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Quaresma

AcauanAcauan Administrador, Moderador
Quaresma
Publicado em: 02/03/2007 às 18:06

Por Acauan


Estamos no tempo litúrgico da quaresma.

Quando por quarenta dias os padres celebrantes usam paramentos roxos, os órgãos das igrejas ficam silenciosos e..., e..., e o que mais mesmo?

Se você também não sabe, não surpreende.
Se é católico e não sabe, surpreende menos ainda.

Mas nem sempre foi assim.
Antigamente, quando os católicos eram praticantes, a quaresma era um período que despertava temor reverencial nos fiéis da Santa Madre, não só por seu conteúdo de mau presságio - a contagem regressiva para as cerimônias da Paixão e morte do Cristo, como pelos agregados sincréticos associados àqueles dias.

Meus favoritos eram as receitas de fazer lobisomem, das quais não me lembro de nenhuma. Só sei que um monte de licantropos tinha sua peculiar condição atribuída a algo que fizeram na quaresma e não deviam ter feito ou a algo que não fizeram na quaresma e deviam ter feito.

Ao que tudo indica a quaresma era um período tão baixo astral para o fiel católico que a Igreja teve que inventar um dia de folga para que a depressão não produzisse piores efeitos sobre o rebanho.
Surgiu daí o Domingo Laetare, o quarto da quaresma, quando os órgãos das igrejas soavam, as restrições eram reduzidas e o risco de virar lobisomem diminuía, desde que ninguém abusasse, claro, afinal com estas coisas não se brincavam.

Minha parte preferida da quaresma são os jejuns.
É a minha parte preferida porque não sou eu que os faço.

O significado canônico dos quarenta dias como tempo para depuração e elevação espiritual, das quais o jejum seria um instrumento, me traz a idéia da quaresma como um Ramadã católico (ou do Ramadã como uma quaresma muçulmana, depende do que veio primeiro).
Prá quem não lembra, Ramadã é o mês sagrado do Islã, quando os fiéis não comem nada do nascer ao por do sol e cumprem uma série de obrigações e restrições religiosas.
Não sei se quem desrespeita as regras do Ramadã vira lobisomem, mas conhecendo os muçulmanos, deve acontecer coisa pior, já que não quereriam ficar atrás dos cristãos no quesito meter medo em quem sai da linha.

Quem traduziu bem o clima da quaresma, em tempos anteriores a estes, quando ninguém liga a mínima, foi o Ivan Lins, em canção de mesmo nome cuja letra dizia:

Acabou toda essa brincadeira
Não há jeito de ser diferente
Como sempre chegou quarta-feira
E a praça não é mais da gente
Andam soltos fantasmas e bruxas
Lobisomem em noites de lua
O saci dança em noites escuras
E ninguém tá seguro nas ruas

A julgar pela estrofe, a quaresma tinha também um jeitão de halloween, mas acho que se alguém propusesse "Tricks or Treats?" virava lobisomem.

Como dito, tudo isto foi em outros tempos.
Hoje a maioria dos católicos acredita que a quaresma é um tempo de penitência porque começa com os congestionamentos da volta do feriado de Carnaval e termina com os congestionamentos da partida para o feriado da Semana Santa.

Por falar em penitência, nenhuma outra religião tem melhores práticas neste assunto do que os católicos romanos. Fora os jejuns e aquela turma exagerada que gosta de cilícios e açoites com chapinhas de metal nas pontas.
Penitência católica é, ou era, atitudes de privação voluntária, como se abster de carne em certos dias da quaresma, nos quais a alimentação se restringia às bacalhoadas com batatas.

A quaresma termina no Domingo de Ramos, quando começa a Semana Santa dos católicos. Era um dia em que muita gente desgalhava árvores para levar os ramos à Igreja para ser abençoados, o que enchia as ruas com uma movimentação pitoresca.
Hoje é possível que alguma ONG ambientalista pentelha saísse protestando em defesa dos pobres vegetais desfolhados.

Pois é, cada época tem os lobisomens que merece.
Post edited by Acauan on
Acauan dos Tupis
Nós, Indios.
Lutar com Bravura, morrer com Honra!

Comentários

  • 1 Comentar sorted by Votes Date Added
  • Fernando_SilvaFernando_Silva Administrador, Moderador
    edited março 2014 Vote Up0Vote Down
    Penitência católica é, ou era, atitudes de privação voluntária, como se abster de carne em certos dias da quaresma, nos quais a alimentação se restringia às bacalhoadas com batatas.
    Sempre achei ridículo se abster de carne, mas se entupir de bacalhau...

    João Ubaldo Ribeiro fala dos "jejuns" de sua infância: ninguém se sentava à mesa para refeições formais como almoço e jantar. Em vez disto, arrumava-se uma mesa com tira-gostos ou coisa assim e as pessoas apenas beliscavam, em pé (até ficarem empanturradas, mas isto não vem ao caso...)

    Em algumas casas, inclusive, o "jejum" era famoso pela abundância e todo mundo queria ser convidado a "jejuar" com aquelas famílias.

    Post edited by Fernando_Silva on
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