Um impasse freqüente e esperado nos debates entre religiosos e os que não o são ocorre sempre que uma das partes acusa a outra de ter sido responsável pelos grandes morticínios da História.
Nesta hora, ateus militantes citam a Expansão Islâmica, Cruzadas, Inquisição, Reforma, Contra-Reforma, perseguições religiosas e o terrorismo fundamentalista, enquanto os defensores da religião têm sempre na ponta da língua a resposta aludindo aos massacres promovidos pelos regimes totalitários do século XX, designados como crias do ateísmo e do materialismo.
As réplicas de parte a parte giram sempre em torno da desculpa, melhor ou pior formulada, conforme o talento retórico dos debatedores, de que o ideário que defendem nunca incluiu tal uso da violência, devendo os resultados macabros ser atribuídos a líderes corruptos que deturparam o sentido original da crença que ostentavam.
Ponto para quem diz que é difícil acusar um Buda ou um Jesus de Nazaré de mandar matar gente, mas nem o muçulmano mais devoto pensaria em dizer o mesmo sobre Mohamed.
É fato que a religião foi causa direta ou indireta de muitas mortes e sofrimentos ao longo da História.
Como os religiosos não podem negar este fato, recorrem ao argumento da deturpação e, tão frequentemente quanto, a um artifício comprometedor, defendendo que o total de mortes atribuíveis à religião ao longo dos últimos dois milênios é menor que o número de cadáveres produzidos pelas ideologias materialistas apenas no último século.
Há algo de terrivelmente imoral nesta argumentação.
Independente de quem de fato é responsável por mais mortes, não tenho dificuldade em concordar que alguém que matou milhões é pior que outro que matou milhares.
Só que, até onde me lembro do que é decência, a melhor conclusão é que ambos são ruins.
O que não entendendo em muitos religiosos é por que acham que a hipótese de suas igrejas ter causado menos mortes do que atribuem às ideologias a que se opõem lhes serve como escusa moral.
Como podem associar santidade a uma organização que promoveu morticínios, alegando apenas que outros fizeram coisa pior?
Além do que, uma pergunta que sempre me ocorre quando religiosos dizem que suas guerras mataram menos que as guerras dos outros, é se tal resultado comparativo se deve à sua superioridade moral ou à sua inferioridade técnica.
Se as guerras religiosas do passado tivessem sido travadas com a mesma tecnologia de destruição disponível a Adolf Hitler, é possível que não sobrasse ninguém para contar sua versão da História.
Não que técnica seja indispensável quando a vontade de matar é grande, Ruanda que o diga.
Nem todos os religiosos lançam mão deste argumento, assim, como dizia um antigo comunicador, queiram todos os demais aceitar os nossos respeitos*.
Como o Papa João Paulo II, que em 2004, se referindo à Inquisição pediu perdão pelos "erros cometidos a serviço da verdade por meio do uso de métodos que não têm relação com a palavra do Senhor".
Meio escorregadio, mas vindo da Santa Sé até passa.
A moda não pegou como deveria, restando nos segmentos mais conservadores do catolicismo romano quem torça o nariz para o pedido de perdão do Karol, destacando com veemência aspectos alegadamente progressistas da Inquisição que, apesar de matar e torturar milhares, teria elevado os critérios para se matar e torturar a níveis mais exigentes dos que havia antes.
O bugre aqui pode não ser nenhum especialista no assunto, mas por acaso isto não é o tal relativismo moral que os conservadores católicos tanto repudiam?
Se matar e torturar pessoas por professarem crença diferente da oficial é errado, então não há como defender a Inquisição.
Se defenderem, se aproximam perigosamente daquelas tais ideologias materialistas que acusam de matar mais gente que a ideologia deles.
Mas falando em ideologias materialistas, os dois lados que lançam mão do Balanço do Terror para acusar seu adversário tem um teto de vidro suficientemente grande para serem econômicos com as pedradas.
A reação típica do ateísmo militante quando lhes lançam a cara os milhões assassinados pelo nazismo e comunismo costuma ser um dar de ombros, acompanhado de um não tenho nada com isto, quando muito.
