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Salvador Allende - uma biografia

Fernando_SilvaFernando_Silva Administrador, Moderador
Ele tentou implantar o socialismo no Chile. Fez todas as besteiras ensinadas nos manuais socialistas. Quebrou o país e, no fim, desagradou à esquerda e à direita.

http://oglobo.globo.com/blogs/prosa/posts/2013/08/31/salvador-allende-ganha-nova-biografia-40-anos-apos-golpe-no-chile-508797.asp
Salvador Allende ganha nova biografia 40 anos após golpe no Chile

Jornalista espanhol lança livro que ilumina a vida e o governo do presidente chileno que virou um mito político

Por Leonardo Cazes

Os 40 anos do golpe de Estado contra o presidente chileno Salvador Allende, ocorrido em 11 de setembro de 1973, marcam também a chegada de uma nova biografia sobre um dos maiores mitos políticos da América Latina. Em “Allende. La Biografía” (Ediciones B ), que será lançado no Chile e na Espanha na quarta-feira, o jornalista e historiador espanhol Mario Amorós elege como objetivo principal desmontar a figura mítica criada a partir do suicídio do presidente no Palácio La Moneda. Amorós, que há 20 anos estuda a história chilena, acredita que isso ofuscou o homem Allende e a experiência dos seus 34 meses no poder, a primeira tentativa de transição democrática ao socialismo no mundo.

No livro de quase 700 páginas, mais de 400 são dedicadas ao período compreendido entre a vitória da Unidade Popular (UP) — frente que reunia sete partidos de esquerda, como o Partido Comunista, o Partido Socialista (de Allende) e o Partido Radical — nas eleições de setembro de 1970 e o golpe de 1973, que deu início a 17 anos de ditadura. Na pesquisa, o biógrafo descobriu 30 documentos inéditos, entre eles papeis que detalham a relação entre o Chile e os Estados Unidos no período.

— Com sua morte em La Moneda, Allende se tornou um mito político. Nos últimos 40 anos sua memória se converteu ao 11 de setembro. Ele tem uma trajetória política e humana que não pode ser descartada. O mesmo aconteceu com os três anos de governo da Unidade Popular, caíram no esquecimento. Ficou-se debatendo se o presidente foi ou não morto pelos militares. Agora, a maioria dos países sul-americanos possui governos de esquerda que se inspiram na via chilena, na construção de um socialismo democrático. E há lições a serem aprendidas — afirma Amorós, por telefone, de Madri.

Ascensão progressiva

Nascido em Valparaíso, em 1908, Allende se formou em Medicina na Universidade do Chile em 1933, mesmo ano em que ajudou a criar uma seção do Partido Socialista na cidade. Nos trinta anos seguintes, foi eleito deputado e senador diversas vezes e ainda ocupou o cargo de ministro da Saúde durante a curta presidência de Pedro Cerda (1938-1941). Neste período, iniciou o que seria um dos primeiros sistemas públicos de saúde do continente.

Allende foi candidato à presidência três vezes antes de vencer, sempre à frente de coalizões de esquerda. Em 1952, obteve 5,5% dos votos. Em 1958, chegou a 28,9% e perdeu a eleição para Jorge Alessandri, do conservador Partido Nacional, por menos de 30 mil votos, mesmo sendo o mais votado pelo eleitorado masculino. Em 1964, o socialista teve 38,9% dos votos contra 56,1% do democrata-cristão Eduardo Frei.

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O governo Frei foi abertamente reformista e começou muitas políticas que seriam aprofundadas por Allende, como a reforma agrária e a nacionalização do cobre. A radicalização política provocada por essas medidas influenciou decisivamente as eleições de 1970, em que houve uma polarização entre as candidaturas da esquerda e da direita: Allende recebeu 36,2% dos votos contra 34,9% do ex-presidente Alessandri.

