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Reforma agrária: derrubou Jango, foi aprovada pelos militares, mas a tecnologia tornou obsoleta

Fernando_SilvaFernando_Silva Administrador, Moderador
Jango foi derrubado quando prometeu a reforma agrária. Os militares lhe copiaram a ideia e conseguiram sua aprovação pelo Congresso ainda em 1964. Acabou não sendo necessária: o agronegócio se tornou tão produtivo com o avanço da tecnologia que seus objetivos foram atingidos por outros meios. As invasões de terra, 21 anos depois, por motivos ideológicos, foram um fracasso produtivo e apenas favelizaram o campo.

http://avaranda.blogspot.com.br/2013/11/jango-e-reforma-agraria-xico-graziano.html
Jango e a reforma agrária

XICO GRAZIANO - O Estado de S.Paulo - 26/11

A exumação do corpo do ex-presidente João Goulart atiça o passado político. Naquela época, quando se buscava um caminho alternativo para o desenvolvimento, estava na moda xingar o latifúndio. Sem reforma agrária o Brasil não progrediria. A História, porém, desmentiu a pregação nacionalista.

Era 13 de março de 1964. Enorme multidão, estimada em 150 mil pessoas, aglomerou-se na Central do Brasil, no Rio de Janeiro. Convocado por movimentos populares, sindicais e estudantis, o grande comício a favor das "reformas de base" prometia mudar o rumo do País. Horas antes o presidente havia assinado o Decreto 53.700/63, dando à Superintendência de Política Agrária (Supra) poderes para iniciar as desapropriações de terras. Com voz entoada, discursou Jango: "Trabalhadores, acabei de assinar o decreto da Supra com o pensamento voltado para a tragédia do irmão brasileiro que sofre no interior de nossa Pátria. Ainda não é aquela reforma agrária pela qual lutamos. Ainda não é a reformulação de nosso panorama rural empobrecido. Ainda não é a carta de alforria do camponês abandonado. Mas é o primeiro passo: uma porta que se abre à solução definitiva do problema agrário brasileiro".

Sempre prometida, porém jamais concretizada, começaria finalmente a famigerada reforma agrária. O arrojo de Jango ultrapassou as expectativas: "Espero que dentro de menos de 60 dias já comecem a ser divididos os latifúndios das beiras das estradas, os latifúndios ao lado das ferrovias e dos açudes construídos com o dinheiro do povo, ao lado das obras de saneamento realizadas com o sacrifício da Nação. E, feito isto, os trabalhadores do campo já poderão, então, ver concretizada, embora em parte, a sua mais sentida e justa reivindicação, aquela que lhe dará um pedaço de terra para trabalhar, um pedaço de terra para cultivar". Aplausos fizeram tremer o palanque.

Jango argumentava com consistência. Ele prometia distribuir as terras valorizadas, economicamente viáveis, próximas dos centros de consumo, com transporte fácil para o escoamento da produção. Citando os casos do Japão de pós-guerra, da Itália, do México e da Índia, países que promoveram bem-sucedidas reformas fundiárias, o presidente reforçava sua convicção sobre o sucesso da empreitada.

Buscou, ademais, um argumento econômico: "Os tecidos e os sapatos sobram nas prateleiras das lojas e as nossas fábricas estão produzindo muito abaixo de sua capacidade. Ao mesmo tempo que isso acontece, as nossas populações mais pobres vestem farrapos e andam descalças, porque não têm dinheiro para comprar. Assim, a reforma agrária é indispensável não só para aumentar o nível de vida do homem do campo, mas também para dar mais trabalho às indústrias e melhor remuneração ao trabalhador urbano". Uma aliança operário-camponesa.

Nos anos de 1960 a maioria da população brasileira ainda morava na roça. À cidade, entretanto, também deveria interessar a redistribuição agrária. Assim estabelecia o receituário do marxismo tupiniquim: acabar com o latifúndio estimulava, via elevação de renda das famílias, o mercado interno. Em consequência, a ruptura com a oligarquia agrária deveria seduzir os empresários nacionais. Fazia sentido.