Ou coisa parecida.
Bem, se dezenas de milhões de pessoas morreram por causa de ideologias, vale a pena dar uma estudada nas tais antes de ter certeza que nenhum pedacinho delas contamina sua visão de mundo.
Quem já fez isto, religioso ou ateu, levante a mão.
*n.A. (nota do Acauan): Referência ao radialista Hélio Ribeiro, criador e locutor do programa "O Poder da Mensagem". *n.A. adicional: Balanço do Terror é uma expressão do tempo da Guerra Fria para se referir à corrida armamentista entre americanos e soviéticos. Também é título de um excelente episódio de Star Trek.
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Acauan dos Tupis
Nós, Indios.
Lutar com Bravura, morrer com Honra!
O ateísmo nunca foi apresentado como solução moral da humanidade, como um referencial absoluto a ser seguido.
Os massacres foram realizados pelo comunismo e não pelo ateísmo, o catolicismo de alguém seria o suficiente para salvar da Inquisição que combatia exatamente a diversidade de pensamento, será que uma atéia que fosse contra o regime comunista seria poupada por causa de seu ateísmo? É claro que não.
Acauan disse: Bem, se dezenas de milhões de pessoas morreram por causa de ideologias, vale a pena dar uma estudada nas tais antes de ter certeza que nenhum pedacinho delas contamina sua visão de mundo.
Sou ateia, mas prefiro mil vezes, melhor dizendo, um bilhão de vezes, viver em um país de maioria religiosa do que cercada de comunistas.
Da religião eu não gosto, o comunismo eu abomino, então tenho certeza que nenhum pedacinho do comunismo e nem do nazismo contamina minha visão do mundo.
Cameron disse: O ateísmo nunca foi apresentado como solução moral da humanidade, como um referencial absoluto a ser seguido.
Na verdade, há ateus militantes que apresentam o ateísmo como a única solução moral para a humanidade.
Cameron disse: Os massacres foram realizados pelo comunismo e não pelo ateísmo, o catolicismo de alguém seria o suficiente para salvar da Inquisição que combatia exatamente a diversidade de pensamento, será que uma atéia que fosse contra o regime comunista seria poupada por causa de seu ateísmo? É claro que não.
Errado.
O Tribunal da Santa Inquisição só julgava católicos. Mouros, judeus, protestantes ou doidos de qualquer espécie não-católica estavam imunes a ele. Além do fato que todos os julgamentos eram individuais, o que o diferencia do tratamento dado por regimes revolucionários materialistas que nunca sequer reconheceram o indivíduo quanto mais ligaram pra distribuir culpas e penas individuais..
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"In any case, what westeners call civilization, the others would call barbarity, because it is precisely lacking in the essential, that is to say a principle of a higher order." - René Guénon
Cameron disse: Quer dizer que aquela história de religião oficial do estado aonde as pessoas eram obrigadas a se converterem ao catolicismo é conversa fiada?
Alemanha, Luxemburgo, Liechtenstein, Mônaco, Islândia, Dinamarca, Noruega, Andorra e Reino Unido, pra não contar o Vaticano, todos países de altíssimo nível de desenvolvimento humano, ainda têm religiões oficiais, alguns cobram dízimo como imposto, e não consta nenhuma conversão compulsória nem desrespeito com minorias religiosas. Isso pra ficar só no mundo cristão.
O que poderia acontecer era a própria sociedade marginalizar as minorias da época, pressionando-as a conversão.
De qualquer forma, sua afirmação está errada. Ser católico não salvava ninguém da Inquisição, ser católico era conditio sine qua non para ser vítima dela. Não sei se apostasia era crime segundo o Tribunal, mas acredito que via de regra não.
Também acho importante já explicar que o Tribunal da Santa Inquisição da Espanha, o mais cruel de todo, só foi criado no finalzinho da Idade Média, e o período de maior atividade foi justamente na idade moderna, após uma certa "nacionalização" do Tribunal. Na Idade Média, focavam-se principalmente em grupos de rebeldes armados.
Já comunistas, eles não fazem nenhuma restrição quanto à matança generalizada, então tanto faz se é ou não um camarada na hora de te colocarem num gulag.