A força da UP veio também do surgimento de dezenas de sindicatos nas cidades e no campo entre 1964 e 1970. Nesse período, o número de trabalhadores sindicalizados passou de 10,3% para 18,2% da população total do país. A vitória, contudo, nunca foi dada com certa. Amorós conta que , em entrevistas, muitos ex-membros da coalizão de esquerda admitiram a surpresa com o resultado. Chegara a hora de Allende colocar em prática a via chilena para o socialismo.

— Ele estava convencido de que no Chile era possível avançar de uma economia capitalista e um sistema político burguês para uma nova sociedade socialista democraticamente. Foi amigo de Fidel Castro, conheceu a China e a União Soviética em 1954. Mas Allende sempre acreditou que no Chile as circunstâncias eram outras. Mesmo quando parte da esquerda chilena defendia que se armasse o povo para defender o governo, ele descartou essa possibilidade e defendeu que o Chile seguiria a via democrática para o socialismo — diz o biógrafo.

O plano da Unidade Popular era dividido em duas partes: primeiro, a adoção de uma reforma agrária que acabasse com todos os latifúndios do país e a completa nacionalização do cobre. Ao contrário do governo Frei, nos anos da UP a nacionalização foi feita não pela compra de ações das empresas, e sim pelo pagamento de indenizações calculadas pelo Estado. Com a quebra dos grandes monopólios nacionais e estrangeiros estariam dadas as condições para um planejamento descentralizado e democrático da economia, comandado por organizações de base.

Internamente, a decisão sobre o cobre teve amplo apoio popular. Já a reforma agrária indispôs o governo Allende com os proprietários de terra e com o Movimento de Esquerda Revolucionário (MIR). O MIR promovia a ocupação de fazendas e cobrava uma posição mais radical. Contudo, as maiores dificuldades foram externas. Na época, o Chile era o país que mais recebia ajuda externa por habitante na América Latina. Ao mesmo tempo, a nacionalização do minério afetou duas empresas americanas, Anaconda e Kennecott.

A resposta não demorou. Um memorando da Agência de Segurança Nacional americana (NSA, em inglês), consultado pelo GLOBO, detalha que o presidente Richard Nixon decidiu, em novembro de 1970, que os Estados Unidos deveriam “maximizar as pressões para reduzir liberdade de ação do governo e sua estabilização”. O documento apontava uma série de medidas a serem adotadas, tais como: fim da assistência financeira ao país e pressão máxima sobre instituições financeiras internacionais para limitar crédito ou qualquer tipo de assistência ao Chile. Era recomendado também o estreitamento de laços com países “amigos” na região, como Brasil e Argentina.

Confiança nos militares

Paralelamente, Pedro Vuskovic, ministro da economia chileno, determinou no início do mandato o congelamento de preços, como forma de combate à alta inflação, e aumentou os salários entre 30% e 40%. Em 1971 as medidas obtiveram resultados favoráveis. No ano seguinte, entretanto, a queda do preço do cobre, principal produto de exportação, e as dificuldades para importar bens de consumo se chocaram com o aumento da demanda. O país enfrentou uma crise de abastecimento, piorada pela especulação com os estoques feita por comerciantes. Em outubro de 1972, quando avançavam as nacionalizações, houve uma greve geral patronal.

Politicamente a situação era delicada. Allende era pressionado pela esquerda e pela direita para mudar suas políticas. Em minoria no Congresso, viu a oposição aprovar uma reforma constitucional que lhe retirava vários poderes e repassava-os ao parlamento. Apesar da instabilidade, o presidente se fiava em uma suposta tradição democrática das Forças Armadas, diz Amorós. Em julho de 1971, o general Augusto Pinochet, futuro ditador, chegou a afirmar que “golpes não ocorrem no Chile”.

Para o biógrafo, este foi o seu principal erro, pois a história recente do Chile mostrava o contrário. Em 1969, militares comandados pelo general Roberto Viaux se amotinaram contra o presidente Eduardo Frei. Em novembro do ano seguinte, o mesmo Viaux foi condenado pelo atentado contra o comandante do Exército, general René Schneider, dois dias antes de o Congresso ratificar a vitória de Allende.