O comício da Central repercutiu imensamente. Dois dias depois, Jango encaminhava ao Congresso Nacional mensagem pleiteando mudanças constitucionais para permitir ao Estado pagar pelas desapropriações de terras com títulos de longo prazo, e não mais em dinheiro. A confusão política aumentou. Uns, da esquerda, enxergavam a aurora do socialismo. Outros, da direita, conspiravam dentro das Forças Armadas. Em 31 de março, apenas 18 dias após o discurso da reforma agrária na praça, Jango estava destituído por um golpe militar.

Muitos analistas imputam ao radical gesto de Jango um fenomenal erro de avaliação política. Ao acirrar a briga contra os partidos conservadores, que participavam da coalizão governamental, provocou a ruptura que o derrubaria. Em outras palavras, cutucou a onça com vara curta. Se tivesse sido mais conciliador, ou preparasse melhor sua tacada, talvez os fatos se passassem de forma diferente. Vai saber.

Surpreendentemente, uma das maiores ironias da História estava por vir. Os militares, ao invés de esquecerem a reforma agrária, logo a impulsionaram. Sob a coordenação do poderoso Roberto Campos, então ministro do Planejamento, um grupo de trabalho, recrutado entre os melhores quadros, avançou na formulação da proposta reformista. Em 10 de novembro de 1964 a Emenda Constitucional n.º 10 passava a permitir a desapropriação de terras com pagamento em títulos especiais da dívida pública. Passados 20 dias, em 30 de novembro, o Congresso aprovava o Estatuto da Terra, a mais avançada lei agrária do mundo. A esquerda quedou boquiaberta: os milicos haviam roubado sua maior bandeira.

Não a utilizaram, todavia. A rápida industrialização e urbanização, abrindo a posterior globalização da economia, junto com a consequente expansão do capitalismo, desmentiram a tese agrarista: o Brasil passou por uma incrível modificação produtiva no agro sem alterar sua concentrada estrutura fundiária. Mais importante que o tamanho da fazenda, a tecnologia começou a mandar no campo. A revolução verde elevou a produtividade rural, abastecendo as cidades.

Amortecida por duas décadas, a reforma agrária ressurgiu em 1985. Incluída na agenda social da redemocratização, perdeu sentido econômico. Comandada pelos invasores de terras, realizada tardia e açodadamente, os assentamentos revelaram-se um fracasso produtivo. João Goulart faleceu em 1976. Jamais imaginaria ver a reforma agrária favelizando o campo.
Post edited by Fernando_Silva on

Comentários

  • 8 Comentários sorted by Votes Date Added
  • Um problema comum a TODOS os esquerdistas é a INCAPACIDADE de relacionar causa e efeito.
  • Botanico escreveu: »
    Um problema comum a TODOS os esquerdistas é a INCAPACIDADE de relacionar causa e efeito.

    Eu diria que este e um problema comum a maior parte da humanidade, e politicos, especialmente populistas e inflacionistas, sabem se aproveitar bastante disso.
    "In any case, what westeners call civilization, the others would call barbarity, because it is precisely lacking in the essential, that is to say a principle of a higher order." - René Guénon
  • BotanicoBotanico Membro
    edited novembro 2013 Vote Up0Vote Down
    Fica tão gozado ouvir o pessoal esquerdista proclamando que o agronegócio é uma desgraça e que é a agricultura familiar que de fato produz alimentos... Difícil saber quem é mais burro: quem faz essa afirmativa ou quem crê nela.
    Post edited by Botanico on
  • Não foi só isso que derrubou Jango, tanto é que que inclusive a parte rasa e baixa patente dos militares e da polícia seguiram as ordens dos golpistas, e num caso em que fosse só por isso, ou só por esse tipo de coisa, isso nunca aconteceria, pelo menos metade dos rasos e de baixas patentes ficariam do lado do Jango,e mesmo grande parte dos de média patente ficariam do lado de Jango.....aliais naquela fase, nem sequer o congresso foi fechado, e só houve umas poucas cassações e foi o congresso mesmo que oficializou a deposições de Jango (está certo houve coações nisso, mas assim, foram coações leves).