Entrevisa de Yuri Bezmenov, desertor da KGB:
Aos 6:30. Todos os intelectuais comunistas que sempre foram fiéis ao Partidão são meros idiotas úteis. Quando o Partidão finalmente toma o poder, ao invés desses intelectuais passarem a exercer cargos importantes, esses idiotas são os primeiros que são mandados pro fuzilamento.
Entrevista completa:
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"In any case, what westeners call civilization, the others would call barbarity, because it is precisely lacking in the essential, that is to say a principle of a higher order." - René Guénon
Acauan, o que acha do argumento da Inquisição como instrumento de unidade civilizacional?
O argumento se baseia na tese que os espanhóis foram os mais cruéis durante a Inquisição justamente porque eram os que mais sofriam com invasões externas, não tendo tolerância pra sabotagem entre os seus. De fato, devem ter ficado carrancudos depois de uma guerra que nunca terminava com os mouros.
"In any case, what westeners call civilization, the others would call barbarity, because it is precisely lacking in the essential, that is to say a principle of a higher order." - René Guénon
Apatico disse: Acauan, o que acha do argumento da Inquisição como instrumento de unidade civilizacional?
Exagerado. Fora a Inquisição Espanhola e sua peculiaridade, na maior parte de sua duração de séculos a Inquisição poderia passar despercebida pela grande maioria da população sujeita à sua autoridade, ao contrário da difundida ideia de que o Santo Ofício era um espécie de Gestapo que prendia gente aos milhares e desaparecia com elas sem maiores delongas. Se a Inquisição agiu como fator de unidade, não tinha este projeto.
Apatico disse: O argumento se baseia na tese que os espanhóis foram os mais cruéis durante a Inquisição justamente porque eram os que mais sofriam com invasões externas, não tendo tolerância pra sabotagem entre os seus. De fato, devem ter ficado carrancudos depois de uma guerra que nunca terminava com os mouros.
Os reis católicos tinham autoridade e popularidade suficiente para garantir a unidade nacional estabelecida sob o reinado deles. Boa parte da brutalidade da Inquisição Espanhola se explica pelos motivos políticos mesquinhos de sempre.
Acauan dos Tupis
Nós, Indios.
Lutar com Bravura, morrer com Honra!
Acauan disse: Exagerado. Fora a Inquisição Espanhola e sua peculiaridade, na maior parte de sua duração de séculos a Inquisição poderia passar despercebida pela grande maioria da população sujeita à sua autoridade, ao contrário da difundida ideia de que o Santo Ofício era um espécie de Gestapo que prendia gente aos milhares e desaparecia com elas sem maiores delongas. Se a Inquisição agiu como fator de unidade, não tinha este projeto.
Acho que muita gente - e me incluo entre estes - se indigna com a Inquisição por atrocidades como a morte de Giordano Bruno e o processo de Galileu Galilei. Estes fatos são reais, dignos de desprezo, mas NÃO TORNAM o Santo Ofício uma espécie de Gestapo da época, como você explicou. Será mera coincidência que o estabelecimento do Santo Ofício não está muito distante da Reforma e Contrarreforma?
Foi condenado por bruxaria, que era crime na época.
Em geral, o Index Librorum Prohibitorum focava-se em teologia e não em ciência.
"In any case, what westeners call civilization, the others would call barbarity, because it is precisely lacking in the essential, that is to say a principle of a higher order." - René Guénon
Acauan disse: Exagerado. Fora a Inquisição Espanhola e sua peculiaridade, na maior parte de sua duração de séculos a Inquisição poderia passar despercebida pela grande maioria da população sujeita à sua autoridade, ao contrário da difundida ideia de que o Santo Ofício era um espécie de Gestapo que prendia gente aos milhares e desaparecia com elas sem maiores delongas. Se a Inquisição agiu como fator de unidade, não tinha este projeto.
Que interessante...
Tem uma boa fonte de leitura Acauan ?
A nossa realidade é moldada pelo que acreditamos ou preferimos não acreditar.
Eu quero a Verdade .
