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O grande engodo
EDWARD AMADEO - O GLOBO - 25/07/13
Em 1999, a despeito da perda de popularidade, Fernando Henrique Cardoso encaminhou as reformas para estabilizar a economia - enfrentando feroz oposição do Partido dos Trabalhadores.
Três anos depois os bancos públicos estavam capitalizados, as dívidas estaduais sanadas, a credibilidade do Tesouro ancorada na Lei de Responsabilidade Fiscal, o sistema previdenciário equilibrado, as agências regulatórias instaladas, o mercado de capitais renovado e o sistema financeiro sólido. Esta a herança de FHC - a maldita!
Em continuação, a "agenda FHC" incluiria redobrar o foco na educação, fomentar a poupança, fazer a reforma trabalhista, aplainar a estrutura tributária, promover a integração à economia global, investir na infraestrutura e modernizar a administração pública.
Essa não era a agenda do PT que previa a criação do "mercado de massas" e a redução da "vulnerabilidade externa" valorizando o salário mínimo, reduzindo os juros, ampliando o crédito, depreciando o Real e fazendo políticas setoriais.
É importante enfatizar as diferenças para que não se pense que a situação atual é obra do acaso ou da conjuntura internacional.
No início do governo Lula, a agenda do PT ficou em segundo plano. A inflação chegou a 3% em 2006 e ele foi reeleito.
Porém, desde a crise de 2008 o governo adotou fórmula do PT que costuma produzir euforia momentânea seguida de longa depressão. Porque incorre no erro de manipular os preços como se a economia não tivesse leis de funcionamento. Ou como se a inflação não acomodasse as inconsistências da política econômica.
A inconsistência da política do PT está na ênfase no consumo e no desprezo pela eficiência.
Com o boom das commodities recebemos um bônus do exterior. Esse bônus foi dirigido ao consumo via aumento do salário mínimo, uma infinidade de bolsas, incentivos tributários e do incentivo ao crédito. A desoneração da folha não passou de um subsídio ao emprego, quando a nossa carência era de investimentos. A atração de investimentos privados para a infraestrutura se choca com a ideologia ou os interesses do PT.
A dívida pública cresceu com as inúmeras capitalizações do BNDES, que subsidiou os oligopólios e não conseguiu aumentar o investimento. O BB e a CEF solaparam os concorrentes privados e os consumidores agora estão atolados em dívidas. A Petrobras subsidiou a gasolina e o TCU agora diz que ela está em condições precárias. O Tesouro distribuiu isenções a torto e a direito, e a situação fiscal começa a ser um risco.
Resultado, o emprego e o consumo dispararam, o investimento e a produtividade ficaram para trás. Não contente, o Banco Central cortou juros e o governo incentivou a depreciação cambial. Astros alinhados para a volta da inflação. Esse foi o grande engodo a que fomos submetidos.
A "maldição das commodities" se repetiu. Diante da molezinha da renda vinda de fora, os líderes populistas distribuem benesses, cooptam empresários, expandem o crédito para as massas e usam a apreciação cambial para controlar a inflação.
Esse modelo se esgotou e o governo não tem mais munição. O ajuste daqui para frente produzirá queda do salário, elevação dos juros e depreciação do Real.
Esse ajuste não resultará de uma opção conservadora de quem estiver no Palácio do Planalto, mas sim uma consequência inevitável da política econômica do PT. Caberá a ele ou a ela administrar essa bendita herança.
Edward Amedeo é economista, vinculado ao grupo Gávea Investimentos.
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Comentários
FHC se deixou levar pelo delírio de vaidade de que passar o poder para o líder da oposição esquerdista seria o coroamento de sua biografia de estadista democrático. Então, pouco ou nada fez pela eleição de José Serra em 2002. Serra, em outro lance de vaidade estúpida, queria desvincular sua imagem da do correligionário presidente e pouco ou nada fez para conquistar algo mais que o apoio formal dele. O PSDB foi o terceiro pateta da lambança e entendeu que se um não queria dar apoio e outro não fazia questão de receber, então tava tudo bem.
