Coreia do Sul sente efeito de 'excesso' de formação
MARIANA CARNEIRO
ENVIADA ESPECIAL À COREIA DO SUL
Nem mesmo o filho de um graduado executivo da Huyndai, um dos conglomerados gigantes da Coreia do Sul, escapou da realidade de extrema concorrência entre os jovens do país. Foi cursar economia na Austrália e recebeu um conselho do pai: procurar emprego por lá.
"Não há muitos bons empregos na Coreia do Sul para pessoas bem-educadas", disse Edward Lee, vice-presidente de vendas globais do grupo automotivo.
A Coreia do Sul é um país de população extremamente bem-educada, mais ainda os jovens. Nada menos do que 64% dos sul-coreanos entre 25 e 34 anos têm ensino superior -de longe, o maior percentual entre 36 países monitorados pela OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico).
Na Suíça, por exemplo, são 44%; na Noruega, 50%. No Brasil, 13%.
Dessa forma, não é raro encontrar bacharéis trabalhando fora de suas áreas, como jovens formados em letras trabalhando como guias turísticos em Seul.
Lee afirma que a educação se tornou um valor para as famílias coreanas, uma cultura que ganhou força após a guerra que separou o país, na década de 1950.
Naquele momento, afirma ele, houve o entendimento dos governantes --e o consenso, entre as famílias-- de que, como o país não tinha recursos naturais, a única saída para o desenvolvimento seria por meio da educação e do trabalho duro.
VICIADOS EM ESTUDO
O professor de economia da USP Gilmar Masiero se dedica a estudar o país e afirma que os sul-coreanos se tornaram "viciados" em educação.
Isso levou a um cenário que soa inusitado. Há um desemprego crônico entre os recém-formados no ensino superior, afirma.
Em 2011, 75% dos jovens (25 a 34 anos) com ensino superior estavam empregados na Coreia do Sul, de acordo com a OCDE. No Brasil, por exemplo, o percentual era bem maior: 88%.
Exemplo de país que apostou na educação como forma de crescer, a Coreia do Sul está passando, segundo Masiero, por um descasamento entre oferta e demanda.
Na sua opinião, contudo, não há erro na estratégia de investir em educação massivamente e o país continua sendo um exemplo a ser seguido pelo Brasil.
A repórter MARIANA CARNEIRO viajou à Coreia do Sul a convite da Hyundai
"In any case, what westeners call civilization, the others would call barbarity, because it is precisely lacking in the essential, that is to say a principle of a higher order." - René Guénon
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