A realidade é um conjunto de possibilidades que se concretizou dentro de um universo infinito de possibilidades.
Pqp ! Eu já fui de esquerda !
Click aqui : http://31.media.tumblr.com/tumblr_m4pmpbh3H11qlvp0oo1_250.gif
Cameron disse: Quer dizer que aquela história de religião oficial do estado aonde as pessoas eram obrigadas a se converterem ao catolicismo é conversa fiada?
Na Alemanha, dividida em principados até 1871, a religião do príncipe era imposta ao povo. Uns eram católicos, outros protestantes.
Apatico disse: O argumento se baseia na tese que os espanhóis foram os mais cruéis durante a Inquisição justamente porque eram os que mais sofriam com invasões externas, não tendo tolerância pra sabotagem entre os seus. De fato, devem ter ficado carrancudos depois de uma guerra que nunca terminava com os mouros.
A convivência entre cristãos e mouros foi bastante pacífica durante os quase 800 da dominação. Eles lutavam pela reconquista do território, sim, mas os extermínios ocorreram mais na época em que cruzados de outras partes da Europa vieram ajudar. Quando os ibéricos tomavam uma cidade dos mouros, davam a eles a opção de ficar e continuar sua vida normalmente ou ir embora, enquanto que os cruzados defendiam o extermínio.
emmcri disse:
Que interessante...
Tem uma boa fonte de leitura Acauan ?
Um livro que sempre recomendo para quem quer entender a dinâmica da Inquisição é O Queijo e os Vermes de Carlo Ginzburg. Uma brilhante reconstituição histórica de um único processo inquisitorial, que termina com a execução do acusado, mas que leva, literalmente, uma vida inteira para se concluir, sendo que ao longo da duração do processo o acusado continua livre e levando uma vida normal.
Acho que a obra de referência em português sobre o assunto ainda é A História das Inquisições, de Francisco Bethencourt, cujo tom esclarecedor já se dá no uso do plural no título.
Cabe notar que nas últimas décadas a História da Inquisição vem sendo reavaliada, pois muitas fontes tidas como fidedignas sobre a Inquisição Espanhola foram questionadas, como é o caso das fontes inglesas, que tinham motivos políticos para forçar nas cores quando pintaram o quadro mais conhecido daquele momento histórico.
Acauan dos Tupis
Nós, Indios.
Lutar com Bravura, morrer com Honra!
Azathoth disse: Acho que muita gente - e me incluo entre estes - se indigna com a Inquisição por atrocidades como a morte de Giordano Bruno e o processo de Galileu Galilei.
Thomas Woods fez uma abordagem muito interessante sobre o julgamento de Galileu, destacando que o astrônomo foi incapaz de responder CIENTIFICAMENTE aos questionamentos do representante da Igreja, São Berlarmino, em especial à questão da paralaxe estelar - se a Terra se move, por que as estrelas fixas não mudam de posição no Céu. Hoje sabemos que mudam, mas devido às distâncias envolvidas a paralaxe só pode ser medida com instrumentos de precisão, impossíveis à tecnologia da época. Galileu foi incapaz de responder à pergunta, mesmo aventando teoricamente a questão da distância, que seria uma proposição científica bastante plausível para um geômetra competente.
Acauan dos Tupis
Nós, Indios.
Lutar com Bravura, morrer com Honra!
E prá quem quer conhecer mais de um lado e mais de uma versão sobre o tema, como deveria ser sempre, recomendo a leitura do verbete Inquisition, da Enciclopédia Católica. Quem não tiver preconceitos se surpreenderá com a qualidade da fonte.
Acauan dos Tupis
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Acauan disse: Cabe notar que nas últimas décadas a História da Inquisição vem sendo reavaliada, pois muitas fontes tidas como fidedignas sobre a Inquisição Espanhola foram questionadas, como é o caso das fontes inglesas, que tinham motivos políticos para forçar nas cores quando pintaram o quadro mais conhecido daquele momento histórico.
Os protestantes tinham interesse em caluniar a Inquisição. Modernistas vão ainda mais longe relacionando a Inquisição com um pensamento tipicamente medieval, quando o período de maior atuação foi claramente na Idade Moderna.