Resultado, Lula não ganhou a eleição, foi o PSDB que lhe a entregou de bandeja.
No poder, Lula e o PT começaram a reescrever a História recente do país, criando e difundindo o credo Petista de que antes de 2002 o Brasil era sem forma e vazio, trevas cobriam a face do abismo e a estrela vermelha pairava sobre as águas.
Bobo demais?
Sim, tanto que pegou e hoje todo tipo de idiota repete a História reescrita pelo PT que o governo de Fernando Henrique Cardoso foi um período de caos, fome e injustiça, quando o Brasil era algo parecido com os campos de refugiados da Somália, enquanto a elite perversa e exploradora se divertia com a desgraça do povo. Ou coisa parecida.
E o PT ainda tem a cara de pau de acusar a mídia de manipular os fatos...
Nós, Indios.
Lutar com Bravura, morrer com Honra!
Com a queda brusca da popularidade da presidente Dilma, que acaba afetando todo o partido, a oposição terá a melhor oportunidade de se eleger em [editado]12[/editado] anos. Dependerá de sua capacidade de organização.
Acho que temos duas situações no PSDB. Um PSDB "Paulista" e um outro "Nevesista". O Neves tem grande chance de se eleger, mas vai esbarrar na Marina Sassilva que poderá ter o apoio do PSDB serrista-paulista. Se isso ocorrer, das duas uma: Ou a Marina governa como poste (assim como o faz o sargentão Dilma) ou o pior poderia acontecer e ela se ver envolta numa oportunidade de aplicar o comunismo rejuvenescido e evangelecido.
E com tudo isso, sinceramente não vejo nada de bom vindo por aí...
O PSDB também está nesse saco e perdeu o rumo faz tempo.
Burrice e covardia. A oposição caiu na lábia do PT de que dois processos de impeachment para três presidentes eleitos seria uma ameaça à democracia brasileira e ficaram com medinho de serem acusados de criar uma crise institucional. Perderam a chance histórica de deter o projeto de poder petista no início e forçar o PT a concluir sua transição para um partido social democrata de fato, não só no discurso de propaganda eleitoral.
Há mais esperança num racha dentro do PT que na incompetente, estúpida e covarde oposição.
A militância petista só apoiou Dilma Rousseff porque Lula mandou, do contrário rejeitaria alguém que nunca fez parte dos quadros históricos do PT e jamais disputou uma eleição, em detrimento da fila de companheiros que esperam a chance.
Com o enfraquecimento da presidente Rousseff, o PT tende a se dividir entre as facções que a apoiam porque, afinal, é ela que tem a chave do cofre no momento, aqueles que clamam pela volta de Lula, os que apoiam os tais quadros históricos na fila e os pragmáticos que acham que uma aliança com Eduardo Campos reforçará o projeto petista de eternizarem-se no poder, fingindo que estão dispostos a revezar com outros partidos.
Contra as pretensões petistas gritam ainda a estagnação do crescimento econômico, o risco de aumento descontrolado da inflação, a perda de poder eleitoral do Bolsa Família, com as massas recebedoras mais confiantes que um governo de oposição manterá o benefício, o fenômeno das manifestações populares de Junho, que pegou os estrategistas do PT completamente desprevenidos e os levou a bater cabeça e, claro, a própria Presidente Rousseff, que tem o carisma de um poste.
Nós, Indios.
Lutar com Bravura, morrer com Honra!
Existem dois PT's: Aquele apresentado para as massas pela propaganda eleitoral, que se faz de partido social democrata moderno e de esquerda moderada ao estilo europeu.
E o PT de verdade, que resulta do âmago das lutas intestinas de sua militância, ideólogos e líderes, onde ainda é viva e dominante a essência revolucionária e marxista do Partido.
Lula e a presidente Rousseff até agora conseguiram botar uma focinheira nos cachorros loucos da militância petista, que se pudessem já teriam instituído um Estado Policial com censura à imprensa, cerceamento da liberdade dos outros partidos e centralização de poder no executivo.
