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O feitiço contra o feiticeiro
Imagine-se o quadro atual às avessas: o escândalo da refinaria de Pasadena protagonizado pelo PSDB, com o PT na oposição. Alguém tem dúvida de que os petistas estariam mobilizando suas milícias país afora em prol de uma CPI; que estariam pedindo o impeachment do presidente da República?
As sucessivas campanhas eleitorais mostram que o PT se nutre do escândalo – não dos seus, mas dos alheios. Não havendo um, trata de inventá-lo. Para tanto, o partido montou uma usina de dossiês e a pôs para funcionar em todas as eleições da era da redemocratização. A usina, registre-se, continua na ativa.
Na eleição passada, violou o sigilo fiscal de José Serra e de sua filha, em busca de uma falcatrua. Não a encontrando, tratou de providenciá-la, sem se dar conta de que o efetivo escândalo era justamente a violação de dados sigilosos da Receita Federal.
Descobriu-se, na sequência, que os funcionários que executaram o crime eram militantes de carteirinha.
Nas eleições de 2006, houve o escândalo dos aloprados. Petistas próximos a Lula, incluindo um assessor direto do hoje ministro Aloizio Mercadante, que então disputava o governo de São Paulo, foram flagrados e presos com uma bolsa cheia de dinheiro – R$ 1 milhão e quebrados - para comprar um falso dossiê contra Serra, que também disputava o governo paulista.
Não deu certo, Serra foi eleito, a farsa desmascarada, mas o partido não se mostrou - jamais se mostra – constrangido diante de flagrantes. Faz como a adúltera de Nélson Rodrigues: nega tanto que chega a ter dúvidas sobre o delito que praticou.
Pode haver declaração mais hilária que a de José Dirceu, ao garantir, em relação ao Mensalão, que “estou cada vez mais convencido de minha inocência”? O deputado Vicentinho, do PT, acaba de ouvi-la, nos mesmos termos, de André Vargas. Não deixa de ser um interessante exercício de autoconvencimento: iludir-se antes de tentar iludir o público.
Faço esse preâmbulo para abordar a indignação do PT em relação à CPI da Petrobras. O partido acha um absurdo que, em época de eleição, se explore um tema em si mesmo escandaloso.
Não seria ético, dizem os petistas, fazê-lo e colher dividendos eleitorais. Deixemos de lado o cretinismo da contradição – típica situação em que o feitiço vira contra o feiticeiro - e fiquemos no essencial: se o escândalo fosse fabricado, a premissa seria exata. Não o sendo, como não o é, o escândalo é ignorá-lo, como se as eleições representassem uma trégua penal.
Mais estranho, porém, é constatar que, por mais absurdo, tal argumento encontra ressonância nos adversários. O ex-presidente Fernando Henrique, por exemplo, deve ter algum complexo de culpa em relação ao PT. É tratado a coices e pontapés, mas sempre socorre o partido nas suas emergências.
Opôs-se ao impeachment de Lula ao tempo do Mensalão, lamentou a prisão de José Dirceu e, agora, condena a CPI da Petrobrás, fazendo eco a José Serra, outro que é saco de pancadas do PT e tem pruridos em retribuir.
FHC parece não se lembrar de que sua falecida esposa, dona Ruth Cardoso, foi alvo de um falso dossiê, produzido na Casa Civil da Presidência, à época chefiada pela hoje presidente Dilma Roussef. O PT, horas depois da transmissão da faixa presidencial a Lula, em 2003, passou a atribuir a FHC uma “herança maldita”, com que justificaria todos os erros e dificuldades de sua administração.
Ambos, Serra e FHC, parecem não perceber que, se dependesse do PT, estariam fora da política, eles e seu partido. A diferença entre PT e PSDB é esta: enquanto o primeiro leva a sério a máxima de Carl Von Clausewitz, de que “a guerra é a continuação da política por outros meios”, o segundo a considera um jogo de cavalheiros. O resultado aí está: as oportunidades escorrem pelos dedos dos tucanos, enquanto os petistas, quando não a têm, empenham-se em fabricá-las.
Ruy Fabiano é jornalista.
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