— A relação entre as Forças Armadas do Chile e dos Estados Unidos era muito próxima, com dependência logística e financeira. Um grande número de oficiais chilenos frequentou a Escola das Américas no Panamá. O presidente confiou na lealdade dos principais generais e particularmente de Pinochet. Tanto que o golpe pegou desarmado o governo e a esquerda — argumenta Amorós.
Post edited by Fernando_Silva on

Comentários

  • 5 Comentários sorted by Votes Date Added
  • Existe ou existiu algum líder socialista que, uma vez no poder, não tenha feito uma baita lambança na economia do país que lidera ou liderou?

    Esse líderes esquerdistas são sempre gente muito besta: não avaliam as consequências das medidas econômicas (ou anti-econômicas) que seu ideário esquerdista manda aplicar. O confisco das fazendas (e é óbvio, não havia dinheiro para pagá-las) fez com que os fazendeiros parassem de plantar e, se tinham gado, o mandavam para o outro lado da fronteira. O desabastecimento era inevitável. Allende estourou com as reservas do país, assim como fez o Sarney com seu plano cruzágio. Tentando segurar a casa, ele viajou à União Soviética na tentativa de obter 500 milhões de dólares em empréstimo. Voltou de mãos abanando e não sem motivo: Cuba já custava muito caro e não saía do marasmo. Só recebia ajuda e mais ajuda e sempre precisando de mais e mais ajuda. Só conseguia isso devido ao fator surpresa e de, por sua proximidade com os EUA, ainda ter algum valor estratégico para os soviéticos.
    Já o Chile estava longe demais e se uma Cuba já custava muito caro, duas então...
    O golpe aconteceu, nem tanto pelo tradicionalismo golpista dos milicos chilenos, mas sim porque a economia do país estava caindo pelas tabelas e os grupos armados esquerdistas agiam livremente. Era uma tragédia anunciada.

    Quem quiser saber mais, veja o Guia Politicamente incorreto da América Latina.
  • Botanico disse: Era uma tragédia anunciada.

    Os EUA e a burguesia chilena são apontados como responsáveis pelo fracasso de Allende.

    Então, como eu deixaria um governo se apropriar de minhas terras produtivas ou empresas e bater palmas?

    Até parece que o único interesse da URSS era simplesmente ajudar sem querer nada em troca.

  • Pois é, Sr Lapso.
    O regime esquerdista NUNCA deu certo em lugar algum. Quando se toma os bens de outros e os que ficam com eles não sabem como torná-los rentáveis, o resultado é bem previsível. De que adianta uma família pobre ficar com terras, se não sabe como cultivá-las, colher, armazenar e comercializar o que se produziu? As minas de cobre, nacionalizadas, ficaram na mão dos "cumpanheirus" e lá ninguém tinha muito interesse em trabalhar, já que todos eram cumpanheirus. Quem ia reclamar ou denunciar a preguiça dos outros? O resultado é que a produção de cobre caiu barbaridade.
    Fala-se em boicotes, mas desde quando se consegue exigir que não se compre coisas das quais se precisa? Quem ia deixar de comprar cobre só porque os EUA mandaram?

    A União Soviética, como já disse, tinha um abacaxi para sustentar que era Cuba, governada pelos incompetentes Castros. Vendia açúcar caro e comprava petróleo barato às custas dos soviéticos. Quando acabou a dita União Soviética, foi preciso inventar um "período especial", uma confissão definitiva do réu confesso de que o socialismo é um fracasso sem mais aquela.
  • Botanico disse: O regime esquerdista NUNCA deu certo em lugar algum.

    E só daria certo se implantassem um chip idêntico no cérebro de 100% da população e governantes para controlar nossos desejos, contrariando nossos instintos naturais de diversidade.

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