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A importância do “nome mágico” para o fantástico

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Não é muito segredo que nomes são um assunto importante no mundo da fantasia e da ficção científica. Não estamos falando apenas da escolha do autor ao batizar seus personagens com palavras de significados escondidos (como em Harry Potter, por exemplo, em que praticamente todos os nomes de personagens são, no mínimo, uma brincadeira de palavras), e sim a importância desse tema de fato para a trama.

Vejamos o próprio Harry Potter. Tanto o nome dele quanto o de seu arqui-inimigo, Voldemort, eram carregados de simbologia, fosse porque as palavras “Harry Potter” fizessem erguer as sobrancelhas de todo mundo ao seu redor, enquanto “Voldemort” raramente fosse dito em voz alta pela comunidade bruxa. Depois, viríamos a descobrir que havia uma magia atrelada à alcunha do vilão sem nariz, que tornava rapidamente localizável aquele que o dissesse em voz alta. Há algumas obras que se utilizam do nome mágico de forma ainda mais interessante, e é sobre elas que vamos falar hoje. :-)

As raízes dessa tradição da fantasia, naturalmente, estão lá no folclore e nos contos de fadas tradicionais. A noção de que nomes são poderosos – e mais ainda é conhecer o “nome verdadeiro” de alguém – reside em muitas histórias tradicionais, sendo Rumpelstiltskin (publicada pela primeira vez em 1812 em uma coletânea dos irmãos Grimm) talvez a mais famosa delas no Ocidente. A essência está toda ali: a travessa criatura mágica só tem poder enquanto sua alcunha permanece misteriosa. Uma vez que uma garota descobre a palavra “Rumpelstiltskin” e reconhece a criatura como tal, o contrato mágico entre eles é quebrado. Trata-se de uma sobreposição de poderes. Ainda que Rumpelstiltskin entenda de mágica e transformar palha em ouro, a garota tem um poder muito superior: conhece o eu mais profundo da criatura, seu segredo mais valioso e bem guardado, e por isso tem influência sobre ela.

nome-rumpelstiltskin.jpg


Acho que vale fazer uma consideração rápida sobre isso, antes de prosseguirmos. Quando se estuda esse assunto no contexto das lendas e da fantasia, é muito comum se dizer que, mesmo no mundo em que vivemos, é possível enxergar um “pequeno poder” no fato de conhecer o nome de outra pessoa – no mínimo, temos a capacidade de chamá-la diretamente. Mas não podemos esquecer que essas lendas também se referiam a algo ainda mais profundo: a importância da identidade humana. Os irmãos Grimm, quando abarrotavam seus livros de criaturas que escondiam seus “nomes verdadeiros”, não o faziam de maneira inocente. Na verdade, estavam dizendo algo muito claro: você pode esconder sua essência, mas dificilmente conseguirá fugir dela. Em tempos que a Alemanha buscava motivos para permanecer ou não unificada, a mesma época em que os Grimm publicaram essa coletânea, esses contos parecem ainda mais significativos.

O tema da nomeclatura logo apareceria na fantasia em uma das mais clássicas obras do gênero. Em O Hobbit, Bilbo Bolseiro segue seus instintos básicos ao enganar Smaug sobre seu verdadeiro nome, talvez baseado na reação que Sméagol teve quando o aprendeu, alguns capítulos antes. O hobbit entende que seria realmente idiota fornecer essa informação ao dragão. Temos aí o caminho inverso: uma criatura que, ao negar seu nome, impede que a outra tenha poder sobre ela. Ainda mais quando se trata de um dragão particularmente chateado.

Mais adiante, em 1968, teremos Earthsea, de Ursula Le Guin. Esta série de livros se passa em um mundo onde o conhecimento dos “nomes verdadeiros” é a essência de toda a magia existente. Le Guin não esconde ser fã de Tolkien nem do folclore antigo: é uma grande estudiosa de histórias e segredos. Para quem gosta desse tema, duas leituras bacanas são Always Coming Home e The Telling, ambos da autora. São obras que esmiúçam o poder das histórias folclóricas de povos esquecidos e futuristas, de forma bem aprofundada.

Tanto Le Guin quanto Tolkien adicionaram camadas e profundidade ao tema da nomeclatura. Se nas histórias tradicionais, temos muitas vezes a construção de uma ou mais “lições de moral” em torno da importância do nome, o fantástico contemporâneo vai brincar o quanto puder com essa, digamos, regra. Um exemplo bem legal e contemporâneo disso é a série Crônicas do Matador do Rei, de Patrick Rothfuss, publicada no Brasil pela editora Arqueiro. Temos, nessas histórias, todo esse legado mencionado aí em cima, mas talvez com ainda mais nuances, profundidade e cores. Sem querer entregar muito da história, basta dizer que o aprendizado dos nomes não é, de forma alguma, simples: é um conhecimento tão profundo da essência do mundo que poderia ser associado, talvez, ao pensamento metafísico. Outra série que explora isso de maneira rica é A Saga do Assassino, de Robin Hobb. Nessa trama, temos o nome sendo tratado em duas frentes que se conversam: sejam pelo batismo de personagens que recebem seus nomes de acordo com previsões e julgamentos de caráter, seja como uma forma antiga – e misteriosa – de magia. O primeiro livro da saga, O Aprendiz de Assassino, foi recém-publicado pela editora Leya no Brasil, embora a série tenha sido iniciada em 1995. Vale conferir. ;)

http://contraversao.com/fantastic-16-a-importancia-do-nome-magico-para-o-fantastico/
“Só tenho para oferecer sangue, sofrimento, lágrimas e suor.”
― Winston Churchill

Comentários

  • 5 Comentários sorted by Votes Date Added
  • Fernando_SilvaFernando_Silva Administrador, Moderador
    edited agosto 2013 Vote Up0Vote Down
    Na série "Eragon", o verdadeiro nome da pessoa na língua 'fundamental' tem que ser descoberto pela própria pessoa. Não é uma simples palavra, mas uma descrição, mais ou menos longa, que define quem ela é. Ao encontrá-lo, a pessoa passa a saber quem é e isto lhe dá o poder de não ser facilmente iludida, mas também dá aos outros algum poder sobre ela, portanto não deve ser revelado.

    Esse nome pode mudar ou ser expandido ao longo da vida, à medida em que a pessoa muda.

    Post edited by Fernando_Silva on
  • Tipo como o Hobbit no caso do Thorin Escudo de Carvalho?
    “Só tenho para oferecer sangue, sofrimento, lágrimas e suor.”
    ― Winston Churchill

  • Na magia, as palavras são potencialmente poderosas e perigosas. Um bruxo sabendo o nome de sua vitima a torna suscetivel aos seus encantos.
    Eu sou o Doutor. Venho do planeta Gallifrey da constelação de Kasterborous. Com a minha nave, a TARDIS (Time And Relative Dimensions In Space (Tempo e Dimensões Relativas No Espaço) eu viajo por varios mundos e épocas combatendo as injustiças em minhas explorações. Eu o convido para me acompanhar em minhas aventuras, a maioria delas perigosas. Voce quer me acompanhar?

    Total de Mensagens:
    8609 + aquelas que tenho agora. ):-))
  • Fernando_SilvaFernando_Silva Administrador, Moderador
    Percival disse: Tipo como o Hobbit no caso do Thorin Escudo de Carvalho?
    Os anões têm nomes secretos que não revelam a ninguém.
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