    O que acontece é que, em primeiro lugar: Jango havia apoiado a duas rebeliões militares uma de sargentos e outra de uns marinheiros (verdade que bem minoritários, só em alguns lugares, e tanto eram minoritários que no golpe, 99% dos desses estamento, obedeceram aos golpistas), mas eram rebeliões também com motivos políticos e não só sindicais (e já é ilegal sindicalismo em exércitos e polícias, quanto mais por motivos políticos....) e isso já foi um pouco golpista da parte do próprio Jango mesmo, aliais foi pouco tempo antes do golpe contra o próprio Jango.

    E depois os grupos que apoiavam Jango faziam exigências sindicais estilo quanto pior melhor, que só podiam ser golpistas também, ou então era alguma especie de esquizofrenia política duplo-pensar daqueles caras, pois a maior parte deles mesmos, dava como álibi para as repressões stalinistas na URSS o fato de que havia existido a necessidade da "acumulação primitiva socialista" na década de 1930 lá, ideia aliais de Trotsky mas que Stalin "roubou" do programa de Trotsky, dado o fato de que a URSS ainda não era muito desenvolvida, e que por isso, foi necessário baixar o nível de vida da população para custear a industrialização, e por outro lado, apoiavam a China maoista em que, mesmo com ela sendo menos desenvolvida do que o Brasil em 1948, houve uma insurreição comunista vitoriosa lá, e era apoiada pelo menos até 1957, pelo PCB (ou do B....) brasileiro....e que mesmo depois de 1957, continuaram falando que entre 1948 e 1957 a China maoista estava certa, então é claro que não se poderia acreditar na sua sinceridade quando diziam que o Brasil ainda tinha que se desenvolver mais para que se pudesse haver uma insurreição comunista no Brasil, aliais inclusive porque os comunistas brasileiros sempre continuaram a comemorar a memória de sua tentativa de 1935...

    Mas o principal era a atividade sindicalista do tipo quanto pior melhor, (e que 50% dos líderes sindicais eram intimamente comunistas, era fato sabido) só que num caso desses, dado que os comunistas mesmo falavam que na URSS foi necessário diminuir a renda dos trabalhadores para fazer um aumento de industrialização na década de 1930 (e ainda por cima, falavam mal da dívida externa no Brasil também ao mesmo tempo...), essas reivindicações sindicais excessivas só podiam ser interpretadas como cinismo golpista, que ou seria um caminho para uma insurreição comunista ou pelo menos para uma insurreição ilegal ou mesmo auto-golpe neo-varguista (é bom lembrar que o PTB também não era muito trigo limpo não, também vinha de uma ditadura, ditadura que também tinha atingido a alguns direitistas, sobretudo entre 1938 e 1940 na época pós-tentativa de insurreição integralista, mas nessa fase essa repressão também atingiu a direitistas não-integralistas e depois ainda houve no Brasil depois que o Brasil declarou guerra ao eixo a ditadura Vargas fez um internamento de imigrantes alemães em campos de confinamento que embora não tão ruins como os campos de concentrações nazistas e leninistas ainda assim eram piores do que as prisões brasileiras da época, por exemplo....e isso que eram confinamentos só por motivos étnicos) mas voltando, em 1964, também havia um medo que mesmo sem uma ditadura comunista houvesse uma ditadura neo-varguista que embora mais leve do que uma ditadura comunista, também seria ditadura, e em última instancia, mesmo que não houvesse nenhuma dessas duas ditaduras, havia o medo de que haveria uma impossibilidade de industrialização e de melhorar o nível de vida das pessoas, por causa da demagogia do quanto pior melhor.