Mas e aí, houve algum caso de condenação por apostasia ou ateísmo?
"In any case, what westeners call civilization, the others would call barbarity, because it is precisely lacking in the essential, that is to say a principle of a higher order." - René Guénon
Apatico disse:
Mas e aí, houve algum caso de condenação por apostasia ou ateísmo?
Desconheço.
Das fontes sérias que vi sobre a Inquisição nenhuma sequer cita ateísmo. Parecia ser um conceito desconhecido para os católicos da época.
Já a apostasia parecia ser punível apenas quando se confundia com a heresia, o indivíduo que para todos os efeitos permanecia membro da Igreja, mas em secreto operava outros cultos.
Mas sobre isto preciso pesquisar mais. Fontes católicas evidenciam grande ressentimento do Imperador Juliano, o Apóstata, o que é um indício de que apostasia nunca foi bem vista pela Igreja Romana, desde as origens.
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Acauan dos Tupis
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Lutar com Bravura, morrer com Honra!
Apatico disse:
Mas e aí, houve algum caso de condenação por apostasia ou ateísmo?
Aliás, acho que dentro da visão de mundo da Europa Cristã Medieval, negar a existência de Deus seria algo como negar as Leis de Newton, hoje. Quem o fizesse seria tomado antes como louco ou idiota, do que como um criminoso.
Acauan dos Tupis
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Acauan disse: Já a apostasia parecia ser punível apenas quando se confundia com a heresia, o indivíduo que para todos os efeitos permanecia membro da Igreja, mas em secreto operava outros cultos.
Mas neste caso, a condenação seria por heresia, afinal de contas, só pode ser herético um membro da Igreja. Se o sujeito não pertence a Igreja, não pode cometer heresia.
Acauan disse: Mas sobre isto preciso pesquisar mais. Fontes católicas evidenciam grande ressentimento do Imperador Juliano, o Apóstata, o que é um indício de que apostasia nunca foi bem vista pela Igreja Romana, desde as origens.
Com certeza religião nenhuma gosta de apóstatas. Mas o Imperador chegou a sofrer alguma condenação de fato em virtude da apostasia? Ou ao menos alguma sanção extra-oficial?
Acauan disse: Aliás, acho que dentro da visão de mundo da Europa Cristã Medieval, negar a existência de Deus seria algo como negar as Leis de Newton, hoje. Quem o fizesse seria tomado antes como louco ou idiota, do que como um criminoso.
É o que eu penso.
"In any case, what westeners call civilization, the others would call barbarity, because it is precisely lacking in the essential, that is to say a principle of a higher order." - René Guénon
Apatico disse: Mas neste caso, a condenação seria por heresia, afinal de contas, só pode ser herético um membro da Igreja. Se o sujeito não pertence a Igreja, não pode cometer heresia.
Aí entra um aspecto do Direito Canônico Romano, que não reconhece a condição de ex-católico. Mesmo excomungados são católicos aos quais se nega a comunhão com a igreja, mas continuam católicos.
Desbastismo só existe na ATEA.
Apatico disse: Mas o Imperador chegou a sofrer alguma condenação de fato em virtude da apostasia? Ou ao menos alguma sanção extra-oficial?
Segundo as versões do contra, os bispos da época conspiraram o tempo todo contra seu governo, mas eram contidos pelo fato de Juliano ser um imperador popular e um general vitorioso.
Acauan dos Tupis
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Comentários
Os massacres foram realizados pelo comunismo e não pelo ateísmo, o catolicismo de alguém seria o suficiente para salvar da Inquisição que combatia exatamente a diversidade de pensamento, será que uma atéia que fosse contra o regime comunista seria poupada por causa de seu ateísmo? É claro que não.
Sou ateia, mas prefiro mil vezes, melhor dizendo, um bilhão de vezes, viver em um país de maioria religiosa do que cercada de comunistas.
Da religião eu não gosto, o comunismo eu abomino, então tenho certeza que nenhum pedacinho do comunismo e nem do nazismo contamina minha visão do mundo.
