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A Internet radicaliza as pessoas ao agrupá-las conforme suas opiniões

Fernando_SilvaFernando_Silva Administrador, Moderador
"O Globo"    21/06/11
Quando a rede nos radicaliza

Aqui no Brasil, assim como nos EUA, a internet parece
estar no centro de um processo de polarização política.
A conversa, na rede, favorece os radicais. O adversário
vira inimigo muito rápido e todo o incentivo está em ler
aqueles com quem concordamos. Só eles. Lá nos EUA,
diferentemente daqui, há um grupo de intelectuais debruçados
sobre a questão. E há pelo menos uma jornalista, Brooke
Gladstone, da Rádio Pública de Nova York, reunindo já faz
uns anos o trabalho dos pensadores que se dedicam ao tema.

   Foi Cass Sunstein quem abriu este campo de estudos.
Professor de Direito da Universidade de Chicago, Sunstein é
casado com Samantha Powers, autora da biografia do em-
baixador brasileiro Sérgio Vieira de Mello. Ele é também, hoje,
o capo do setor de regulamentação da Casa Branca. Seu livro
sobre o processo de radicalização política da rede se chama
“Going to extremes” — “Indo a extremos” —, publicado em 2009.

Todos preferimos exposição a argumentos
com os quais concordamos, ele diz. Em
sociedade, convivemos com gente com ideias
das mais diversas. Para que a relação pessoal
seja possível, tendemos a conversar com
amenidade. A internet é diferente do mundo.
Nela, escolhemos com quem vamos conviver.

Numa rede social ou blog no qual só está
presente gente que concorda com um mesmo
ponto de vista, o incentivo é por ser aquele
com menos dúvidas, com mais clareza. Os
puros. Os radicais. A rede polariza.

   Eli Praiser, fundador da ONG de esquerda Move On, é autor
de um livro recém-lançado que vai um quê além. Chama-se
“The filter bubble”, algo como “A bolha do filtro”. O código de
sites como Facebook e Google, segundo Praiser, força a
polarização. Ele cita um exemplo pessoal. Preocupado em ter
contato com gente que pensa diferente, ele se tornou amigo, na
rede social, de gente interessante de direita.

O Facebook, no entanto, acompanha os usuários com os quais
conversamos mais. E são eles que aparecem em nosso mural. Quando
se deu conta, Praiser percebeu que o sistema só mostrava para ele
os comentários de gente com afinidades. Dos outros, não. O filtro
cria uma bolha e nos põe lá dentro.

Jacob Weisberg, diretor de redação da Slate, uma das mais
tradicionais revistas on-line, discorda de Praiser. Sim, ele diz,
este filtro que nunca nos apresenta aquilo com o que discordamos
é possível. Mas não está ativo ainda. Se ele é mais forte no
Facebook, é muito leve no Google, fonte de informação
da maioria de nós.

Clay Shirky, professor cult da Universidade
de Nova York, discorda de Sunstein usando
argumento distinto. Ele acha que a internet
polariza, sim, mas é por outro motivo. Blogs
políticos em braços diametralmente opostos
do espectro político incluem links um para o
outro a toda hora. Situação e oposição se
leem. Nossa tolerância humana pela contínua
exposição a argumentos opostos é que é
baixa. Na rede, a radicalização não nasce da
falta de oposição, mas, sim, do excesso.

Entre tantos pensando, há pelo menos uma
pesquisa. É do Instituto Pew, que acompanha
há mais de uma década o comportamento dos americanos na
internet. Há diferença entre a pesquisa de 2008 e a de 2010.
Por um lado, mais pessoas dizem que se informam por sites com
uma linha editorial que acompanha suas ideias. Por outro,
usuários de internet mais sofisticados, habituados com a rede,
têm se preocupado mais em buscar fontes de informação
variadas. Há uma década, 20% dos americanos não viam
nenhuma notícia em um dia. Hoje este número caiu para 10%.

Segundo o estudo, 55% dos americanos consideram que a
internet aumenta a influência de ideias políticas radicais à
esquerda e à direita. E 56% consideram que a internet torna
mais difícil descobrir o que é verdade e o que não é. A pesquisa
confirma que há radicalização, sim, mas também sugere que as
pessoas têm mais acesso a informação. Aparentemente con-
traditório, mas parece fazer todo sentido.

