos da igreja: conduzidas por leigos de inspiração carismática, eles pregam mudanças radicais - Agência O Globo / Gustavo Stephan
A cena, vista na quinta-feira num sobrado do Catete, Zona Sul carioca, agitava a sede regional do movimento Shalom. Mas poderia ter ocorrido em qualquer uma das cerca de 800 comunidades de vida ou de aliança no Espírito Santo espalhadas pelo Brasil. Abandonar tudo, em troca de uma “verdadeira vida de comunhão e relacionamento fraterno profundo”, é a base deste fenômeno que revigora e rejuvenesce o catolicismo: a nova evangelização conduzida por leigos, organizados em associações ou comunidades de inspiração carismática como o Shalom, que encantam a juventude pela chance de uma mudança radical de vida. A música no Catete desafia: “Já largou?”.
Beatriz Delfina largou. Anderlon Mendes de Aguiar também. Kássio Célio Moura está se preparando para largar. Os três, embora pertençam a comunidades católicas diferentes, atenderam ao chamado na busca de um sentido para vida. Beatriz, da comunidade Servir, saiu de casa aos 22 anos, no meio da turbulenta separação dos pais. Anderlon abraçou a Obra de Maria aos 20 anos, cansado das noitadas regadas a álcool em Recife. Kássio entrou para a Shalom aos 21 anos, após ficar órfão de pai e mãe.
Dos três, apenas Kássio ainda mantém vínculos com o mundo exterior. Fiéis como ele, que continuam a morar com seus parentes e a manter o trabalho ou estudo, constituem a chamada “comunidade de aliança”. Já os que tiveram um tipo especial de consagração, como Anderlon, passando a compartilhar as finanças e o cotidiano com outros e a dividir o mesmo teto e as despesas domésticas, formam a chamada “comunidade de vida”, o estágio mais avançado do fenômeno. Pela lógica de funcionamento, os que estão fora ajudam a manter financeiramente os de dentro.
Para ingressar na comunidade de vida, Anderlon teve de passar por um rigoroso processo de formação. Fez os votos de pobreza, obediência e castidade. É como se tivesse zerado toda a vida anterior por uma nova primavera, marcada pela pureza e pela comunhão permanente com o Espírito Santo. Kássio e Beatriz caminham para a mesma consagração, embora a jovem, ex-estudante de design, já more na comunidade.
— Passava da hora. Não vejo mais futuro fora da comunidade. Quando Deus me chamou para largar a família, a faculdade e o trabalho, foi por algo muito grande — argumenta.
Estas comunidades e seus missionários formarão a turma do gargalo das grandes celebrações da JMJ. Só a Shalom, fundada há 31 anos em Fortaleza (CE), está trazendo ao Rio 10 mil peregrinos. Pela Obra de Maria, criada em 1990 em Recife, chegaram outros 10 mil. A Jornada representará a consagração do fenômeno. Seus dirigentes participaram ativamente da organização do megaevento. Seus artistas estão na programação oficial. Suas instalações abrigam visitantes. Mas a grande demonstração de força será dada pelos missionários, em sua maioria jovens que pareciam viver na semana passada a expectativa de um show de rock ou decisão de campeonato.
— Todo jovem gosta de desafios. Busca uma vida radical — explica Anderlon Aguiar.
Guinada radical, neste caso, representa um mergulho no mundo conservador. Nestas comunidades, que resgatam o estilo de vida dos cristãos dos primeiros tempos, são intransigíveis as condenações ao aborto, à eutanásia, à união civil entre pessoas do mesmo sexo e à ideia de que o ser humano e o macaco tiveram os mesmos ancestrais. O namoro só é possível com a autorização da comunidade, ainda assim o casal tem de pertencer ao grupo.
— Se o homem descende do macaco, ele continuaria a evoluir. Mas os nossos braços e pernas não estão crescendo, nosso rosto não está mudando e nem estamos ganhando asas —argumenta Anderlon.
Nas comunidades católicas, o discurso dos missionários contrasta com o ambiente interno, extremamente atraente para o público jovem. A Obra de Maria, por exemplo, tem um circo, o "Alegrai-vos", com palhaços, equilibristas e globo da morte, e promove um show de standup comedy, "Viver de rir porque morrer ninguém quer". A música gospel tem uma roupagem moderna que acolhe todos os ritmos, do funk e axé ao eletrônico e metal. No Rio, a agenda jovem do movimento inclui danceterias como a Cristoteca e até um grupo de surfistas.
— O jovem não quer moderação. Quer ir fundo. Adere às comunidades como estratégia de confronto com a modernidade, que considera desintegradora das relações sociais — explica a socióloga da UERJ Cecília Loreto Mariz.
Cecília sustenta que, ao abandonar o estudo ou o sonho de formação de uma família pelo casamento, esses jovens passam a viver apenas de doações, e se tornam “virtuoses religiosas”. Foi o caso de Beatriz Delfina, da Servir, que até hoje enfrenta a resistência familiar pela opção que fez. Com seu gesto, ao atender ao chamado “do amor de Jesus, maior do que todo o resto”, ela não deu as costas apenas para a estabilidade doméstica. Absteve-se também da rotina de vida, do preço das passagens, da falta de médicos nos hospitais públicos, da escalada inflacionária.
Cercada dos novos amigos, Beatriz emociona-se e chora ao anunciar o desejo de fazer o voto de castidade. A cofundadora da Servir, Ruth Abreu, mostra-se orgulhosa pela escolha de Beatriz. Socorre-a das cobranças familiares. Ela própria também enfrenta dilemas familiares. Sua irmã vive uma relação homoafetiva.
— Não aceito. Tolero, porque Jesus nos ensina a amar ao próximo, mas não consigo conviver com isso.
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Comentários
Sei lá o que estes caras acham que era o "estilo de vida dos cristãos dos primeiros tempos".
Devem ter tirado as ideias do filme "QUO VADIS?"
Crentes também tem esta coisa de imitar cristãos primitivos, com base nas Cartas de Paulo.
Daí as bizarrices de se fingirem de bêbados ou malucos porque escreveram em algum lugar que alguns dos primeiros cristãos foram assim tomados por conta do comportamento estranho.
Mas.., e sempre tem um mais..., "cristãos primitivos" pipocaram desde a Palestina, passando pelo norte da África, Grécia, Turquia atual e foram se alastrando pelas províncias do Império antes e durante a conquista da capital, Roma.
Duvido que algum destes grupos Católicos imitem os Coptas, tão primitivos quanto ou mais.
Nós, Indios.
Lutar com Bravura, morrer com Honra!
Crente falando em línguas é um ridículo desculpável.
Católico falando em línguas não tem desculpa.
Nós, Indios.
Lutar com Bravura, morrer com Honra!
Estes não pareciam católicos carismáticos não e sim católicos tradicionais e do interior.
Eu quero a Verdade .
A realidade é um conjunto de possibilidades que se concretizou dentro de um universo infinito de possibilidades.
Pqp ! Eu já fui de esquerda !
Click aqui :
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"Um monte de beatos salú"... Ótima!
Nós, Indios.
Lutar com Bravura, morrer com Honra!
Como disse o Danilo Gentili, em relação ao carro blindado do Papa: "Porra, se Deus não protege nem o Papa, eu, então, estou fudido!" (SIC).
E olha que para carioca está fazendo um frio de rachar