    Agora, às vezes a impressão que dá, é que esse pessoal de esquerdona, tinha mesmo um duplo-pensar sincero, e que sinceramente não conseguiam entender que os outros não o tivessem, que os outros somassem uma coisa com a outra.
  • Fernando_SilvaFernando_Silva Administrador, Moderador
    As esquerdas queriam copiar a revolução cubana, ocorrida poucos anos antes. Já havia até guerrilheiros sendo treinados em fazendas na Bahia com financiamento cubano e chinês. As Ligas Camponesas viviam incendiando fazendas. Os sindicatos incentivando greves por toda parte e ameaçando cortar até a luz das cidades. Os militares preocupados com a 'luta de classe' interna. O presidente da república anunciando desapropriações e 'reformas de base' socialistas. Prestes, Brizola e outros anunciando que a revolução viria, pela força se necessário.

    Fora isto, não havia realmente motivo para preocupação...
  • Não foi só isso que derrubou Jango(...)

    Agora, às vezes a impressão que dá, é que esse pessoal de esquerdona, tinha mesmo um duplo-pensar sincero, e que sinceramente não conseguiam entender que os outros não o tivessem, que os outros somassem uma coisa com a outra.

    Obviamente é ser muito simplista dizer que UMA coisa foi a responsável pela queda do Jango. Foi todo um conjunto de fatores, que aquela anta não teve olhos para ver e se esqueceu da conservadorista sociedade brasileira em que vivia. Para os donos de alguma coisa, o Comunismo era um apocalipse, pois sabiam muito bem que, se ele triunfasse, seriam todos mortos e seus bens confiscados. Para o povão, sempre burro e ignorante, a única coisa sabiam do Comunismo era pouco e certo: era uma coisa muito ruim.

    Com tal situação, aquela anta do Jango não teve olhos para ver que ideias exigem OPORTUNIDADE. Até o amor exige o momento certo. Tentar antes é inútil.

    Deu no que deu.
  • Fernando_SilvaFernando_Silva Administrador, Moderador
    Arnaldo Jabor, na época, era comunista e acreditava na 'ditadura do proletariado'. Um dia, convocaram as pessoas a acender velas na janela em protesto contra os comunistas. Ele, voltando da reunião na UNE, viu velas acesas em todas as janelas de todos os prédios ao longo do caminho e percebeu que a 'revolução' fracassaria. Como ele disse, "fomos derrotados por nossas tias velhas rezando o terço no quarto dos fundos".
  • BotanicoBotanico Membro
    edited novembro 2013 Vote Up0Vote Down
    E essa intelectualidade e elite artística nossa sempre foi uma piada. O Flávio Cavalcanti conclamou PELA RÁDIO para que incendiassem o prédio da UNE e foi obedecido! Ele NUNCA escondeu que era a favor do regime militar e, católico fanático, gostava de ferrar médiuns em seus programas (alguém aí se lembra do tal médium Garrincha? _ o médium, não o jogador). Quando morreu, a classe artística foi em peso ao seu enterro. Foram mais de 4000 pessoas.
    Já um imbecil boquirroto e que cometeu a baita besteira de misturar pilantragem artística com pilantragem de vida, teve sua carreira encerrada de vez só porque, orientado por seu advogado, tentou convencer a polícia de que era afinado com a gente do DOPS. Lembram? O Wilson Simonal, por indisciplina, teve seu contrato com a Shell rescindido, aí o dinheiro começou a sumir, já que gastava e não entrava, e achou que seu contador o estava roubando. Chamou um amigo pra dar uma prensa no cara e, por coincidência, era também do DOPS e fez a baita burrada de dar essa prensa bem lá nas dependências do DOPS. Pra quê! Acabou se encrencando com seus superiores por usar o ambiente de trabalho para fins particulares.
    Essa baita bobagem que o Simonal fez liquidou com sua vida artística. Todos os seus colegas agora o viam como um dedo-duro do DOPS. Enquanto a bandidagem a serviço dos ideais esquerdistas, Zé Dirceu, Genoino, etc e tal, foram anistiados e indenizados (e agora endeusados e martirizados), o Simonal jamais conheceu essa dita anistia. Teve de passar o resto de sua vida assistindo, quase escondido atrás de colunas, os shows do filho Simoninha.

    Falecido, precocemente por conta de bebedeira, em seu enterro não havia mais que 60 pessoas.
    Post edited by Botanico on
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