O mundo está mais radical. Aqui, nos EUA, na Europa. Mas
entender que aquele do qual discordamos só pensa diferente,
que não é por má fé, é uma arte. Depende, no fim das contas, de
um esforço pessoal.

E-mail para esta coluna: pedro.doria@oglobo.com.br
siga a coluna: @pedro.doria

Comentários

  • 22 Comentários sorted by Votes Date Added
  • Daí a importância da presença de religiosos neste fórum: "salvá-los" da condenação ao radicalismo.
  • Fernando_SilvaFernando_Silva Administrador, Moderador
    edited junho 2011 Vote Up0Vote Down
    Daí a importância da presença de religiosos neste fórum: "salvá-los" da condenação ao radicalismo.
    Com a ressalva de que, embora haja uma concentração de ateus neste fórum, na sociedade em geral somos minoria e isolados no meio da multidão de religiosos.
    No caso específico da religião, não somos ateus por falta de contacto com o pensamento religioso, antes muito pelo contrário.
    Post edited by Fernando_Silva on
  • AyyavazhiAyyavazhi Membro
    edited junho 2011 Vote Up0Vote Down

    Com a ressalva de que, embora haja uma concentração de ateus neste fórum, na sociedade em geral somos minoria e isolados no meio da multidão de religiosos.

    Não sei quanto a vocês, mas, no meu caso, arrisco dizer que minha interação com outros seres humanos é maior neste fórum do que fora dele (salvo, é claro, nos períodos em que estou ausente). Principalmente em temas religiosos, eu nunca fui tão "falador" quanto sou aqui, talvez por me sentir à vontade em um ambiente que encoraja o debate.

    No mais, o alvo específico da matéria é justamente a Internet, onde as pessoas se aproximam e se agrupam em função de suas afinidades, o que as tornam mais enraizadas e endurecidas. Faz muito sentido. É um estudo inicial e nada obsta que esteja incorreto ou impreciso, mas faz muito sentido.

     No caso específico da religião, não somos ateus por falta de contacto com o pensamento religioso, antes muito pelo contrário.


    Eu, que sou religioso, tenho aversão à 99,9% do pensamento religioso com o qual tive contato, imagina, então, os ateus...
    Entendo perfeitamente.
    Ps.: Alguém, pelamordedeus, me ensine a quotar!
    Post edited by Ayyavazhi on
  • Fernando_SilvaFernando_Silva Administrador, Moderador
    Ps.: Alguém, pelamordedeus, me ensine a quotar!
    Também não descobri como quotar. O que eu faço é selecionar o trecho e depois usar o 'indent' para empurrar para a direita. Você pode, além disto, usar itálico.
  • ReidReid Membro
    edited junho 2011 Vote Up0Vote Down
    Ps.: Alguém, pelamordedeus, me ensine a quotar!


    Também não descobri como quotar. O que eu faço é selecionar o trecho e depois usar o 'indent' para empurrar para a direita. Você pode, além disto, usar itálico.
    Sera que o Rapha não sabe se ha uma forma de simplificar esse sistema de postagem?, se não vai ter q daki a pouco abrir um tópico com curso de html e php para postar
    Post edited by Reid on
  • Radicaliza por um lado e permite o linchamento virtual por outro. 
  • Bobagem. As pessoas sempre se juntaram por afinidades e opiniões. Até nus grupinhos de jardim de infância. Porque na internet seria diferente?
  • Ademais, acho ótimo poder escolher com quem eu posso e quero conviver.
  • Bobagem. As pessoas sempre se juntaram por afinidades e opiniões. Até nus grupinhos de jardim de infância. Porque na internet seria diferente?
    Está certa ao dizer que as pessoas se juntam por afinidade e opiniões. O que pode estar a desconsiderar é a sensação de impunidade que a internet cria, pessoas acabam por não travar um comportamento que não teriam na vida normal.
  • Fernando_SilvaFernando_Silva Administrador, Moderador
    Bobagem. As pessoas sempre se juntaram por afinidades e opiniões. Até nus grupinhos de jardim de infância. Porque na internet seria diferente?
    Você pode até ter o seu grupinho, mas tem que conviver com gente que não lhe agrada. E nem sempre dá para ignorar, bloquear, banir ou seja lá o que for que a Internet permite. Você tem que aturar, tem que tratar com educação. Mesmo que despreze a pessoa.

