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Quando a rede nos radicaliza
Aqui no Brasil, assim como nos EUA, a internet parece
estar no centro de um processo de polarização política.
A conversa, na rede, favorece os radicais. O adversário
vira inimigo muito rápido e todo o incentivo está em ler
aqueles com quem concordamos. Só eles. Lá nos EUA,
diferentemente daqui, há um grupo de intelectuais debruçados
sobre a questão. E há pelo menos uma jornalista, Brooke
Gladstone, da Rádio Pública de Nova York, reunindo já faz
uns anos o trabalho dos pensadores que se dedicam ao tema.
Foi Cass Sunstein quem abriu este campo de estudos.
Professor de Direito da Universidade de Chicago, Sunstein é
casado com Samantha Powers, autora da biografia do em-
baixador brasileiro Sérgio Vieira de Mello. Ele é também, hoje,
o capo do setor de regulamentação da Casa Branca. Seu livro
sobre o processo de radicalização política da rede se chama
“Going to extremes” — “Indo a extremos” —, publicado em 2009.
Todos preferimos exposição a argumentos
com os quais concordamos, ele diz. Em
sociedade, convivemos com gente com ideias
das mais diversas. Para que a relação pessoal
seja possível, tendemos a conversar com
amenidade. A internet é diferente do mundo.
Nela, escolhemos com quem vamos conviver.
Numa rede social ou blog no qual só está
presente gente que concorda com um mesmo
ponto de vista, o incentivo é por ser aquele
com menos dúvidas, com mais clareza. Os
puros. Os radicais. A rede polariza.
Eli Praiser, fundador da ONG de esquerda Move On, é autor
de um livro recém-lançado que vai um quê além. Chama-se
“The filter bubble”, algo como “A bolha do filtro”. O código de
sites como Facebook e Google, segundo Praiser, força a
polarização. Ele cita um exemplo pessoal. Preocupado em ter
contato com gente que pensa diferente, ele se tornou amigo, na
rede social, de gente interessante de direita.
O Facebook, no entanto, acompanha os usuários com os quais
conversamos mais. E são eles que aparecem em nosso mural. Quando
se deu conta, Praiser percebeu que o sistema só mostrava para ele
os comentários de gente com afinidades. Dos outros, não. O filtro
cria uma bolha e nos põe lá dentro.
Jacob Weisberg, diretor de redação da Slate, uma das mais
tradicionais revistas on-line, discorda de Praiser. Sim, ele diz,
este filtro que nunca nos apresenta aquilo com o que discordamos
é possível. Mas não está ativo ainda. Se ele é mais forte no
Facebook, é muito leve no Google, fonte de informação
da maioria de nós.
Clay Shirky, professor cult da Universidade
de Nova York, discorda de Sunstein usando
argumento distinto. Ele acha que a internet
polariza, sim, mas é por outro motivo. Blogs
políticos em braços diametralmente opostos
do espectro político incluem links um para o
outro a toda hora. Situação e oposição se
leem. Nossa tolerância humana pela contínua
exposição a argumentos opostos é que é
baixa. Na rede, a radicalização não nasce da
falta de oposição, mas, sim, do excesso.
Entre tantos pensando, há pelo menos uma
pesquisa. É do Instituto Pew, que acompanha
há mais de uma década o comportamento dos americanos na
internet. Há diferença entre a pesquisa de 2008 e a de 2010.
Por um lado, mais pessoas dizem que se informam por sites com
uma linha editorial que acompanha suas ideias. Por outro,
usuários de internet mais sofisticados, habituados com a rede,
têm se preocupado mais em buscar fontes de informação
variadas. Há uma década, 20% dos americanos não viam
nenhuma notícia em um dia. Hoje este número caiu para 10%.
Segundo o estudo, 55% dos americanos consideram que a
internet aumenta a influência de ideias políticas radicais à
esquerda e à direita. E 56% consideram que a internet torna
mais difícil descobrir o que é verdade e o que não é. A pesquisa
confirma que há radicalização, sim, mas também sugere que as
pessoas têm mais acesso a informação. Aparentemente con-
traditório, mas parece fazer todo sentido.
O mundo está mais radical. Aqui, nos EUA, na Europa. Mas
entender que aquele do qual discordamos só pensa diferente,
que não é por má fé, é uma arte. Depende, no fim das contas, de
um esforço pessoal.
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Comentários
No caso específico da religião, não somos ateus por falta de contacto com o pensamento religioso, antes muito pelo contrário.
Sem falar em que a Internet facilita encontrar pessoas compatíveis, enquanto que no dia a dia você tem que se contentar com aquelas que o destino lhe jogou em cima.
Respondendo ao PS: Eu não sei, acabei de chegar nesse fórum.
tbm preferia os antigos,
:))
É notável a isolação dos internautas, em nada lembra a falta de barreiras nos primórdios da internet, onde eu batia bapo pelo chat do yahoo com pessoas do mundo todo. Onde a maioria das pessoas conseguia falar com pessoas com quem normalmente não conseguiria, de outros países, de outras culturas. Hoje isso acabou, no msn só tem aqueles que se já conhece, não há nada mais para acrescentar. O sonho do mundo sem barreiras do começo da net já não existe mais.
Me fez lembrar algo, lá no começo da era net, uma prima me perguntou com quem eu me comunicava pela net. Ela ficou frustrada ao saber que eu me comunicava com pessoas do mundo todo. Ela queria saber se eu "falava" com pessoas daqui da própria cidade, eu achei aquela ideia estúpida, porque diabos eu iria querer saber de pessoas com quem eu poderia ter contato pessoal direto. O que elas poderiam me dizer daqui que eu já não soubesse? Pra mim eram as novas possibilidades é que interessavam. Parece que a mediocridade venceu.
Parece-me genericamente óbvio que pessoas imersas em círculos homogéneos tendam à radicalização e ao desinteresse/desrespeito pela diferença.
Tem algo um pouco mais interessante aí. É razoável de se esperar que as manifestações de um grupo tendam a média (considerando um continuum). Mesmo em grupos homogêneos há um continuum só que nestes casos a tendência em relaçao ao extremo é maior que a em relação a média.
Eu diria que sim. No dia a dia, você não escolhe com quem tem que conviver (família, colegas de trabalho, vizinhos).
Na Internet, você vai aonde quer e se relaciona com quem quer, normalmente com base em gostos e opiniões em comum.