Na verdade, há ateus militantes que apresentam o ateísmo como a única solução moral para a humanidade.
Errado.
O Tribunal da Santa Inquisição só julgava católicos. Mouros, judeus, protestantes ou doidos de qualquer espécie não-católica estavam imunes a ele. Além do fato que todos os julgamentos eram individuais, o que o diferencia do tratamento dado por regimes revolucionários materialistas que nunca sequer reconheceram o indivíduo quanto mais ligaram pra distribuir culpas e penas individuais..
Alemanha, Luxemburgo, Liechtenstein, Mônaco, Islândia, Dinamarca, Noruega, Andorra e Reino Unido, pra não contar o Vaticano, todos países de altíssimo nível de desenvolvimento humano, ainda têm religiões oficiais, alguns cobram dízimo como imposto, e não consta nenhuma conversão compulsória nem desrespeito com minorias religiosas. Isso pra ficar só no mundo cristão.
O que poderia acontecer era a própria sociedade marginalizar as minorias da época, pressionando-as a conversão.
De qualquer forma, sua afirmação está errada. Ser católico não salvava ninguém da Inquisição, ser católico era conditio sine qua non para ser vítima dela. Não sei se apostasia era crime segundo o Tribunal, mas acredito que via de regra não.
Também acho importante já explicar que o Tribunal da Santa Inquisição da Espanha, o mais cruel de todo, só foi criado no finalzinho da Idade Média, e o período de maior atividade foi justamente na idade moderna, após uma certa "nacionalização" do Tribunal. Na Idade Média, focavam-se principalmente em grupos de rebeldes armados.
Já comunistas, eles não fazem nenhuma restrição quanto à matança generalizada, então tanto faz se é ou não um camarada na hora de te colocarem num gulag.
Entrevisa de Yuri Bezmenov, desertor da KGB:
Aos 6:30. Todos os intelectuais comunistas que sempre foram fiéis ao Partidão são meros idiotas úteis. Quando o Partidão finalmente toma o poder, ao invés desses intelectuais passarem a exercer cargos importantes, esses idiotas são os primeiros que são mandados pro fuzilamento.
Entrevista completa:
O argumento se baseia na tese que os espanhóis foram os mais cruéis durante a Inquisição justamente porque eram os que mais sofriam com invasões externas, não tendo tolerância pra sabotagem entre os seus. De fato, devem ter ficado carrancudos depois de uma guerra que nunca terminava com os mouros.
Exagerado. Fora a Inquisição Espanhola e sua peculiaridade, na maior parte de sua duração de séculos a Inquisição poderia passar despercebida pela grande maioria da população sujeita à sua autoridade, ao contrário da difundida ideia de que o Santo Ofício era um espécie de Gestapo que prendia gente aos milhares e desaparecia com elas sem maiores delongas. Se a Inquisição agiu como fator de unidade, não tinha este projeto.
Os reis católicos tinham autoridade e popularidade suficiente para garantir a unidade nacional estabelecida sob o reinado deles. Boa parte da brutalidade da Inquisição Espanhola se explica pelos motivos políticos mesquinhos de sempre.
Nós, Indios.
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Interessante este argumento:
Acho que muita gente - e me incluo entre estes - se indigna com a Inquisição por atrocidades como a morte de Giordano Bruno e o processo de Galileu Galilei. Estes fatos são reais, dignos de desprezo, mas NÃO TORNAM o Santo Ofício uma espécie de Gestapo da época, como você explicou. Será mera coincidência que o estabelecimento do Santo Ofício não está muito distante da Reforma e Contrarreforma?
Foi condenado por bruxaria, que era crime na época.
Em geral, o Index Librorum Prohibitorum focava-se em teologia e não em ciência.
Que interessante...
Tem uma boa fonte de leitura Acauan ?
Eu quero a Verdade .
A realidade é um conjunto de possibilidades que se concretizou dentro de um universo infinito de possibilidades.
Pqp ! Eu já fui de esquerda !