    Sem falar em que a Internet facilita encontrar pessoas compatíveis, enquanto que no dia a dia você tem que se contentar com aquelas que o destino lhe jogou em cima.
  • Eu tenho uma visão bem mais otimista de fóruns eletrônicos, eles juntam (pelo menos virtualmente) pessoas que jamais se conheceriam ou trocariam ideias e argumentos de outra forma, além da quase infinidade de assuntos, por exemplo, se você foi uma das poucas pessoas a gostar de determinada versão de uma música ou de um determinado seriado você consegue encontrar na net outras pessoas que pensem o mesmo.


    Come with me if you wanna live.
  • E é aí que você e seus dois únicos amigos virtuais que curtem aquela versão alternativa ininteligível de uma música começam a trollar as pessoas normais.

    ps: Tem como adicionar os emoticons do fórum antigo?
    "In any case, what westeners call civilization, the others would call barbarity, because it is precisely lacking in the essential, that is to say a principle of a higher order." - René Guénon
  • E é aí que você e seus dois únicos amigos virtuais que curtem aquela versão alternativa ininteligível de uma música começam a trollar as pessoas normais.

    ps: Tem como adicionar os emoticons do fórum antigo?
    Não necessariamente, compartilhar e trollar não são excludentes e nem correlatos, vai depender da pessoa.

    Respondendo ao PS: Eu não sei, acabei de chegar nesse fórum.
    Come with me if you wanna live.
  • Eu estava trollando. :\

    O ps foi para o rapha.
    "In any case, what westeners call civilization, the others would call barbarity, because it is precisely lacking in the essential, that is to say a principle of a higher order." - René Guénon


  • ps: Tem como adicionar os emoticons do fórum antigo?

    tbm preferia os antigos,

    :))
  • O livro do Cass Sunstein tem edição em português "A era do Radicalismo", é uma obra interessante sobre o fenômeno da polarização grupal.
  • Li um artigo interessante que falava sobre o mesmo tema.
    É notável a isolação dos internautas, em nada lembra a falta de barreiras nos primórdios da internet, onde eu batia bapo pelo chat do yahoo com pessoas do mundo todo. Onde a maioria das pessoas conseguia falar com pessoas com quem normalmente não conseguiria, de outros países, de outras culturas. Hoje isso acabou, no msn só tem aqueles que se já conhece, não há nada mais para acrescentar. O sonho do mundo sem barreiras do começo da net já não existe mais.
    Me fez lembrar algo, lá no começo da era net, uma prima me perguntou com quem eu me comunicava pela net. Ela ficou frustrada ao saber que eu me comunicava com pessoas do mundo todo. Ela queria saber se eu "falava" com pessoas daqui da própria cidade, eu achei aquela ideia estúpida, porque diabos eu iria querer saber de pessoas com quem eu poderia ter contato pessoal direto. O que elas poderiam me dizer daqui que eu já não soubesse? Pra mim eram as novas possibilidades é que interessavam. Parece que a mediocridade venceu.
  • claracamposclaracampos Membro
    edited julho 2011 Vote Up0Vote Down
    Interessante este estudo.
    Parece-me genericamente óbvio que pessoas imersas em círculos homogéneos tendam à radicalização e ao desinteresse/desrespeito pela diferença.
    Post edited by claracampos on
  • claracampos disse: Interessante este estudo.
    Parece-me genericamente óbvio que pessoas imersas em círculos homogéneos tendam à radicalização e ao desinteresse/desrespeito pela diferença.

    Tem algo um pouco mais interessante aí. É razoável de se esperar que as manifestações de um grupo tendam a média (considerando um continuum). Mesmo em grupos homogêneos há um continuum só que nestes casos a tendência em relaçao ao extremo é maior que a em relação a média.

  • A internet agrupa as pessoas conforme suas opiniões?
  • Fernando_SilvaFernando_Silva Administrador, Moderador
    Raphael disse:
    A internet agrupa as pessoas conforme suas opiniões?

    Eu diria que sim. No dia a dia, você não escolhe com quem tem que conviver (família, colegas de trabalho, vizinhos).
    Na Internet, você vai aonde quer e se relaciona com quem quer, normalmente com base em gostos e opiniões em comum.
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