Essa semana o jornalista Rich Johnston, que também é Editor do Bleeding Cool, publicou uma matéria chamada “Lobo Gets A Brazilian“. Nela o jornalista evidenciou a reação negativa e até mesmo homofóbica de alguns leitores em relação ao redesign do personagem Lobo. Infelizmente, não é a primeira vez que o Bleeding Cool resolve comentar a agressividade dos internautas brasileiros. Ano passado, o roteirista James Robinson declarou em entrevista que os comentários mais depreciativos e impactantes na internet vieram dos leitores brasileiros.
Veja bem, leitor do Contraversão, não é a primeira vez que eu toco no assunto homofobia no âmbito da cultura nerd. Mês passado, quando eu argumentei com nostalgia que o nerd não é chato a toa, vale a pena mencionar que nosso protecionismo em relação a cultura pop não deve ser reduzido a argumentos homofóbicos. Infelizmente foi o que aconteceu dessa vez, então vale a pena o puxão de orelha.
O motivo do reboliço todo seria uma alteração drástica no design do Lobo, que foi chamado de “moderninho”, “andrógino” e até mesmo “gay” por alguns leitores. A crítica do Bleeding Cool começou aí, quando os internautas consideraram a aparência de um character concept para tecer comentários homofóbicos, como se a maneira de vestir de alguém revelasse sua orientação sexual ou algo do gênero. A situação só piorou quando recentemente descobrimos que esse character concept não era final, com a própria editora admitindo que a versão definitiva seria mais próxima do gosto dos fãs. Ou seja, na minha opinião, foi muito alarde para uma coisa que não estava definida. Foi complicado acompanhar diversos comentários misóginos nas redes sociais contra Marguerite Bennett, a roteirista responsável pelo projeto.
O único erro da DC Comics seria realizar um redesign drástico sem antecipar ou habituar seus leitores, mas isso sequer aconteceu. Mesmo assim, seriam as atitudes do personagem e o insight do roteirista que poderiam ou não definir se o Lobo continuaria sendo o “maioral”, correto? Vale lembrar que o visual heavy metal ou hard rock é relativamente recente e foi uma releitura realizada pelo Simon Bisley na década de noventa. O personagem original criado por Keith Giffen e Roger Slife dez anos antes era bem diferente, sem o aspecto halterofilista e até mesmo trajando spandex multicolorido.
Não quero cair em discussões sobre gênero e normatividades, mas acho necessário ilustrar que as inspirações por trás do design clássico do Lobo estão longe de serem monolíticas. Rob Halford do Judas Priest é gay, coisas como body building e roupas de couro não são exclusivos de grupos heterossexuais e, usando o próprio crivo dos colegas internautas, eu poderia concluir com bom humor que a aparência tradicional do Lobo já é bem enrustida, capaz de despertar uma ereção no próprio Fredric Wertham. Também merece um pouco de escárnio um comentário no Jovem Nerd onde o leitor argumenta que o Lobo deveria “sodomizar essa bichinha”, deixo aqui um minuto de reflexão para o leitor sobre a natureza por trás desse comentário.
O internauta brasileiro estava certo em ser contrário a uma mudança drástica no design do personagem, mas falhou miseravelmente ao apelar para argumentos rasos e imediatistas. Claro que alguma hipótese comercial foi cogitada na DC Comics sobre qual tipo de público eles queriam atingir e quais razões criativas e editoriais levaram a cogitar essa mudança. Mas, não. Tudo se resumiu a chamar um personagem fictício de “viado”. Vale lembrar que esse mês sai a HQ “Justice League #23.2: Lobo” com a primeira aparição “oficial” do personagem e o visual definitivo deve ser bastante satisfatórios para os fãs. Viu só como o puxão de orelha do Bleeding Cool foi mais uma vez merecido?
http://contraversao.com/visual-lobo-internautas-brasileiros-puxao-orelha-bleeding-cool/
“Só tenho para oferecer sangue, sofrimento, lágrimas e suor.”
― Winston Churchill
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