Click aqui :
http://31.media.tumblr.com/tumblr_m4pmpbh3H11qlvp0oo1_250.gif
Um livro que sempre recomendo para quem quer entender a dinâmica da Inquisição é O Queijo e os Vermes de Carlo Ginzburg. Uma brilhante reconstituição histórica de um único processo inquisitorial, que termina com a execução do acusado, mas que leva, literalmente, uma vida inteira para se concluir, sendo que ao longo da duração do processo o acusado continua livre e levando uma vida normal.
Acho que a obra de referência em português sobre o assunto ainda é A História das Inquisições, de Francisco Bethencourt, cujo tom esclarecedor já se dá no uso do plural no título.
Cabe notar que nas últimas décadas a História da Inquisição vem sendo reavaliada, pois muitas fontes tidas como fidedignas sobre a Inquisição Espanhola foram questionadas, como é o caso das fontes inglesas, que tinham motivos políticos para forçar nas cores quando pintaram o quadro mais conhecido daquele momento histórico.
Nós, Indios.
Lutar com Bravura, morrer com Honra!
Thomas Woods fez uma abordagem muito interessante sobre o julgamento de Galileu, destacando que o astrônomo foi incapaz de responder CIENTIFICAMENTE aos questionamentos do representante da Igreja, São Berlarmino, em especial à questão da paralaxe estelar - se a Terra se move, por que as estrelas fixas não mudam de posição no Céu. Hoje sabemos que mudam, mas devido às distâncias envolvidas a paralaxe só pode ser medida com instrumentos de precisão, impossíveis à tecnologia da época. Galileu foi incapaz de responder à pergunta, mesmo aventando teoricamente a questão da distância, que seria uma proposição científica bastante plausível para um geômetra competente.
Nós, Indios.
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Tem um documentário de 94 da BBC de Londres a respeito. Legendado:
http://en.wikipedia.org/wiki/Historical_revision_of_the_Inquisition
Os protestantes tinham interesse em caluniar a Inquisição. Modernistas vão ainda mais longe relacionando a Inquisição com um pensamento tipicamente medieval, quando o período de maior atuação foi claramente na Idade Moderna.
Olavo chegou a escrever sobre o caso Galileu: http://www.olavodecarvalho.org/semana/110413dc.html Ele era até afilhado do Papa.
Mas e aí, houve algum caso de condenação por apostasia ou ateísmo?
Desconheço.
Das fontes sérias que vi sobre a Inquisição nenhuma sequer cita ateísmo. Parecia ser um conceito desconhecido para os católicos da época.
Já a apostasia parecia ser punível apenas quando se confundia com a heresia, o indivíduo que para todos os efeitos permanecia membro da Igreja, mas em secreto operava outros cultos.
Mas sobre isto preciso pesquisar mais. Fontes católicas evidenciam grande ressentimento do Imperador Juliano, o Apóstata, o que é um indício de que apostasia nunca foi bem vista pela Igreja Romana, desde as origens.
Nós, Indios.
Lutar com Bravura, morrer com Honra!
Aliás, acho que dentro da visão de mundo da Europa Cristã Medieval, negar a existência de Deus seria algo como negar as Leis de Newton, hoje. Quem o fizesse seria tomado antes como louco ou idiota, do que como um criminoso.
Nós, Indios.
Lutar com Bravura, morrer com Honra!
Mas neste caso, a condenação seria por heresia, afinal de contas, só pode ser herético um membro da Igreja. Se o sujeito não pertence a Igreja, não pode cometer heresia.
Com certeza religião nenhuma gosta de apóstatas. Mas o Imperador chegou a sofrer alguma condenação de fato em virtude da apostasia? Ou ao menos alguma sanção extra-oficial?
É o que eu penso.
Aí entra um aspecto do Direito Canônico Romano, que não reconhece a condição de ex-católico. Mesmo excomungados são católicos aos quais se nega a comunhão com a igreja, mas continuam católicos.
Desbastismo só existe na ATEA.
Segundo as versões do contra, os bispos da época conspiraram o tempo todo contra seu governo, mas eram contidos pelo fato de Juliano ser um imperador popular e um general vitorioso.
Nós, Indios.
Lutar com Bravura, morrer com Honra!