Ou seja, a identidade pública do PT é falsa e sua identidade verdadeira ainda é motivo de "debate interno".
O PSDB deveria ser um partido forte de centro esquerda que revezaria no poder com um partido forte de centro de direita.
De novo, estupidamente, deixou o PT conquistar o espaço eleitoral da centro esquerda, o que jogou os Tucanos fora do espectro político, já que de Direita não são nem a pau, só na propaganda petista, que define como direita quem é menos esquerdista que o PT, ao mesmo tempo em que jogam a centro direita para a posição de "extrema".
Com isto, todo espectro político brasileiro pendeu para a esquerda, uma vitória estratégica do PT que serve de exemplo a quem acha que Projeto de Poder Petista é teoria da conspiração.
Nós, Indios.
Lutar com Bravura, morrer com Honra!
O PSDB não aprendeu nada com a lição política deixada pelo regime militar.
Um dos efeitos mais danosos da miopia política dos militares foi inibir o surgimento de lideranças civis, o que implicou que tais lideranças se desenvolveram dentro da clandestinidade dominada pela Esquerda, que aproveitou o vácuo e se instalou no governo.
Reincidindo no erro, o PSDB dominou a política do Estado de São Paulo por décadas, mas DE NOVO estupidamente, não aproveitou este tempo para construir lideranças jovens que dessem continuidade à força do partido, insistindo em repetir os mesmos nomes eleição após eleição.
Resultado, aqueles nomes se desgastaram com o tempo e o partido agora se vê sem líderes a quem recorrer, tendo que apelar pro ridículo de flertar com uma Marina Silva, que tem uma história de vida bonitinha, mas não passa disto.
Nós, Indios.
Lutar com Bravura, morrer com Honra!
Há um velho ditado que diz que se pega a quadrilha na hora de dividir o produto do roubo.
Além disso, pode ser que depois de uma década, o impacto eleitoral dos programas auxílio direto (outra coisa que o PSDB deixou o PT surrupiar o crédito) já esteja baixando.
Exato.
Ninguém tem medo de que se este ou aquele partido for eleito perderá o décimo terceiro salário por exemplo.
Com o tempo o povão percebe que nenhum político se arriscaria ao impacto de medida tão impopular e se sente mais tranquilo em votar em quem quiser.
Nós, Indios.
Lutar com Bravura, morrer com Honra!
Hoje eu já não vejo mais o empacamento da China como um "se", mas "quando". O resultado inevitável de uma "década perdida" (e posterior hiperinflação) após o "milagre econômico". O erro básico da economia centralizada.
Com a diminuição da demanda das commodities e a conseqüente queda dos preços, o resultado pode ser ainda pior do que as previsões mais pessimistas que alguns faziam sobre uma hipotética gestão petista.
Já vimos este filme no Milagre Econômico Brasileiro, com a diferença de que naqueles tempos houve taxas aceleradas de crescimento, coisa que até aqui não vimos necas de pitibiribas.
Mas o fato é que economia tocada por circunstâncias e não por estruturas desaba quando as circunstâncias mudam. E circunstâncias, por definição, não duram prá sempre.
Nós, Indios.
Lutar com Bravura, morrer com Honra!
Ha, ótimo exemplo.
Confesso que acabei de checar no Google a origem da gratificação de natal, e pra minha surpresa, não é uma criação de Vargas e sua CLT.
Com o passar das décadas, a própria mudança de geração do eleitorado já trata de diluir os impactos eleitorais de certas medidas.
Neste ponto, o mundo inteiro está precisando aprender uma lição.
Acredito que o sistema democrático até certo ponto subsidia este tipo de comportamento imediatista. Imagine que o médico te deu a notícia hoje que não viverá mais que 4 anos. Pra quê um plano de aposentadoria, um pé de meia pra terceira-idade? Pois é, o mandato de um político só dura 4 anos...
Não que eu tenha uma solução mágica na manga.
http://heliofernandes.com.br/?p=36457